25 março 2008

Cante! & Perco-me em ti.


CANTE!

Cante!
Mas cante até!
Cante!
Para mim, para você, para qualquer
Não apenas sussurre,
Cante, faça-se ouvir!
Imagine duetos, sonetos, minuetos, à capellas,
Imaginando no qualquer canções belas.
Solte o verbo, cante, enrouqueça-se de tanto cantar!
Cante a vida, a morte, a alegria, a dor, o calor, o amar.
Cante!
Traduza aquele olhar da pessoa desejada num cantar.
O delicioso frio na espinha no segundo antes de beijar.
Aquele riso de deboche só para desfarçar.
Cante!
Um poema, um dilema, uma peleja, um conversar.
Um abraço de amigo, um ente querido, em qualquer lugar.
A sensação divina do imprevisível, do fascinar.
Cante!
Mas cante alto!
Soluce se quiser chorar, mas o faça copiosamente.
O choro é também um estranho despertar.
O soluçar é um sopro que teima em se reprisar
Cante isso, aquilo, mas não pare de cantar.
Cante!
Não demonstre sigilo, queira cantar.
Deseje esboçar, deseje sentir.
Deseje o desejar.
Por quem canta, o coração deixa-se levar!

PERCO-ME EM TI.


Olhe para mim mais uma vez, estou aguardando.
Fico delirando, imaginando quando você vai voltar a me olhar.
Perco-me em devaneios, sonhando no quando eu poderei te acalentar.
No lábio no lábio,
Naquele nó na garganta.
No seu perfume, no seu andar.
Seus pés, lindos pés, obras de arte.
Delicados, desenhados, pés de sonho.
Panturrilhas encurvadas, contrabalanceam o curvar de suas coxas.
Belas coxas.
Sua grandeza, de espírito e de altura,
Minha imaginação vai ao longe te desenhando.
Seios, lindos seios, esculpem o teimoso vestido.
Suas mãos, desejáveis mãos,
Todos os pecados serão lembrados e redimidos com um único e breve toque.
Uma simples lembrança sua, doce presença, anuncio-me em céu de gostosuras.
Andando na minha direção, antecipas o paraíso.


____________

Michael Genofre

08 março 2008

Talvez, apenas masoquismo de leitor (...)



Talvez seja minha mania quase masoquista de ler sobre tudo que tenho acesso a única justificativa para que eu continue lendo algumas coisas que sei que irão ou ofender a inteligência do leitor ou roubarão preciosos minutos que poderiam ser gastos em qualquer outra coisa mais produtiva. E o pior: sempre leio crendo que se trata de coisa séria, elaborada por pessoa séria, e que possui opiniões construtivas para nosso país, ainda que contrárias às minhas. Talvez por isso eu continue acessando a página da Conlute, a entidade estudantil nacional do PSTU.

Disse, repito, talvez seja por uma mania quase masoquista. Há também a questão da pesquisa política. Essa deve ser feita tanto pelos órgãos de comunicação da situação quanto da oposição. E, nesse quesito, a Conlute seja a única oposição às forças de situação no movimento estudantil que possui uma política de comunicação competente dentro de suas limitações. Ainda que invariavelmente leviano em seus posicionamentos, pois desejam uma nova UNE sem fazer uma proposta do que deveria ser essa nova UNE, apenas agredindo inconseqüentemente as forças políticas que a compõe. Quando se acessa a página ou quando se adquire um jornal desse movimento-entidade, pode-se ter certeza que se trata de uma opinião completamente contrária a todas as organizações políticas que compõem a União Nacional dos Estudantes. Isso faz com que sua maior virtude seja, ao mesmo tempo, seu maior vício.

A crítica sistemática feita pelo Conlute/PSTU ao movimento estudantil, na prática, usa a UNE enquanto cavalo de tróia para combater as forças políticas estudantis. Quando se ataca a UNE, na opinião deles, leia-se um ