24 dezembro 2006

Último papo de cozinha de 2006!

“Casca de ferida, goteira na vasilha, problemas na família, quem não tem?” (Chico Buarque).

Na fulô ou na filó! Papo de cozinha de fim de ano. Antes de mais nada, desejando a todos um natal fabuloso e inesquecível. Já para o ano de 2007 desejo muitas atribulações para todos, mas com aquela certeza de vitória.

O sal da vida é a dificuldade. Tempera o ânimo e nos extasia a sensação de superação. Como haver superação sem dificuldades? Impossível. Já diziam os sábios que, para uma pessoa absurdamente otimista, é impossível ter uma surpresa agradável. Diria até mais, é praticamente impossível sequer ter uma surpresa. Mas é verdade também que, para uma pessoa absurdamente pessimista, é impossível uma surpresa agradável, praticamente impossível ter algo agradável. Portanto, esses mesmos sábios recomendavam que, ao acordar, deve-se imaginar que o dia será mesmo difícil, um verdadeiro inferno. Deve-se sair da cama pronto para enfrentar o pior dia de toda sua vida, todos os dias de sua vida. E, assim, verá no fim do dia, ao meditar, que mais uma vez a surpresa de ter tido um dia ótimo foi mais que agradável; simplesmente perfeito.

E assim é como eu ajo, diariamente, todos os dias do ano. Preparei-me para um 2006, ao término de 2005, como se o mundo realmente fosse acabar entre enxofre e óleo fervente. Mas, para minha alegria, não acabou, pelo contrário, continuou e, especialmente para mim, foi formidável.

Sabia que seria difícil. Em 2006, “aposentei-me” de minha militância na juventude. Mas jamais da luta por um mundo melhor e, certamente, socialista. Mas, precisava mudar minha forma de combate. Sai das trincheiras acadêmicas para me organizar na trincheira do relógio ponto e contra-cheques de fim de mês. Troquei o fuzil de caneta e salas de aula pelo fuzil de mão-de-obra e contra-alienação do trabalho assalariado. Mas, minhas balas continuaram sendo para meus generais, os que nos querem, pela força, canibais. A faculdade, doce sonho, mas também sofreu mudanças significativas. Termino o curso de Filosofia, mas sem colar grau. Farei a colação em outra área, em outra universidade. Guardarei o conhecimento de nossa filosofia para ser aplicada em todos os meus sentimentos, ações e palavras. Mas opto pela formação Secretarial, na Universidade Católica. Esta, para melhor qualificar-me para o concorridíssimo mundo corporativo, e ali forjar minha trincheira, minha labuta e luta.

No amor, estou milionário. Tenho em Carol, amada companheira, toda a fortuna de minha felicidade. Tudo bem que a fortuna material que poderia nos fazer ainda mais unidos, pelo menos na convivência, ainda está por vir. Mas tenho fé que é apenas questão de tempo.

Na saúde, não está perfeita, foi um ano conturbado. Entretanto, tratamentos e consultas que há anos não tomavam conhecimento da existência médica, finalmente virá a tona. Isto me deixa bastante esperançoso, completando meu “carpe diem” com o “mens sana in corpore sano”.

Por tudo isso, e alguns mais que não quis ou não me lembrei de colocar aqui, que imagino que 2007 será bem pior que 2006. Que, por todas as coisas maravilhosas que aconteceram comigo não existirão em 2007. Que aquele inferno de enxofre e óleo fervente estará ainda mais quente no ano que virá. E, justamente por todas as coisas boas que aconteceram em 2006; estou pronto para o que der e vier para o ano que virá.

Para mim, e para todos e todas. Feliz natal. E um 2007 cheio de dificuldades para todos nós. Mas, principalmente, pela superação e vitória sobre todas elas.

Ósculos e amplexos. E até 2007.

17 dezembro 2006

"Vibra, ó Brasil inteiro, o clube do povo do Rio Grande do Sul"


Parabéns nação colorada, campeã mundial!


Abel Braga, logo após o jogo, disse uma frase que, para mim, sintetizou o sentimento de todo brasileiro (exceto aquele que for gremista): - “ganhamos do melhor time do mundo!”. Sim, e com louvor! Não sou gremista, mas amanheci nesse domingo torcendo para o Barcelona. Não sou de me impressionar com os chavões televisivos, muito menos o do insistente “Inter é o Brasil no Mundial Interclubes da FIFA”. Meu senso crítico me impulsionou a torcer, no início, pelo time que possuía o melhor elenco, as melhores táticas, enfim, o melhor do mundo. Mas essa torcida pelo FC Barcelona durou exatamente quinze minutos. Pato, o menino de sorriso metálico, disputa uma bola com um dos poucos espanhóis do time espanhol e, mesmo com nítidas diferenças técnicas com superioridade para o espanhol experiente, Pato ganha a bola naquilo que é sempre o meu segundo critério de torcida: a raça! E, assim, passei nesse exato momento a torcer desesperadamente pelo time riograndense.

O colorado gaúcho me impressionou por isso. Respeitou o adversário, o poderoso adversário, mas sem temê-lo. Encarou-no de igual para igual. Fez uma marcação que assemelhava um jogo de xadrez. Compensou a disparidade técnica com a inteligência. Anulou praticamente todas as habilidades dos armadores do time adversário. Marcou em todo o campo, inclusive no de ataque. Sobreviveu à poderosa decida de Ronaldinho e companhia. Superou a também forte marcação do Barcelona. Deu sangue pelo time e, numa das pouquíssima oportunidades que um jogo tão bem marcado dá de se fazer o gol, Adriano recebe um passe difícil, corrige e mostra competência mandando por sobre o goleiro e marcando para o Inter. Uma expressão e um grito saíram involuntariamente da minha boca. A expressão de “ui”, quando a mão do goleiro do Barça esbarra na bola, e, óbvio, o grito de gol, como se eu fosse colorado desde criança.

Depois disso, o jogo ficou mais franco ainda. Tivemos, com o nervosismo do Inter, finalmente um gostinho do que é o Barcelona. Foram quinze minutos onde o Barcelona quase marcou duas vezes, uma salva pelo Clemer, e outra que a bola tomou um rumo caprichoso na cobrança de Ronaldinho. Ali, pudemos ver de quem o Inter estava ganhando mesmo. Simplesmente do melhor time do mundo. E, o futebol agradece, o povo brasileiro agradece que a raça ainda continua superando a técnica. E quando ambas estão presente num mesmo time, ainda que o outro seja mais técnico, a raça faz diferença e desbanca. Não duvido que, em seu íntimo, boa parte da torcida gremista também não tenha se emocionado ao ver aquele time vencer o melhor do mundo. Mas, querer que o tricolor gaúcho reconheça isso é impossível, e também desnecessário. Não basta ser o melhor, para ser campeão é preciso ter um algo a mais que compense. E, quem teve isso foi, para a glória brasileira, o Inter, a “Glória do desporto nacional”.

13 dezembro 2006

Sobre o artigo do Anexos

Meu camarada Marc, em seu blog “Anexos”, fez um texto muito interessante chamado “A crise da aviação no Brasil”. Como o espaço para comentários no blog é sempre bastante limitado, resolvi comentar o artigo em questão pela Cozinha, onde terei o espaço que eu quiser. Aliás, para aqueles que interessam por textos inteligentes, e com certo grau de sarcasmo, “Anexos” promete ser um blog presente entre os Favoritos.

Francamente, sustento o posicionamento dos mais incrédulos: de que a imprensa, junto com as camadas mais conservadoras da sociedade, buscam, de imediato, um bode espiatório para o caso do maior desastre aéreo na história do país do pai da aviação. Qualquer um que já assistiu um programa chamado “Desastres aéreos”, da Discovery, pode afirmar o quanto se demora, em uma investigação detalhada como a que se exige de um acidente deste porte, obtenha resultados, ao menos, satisfatórios. E, além disso, existe uma regra para os especialistas em aviação de que “é mais fácil um raio cair duas vezes num mesmo lugar que dois acidentes aéreos possuírem o mesmo motivo”.

Deixemos por um momento de lado a discussão técnica, que definitivamente, para mim, é super limitado. Analisemos o comportamento dos formadores de opinião. Primeiramente, o número de atrasos nos vôos domésticos em dias atuais estão dentro da normalidade para esse período do ano, aliás, esse é um período em que é costumas aviões atrasarem, em média, cerca de uma hora, e até duas em horário de pico. As conexões passam a ser mais elásticas, prevendo possíveis atrasos. Por exemplo, um vôo Curitiba-Belo Horizonte, com conexão em Guarulhos, fora de temporada, costuma ter vinte minutos entre o horário de chegada de um e o embarque de outro. Nessa época do ano, esse tempo de espera se dilata em mais de uma hora. Quem sabe o inferno que é uma espera por conexão sabe também que não é de hoje que viajar em temporada alta é sinônimo de atrasos, aborrecimentos, e ainda por cima de tarifas mais caras.

Porém, a busca de um bode espiatório é também tão costumas quanto as milhares de explicações fajutas que as comissárias de bordo dão quando o cafezinho acaba. A chamada “crise” no sistema aéreo brasileiro vai afetar o preço das passagens de ônibus. O que antes foram forçadas a se manterem baixas devido a concorrência com os meios aéreos de transporte, encontraram seu argumento ideal para elevar e muito seus valores. A privatização do espaço aéreo brasileiro já encontra fortes argumentos. E por aí vai. Já há economistas calculando milhares de dólares de prejuízo, elegendo tal crise como o apagão do “bode” predileto do pensamento conservador: Lula.

E o mais interessante: a solidariedade para com as famílias das vítimas do maior desastre aéreo do país desapareceu. Só, claro, sendo lembrada para argumentos aos bodes dos mais conservadores. Santos Dumont deve estar se remoendo de ódio em seu túmulo.

02 dezembro 2006

América Latina e o congresso da UNE.

O que acontece com a América Latina, mais precisamente com a América do Sul? Está até parecendo congresso da UNE!

Este texto não possui nenhum tom de chacota. Quando me refiro ao congresso da UNE, refiro-me a alguns aspectos que me soam similares à conjuntura latino-americana. Primeiramente pela característica de que, em ambas, a união e a integração são hipóteses, mas o fato é a fragmentação. Segundo, pela característica da forte presença dos setores da esquerda.

Mesmo em idos tempos em que a totalidade, praticamente, latino-americana era governada por setores de extração liberal e, em alguns casos, claramente conservadores e de direita nacionalistas, a idéia de integração é somada ao comum pensamento dos governadores eleitos, ou impostos. Agora que as contradições neoliberais demonstram a velhacaria dos partidos conservadores, temos uma mudança de pensamento significativa nos governos latino-americanos e uma renovação da idéia de integração, porém renovação claramente no sentido popular e de fortalecimento latino-americano. A eleição de Bachelet, no Chile; a reeleição de Lula no Brasil; a certa reeleição de Chávez na Venezuela; a eleição de Vasquez, no Uruguai; a eleição de Morales na Bolívia; a eleição de Daniel no Equador; demonstram o esclerosamento das forças conservadoras e a ascenção das forças populares mais progressistas, ainda que estas forças não se organizem necessariamente em partidos ideológicos. Indo mais além, até mesmo nos países onde os conservadores se mantiveram no governo, como o México, não foi com tranqüilidade. Nesse país, tivemos um empate inédito, e bastante contestado inclusive. Se compararmos com a União Nacional dos Estudantes, que também já teve, em seu histórico, momentos em que representantes do pensamento conservador dirigiam a entidade. Em um certo momento, as forças progressistas foram substituindo de tal maneira as conservadoras que, hoje, o que vemos, é praticamente uma unanimidade a presença forte e marcante das forças progressistas no cenário congressual. Ainda que estudantes conservadores se façam presentes em todos os congressos, porém com força bastante diminuta; podemos comparar tranqüilamente com a América Latina.

Diferentemente da UNE, que passou sufoco pelas repressões, militares e neoliberais, e por isso tem seriíssimas dificuldades políticas e financeiras; essas dificuldades na América Latina são também causadas pelo sufoco devido à incapacidade das lideranças tradicionais em conduzir a política e a economia dos países latino-americanos. A coisa piora quando, na década de 80, iniciam-se as transformações mundiais operadas pelo neoliberalismo, e o atraso latino-americano nas reformas econômicas necessárias foi algo notório. O que vemos hoje é, senão um sinal claro de repúdio ao neoliberalismo, um repúdio popular às forças conservadoras. Fernando Henrique Cardoso acerta em dizer que o PSDB perdeu suas raízes, mas não no que diz respeito às bases populares como ele afirmou; mas no que diz respeito ao de sempre transitar no caminho do poder.

Com a notável exceção do Chile e do Brasil, talvez um pouco do Uruguai, o cenário político latino-americano ainda é de incerteza democrática. As estruturas políticas são débeis no quesito legitimação. E, quanto mais atrito há para que o processo de transição das forças conservadoras para as progressistas aconteça, mais intensa é a postura de radicalização de seus governantes. É exemplo notório a Venezuela, que depois do golpe de direita e do contra-golpe popular, fez com que Chávez radicalizasse sua postura para o que ele chama de “construção do socialismo do século XXI”. Bom exemplo também consiste nos governos de Bachelet e Lula. Ela, de origem ideológica socialista, ele, de origem ideológica social-democrática de esquerda; são justamente os que terão de ter condutas menos radicais, mais de coalizão. Pois a estrutura política conservadora nesses países é bem consolidada. Ou seja, se não for por meio revolucionário, pode colocar o camarada Aldo Rebelo na presidência que um Brasil progressista não acontece.

Resta saber se a integração latino-americana, daqui para frente, vai seguir uma pauta mais construtiva ou se vai enveredar pela experiência da UNE, ou seja, diversas forças progressistas na gestão, mas quase nada de integração, nem mesmo naquilo em que é comum na estratégia de suas organizações. Encerro com um pensamento de Engels: “o socialismo começou como um movimento burguês; depois que surgiu o comunismo, de características absolutamente contrárias, nunca mais os socialistas foram convenção uníssona”.

Uma outra América Latina é possível, e será socialista!

Ósculos e amplexos.

01 dezembro 2006

Com vocês: a sapiência de Rachel Genofre.

Hoje fui até a escola de minha filha. Além daquelas obrigações básicas, verifiquei os trabalhos e provinhas dela ao longo desse ano. E fiquei impressionadíssimo com alguns belos exemplares de sapiência de uma mulher de apenas sete anos, nos bancos da segunda série. Ei-los:

Pergunta: "O que é amizade?"
R: Amizade é ter amigos.

Pergunta: Descreva o desenho: um menino chutando uma bola.
"Era ma vez um menino que chutava uma bexiga. Enquanto ele sorria chutando a bexiga, Lino, chorava por ver sua bexiga ser chutada". (as pontuações foram apostas pela professora).

Pergunta: Faça um bilhete para seu pai.

Pai.
A professora mandou que o senhor fizesse uma redação para ela. Mas, veja bem o que o senhor vai escrever porque o senhor é mais inteligente que ela e ela é capaz de não entender nada. Assinado Rachel. Curitiba, quinta-feira.

Pergunta:

Escreva, em ordem crescente, os números de 1 a 100.

Resposta: em ordem crescente, os números de 1 a 100.

Pergunta:

João tinha 6 balões, tinha que dividir entre seus dois amiguinhos. Quantos balões foram dados para cada um?

Resposta: Depende, o João fica ou não com balões? Se não ficar com nenhum, três para cada um.



Te amo filha!

21 novembro 2006

Meu último sonho non sense.

Francamente, vira e mexe, tenho sonhos pra lá de non sense. Mas este se superou.

Enquanto Eleanor Rigby catava o arroz,
Padre Mackenzie guardava a prata.
Ela teve um final atroz,
E ele, disse uma homilia para o nada:

Quando tivermos sessenta e quatro anos não estaremos juntos, o aquecimento global derreterá nossos laços. Lucy, no céu, com seus carvões. Todos que você verá estarão adormecidos, mas não responderão o seu bom dia. Aquela invenção que substitui o combustível fóssil por elétrica criará tanta água de onde não existia que viveremos numa nuvem eterna. E o clube dos corações solitários mudará de nome, passará a ser união dos corações solidários. Eles farão um filme sobre um homem solitário, um novo mártir. Todos os dias, as noites serão ainda mais difíceis, e iremos continuar trabalhando como um cachorro. E, em casa, servirão-se de uma boa dose de “rhythm and blues” enquanto uma bomba nuclear, vindo da Coréia do Sul, atingir o coração da América do Norte. E, aplaudindo, estarão novamente na U.R.S.S; União das Repúblicas Socialistas Sulamericanas.

Não, não é o apocalipse. É apenas o mundo em seu apogeu. O Grand Canyon será um imenso milharal; a Amazônia marca registrada; e a Sibéria será a commodities mundial de cubos de gelo. A União Européia estará em conflito por conta da milésima tentativa de aprovar uma constituição, enquanto a Inglaterra continuará coroando a mesma família real. Descobrirão que as baleias falam, e em seu idioma, dirão aos homens “vão à merda”! A neta de Brigitte Bardot adotará um bom menino, coisa em extinção. A cirurgia plástica será item da cesta básica, e o pão será artigo de luxo. Tudo por conta da má administração dos trigais lunares, eleita em sistema de rodízio diplomático entre o clube das duas nações mais poderosas do mundo neo-liberal-pró-keynisiano.

O presidente da Suiça, último país neoliberal do mundo, será condenado à forca pelo movimento anti-terrorista ianque-anti-muçulmano. Motivo: escutas clandestinas nos sonhos do embaixador Chinês. O ar não será cobrado, fiquem tranqüilos, desde que não usem ventiladores.



Não pude ouvir mais, meu despertador tocou antes do amém. Ósculos e amplexos.

16 novembro 2006

Sobre a declaração do PSTU sobre a vitória de Lula.

Quer divertir um pouco o intelecto? Vá até a página do PSTU e leia qualquer coisa. Se não ficares ofendido por ousar levar à sério, certamente rirás um bocado. Logo na primeira grande constatação da “Declaração”, ou seja, a de que “os resultados desse segundo turno das eleições mostram que Lula foi reeleito Presidente da República” (sic), já é digna de risos ululantes. Ainda bem que esses resultados mostraram isso, pois mais de 60% dos votos, pelo menos para mim, não deixa a menor margem para dúvidas. E, o partido que defendeu o voto nulo, que para um partido que, pelo menos, tenta ser sério, é outra grande piada; faz um joguete que nem a criatividade da Marquesa de Rabicó conseguiria explicar o que a declaração tenta dizer, ou sussurrar.

Lembro-me de que, certa vez, num dos animados debates em meu Centro Acadêmico (orgulhosamente, o CAFIL), regados a muita birita e argumentos “descolados”; quase que um colega de faculdade saí no soco comigo. Tudo por eu ter defendido que Hobbes, por querer emular as ciências naturais, em busca de leis gerais, cria uma tendência a-historicista, tratando a anarquia enquanto elemento político natural de uma sociedade, quando a ciência já provou de tudo quanto é maneira que exatamente o contrário o que acontece. E que, por isso, não deve ser levado tão a sério, obviamente se o objetivo for o de analisar os conflitos políticos da atualidade. No dia seguinte, estávamos em sala de aula. Nossa amizade continua numa boa. E, é claro, os dois foram com voracidade estudar “O Leviatã” para uma nova rodada de birita nas animadas festas do CAFIL. Enfim, ilustrei essa passagem apenas para dizer que o PSTU, se numa situação semelhante, ainda estaria de porre e querendo brigar comigo na sede do CAFIL desde então.

É meio o que acontece na “Declaração”. A mágoa histórica que os militantes do PSTU ressentem sobre o PT é tamanha que, ainda que afirmem com todas as letras sua luta sem tréguas pelo “fim da burguesia”; que essa burguesia, no processo eleitoral, foi claramente representada por Geraldo Alckmin; para o PSTU, todos os canhões de Navarone deverão ser apontados sempre em direção ao Partido dos Trabalhadores e seus aliados (leia-se, principalmente, PCdoB, e não outros partidos de formação não-operária). Trata-se de uma antinomia aparente, porém explicável com sincera simplicidade: o PSTU não luta contra a burguesia, mas pelo seu espaço ao sol na esquerda brasileira, quiçá mundial, e que vê tudo e todos enquanto inimigos potenciais.

Agora, destaque total para o terrorismo do parágrafo sexto da “Declaração”, onde se lê: “A reforma trabalhista pretende eliminar conquistas históricas dos trabalhadores, como o décimo-terceiro salário e o FGTS, reduzir as férias e flexibilizar mecanismos de contratações”. É a “anarchophilia” mais engenhosa que eu já vi de um partido político que tenta, ou pelo menos diz que tenta, ser sério. Gostaria que algum analista de lá me dissesse como isso é possível em dias atuais, pois, francamente, não consegui achar nenhuma forma, exceto a loucura.

Por fim, a expressão que demonstra claramente a posição dos militantes do PSTU “(...) o PSTU manterá uma luta sem tréguas contra o governo petista” (sic). Notem que se trata de uma luta contra o governo do Partido dos Trabalhadores, e não contra os pensamentos conservadores, nem contra a burguesia, nem contra os lobbistas, nem contra a corrupção, contra as mazelas sociais, contra os ataques neoliberais às massas trabalhadoras; mas tão e exclusivamente o PT!

Ósculos e amplexos!

“Há um despacho na esquina do futuro” (O Rappa).

Se analisarmos bem a questão da nacionalização do gás boliviano, concluiremos que o grande problema foi, sem embargo, o processo eleitoral brasileiro.

O brasileiro, ao ver que um determinado diretor acaba de assumir o comando de uma empresa, “não bota fé” em um primeiro momento e espera para ver “que bicho vai dar”, para depois embasar seus comentários. Infelizmente é uma cultura bastante estranha, verdade. Mas, não deixa, de certo modo, de ter ocorrido o mesmo com o nosso país vizinho. Evo Morales, de origem ainda mais humilde a de nosso presidente “pindoramaense”, e de formação política ainda mais radical que a do Partido dos Trabalhadores, e num país de magnitude econômica deveras inferior à brasileira, não teria outra atitude senão buscar a reestruturação estatal, obviamente, em detrimento dos trabalhadores. Ao invés de, imediatamente após a confirmação do resultado eleitoral boliviano, Petrobrás e governo do Brasil renegociar na sua totalidade os acordos comerciais e produtivos naquele país, ocupou-se da lógica cultural estranha descrita acima.

E, não podendo ser diferente devido a sua postura política, Evo Morales parte com sede ao pote da reestatização das estruturas bolivianas. Começou logo com uma “lapada”, aumentando de 18% para 35% as taxas para as indústrias de hidrocarbonetos estrangeiras. Sinal de que alguma coisa muito maior ainda estaria por vir. E, como se trata de hidrocarboneto, não haveria motivos para que a Petrobrás não fosse tratada igualmente à Texas Co.; ou seja, como “gringa”. Igualmente tratado como “gringa”, num primeiro momento, a estatal venezuelana PDVSA, não perdeu tempo e, antes mesmo que Morales assumisse o comando do Palácio Quemado, Hugo Chávez já estava no encalço para estabelecer novas parcerias e negociar todos os acordos. O resultado foi um comum acordo que aproximou mais Morales da proposta bolivariana de Chávez a proposta “globalizante” do mundo petrolífero.

Por sua vez, o Brasil esperou. Continuou esperando. E tardou por sua espera. Enquanto os militares bolivianos ocupavam as instalações da Petrobrás na Bolívia, o Brasil mergulhava numa eleição presidencial onde todos possuíam opiniões sobre o problema, mas não apresentavam nada de concreto. Havia, naquele momento, três alternativas apenas: 1) dizer um não para a Bolívia, cair fora e chorar as mágoas na vã esperança de uma corte internacional condenar a Bolívia a pagar indenizações ao Brasil (Petrobrás); 2) não só dizer um não, mas “botar” o sucateado exército brasileiro, ainda assim mais poderoso que o boliviano, para defender os “interesses” brasileiros; ou 3) buscar uma alternativa diplomática, ainda que isso signifique perdas enormes para a empresa brasileira.

Ora, venceu, e ainda bem, a postura de número 3; de esquerda, que além de resguardar a autonomia dos povos, principalmente a dos povos vizinhos; manteve sua prioridade dada á América do Sul e na visão dos benefícios futuros dessa posição. Se dependêssemos da postura “tucana”, estaríamos em pé de guerra com o vizinho boliviano, matando e saqueando o pouco que eles possuem, em prol de um interesse que, no fundo, não é genuíno, mas internacional. Além, é claro, chamar de vez a atenção do mundo para nosso país de maneira mais negativa do que nossos próprios problemas (fome, miséria etc) já o fazem. Ou ainda pior, nem uma nem outra, continuaríamos esperando, esperando, esperando (...).

Ósculos e amplexos

08 novembro 2006

Ai se tivessem vergonha na cara!

Ao contrário do que Veja afirmou em seu editorial da semana passada, suas posturas frente ao governo não foram imparciais e iguais às críticas que ela fez aos presidentes Collor, FHC. Nunca um Presidente foi tão mal tratado, nunca foi tão desprezado, e nunca foi tão desrespeitado por um veículo de imprensa de grande circulação como foi com o Lula. E o que se diz de Veja, pode-se aplicar a quase todos os veículos da mídia.

Miriam Leitão, que só falta comentar futebol, destilou venenos e mais venenos. Torceu, distorceu, pintou e bordou sobre caricaturas, que dava para ler, nas entrelinhas, o dedo burguês dizendo o que Miriam estava falando. Como se ela fosse o boneco, e os veículos, títeres. Quando houve o primeiro debate do segundo turno, aquele da Band, os cientistas políticos mais respeitados do Brasil forçavam a barra para desenvolver a tese de que “não há vencedores em debates”, pois, uma vez que cada candidato fala para seu possível eleitorado, existe, no máximo, aquele que melhor apresentou suas propostas naquele curto espaço de tempo; Miriam Leitão se apegava a lapsos, quase ínfimos se comparados aos de Alckmin, para afirmar que o candidato Tucano havia ganhado o debate. Heródoto Barbeiro, que de jornalista é ótimo professor de história, reclamava que a comitiva presidencial era exagerada (cinco carros, doze motos, um minicaminhão, seguranças, etc); esquecendo-se que se trata de segurança nacional proteger um presidente, e que aquilo é praxe que todos, absolutamente, todos os presidentes são obrigados, e ainda bem, a terem. E tantas e tantas outras pérolas que foram lançadas a porcos vestidos de Dior e que em seu cocho comiam a idéia de despojar a figura do Presidente da república, na velha política do “se não é meu, que então não seja de mais ninguém”.

Ainda bem que a política triunfou nessas eleições, e não a classe média alta com seus veículos de imprensa amarrados com a burguesia. Se dependêssemos da imprensa, dos veículos de comunicação, o Presidente não viajaria para representar o Brasil em nada; se fosse se deslocar, iria a pé; faria com que recebesse outros chefes de Estado de chinelo Havaianas, calção e camiseta do Corinthians (preferencialmente aquela com a propaganda da Coca-Cola); e transformaria o gabinete Presidencial em um depósito, deslocando o Presidente para uma salinha nos fundos do Palácio, lembrando aquelas velhas cabines burocráticas abarrotadas de papel velho e poeira. Tudo isso enquanto ainda sonha com um Air Force One, do Presidente ianque; com as jóias da coroa britânica; com as viagens pomposas do Rei Juan Carlos da Espanha; e em dormir na cama double king size do premier francês. Além, é claro, de taxar o salário presidencial a um salário mínimo, e sem direito nem à cesta básica no natal.

A primeira avaliação que toda imprensa brasileira deveria ter feito, se tivesse vergonha na cara, era, com direito a manchete de capa, “Perdemos! Venceu o povo brasileiro”.

Ósculos e amplexos!

06 novembro 2006

Depois da tempestade: construir a bonança.

As eleições acabaram. Agora, com a cabeça mais fresca, podemos pensar um pouco mais sobre as coisas como deveriam ser e no como foram. Foram inúmeras as colunas que li, antes e após o segundo turno, cujo avaliavam os debates entre, principalmente, Lula e Alckmin. Todas foram uníssonas: a fórmula de debates está viciada, virou um senhor evento televisivo e um mínimo momento político.

Lembro-me que assisti ansioso o primeiro debate do segundo turno entre os presidenciáveis, aquele da Band. Do jeito que pegou fogo, via que o dia seguinte a população inteira estaria em plena guerra civil. Mas, a mídia logo correu para abafar aquele pega pra capar. E, o que vimos depois, foi uma série de debates completamente sem sal. Sem gosto algum. Sobrando para as redes televisivas os altos pontos no IBOPE, mas para o povo brasileiro um sentimento justo de que aquela fórmula não valeu de nada.

Sou da opinião de que os veículos, principalmente os televisivos, façam as velhas e boas sabatinadas. Com fórmulas diversas, como por exemplo, um candidato comentando a proposta política do outro. A velha “Roda Viva”, com os maiores especialistas sabatinando durante duas horas a fio sobre diversos assuntos. Afinal, os candidatos, esses todos nós conhecemos, o que os diferenciam são as ideologias e programas políticos. Por fim, defendo um único momento de debate. Às vésperas da eleição. Sem interferência da televisão, nem mesmo suas mirabolantes perguntas que não perguntam nada, mas exprimem o desejo de fazer o candidato responder superficialmente a tudo, e com tão somente chavões. Abram o debate, coloquem-se temas gerais para se debater, e deixem que os candidatos se acabem. Outra coisa importante, em cadeia nacional, preferencialmente com organização da Band, que se mostrou única capaz de desenvolver um bom debate, e, na oposição, jamais a Globo, a que se demonstrou a mais tendenciosa e menos qualificada em tudo.

Sugestão dada, mas óbvio que, até as próximas eleições, creio que terei uma idéia melhor elaborada a respeito. Até lá, fico com essas. Sempre aberto ao diálogo e ao convencimento. Ósculos e amplexos.

04 novembro 2006

Cafezinho na Cozinha: Um bate-papo com Luana Bonone.

Luana Bonone, além de querida amiga, é formada em Comunicação Social pela UFMG, Presidente da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais, e autora da monografia “Veja: Jornalismo Panfletário também vende!” (orientadora: profª. Dr. Carmem Pereira), sobre a revista Veja. Segue-se uma pequena entrevista que fiz com ela sobre o editorial de Veja, da semana 29/10-4/11.

Michael: Então, gostaria de uma opinião sua sobre o editorial dessa semana.

Luana: Adorei a charge (risos). Veja defende a tese de “Quarto Poder” (referência a Afonso de Albuquerque em seu livro “Um quato poder”), uma cultura norte-americana de jornalismo, ou seja, a mídia como um poder moderador, que investiga e denuncia os demais poderes. O problema é que no Brasil as coisas não funcionam bem assim. Ela escolhe o alvo, acusa, julga e condena... e interfere quase que diretamente nas decisões e acontecimentos do país.

Michael: To gostando, fale mais:

Luana: Acho bom que a Veja, ao término do Editorial, assume que “imprensa livre não é sinônimo de imprensa neutra”, sobre esse ponto de vista, concordo inteiramente com Veja. O grande problema é que Veja não explicita sua opinião como, por exemplo, Carta Capital faz. Na maior parte do tempo, Veja se veste de imparcial para emitir uma opinião, embora escreva, uma vez ou outra, no Editorial, sua opinião em algumas frases que emitem suas convicções. Já, Carta Capital, a sua vez, embasa e formula cada conteúdo e, assim, emite uma opinião baseada nelas. O que faz muita diferença.

Michael: Talvez a Veja reflita a intelectualidade superficial da classe média alta, seu público mais influenciado?

Luana: Sim, Veja acredita, sinceramente, que exerce esse papel de Quarto Poder ao mesmo tempo em que participa de todos os lobbies e pressões nos “bastidores” e, por vezes, fora dele também.

Michael: Seria então uma segunda manifestação contrária ao Governo Lula o fato dele não reconhecer em Veja esse papel de “Quarto Poder” e tratá-la como um veículo importante apenas? Seria, então para Veja, um horror ela ser tratada enquanto revista e não enquanto co-presidente?

Luana: (risos) Na verdade, Veja não reivindica o Poder Moderador, ela compartilha a idéia de Quarto Poder. Que significa liberdade de imprensa, poder de denúncia, poder de mostrar para a sociedade o que está errado, esse papel da mídia, na opinião de Veja, é o que ela reivindica. Mas, na prática, a imprensa acaba adquirindo um poder de pressão social muito maior do que isso. Afonso de Albuquerque fala que o Poder Moderador sempre existiu no Brasil, ganhando força no período militar, mas que no fundo sempre foi um problema na engenharia política do país. Sabe que isso foi o tema de minha monografia, né?

Michael: Óbvio que sei, eu a li. (risos). Mas, estamos falando do maior veículo de imprensa do país. Que, mesmo com tamanhas denúncias sobre sua falta de credibilidade, continua vendendo horrores. Lucro não é definitivamente seu único objetivo, tem que ter coisa maior, não concorda?

Luana: Eis a pergunta que tento responder em minha monografia: como é que a Veja, que não possui a menor objetividade, tem tamanha credibilidade? Eu penso que, e já to pensando em uma pós-graduação sobre isso, que Veja se utiliza muito do expediente do senso comum. Ou seja, reforça opiniões do senso comum, ao mesmo tempo em que as renova, trazendo novos elementos a essa opinião. Certa vez, lembro que, Marilena Chauí, quando em uma palestra na UFMG , a uma pergunta de uma jornalista estupefata, que era a seguinte: “Como é que pode o povo ficar contra a opinião pública?”, e Chauí, respondeu mais ou menos assim: “Justamente porque a idéia introjetada pela mídia de o que é a opinião pública não é a opinião do povo!”.

Michael: Um senso comum pequeno-burguês, uma parcela ínfima e superficial da sociedade dizendo que sua opinião é a opinião pública em geral, e ainda assim a revista continua ganhando fortunas e mais fortunas. Interessante, não?

Luana: Ela tem credibilidade porque mantém-a. Vende muito, tem propagandas, tem variedades, e assim, pega as idéias rasas da pequena-burguesia e distribui como panfleto. Aliás, acho que Diogo Maynard é o retrato caricato da Veja.

Michael: Certa vez, FHC deu uma verdadeira surra intelectual em Maynard, no programa “Manhattan Connexion”. Para se defender, Maynard revela que sua coluna é de humor, não foi feita para ser lavada a sério. Impressionante que só a revista Veja o leva muito a sério?

Luana: (risos) Deve ser de humor mesmo, meu primo adora lê-lo para rir. Mas, a Veja, no fundo, é a própria opinião de Maynard, por isso ela o leva tão a sério.



Ósculos e amplexos, Luana! Obrigado pela entrevista e por autorizá-la. Sucesso!

02 novembro 2006

Papo de Cozinha - 02/10/2006

Na fulô ou na filó! Sei que o papo de cozinha já estava fazendo falta. Então: ei-la! “Hell. Paris 75016”, da francesa Lolita Pille, vai se tornar filme. Bom, falaremos então do livro. Qualquer semelhança entre “Paris, 75016” e “Bervely Hills, 90210”, ou o vulgo “Barrados no Baile” não é mera coincidência. Jovens ricos, bonitos e absurdamente fúteis, são os personagens de ambas histórias. Porém, em “Hell”, alcunha autobiográfica da autora, não temos o carisma dos amiguinhos dos Irmãos Walsh, mas sim um misto de decadência e total falta de valores, dignas dos personagens de “A vida como ela é”, porém sem aquele toque de gênio de Nelson Rodrigues. Obviamente que se trata de uma salada multireferencial, no ritmo decadente de “Eu, Cristiane F.; drogada, prostituída”. Personagens superficiais, sem história, sem trama, sem nada. Apenas alguns lampejos de criatividade, como quando ela tem um breve contato com a realidade ao ter uma crise, no dia em que ela fez um aborto, defronte a vitrine do Baby Dior; quando do acidente de Andrea, o amor mauricinho de Hell, contada pelo próprio defunto, e a transa final de Hell com um desconhecido. O livro, de maneira geral, é de um mau gosto daqueles, mas, por algum motivo que eu prefiro ignorar, se tornou um dos maiores Best-Sellers, com direito a visita de Lolita Pille em São Paulo na Bienal do Livro. E, agora, virará filme.

Ecos da maldade: seção Pare o mundo que eu quero descer! Justiça gaúcha proíbe a “boneca assadinha”! Motivo? Se você achou que é por desacato à inteligência, engana-se! Segundo a juíza, por a boneca ter sensores na região da vagina, que são responsáveis pelos risos ou choros da boneca quando se joga água fria ou morna (afinal, o bebê está assado); revelam um grande conteúdo erótico, inapropriado para crianças. Eu acrescentaria, também para adultos, pois seria um imenso conteúdo pedófilo. Eu diria mais, inapropriado para a fábrica, pois, ô idéia infeliz! Tudo bem que a maldade está por trás dos olhos, e não à frente. Se você quer ver coisas cabulosas, basta um pouco de imaginação que logo você verá a maior suruba em histórias singelas como “Dumbo”, “Cinderela” ou “O Gato de Botas”. Mas uma boneca que vem assada? Eca!

Economia interessante: “Guerra no Líbano provoca aumentos nos preços da maconha em Israel”! Óbvio que, como aqui, é proibido também acolá. Mas, com a vigilância bélica nas fronteiras, a maconha “não passa”. Isso provoca o aumento de até em oito vezes do valor da erva. Os mauricinhos de lá largaram mão da cocaína, pois a erva é que é cara!

Por hoje é só! Ósculos e amplexos!

09 outubro 2006

Foi dada a largada pelo nosso futuro.

Moro em uma cidade onde a política é elaborada sob a perspectiva burguesa, porém debatida de forma pequena-burguesa. Uma capital que navegou na contra-mão do país ao votar em massa em Geraldo Alckmin (mais de 53% dos votos válidos), hoje acordou com uma ressaca daquelas. O motivo: o debate entre Lula e Alckmin no domingo. Aparentemente, caiu a ficha: Alckmin é um adversário mediano frente ao Lula.

Obviamente que os tucanos de plantão saíram com um comportamento “fachada” de que foram os grandes vencedores do debate. Por outro lado, os petistas fizeram a mesma coisa. Mas como debate não é jogo de futebol, não há vencedores nem derrotados. O que houve foi o lançamento do debate mais importante da vida dos brasileiros: quem será o comandante de nosso país e qual a política que ele irá representar. Caiu a ficha, portanto, que temos agora uma eleição radicalmente bipolar. De um lado, Alckmin, representante do continuísmo neoliberal, das grandes fortunas dos bancos e empresas gringas, dos latifundiários e daquela parcela média da população, mais conhecidos como “profissionais-liberais”; de outro, Lula, representante do trabalhador assalariado, do produtor rural, dos industriais brasileiros, do movimento social organizado.

O que aconteceu naquele debate foi o conhecimento de quem são os candidatos à Presidência da República. Não nomes ou história, mas seu pano de fundo, sua base política e sua representatividade social. À partir de agora, a campanha presidencial toma outro rumo. Continuará sem propostas objetivas ou sequer soluções para problemas pontuais. Será uma guerra pelo pensamento do qual cada candidato representa em nossa sociedade.

Portanto, por esse e por tantos outros motivos, vou de Lula. Não me representa o pensamento de meu patrão, logo não irei de Alckmin. E, ser derrotado o pensamento trabalhador, será o trabalhador o grande derrotado, e não Lula. O debate foi o começo. Aguardemos, com bandeiras em punho, o desenlace dessa campanha.

Ósculos e amplexos.

03 outubro 2006

Só para desestressar!

Parafraseando Panamericana!

Quem são os ditadores do Partido Tucanato?
O que é democracia ao sul do Equador?
Quem são os sanguessugas ao leste da Cordilheira?
Quem são os salvadores do povo de Salvador?
Em Parador
Quem são os assassinos do povo brasileiro?
Quem são os estrangeiros que financiam o terror?
Hay que endurecer Sin perder la ternura
Ao sol de Parador

Quem são os índios incas que plantam cocaína?
Cadê os traficantes com armas de gasolina?
Quem são os trostskitas?
Quem é Heloísa?
O que significa a praça 29 de março?
Quem são os contra-revolucionários esquerdistas
Que quer a presidência no lugar do Lula-lá!

Quem são os terroristas da periferia paulista?
Quem são os guerrilheiros da reforma urbana?
Quem são os luminosos que enfrentam as volantes?
Quem são os para-militares do latifundio?
Quem são os vuduzados que querem pena de morte?
Quem são os encarnados que inspiram as falanges?
Em Parador
Hay que endurecer, sin perder la ternura!

“Se eu pudesse eu não seria um problema social” (Seu Jorge).


Reflitamos:

  • Quando as moças ficam grávidas, justamente quando mais precisam de apoio, toda a família e sociedade apunhalam-nas.
  • Quando o piá de rua troca o roubo pela venda de balas no semáforo, recebe o não das pessoas tão somente nas balas.
  • Quando passa uma tragédia na televisão, dói mais que aquela que acontece na porta da casa do telespectador ao expulsar o mendigo que busca abrigo em sua soleira.
  • Quando explode uma bomba em qualquer parte do planeta indigna menos que um pedido de esmola na porta do supermercado.
  • Quando um policial, a mando de seus superiores, bate em estudante, causa menos repulsa que aquele que aborda você bêbado ao volante.
  • Quando o debate sobre esta ou aquela universidade é melhor que a outra se torna mais importante que a qualidade da educação como um todo.
  • Quando a fúria fanática religiosa é tolerada enquanto o ecumenismo é tirado como coisa de quem não tem nada melhor para fazer.
  • Quando a história de lutas de nosso povo brasileiro é ignorada, que nossa liberdade conquistada à base de muita porrada, é facilmente substituída pelo discurso do “brasileiro pacato”.
  • Quando se gasta uma fortuna para ver um artista da Globo no teatro Guairá e não se reclama, mas recusa-se a assistir uma peça até melhor com artistas ainda mais virtuosos no Paiol por míseros cincão (2,50 com carteirinha da UNE ou UBES).
  • Quando, enquanto você está lendo isto, milhares de analfabetos continuam sem saber sequer como é que se escreve o nome da rua em que moram.

    “Se você treme de indignação diante uma injustiça, então somos companheiros”

Uma palavra ou duas.

Perplexo! Eis a minha expressão quando do final da contagem dos votos dia 01º de outubro. Detesto argumentar sobre o que aconteceu, mas não posso ficar quieto diante algumas questões.

Ao mesmo tempo em que fiquei deveras chateado com o resultado de segundo turno para Presidente, fiquei eufórico quando soube da notícia da eleição da camarada Manuela, no Rio Grande do Sul. Não se trata de uma eleição qualquer, principalmente quando sabemos que nenhuma eleição é qualquer se tratando de Câmara dos Deputados. Mas, trata-se da deputada mais votada nessas eleições (mais de 270 mil votos), terceira maior votação da história sulriograndense, a primeira mulher eleita e o segundo representante comunista na Câmara Federal daquele estado.

Fiquei contente, primeiro, por ela ser uma camarada que conheci em diversas lutas que travamos lado-a-lado. Dos sonhos em organizar a juventude brasileira numa verdadeira imersão no pensamento socialista. Das longas reuniões do movimento estudantil em que ela, representante da UNE para o sul e eu, representante da UJS na UPE, quase nos engalfinhavam em debates acalorados, mas sempre com o objetivo de se elaborar o que há de melhor, e como elaboramos. Das aflições, por vivermos em dois Estados tão distintos, mas com uma essência política pra lá de conservadora, e o desejo enorme em transformá-los. Segundo, em reconhecimento ao seu incansável trabalho como vereadora da capital gaúcha. Eleita com uma impressionante marca de aproximadamente 10 mil votos, seu mandato foi marcado pela jovialidade e pelos nomes PCdoB e UJS, que sempre ela frisava em cada um de seus discursos e materiais. E por falar em materiais, ela não virou as costas para a UJS, sua origem, depois de eleita. Pelo contrário, quando eu encontrava meus camaradas do Rio Grande e perguntava como estava a UJS por lá, ouvia sempre a mesma resposta: “A equipe da Manu deu uma senhora organizada por lá”. Verdade seja dita: eu, aqui em Curitiba, não teve uma só edição de seus jornais e panfletos (e até convites para atividades de seu gabinete) que eu não tenha recebido dela. Toda uma refinada atenção para seus amigos e camaradas também não faltou. Lembro-me de cartão e mensagens em meu aniversário que ela ou a equipe dela me enviara naquela data. Como não ter carinho e admiração política por esta camarada? Por último, fiquei feliz por saber que teremos uma deputada da UJS na Câmara Federal. E que, junto com Aldo Rebelo, e tantos outros camaradas do PCdoB, teremos uma bancada combativa e de luta.

Deixei para o final deste uma breve comparação que não pude evitar. Como se explica a sonora eleição de Manuela no RS e a não-eleição de Ricardo Gomyde no PR? Claro que, para isto, devemos desconsiderar que Rio Grande e Paraná possuem formações políticas e conjunturas bastante distintas. Mas alguns pontos devem ser observados. Gomyde é de uma geração pioneira da UJS no Paraná e Manuela é da atual geração da UJS no Rio Grande. Manuela é vereadora licenciada, Gomyde Secretário de Estado licenciado. Ambos possuem grandes aliados em diversos partidos e segmentos sociais. As finanças para as campanhas de ambos foram modestas se comparados aos demais eleitos. Estes são pontos em comum. Os incomuns foram que, durante a gestão de Manuela na Câmara, investiu-se, politicamente, pesado na organização, estruturação e fortalecimento da juventude. E, que sem vacilo, todas as base do PCdoB do Rio Grande do Sul não só apoiaram como fizeram uma campanha unificada e engajada. Ósculos e Amplexos.

26 setembro 2006

Um brinde à véspera do aniversário!

E ela chegou: a véspera de meu aniversário! É um tanto incômodo esse dia. Poderia ser um dia como outro qualquer. Mas não é. Em algum lugar do mundo pode ser feriado. Pode ser um momento festivo. Pode ser o dia de uma grande catástrofe. Mas aqui, em meu mundo, nada mais é do que a véspera de meu aniversário. Para os mais viciados em horóscopos, esse dia tem importância por se tratar do último dia de meu inferno astral. Bem, pensemos, se este é o último dia de meu inferno astral, é impressionante como ele é idêntico a todos os outros dias do ano. Acordar, banhar-se, sair de casa, fazer os afazeres, administrar problemas, intermediar conflitos, comemorar soluções, voltar para casa e sonhar com um dia seguinte. Para os maiores mal-humorados, não haveria ansiedade no último dia em que se comemora um ano que já passou em sua vida, ano após ano, com a data de vencimento no exato dia do ano em que você nasceu. Mas o fato é que há ansiedade, angustia, chateação e ao mesmo tempo um pedante “será que alguém além de mim realmente se importa com isso”?

E a lista de presentes aumenta. É outra coisa bastante singular. A gente passa o ano inteiro suspirando por coisas que não temos, não importando o tamanho ou preço. E, no exato momento em que alguém te pergunta o que queres de aniversário, te dá um colapso mental e a resposta sai como atendente de McDonald’s te empurrando um sanduíche, ou seja, o famoso “qualquer coisa está bom”. Ou ainda pior, quando sai àquela resposta digna de comover telespectador assíduo de novela do SBT: “sua amizade é meu maior presente” ou pior “queria mesmo era a paz mundial”. Blergh!

De qualquer forma, tudo só irá se concretizar amanhã, no dia do aniversário. A véspera é apenas mais um dia. E ponto. Proponho então que façamos o seguinte: levantemos nossas taças e brindemos à véspera de aniversário e não ao aniversariante. Assim, comemoraremos um marco que se repete todo ano na vida de qualquer mortal. Perpetuaremos a data, não o mortal. Perpetuaremos a angústia de que dias melhores virão, e que, oxalá, inicie-se exatamente no dia seguinte da véspera de aniversário.

Enquanto a inspiração não colabora!

E, primeiro, Deus criou o verbo: “Fiat Lux” e fez-se a luz. Depois, muito tempo depois, um brasileiro criou o “Foda-se”.

Vamos lá! É sua primeira vez aqui? Tenha calma, tudo é feito com a mais precisa segurança. Primeiro você já conheceu os equipamentos de segurança. Corda, um imenso colchão de ar, instrutores, enfim, tudo feito especialmente para que você se sinta no maior conforto possível na hora de saltar. Lá embaixo, há um pelotão de homens vestidos de brancos prontos para lhe prestar qualquer auxílio por menor que seja a necessidade. Como a gente procederá? Muito simples! Segurarei você até que seu corpo se incline em um ângulo tal que você quase estará fora do andaime. Depois, contarei até três e você se projeta, num salto. Logo estará imitando os pássaros! Lindo mesmo. Aí, você se abraça depois do salto para que, na hora em que a corda lhe puxar, você não sinta uma espécie de soco ou se machuque.

Se alguém já morreu fazendo isso? Bem, não posso mentir para você. Sim, vários, mas sempre foram situações em que os procedimentos de segurança foram ignorados. No máximo algumas escoriações leves, se alguma coisa der errado. Mas, nós somos peritos nesse negócio, e nunca tivemos nenhum incidente, nem leve e nem grave.

Então, vá se preparar que hoje você imitará os pássaros.

Ei! Espere, ainda não amarrei a
.
.
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Corda!
.
.
+++++++++
Putz, agora foda-se!




Tenham um ótimo começo de semana! Ósculos e amplexos.

17 setembro 2006

“Hoje eu quero fazer meu carnaval” (Chico Buarque).

Sim, é possível levar o mundo a sério. Tanto, que ele não o deixa levá-lo de outra forma. Levar o mundo é expressão curiosa, uma vez que necessita de um otimismo do qual o mundo não lhe fornece, leva a crer que você pode levar o mundo quando na verdade é ele que te leva. Fracassos da máquina militar do Tio Sam, reviravoltas no Oriente Médio, avanço econômico da Ásia, intensas migrações, catástrofes naturais em ritmo frenético, enfim, a própria globalização mudando de rumo. Tudo isso acontecendo, e a crença de que você é capaz de levar o mundo continua.
O fenômeno da globalização é tão insipiente que parece não alterar em nada os rumos dos conflitos no Oriente Médio. Nem para atiçá-lo, nem para acalmá-lo. O que leva a crer que, primeiro, o caráter, ainda que arcaico, das guerras nessa região não se alteram por uma política econômica global; e segundo, que o ideal neoliberal de que o simples aumento do livre comercio gera a paz não passa de um grande fiasco. Israel, que penou por uma independência bélica e supremacia militar na região, possui armamento nuclear. E, afiadíssimo aos desígnios do mundo neoliberal, teimou e acabou não assinando o tratado de não-proliferação de armas nucleares. Isto coloca novamente o perigo nuclear na lista das maiores aflições da humanidade, e em colocação de igual para igual com as catástrofes naturais. Além de Israel, temos na península coreana e no estreito de Taiwan uma das maiores concentrações de armamentos nucleares. E, com a exceção da China, esses países estão numa turbulência política tamanha que qualquer faísca basta para que um arsenal seja detonado. Não nos esqueçamos que, para uma auto-defesa questionável, porém compreensível, a socialista Coréia do Norte se arma também com ogivas nucleares, criando tensão com o maior de todos os países detentores de poder bélico-nuclear, ou seja, os Estados Unidos. E, criando tensão com Estados Unidos, cria-se também tensão com França, Inglaterra, Alemanha e tantos outros países europeus, e todos esses com armamento nuclear. E, enfim, todos esses países foram os que mais se desenvolveram com a política neoliberal de livre comércio.
O final da história é incerto. Tudo que podemos concluir é que o mundo nos leva, porém ele é decidido em três patamares bastante distintos. O primeiro é o militar. Quem detém o poder quer mantê-lo e usa seus militares igualmente àquela pessoa que solta seus cachorros para se livrar de um ser incômodo. O segundo na esfera da grande política, cujo seus presidentes e suas políticas de curto prazo para que não sobre nada para um próximo de outra vertente organizativa possa se gabar. E o terceiro é o do movimento social organizado. Cada qual tem a sua posição no mundo, e cada um deles, de acordo com o seu acúmulo de forças, decide mais. E, aquele pobre ser, desiludido com o fato de não poder levar o mundo, pode dormir um pouco melhor uma vez que ele poderá fazer parte de algum desses tabuleiros que decidem o mundo.
Só espero que o tabuleiro militar não inicie uma débâcle do mundo à base nuclear antes do movimento social organizado ter uma força maior e iniciar seu levante para um mundo melhor. Para todos e todas, óculos e amplexos. E como é bom estar novamente ao ar.

06 agosto 2006

Sobre a sucessão cubana.

Eu sei que é chato, ou deselegante, tratar o grande comandante Fidel Castro como “a bola da vez”. Mas, não há como não ver que o carismático comandante da revolução cubana está com os pés mais na cova que na praça de Havana. E, com isso, abre-se para especulação, principalmente dos veículos burgueses, o que será de Cuba depois de Fidel Castro. E torna-se impressionante a campanha, uma espécie de expectativa de fim de campeonato, para se descobrir como e de que forma a ilha socialista ficará.

Certa vez, eu estava num encontro internacional de estudantes e perguntei para os colegas cubanos sobre o que aconteceria em Cuba quando Fidel morresse. A resposta de cada um deles foi uníssona e fiquei me sentindo o Homer Simpson: “Quando ele morrer vai acontecer o seguinte: o Partido Comunista irá indicar um substituto”.

E, entre idas e vindas, tudo aponta para o não tão carismático, porém mais teórico que Fidel, Raul Castro assumir o comando da ilha socialista. Fazendo uma comparação arriscadamente esdrúxula, vai acontecer o mesmo que no Vaticano. Quando morreu o carismático João Paulo II, assumiu o chefe da guarda das tradições católicas, o Bento XVI. Raul Castro é mais ou menos isso. Responsável pelo comando do Partido Comunista Cubano, quase não aparece no cenário internacional. Em compensação, é o homem forte da ideologia comunista na ilha. Trata-se, como nós comunistas sempre chamamos, do Coordenador da fração comunista no poder Cubano.

Tudo indica que a ilha ficará em boas mãos. Mesmo com a dor da partida do companheiro e comandante Fidel.

01 julho 2006

A expectativa é a mãe de todas as cagadas!

"Não entendi o enredoDesse samba amor
Já desfilei na passarela do teu Coração
Gastei a subvenção Do amor que você me entregou
Passei pro segundo grupo e com razão
Passei pro segundo grupo e com razão
Meu coração carnavalesco não foi mais que um adereço
Teve um dez em fantasia
Mas perdeu em harmonia
Sei que atravessei um mar
De alegorias
Desclassifiquei o amor de tantas alegrias
Agora sei
Desfilei sob aplausos da ilusão
E hoje tenho esse samba de amor, por comissão
Findo o carnaval
Nas cinzas pude perceber
Na apuração perdi você"

(Jorge Aragão: "O enredo do meu samba")



O valor da hora extra que teima em não entrar na conta bancária. O CPMF que teima em não te deixar ter o dinheiro que possui. As reformas que o povo necessita que não sai. A oposição que sempre fez o que fez e agora quer voltar a todo custo. A classe média e seu sonho americano em terras tupiniquins. E é claro: a seleção! Como diria o sábio Raulzito: "Vê se tem kung-fu na outra estação".

Se me pergutarem sobre o que aconteceu na bendita Deutschland FIFA's CUP tenho as melhores e mais sábias respostas, mas certamente não acalentarei corações partidos. Trata-se de um campeonato extremamente curto, onde o melhor time não significa que seja a melhor competidora. Não se trata de desfile de craques, mas de um campeonato que, em míseros sete jogos, sagra-se um campeão. Trata-se de um torneio em que é o campeão o time que melhor souber jogar cada jogo. E, nesse caso o Brasil não soube. A Espanha não soube, e tantos e tantos outros também não souberam.

A França, que não possuia 1/3 da qualidade da seleção brasileira, jogou três vezes mais. Mostrou competência, esbanjou passes, chutes e dribles. Dribles! Numa Copa que quase não se viu dribles, no fatídico jogo tivemos jogadas de Zidane e Henry de encher os olhos. Mas queríamos que fossem não aqueles pés, mas os nossos pés. Pés de Ronaldos, Zé Roberto, Roberto Carlos, Zizinho, Kaká, Robinho, Adriano, enfim, de tão somente de quem vestia a canarinho.
Galvão acertou em raro momento de sapiência: "A vida continua!" E Portugal? Oras pois, claro! Viva os Patrícios! Viva Felipão, oxalá, o único brasileiro campeão esse ano!

18 junho 2006

Brasileiros, brasileiras e canarinhos!

Brasil, como diria o poeta: “A Pátria de chuteiras”. Nem com distribuição gratuita de bandeiras junto com carne de primeira, nosso país não fica tão verde e amarelo como está nessa época de Copa. Aliás, termo interessante esse: “Época de Copa”. Uma espécie de quinta estação do ano, ou melhor, do quadriênio. Algo como se comemorássemos o 29 de fevereiro com corpo e alma. Um outro poeta bem que disse: “o coração na ponta das chuteiras”. E é esse sentimento estranho, aparentemente vazio, que causa temas para debates consideravelmente relevantes. Mas alerto de antemão, trata-se de coisa séria. Coisa que vai além das meras quatro linhas e duas traves.

Futebol é, como qualquer outro esporte, um misto de dedicação e paixão. Houve quem afirmasse que a guerra em tempos de paz é a diplomacia, eu diria que uma das diplomacias mais eficientes que já inventaram é a tal da bola. De fato, países jogando bola, durante aqueles 90 minutos, não há guerras entre eles senão aquela dentro do campo esmeraldino. Porém, acreditar que o país fica paralisado em época de Copa e, ainda mais, crer que há uma exacerbação patriótica nessa época, de certo está indo com a maré ou se convencendo do que se vê, mas não do que acontece.

O país não pára em época de Copa. Pelo contrário, cresce e principalmente em setores da economia extremamente estáveis. Talvez somente no natal é que se vende, contrata e aumenta a produção em tão acelerado ritmo quanto o que acontece no período de Copa. E a fórmula é bastante simples: para tamanha necessidade de produção, é necessário mais mão-de-obra. E, naqueles míseros 90 minutos, e espero eu, sete vezes, do jogo da seleção brasileira é que temos o famoso fenômeno do “povo brasileiro inteiro parado diante da televisão”. Muito pouco se comparado ao tanto que se produziu antes e o tanto que irá produzir depois de um jogo da canarinho. Isto, por si só, já justificaria a euforia do povo brasileiro nessa época. Mas o fenômeno é muito maior e vai muito mais além do que eu poderia escrever em tão poucas linhas.

Agora, se atendo ao chamado patriotismo de chuteiras. Alerto aos mais rabugentos: sim, trata-se de patriotismo, de forma original. Não é aquele patriotismo ianque enlatado nos filmes da Disney. Mas é um momento em que, de certa maneira, dizemos ao mundo que somos brasileiros e que “Do universo entre as nações, resplandece a do Brasil”. Claro, sem nos esquecermos de que trata-se de uma comoção nacional direcionada. Em nada tendo que ver com desejos de radicais transformações, mas com uma música de fundo onde ouvimos que somos os melhores, pelo menos naquilo. Também, não nos esqueçamos de que o trabalho é alienante, que o trabalhador é alienado pelo seu trabalho. Que esse sentimento patriótico não se transfere para nenhum outro lugar. Não almejará nenhuma ruptura ou transformação social simplesmente. Trata-se de um sentimento patriótico extremamente lucrativo, principalmente para aqueles que sempre lucram, todos os dias, todos os anos. E o pobre do trabalhador é que se mata para garantir isso, em troca de míseros trocados e uma alegria do qual, tomara, será esse ano apenas a sexta vez que teremos.

No dia seguinte ao do Cafu levantar a taça, milhões de bandeiras estarão já enroladas. Várias delas talvez para sempre. O país voltará ao seu ritmo. O comércio continuará se preparando para seus “Dia dos pais”, “das crianças”, “Natal”, etc. Os bancos continuarão abertos em horário impróprio para a classe trabalhadora, mas sugando seu sangue até a última gota. O estudante continuará sofrendo com o descaso com a educação e com o seu ensino indo para a prateleira do supermercado. E o que mudará é somente o “Rumo ao Hepta!”.

23 abril 2006

Pela unidade latino-americana: Pablo Milanés.

Dispensável qualquer apresentação, apenas a poesia daquilo que muito desejo!
O Sonho de Bolívar, unida com José Martí, dignificada por Fidel, quem sabe Chavez, e também certamente pelo povo brasileiro!

Canção pela unidade da América Latina.

Pablo Milanés.

O nascimento de um mundo se atrasou por um momento
um breve lapso do tempo, do universo um segundo.
Sem delongas, parecia que tudo ia se acabar.
Com a distância mortal que separou nossas vidas.

Realizaram o trabalho de desunir nossas mãos.
E apesar de sermos irmãos, nos olhamos com temor.
Quando passaram os anos, acumularam-se rancores.
Esqueceram-se dos amores, parecíamos estranhos.

Que distância tão sofrida, que mundo tão separado.
Jamais houvera encontrado sem aportar novas vidas.
Escravo por um lado, servil criado por outro.
É o primeiro que nota, é o último em desatar-se.
Explorando esta missão de ver tudo tão claro.
Um dia se viu livre por esta revolução.
Isto não foi um bom exemplo para outros se libertarem
O novo trabalho foi ilhar, bloqueando toda experiência.

O que brilha com luz própria, nada poderá apagá-lo.
Seu brilho pode alcançar a escuridão das outras coisas
Que pagará este pesar do tempo que se perdeu
das vidas que custou, e daquelas que poderão custar

E pagará a unidade dos povos em questão
E àquele que negar esta razão a história condenará
A história leva sua carruagem e a muitos a montarão
Por sobre passará daqueles que quiseram negá-la.

Bolívar criou uma estrela que junto a Martí brilhou
Fidel a dignificou para poder andar por estas terras.

19 abril 2006

Some weird sin.

“Bom, eu nunca tirei licença para viver.
Eles não me concederiam.
Então eu tento arrombar a entrada do mundo.
Eu vou tentando quebrá-la.
Oh! Eu sei que isso não é para mim.
E tudo o que vejo
Deixa-me triste e doente.
Então eu saio procurando
Algum pecado estranho
Tudo é muito careta.
Não consigo suportar.
Sinto-me preso, preso numa cabeça de alfinete.
Eu procuro então algum pecado estranho
Só para relaxar com ele.
Algum pecado idiota.
Por um tempinho pelo menos.
Só algum pecado estranho.”

(Iggy Pop/ David Bowie: “Some Weird Sin”)

Chegar ao fim de uma jornada e refletir sobre a próxima e ainda viver intensamente sem a devida permissão para isso. Estar jovem é um estado de espírito, ser jovem é outros quinhentos. Perceber que uma determinada coisa chega ao fim, mas essa coisa não é algo passageiro, mas a própria vida. Logo iremos trabalhar, e com isso nos igualaremos aos caretas, sejam eles partidários ou não dessa condição alienante. Como é bom achar um pecado, fazer com que as coisas deixem de ser retas. Fazer o próprio pecado é transformar o mundo. O santo de ontem é o demônio de hoje, o pecado de hoje será a virtude de amanhã. Desafiar o tempo, estando jovem quando se é jovem, ser jovem estando careta. Criar na confusão algum sentido, especialmente feito para quem vive, quem tem acesso e pode ver a confusão. A vida acaba quando não mais temos um caminho para percorrer, as opções secam. A juventude vive quando, uma vez que cerraram os caminhos, ela ousa criar o seu próprio pecado e continuar caminhando. E toda vez que colocarem uma porta entre ele e seu futuro, haverão os pontapés!

13 abril 2006

Papo de Cozinha - 13/04/2006

Na fulô ou na filó, finalmente! Mais uma fantástica volta de quem não foi ainda. Houve quem, em nossa vã filosofia, afirmou que o tempo em si não existe, existindo somente a impressão do tempo. Pois é, a impressão que eu tenho do tempo é que ele existe, tem vida própria e se diverte me sacaneando. Houve também, na nossa ainda mais vã filosofia política, quem afirmara que o trabalho aliena e, por isso, o trabalhador é alienado. Meu caso é de pré-trabalhador, e afirmo, o pré-trabalho é humilhante e o pré-trabalhador é humilhado. Pré-trabalhador é minha condição, ainda não trabalho, mas estou preste a assinar o contrati de trabalho e, por isso, sem ganhar um centavo para, trabalho pra caramba para poder trabalhar. Exames médicos: 19 no total; documentos para trabalhar: 21 no total; dinheiro para isso: nada! Eita! Fórmula horrenda!!! E a humilhação é total, tem avaliação psicológica que pergunta até de que forma eu visto minha cueca; tem que urinar e defecar num frasquinho e depois entregar para uma mulher de cara feia às sete horas da manhã como se aquilo cheirasse rosas. Além disso, aquela maratona: não existe num só lugar a possibilidade de fazer todos os exames de uma única tacada. Resultado: dá-lhe turismo forçado patrocinado por dinheiro forçosamente emprestado dos mais chegados. Documentos então, um festival burocrático com prazo de sabe Deus. Aliás, queria saber quem são os “Eles”? Deve ser um Deus da burocracia, tudo que a gente sugere para agilizar a documentação o emburrado homem da burocracia sempre fala: - É uma excelente idéia, mas Eles não deixam. Ou então: - “Eles fazem isso por que querem dinheiro!”. Eles deve ser um Deus poderosíssimo!

E por falar em Deus, se Ele quiser, tudo vai dar certo. Taí uma frase que sempre me incomodou um bocado. Vejamos, se você resolve acordar às dez da manhã e acorda, é pela vontade de Deus que o despertador tenha funcionado? Ele, o despertador, é então movido à milagre? Acho que Deus tem muito mais o que fazer do que ficar pajeando relógios. Mas, vou sair dessa assunto, vai que Ele, Deus, queira que eu não publique esse texto.

Por fim, tudo chega a um lugar. Domingo começa o brasileirão, o brasileiro foi para o espaço e voltou, graças a Stálin (afinal ele saiu e voltou para uma base militar criada e desenvolvida pelo grande bigodudo), a VARIG não vai pro brejo, mas vai decolar menos e sem desvio da grana pública, e um velho problema meu de infecção estomacal finalmente foi sanado. Se houver tempestade, a chance de eu estar com guarda-chuvas é enorme! É isso, para quem leu até aqui: terminou! Ósculos e amplexos e comentem, senão você vai acordar com um pôster do Papa Bento XVI colado na sua porta!

08 abril 2006

Ciúmes!

“João, um ciumento risível
Quer ter mulher e descanço.
Compra um cão brabo, terrível
Pra impedir qualquer avanço.
À noite, que ruído horrível!
O cão a todos mordeu.
Salvo o amante que o vendeu”.
(Canção final de Fígaro, na obra “As Bodas de Fígaro” de Beaumarchais).
Talvez por conta de que toda vez que eu olho para essa canção a palavra “ciumento”, me passa em mente a palavra “jumento”. Eis um assunto que sempre quis escrever, mas sempre me incomodou o suficiente para nunca ousar algumas palavras. Todos passam por situações nas quais o sangue realmente ferve, a ponto de escutarmos as borbulhas, e certamente o ciúme é o melhor exemplo dentre todos os exemplos. Mas o que é o ciúme? Puro sentimento de posse? Mas quem é de quem? Ou melhor, posse do que?
Namorados se enciumam de perder o ser enamorado por qualquer coisa, seja outra pessoa, seja por uma outra história, seja por um trabalho, ou simplesmente por disputar com a vida do companheiro, alheia a nossa. Todas as cenas de ciúmes são, por mais divertidas ou excitantes que possam aparentar, idiotas. E o calar é algo que realmente não satisfaz. Ter o bom juízo de aguardar, de não ser enganado pela cólera, causa uma dor tão angustiante que a cena enciumada sempre encanta primeiro a nossa saliva. E a dor é tão grande, que em tão pouco tempo estamos, em nome de algo que não existe, por conta de um sentimento que é idiota, ofendendo, machucando, tanto a nós mesmos quanto nossos amores. Um sentimento de tamanha idiotice, que reduz a todos a um só idiota. E há aqueles que se incomodam quando sua amada não se enciuma. Diz que não está dando a devida devoção ao amor outrora doado. Este então é idiota duplo, está cego de ciúmes, e sua cegueira quer furar o olho do ser amado.
Porém, não ser idiota é algo muito complicado. Afinal, quem quer ter juízo numa paixão completamente ardente e desajuizada? São antagônicos demais. O ser idiota é composição obrigatória para quem ousa se apaixonar. Ou torna-se um idiota e remói-se de puro ciúme, ou se contorcerá por estar solitário e não saber como é amar alguém. Enciumados, idiotas, de todo o mundo: uni-vos!

29 março 2006

No ar: a Sala do NoSense

Já coloquei no ar a Sala do NoSense. Meu espaço exclusivo para debater coisa séria (diferentemente da Cozinha, que pode discutir, de vez em quando, coisa séria). Nele, amigos e amigas, vocês encontrarão pequenos textos sobre movimento estudantil, política, e filosofia. Já tem dois textos por lá e espero que vocês gostem. Então, adicionem em seus "Favoritos":

http://saladonosense.blogspot.com

E, claro, comentem por lá também. Quem sabe a gente não bata aquele papo?

Ósculos e amplexos!

28 março 2006

Rapidamente, sobre duas coisas que muito me irritam.

A irritada Fernanda Young, com seu irritante jeito, e seu programa sobre coisas que irritam. Fórmula fraca, batida, portanto desinteressante, concorda? Não necessariamente. O programa é excelente, apesar de alguns momentos de pura falta de criatividade e extremamente cansativo (que cumprem a idéia de deixar o espectador irritado), faz com que, no resultado da soma, saia um programa interessantíssimo e que, fatalmente cumpra a idéia de fazer-nos pensar sobre as coisas irritantes de nosso cotidiano.Então, somo à Fernanda Young na minha cozinha, que durante duas semanas deixou leitores e eu mesmo muito irritado por não conseguir nem postar e ninguém comentar nada.

Errar o nome é coisa que deixa qualquer um fora do sério. Vejam por exemplo o meu, tranqüilo, fala-se exatamente como se lê. E conseguem a proeza de errar, e em alguns casos conseguem até mesmo inventar qualquer outra coisa menos o que eu chamo de meu nome. Não deve ser um exercício muito grave falar Michael, nunca deixei ninguém, até onde eu saiba, com câimbras na língua por ter ousado dizer meu nome sem aquecimento. Assim, simples e fácil. Foneticamente pode até mesmo sair um mixael, que não tem o menor problema. Mas já me aposeram nomes sinistros. O mais trivial é o maicom, e inevitavelmente, a associação com o maicom dançarino e de rosto desfigurado. Tá, além de me chamar de algo que eu não sou, ainda por cima não tem uma referência melhor para se lembrar desse horror? O alemão da fórmula 1 (não pela pronúncia, que por ser alemão o “CH” é aspirado, algo próximo ao mirrael; mas por se escrever exatamente igual ao meu); o Jordan do Wizards e antes Bulls; ou mesmo o próprio Michael arcanjo? Não, tem que ser o bendito que tem a pelvis mais famosa do mundo (talvez ganhando hoje ao do Elvis). E o sobrenome então: pior ainda! Genofre. Gê, depois o Nó, e terminando com o Fre. Tem algum mistério? Não é GUEnofre, nem muito menos Djênófre! E quando vou soletrar para que a alma sinistra não erre o meu nome ao escrever, sou bem explícito: Gê, quase aos berros, e o sujeito me tasca em letras garrafais um belíssimo “Jota”!

Aliás, o que chamam normalmente de burrice é algo que também muito me irrita. Não digo falta de cultura ou de conhecimento, afinal, nem todas as pessoas, aliás, nenhuma pessoa pode ter aprofundados conhecimentos sobre todos os assuntos ou matérias. Digo a grandiosa burrice mesmo, aquele lapso limiar entre a preguiça de usar o cérebro e seu não uso. O sujeito que se incomoda quando sugerimos uma alternativa para seu erro e irá usar toda a sua inteligência, até pouco usuária de morfina, para defender a burrice quando o que se feriu foi nada mais que seu orgulho. Ou pior, é aquele que entende a sugestão, agradece e torna a fazer a mesmíssima burrice. Papai do céu nos deu a bênção de termos um cérebro capaz de pensar, de não ser uma anta, mas algumas pessoas fazem questão de provar para Ele que seu esforço foi em vão.

Mas a campeã mesmo é quando a burrice cometida é a minha, esta então é o inferno na terra. Não terei nem Fernanda Young e nem mesmo outros para destilar toda a minha irritação senão eu mesmo.

Por hoje é só, rapidinho, nem doeu, eu sei, mas comentem. Senão, será um ato de extrema burrice! Para quem leu até aqui: terminou. Ósculos e amplexos!

14 março 2006

Papo de Cozinha - 14/03/2006

Na fulô, ou na filó! Papo de cozinha again. Internet a serviço da paranóia! É que virou onda agora o verbo “googlear”. Sabem o que é isso? É o seguinte, você está afim de uma pessoa, mas ao invés de ir até aquele ser, resolve digitar no Google o nome dele e ver o que aparece. E o mais interessante, isso não está acontecendo em nenhum outro país com tanta força quanto ao Brasil. Segundo especialistas, e acreditem, já deu tempo para encontrar algum, tudo começou por conta do Orkut. As pessoas, aos poucos, foram deixando de criar comunidades de afinidade e começou a simplesmente entrar em comunidades que acharam de bom humor. Assim foi perdendo a graça tentar descobrir como é a pessoa pelo o quê ela diz ser, mas uma angústia em procurar no Google o que a internet tem a dizer dela. É a internet a serviço da paranóia! Imagine-se sendo vigiado por milhões de pessoas que não tem nada melhor para fazer senão ficar fuçando na sua vida!

Aliás, já notaram quantas coisas estão a favor da paranóia? Acho que o quarto poder, a comunicação de massas, inventou um quinto: a psiquiatria. O Fantástico, por exemplo, festival de horrores. Fábrica de pacientes psiquiátricos. Doutor bactéria, que faz qualquer um, em questão de segundos, se tornar obsessivo compulsivo. Filósofa do Fantástico dizendo que tempo não existe, que é uma invenção do homem, para uma massa de brasileiros que não fazem a menor idéia do que seja o tempo mas que sabe que sua vida é regrada por ele. Outro exemplo, o gordo Soares. Vai um sujeito, faz uma graça no sapato dele, e o gordo desembolsa cinqüenta mangos de gorjeta! E nem um Plasil-zinho para ajudar?

E o manicômio não para por aí. Eu mesmo medearia inúmeros debates sobre o assunto. Mas, como medear debates também é coisa paranóica, afinal, apenas fornecer subsídios a duas opiniões distintas e sem dar nenhum pitaco sobre qualquer um dos dois é altamente paranóico. Mas ficamos por aqui hoje. Portanto, ósculos e amplexos a todas e todos. Para quem leu até aqui: a paranóia acabou. Comentem, se o blog não desfizer a paranóia de não deixar ninguém mais comentar.

10 março 2006

Gosto se discute!

Se gosto é como nariz, ou outra parte importante qualquer do corpo, por toda pessoa ter o seu, então, como a nossa sabedoria popular brasileira já alerta: gosto não se discute. Mas, se considerarmos que cada pessoa possui um gosto, não no sentido de paladar, mas o de sentir prazer com algo e se identificar com aquilo, é então o gosto algo universal. Se algo é universal, é passível de crítica. Caso seja algo que caiba a crítica, cabe então a discussão. Eis uma antinomia deliciosa de se experimentar. Algo que não, a priori, chegará em nenhum fim, por haver inúmeros gostos, tem, e ao mesmo tempo, inteira possibilidade de ser debatido e buscar, ao menos um consenso, ou seja, chegando de alguma maneira em algum fim. Adeus lógica formal silogística, viva a dialética!

Todos consideram bela alguma coisa e, ao mesmo tempo, iguais capacidades de não considerar belo qualquer coisa. Do necessário discernimento, aparece o imprescindível gosto. O trabalhador, sem dinheiro, tempo, ou mesmo conhecimento auto-adquirido sobre qualquer coisa senão seus afazeres, não têm possibilidade de apurar seu gosto. Por sua vez, na medida em que encontramos sujeitos em classes sociais acima desse trabalhador, tão logo vemos o mesmo com oportunidades de apurar o seu gosto. Surge o bom gosto, nasce o elemento que excluirá o trabalhador do mundo do belo e das artes (estética). O trabalhador então dependerá daquilo que seu limitado mundo de oportunidades lhe dará para experimentar. E, entre uma imposição aqui e outra acolá, o gosto do trabalhador será apurado tão somente pela lógica do que as classes dominantes disserem para ele o que deve ser consumido (o bom gosto) e o que deverá ser execrado (o mau gosto). E, indo mais além, o que se é ditado como bom gosto às classes trabalhadoras pelas classes dominantes, será ditado como de mau gosto às classes intermediárias. Afinal, essas classes intermediárias deverão sempre, no plano dos de cima, identificarem-se com os de cima, e não com os de baixo. Sejam membros das classes trabalhadoras, sejam membros das classes intermediárias, aquela máxima de Marx se aplica por inteiro: “sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos” (Manuscritos Econômicos e Filosóficos). O verbo Ser foi violentado pelo Ter da burguesia. E, em troca, o gosto do trabalhador e das classes médias também se tornam mercadorias, afinal, o gosto do burguês faz do dinheiro “puramente estético, auto-alienado, auto-referente e autônomo” (Marx, ibd.).

E, seguindo a regra marxista que, mais ou menos, diz que quando o burguês aleija o trabalhador naquilo que é belo, é hora de sair da estética para entrar no político, eis que o gosto deve ser discutido e muito. Inverter os impulsos pequeno-burgueses que acaba auxiliando na exclusão do trabalhador pela sua não oportunidade de apurar seu gosto, para quiçá ter seu próprio gosto. Mas demonstrar que aquilo que ele gosta, que ele considera de bom gosto, não é de fato algo necessário para ele, mas algo imposto e que fatalmente o levará à exclusão. Que há, naquilo que ele venha a gostar, possibilidade de ele mesmo a criticar e não ser levado ao alienante. E que, se gosto é como nariz, que ao menos possamos dar outras possibilidades para que o trabalhador consiga escolher qual narina e com qual material, ao menos, ele necessariamente possa limpar primeiro e melhor.

08 março 2006

Papo de Cozinha - 08/03/2006

Salvem! Na fulô, ou na filó! Papo de cozinha de quaresma! Eu maluco ficando por conta do estudantil movimento! Mas hoje vem a minha pequena vingança: “Prêmio Inteligência Acadêmica”! Enquanto a Cozinha passa por pequenas reformas, quero homenagear meus colegas estudantes pela astuta forma de responder aos abrilhantados momentos de pane total de nossa sapiência. Selecionei algumas aqui que realmente considerei geniais. Temo o dia em que serei professor, como não parabenizar tamanha capacidade de resolver esses momentos em que literalmente dá aquele “branco”? Ósculos e amplexos e divirtam-se.

Negociando conhecimento:

- Tema: Qual a função do Complexo de Golgi numa célula?
R: O Complexo de Golgi eu não sei, porém as mitocôndrias servem para [...].

Essa agora merece aplausos:

- Tema: “Qual a razão da denominação América”?
R: Sinceramente, não sei. Mas realmente fiquei curioso em saber o por que de uma pergunta tão imbecil. Para não zerar essa questão, deve ser uma puta homenagem para alguém importante!

Na falta de argumentos, use a criatividade:

- Tema – Redação: “Seca no nordeste”.
R: “Era uma vez uma linda menina que se chamava Seca. Certo dia ela foi morar no nordeste [...].

Regra que deveria ser obrigatória ao se formular uma pergunta que possui “qual a importância...”; deixe explícito a importância para quem ou que, senão:

- Tema – Qual a importância do Vale do Paraíba?
R: “De suma importância, afinal ela visa complementar a renda familiar junto com o vale-transporte e o vale-alimentação”.

Quem mandou fazer pergunta besta:

- Tema – “Sendo o sapo um animal pecilotérmico, explique o equívoco que aparece no seguinte trecho folclórico musical: “Sapo cururu, na beira do rio, não para de cantar, porque tá passando frio”.
R: Porque “O sapo não lava o pé, não lava por que não quer”!

E quem mandou fazer uma tão abstrata:

- Tema: De uma maneira geral, explique como ocorre uma imunização no corpo humano.
Um anjo, no domingo, depois de falar com o Pedro Bial, passa o colar da imunidade para alguém, assim impedindo que os outros votem nele no paredão, dessa maneira, imunizando mais um corpo humano da casa.

Sinceridade deveria ganhar nota extra:

- Tema – “Quantos são e que nome recebem os planetas do sistema solar”?
R: São nove ao todo: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, e mais outros cinco que agora não me lembro e que desconfio que o senhor não irá me deixar lembrar porque o tempo da prova já acabou.

Outra perfeitamente correta:

- Tema – “Cite 10 animais polares”.
R: 5 pingüins e 5 ursos polares.

E a que considero primeiríssimo lugar:

- Tema – “Qual a diferença entre prosa e poesia”
R: Prosa é quando escrevemos, escrevemos, até que se encha uma folha inteira para dar pro professor. Poesia é quando escrevemos para dar para o namorado.

19 fevereiro 2006

Papo de Cozinha - 19/02/2006.

Na fulô, ou na filó! Papo de cozinha finalmente! Impressionante como a capacidade de escrever é indiretamente proporcional ao tempo livre para isso. Portanto, passei a semana inteira doido para escrever, porém sem tempo nenhum para isso. Mas, chega de desculpas, afinal, a cozinha não pode parar. E por falar em cozinha, como o Fantástico é excelente para comentar. Aquela revista dominical que mais parece os antigos almanaques de farmácia é ótimo para dar assunto. Desde seu formato, que vai de massacre na favela da Rocinha e, sem dar chance para que o sujeito em casa grude os cabelos no teto, tasca o sucesso de público dos Rolling Stones.E dá-lhe público: cerca de um milhão e meio de pessoas nas areias, águas, calçadão, em cima das árvores, e até, pasmem, em cima do palco! E os velhinhos dos Stones demonstraram que não é só vinho que melhora quando envelhece. O gingado do dono da bocarra mais famosa do mundo chegou a me dar nó só de olhar. E aquele palquinho que anda? Realizou dois grandes sonhos brasileiros, o primeiro de ver os Stones de graça e o segundo o de atropelar mais de quatro mil pessoas sem deixar ninguém ferido! Realmente eles são Phoda! Porém, não pensem que o Rio de Janeiro parou pelos Stones! Teve troca de tiros na Rocinha. Criança inocente morrendo com bala perdida que só o Fantástico fantasticamente descobriu de qual lado veio o dito cujo. Beija-Flor testando a iluminação da Marquês de Sapucaí e o Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara. Reza a lenda que o Cristo bateu palmas e a estátua do Drummond saiu de perto de Ipanema para dar um pulinho lá no Copacana Palace. Ah! E é claro que o Rio de Janeiro continua lindo!

Campanha “Como é bom ser brasileiro”! Também no Fantástico apareceu uma cidade na Alemanha onde há uma ilha tropical artificial. O detalhe é que do lado de fora tá uma neve de perder o dedão do pé. O sujeito vai lá, paga alguns vinte e poucos Euros e desfruta artificialmente do que nós, povo brasileiro, nos damos o luxo de reclamar tomando aquela bereja estupidamente gelada. Viva o Brasil! Não sei se existe reencarnação, mas na minha última eu fui brasileiro e na próxima serei também!

E no futebol! Ai, ai! Quem mandou eu elogiar! O mundo realmente vai acabar e semana passada resolveu dar apenas um último suspiro. Nesse fim de semana meu time toma um saco de três batatas na orelha. ADAP de Campo Mourão continua líder, e em São Paulo todos golearam, mas o líder continua o Noroeste de Bauru. Francamente, o mundo vai acabar. Desconfiei quando ele começou pela geladeira da minha casa e tomou conta da dispensa. E por falar em esportes, Olimpíadas de Inverno: outro espetáculo! Faz montanha russa virar trem dos horrores, jogo de hóquei no gelo melhor que Vale-tudo, e uma espécie de bocha nas neves que lembra aquela mulher desesperada tentando limpar com um rodo toda uma enchente! E, sabem o melhor, assisto tudo isso no conforto ócio do meu sofá.

Bom, por hoje é só! Para quem leu até aqui: terminou! Comentem, senão irá passar o fim de semana de carnaval no rio ... Belém, para quem conhece Curitiba, sabe o potencial para Tietê que ele tem! Para todas, ósculos, para todos, amplexos, e para quem está no armário, acenda a luz!

14 fevereiro 2006

Papo de Cozinha - 13/02/2006

Na fulô, ou na filó! Papo de cozinha again! Depois de uma semana fora do planete, e com a razão no mundo das idéias, retorno com meu blog! Viva! E o mundo, que estava indo para o vinagrete, resolve se recuperar. Adia em alguns minutos seu fim. O ADAP continua líder, mas o Coxa está logo atrás com apenas dois pontos de diferença. O Botafogo ganhou a taça Guanabara. O Noroeste continua líder, mas o Palmeiras e o Corinthians estão marcando junto. E o Lula promete abrir 10 pontos na cabeça, e não será com porrada na testa careca do Serra, é na pesquisa mesmo. Aliás, por falar em porrada! E a tal das charges de Maomé? Mais um belo exemplo do que pode causar a soma de um jornal irresponsável, um governo neoliberal, e o desprezo pelo senso crítico dos leitores. Seis meses sem solução alguma após a publicação das charges, tão somente após o pau cantar no mundo inteiro, é que resolvem pedir desculpas. Sinceramente, viva o povo que se revolta! Quem sabe o mundo dos poderosos não fique menos prepotente e passe a valorizar mais a cultura dos povos.

E por falar em revolta. Uau! Saron Stone, como você é inteligente! Com tamanha sapiência, soube resumir os homens do mundo a uma comparação com cães. Francamente, já conheci comentários melhores. Posso, inclusive, escrever alguns milhares aqui nessa minha cozinha sem sentido. Realmente, senhora, se não fossem esses homens que vossa ilustríssima pessoa comparou a cães, aquela sua cruzada de pernas em nada teria auxiliado em sua carreira. Aliás, você, filha de operários, que trabalhou como escrava quando adolescente em um McDonalds para somar dinheiro a caprichos das revistas de moda, deve mesmo saber o quanto o homem deve mesmo ser coisa desprezível em sua vida. Afinal, deve ser mesmo uma vida angustiante tomar cantadas horrorosas em meio à banha e hambúrgueres. Eis que essa vida de proletária não era mesmo para você, e em tão pouco tempo resolveu dar o seu melhor para se tornar à mulher riquíssima que é hoje em dia. E como você soube retribuir bem aquela bolsa de estudos para estudar artes! Pegou seus 1,80 metros e foi ser modelo na Europa.

Levada por cães ao mundo do cinema, pois segundo você todos os homens assim o são e latem mais cedo ou mais tarde. Da descoberta de Woody Allen até o presente de Martin Scorcese, que segundo ele “depois daquela cruzada de pernas sem calcinha, ela merecia outra chance de mostrar ao mundo que não é apenas coxas!”. Mas, o caminho da polêmica é realmente mais vantajoso e mais simples. Poses sensuais, charutos em meio à formas nada convencionais de dar baforadas, enfim, tudo feito para um imenso público de cães ladradores. Para quê demonstrar o lado da competência, ou para quê valorizar os homens que de fato trazem para o mundo uma forma mais digna de se viver? O dinheiro que tu ganhas, senhora Stone, do qual é muito mais do que você precisa para viver e ainda pagar seus luxuosos gastos, depende da existência desses que sua ilustre pessoa tanto esculhamba. Espero que mais dessa matilha se convença da sua mensagem. Pois sua pessoa não contribuiu em nada para que tenhamos um mundo melhor. Pelo contrário, um dia você será passado, cairá no esquecimento. Já os cães, continuarão uivando muito, até que um dia nosso mundo seja mais digno e igualitário, mas graças a pessoas bastante diferentes de sua pessoa. Parabéns, senhora Stone, sua inteligência acabou de ser insultada por si mesma.

Bom, é isso. Para quem leu até aqui: terminou! Comentem, senão acordarão latindo ao assistir instinto selvagem dublado numa televisão 14 polegadas, preto e branco, naquela noite de insônia! Ósculos e amplexos.

05 fevereiro 2006

A mocinha, o canastrão, malvadões e telespectadores.

Imaginem o seguinte personagem de novela. O desespero de não ter dinheiro, de ter rejeição total familiar. Soma-se ainda a nenhuma educação seja social e muito menos sexual. Por fim, faça a ligação de que todos esses problemas existem com uma única pessoa. Perfeito, temos a mocinha da novela. Ela terá uma trajetória marcada pela desgraça, luta, dificuldade, tormentos mil, enfim, uma personagem a qual todos irão torcer por ela até o último capitulo da novela. E, mesmo cometendo verdadeiras atrocidades, mesmo assim, todos compreendem quando ela resolve assassinar o que houve de mais bonito com o amor dela com o canastrão da novela, invariavelmente casado e com completo desprezo pelo ser humano. Assassina a coisa mais significativa desse meio amor, pois a total falta de um bom acompanhamento psicológico e a exclusão social imposta a deixou com seriíssimos problemas psicopatológicos. Ou seja, realmente pouco importa para o enredo da novela se é um pires ou se é o gato de estimação pertencente a uma quase extinta raça no mundo felino. Ela irá fazer isso, e haverão personagens na novela que simplesmente irão a condenar, sem maiores ponderações, e aumentarão ainda mais sua exclusão. Imputando-na inclusive uma total marginalidade. Surgirão então os malvadões dessa novela. Aqueles que fazem com que a mocinha sofra, cada vez mais. Esses serão simplesmente odiados pelos telespectadores dessa novela, não importando o que façam.

Eis que no meio da trama, a mocinha, num total ato de desespero, comete um crime e vai para o xadrez. A novela então toma notoriedade. Os malvadões da novela pisoteiam, mentem, aumentam a história, esquece-se que mesmo que o crime seja uma atrocidade da natureza, coisa realmente indignante, mesmo assim, ainda há o ser humano por trás de tudo isso. Mas o telespectador não se deixa se enganar. Sofre junto com a mocinha a dor do arrependimento dela pelo crime cometido. Entendem, esses telespectadores, que é possível uma pessoa errar, hediondamente, mas mesmo assim, se arrepender e se tornar digno de perdão. E o ódio aos malvadões dessa novela toma conta e encoleriza todos os fieis telespectadores. Como podem ser tão vis esses malvadões? Como podem ser tão baixos? Tão asquerosos? "Ela cometeu um crime hediondo, e já está pagando por isso!" pensam sabiamente os telespectadores. O sentimento de culpa da mocinha já é um cárcere muito mais cruel que a jaula em que colocaram-na. E os malvadões, que coisa cruel, debocham, criam e alimentam pensamentos tão mesquinhos que chegam até a imaginar a mocinha numa condição ainda pior. Flertam desumanas penas de morte para a mocinha por conta do crime hediondo que essa cometera. Mas o telespectador é sagaz e separa o joio do trigo, ele sabe que a mocinha é antes de tudo, ser humano. Monstros são os malvadões, que a condenam ainda mais do que o confinamento que ela já está presa, seja em seu âmago, seja na cela da cadeia.

Pois bem, acabou a novela e começou o jornal. A primeira notícia é sobre uma mulher que, com seriíssimos problemas psicopatológicos, pagou para que matasse o seu filho recém-nascido, concebido durante um ato de entrega dela a um canastrão cujo só descobrira que ele era casado no dia do nascimento do menino. O jornal lança imagens chocantes. A criança estava num saco plástico boiando numa famosa lagoa de Belo Horizonte graças a um pedaço de madeira amarrado. O telespectador, exatamente o mesmo que a poucos minutos havia assistido a novela, desliga a televisão e comenta com a sua família: - “Essa mãe deveria ser amarrada, posta em um saco plástico, e jogada num rio com piranhas, só para ver o que é bom!”. E todos, na sala de jantar, concordam. Vão à mesa comer e ainda comentam coletivamente: - “Tomara que apodreça na cadeia!”.

Definitivamente, a arte peca por não conseguir reproduzir a vida. Ósculos e amplexos.

Papo de Cozinha - 05/02/2006.

Na fulô, ou na filó! Papo de cozinha again! Para aqueles que sentiram falta das atualizações nos últimos dias: relaxem, tudo está normal na cozinha. Digamos que a cozinha estava naqueles dias de fúria em que queremos fazer de tudo, menos encarar o fogão. E por falar em fogão, que lembra enxoval de casamento: mais uma campanha para a Cozinha do NoSense. Irá se chamar “Fortalecendo a parte vermelha do arco-íris”. E, antes que alguém venha com piadas infames, sou heterossexual, muito bem resolvido. Mas não posso deixar de comentar sobre esse fortíssimo elemento social, ou seja, GLBT (X,Y,Z). Depois de tanta polêmica, depois de tanta briga com dogmas e preconceitos. Diversos países estão aprovando o casamento gay. Fantástico, mas o que me impressiona mesmo é que, depois de tanto tempo simplesmente relegando a uma exclusão sem fim, o capital agora visa fazer ainda mais cifras sobre o tema. O estilista Gianni Molaro mudou toda sua grife para ser o primeiro costureiro (alta costura) especializado em roupas para casamento gay; Brad Pitty (para quem não saiba quem é: aquele sujeito de pouca sorte, casado com aquela mulher, uma tal da Angelina) faz questão de que seu próximo personagem seja um gay, e os problemas para que o casamento seja aceito pela sociedade e não só na lei. Enfim, a próxima parada gay terá grife de alta costura e cartazes do filme do Brad.

E por falar em possíveis brincadeiras infames com o tema tratado no parágrafo anterior, lembrei de algumas definições à Macaco Simão ou à Veríssimo filho: “Chato é aquele que, quando com tosseira, resolve não ir ao médico, mas ao teatro”; “Chato é aquele que, quando não tem mais nenhum assunto, resolve recapitular tudo novamente”. Senhor! Há mais chatos no mundo que pontos de ônibus da linha Interbairros. Há mais chatos no mundo que buracos nas estradas brasileiras. Aliás, outra de Macaco Simão, os buracos são tantos que há já um monte no acostamento esperando para entrar na pista.

Ecos do fim do mundo. Que retumbem os tambores do juízo final! O mundo vai acabar e continua dando pistas e mais pistas que será muito breve. O Coxa começa a se reabilitar no campeonato vencendo o líder ADAP por 2x0. Itamaraty contraria Tio Sam e dá voto de confiança ao programa nuclear do Irã, crê em fins pacíficos inclusive. O mundo vai mesmo acabar, e comecei a desconfiar quando ele iniciou seu fim pela geladeira da minha casa. Aliás, essa questão do enriquecimento e urânio do Irã e os Estados Unidos. Parece coisa de criança arteira, que enfia o dedo no formigueiro com a promessa de que, caso alguma formiga o ferroe, ele tacará água fervente no formigueiro inteiro. O Irã luta por autonomia em seu programa nuclear, desenvolvimento tecnológico, e alerta que só haverá desenvolvimento de bombas nucleares se algum grande país representar perigo a sua soberania nacional. Aí, o que faz o Bush? Simplesmente afronta, dizendo que se desenvolver o enriquecimento do urânio no Irã, esse país seria o topo do eixo do mal. Fenomenal, Bush, fenomenal!

E, para encerrar, meu fã-clube está ganhando cada vez mais densidade! Agora tenho organizado filial em Pernambuco! Gente! Estou ficando cada vez mais importante! E segundo a Glauce, querida amiga e uma fundadora do meu fã-clube no glorioso Estado de Pernambuco imortal, imortal; já fui condecorado como cidadão pernambucano!

Bom, por hoje é só! Para quem leu até aqui: terminou. Comentem, senão uma bigorna pintada de vermelho carmim cairá sobre sua cabeça. Ósculos e amplexos.

31 janeiro 2006

Para tão somente quem não aplaude Giovanne Gionédis

Quem me conhece sabe que futebol para mim é uma paixão. A magia contida nele o faz mais que um esporte e vai muito mais além do que as quatro linhas, os vinte e dois jogadores em campo e a redonda. É uma mágica cada momento, cada lance, cada grito de torcida. Não é de se estranhar que pessoas percam, inclusive sorridentes, momentos importantes de uma partida tão somente por olhar entusiasmado a coreografia das torcidas. E toda paixão exige devoção. E, portanto, desde menino passei a ser devoto de meu glorioso alviverde do Alto da Glória. E assim eu serei até o fim de meus dias.

Entretanto, não pretendo aqui falar da péssima fase que meu querido Coritiba está passando. Nem tampouco da incompetência de seus dirigentes, principalmente Gionédis e consortes. Também hoje não é dia de eu esboçar em minha crônica sobre o disparate do campeonato paranaense, com seus clubes da capital protegidos por uma fórmula quase infalível para que ao menos um clube da capital vá para a final. Também não falarei do esquecimento desses clubes grandes de sua devota torcida quando não permite que os meios de comunicação gravem adequadamente os maravilhosos lances. Nem de ver as imagens dos gols na televisão do lugar do gandula. Mas quero falar do arqui-inimigo dos alviverdes paranaenses.

Num futebol cada vez mais forte, de grandes lances milionários, com enormes investimentos, supera-se o Clube Atlético Paranaense. Não que sua diretoria seja perfeita. Aliás, longe disso, comete falhas grotescas. Afinal, ninguém esquece que tão somente a diretoria desse clube não botou fé no time o suficiente para erguer aquela arquibancada que deixaria o tesouro rubro-negro digno de uma final de Libertadores da América. E mesmo assim, o time conquistou a segunda colocação, perdendo para o clube que seria, nada menos, que o campeão do mundo. Não nos esqueçamos também que no plantel de conquistas deles, essa participação na Libertadores se deu após um honroso segundo lugar no campeonato brasileiro, deixando para trás e muito o campeão Santos. E é consenso, para o desespero de meus compatriotas da nação coxa branca, que o Atlético só não ficou melhor no Brasileirão do ao passado justamente por conta dessa fantástica campanha na Libertadores.

Clube de verdade é assim. Sabe aliar boa organização, acertados investimentos, e mimar bem a torcida com estádios, títulos, Lothär Matheus, boas colocações e grandes voltas por cima depois de sacudir a poeira. Se eu fosse atleticano, e Deus me livre de ser um dia, aplaudiria e muito a turma do senhor Giovanni Gionédis. Afinal, essa corja conseguiu o que nenhum coxa irá gostar de admitir: fazer com que o Atlético seja melhor que o coxa em quase tudo.

Ósculos e amplexos, para tão somente quem não aplaude Giovanni Gionédis.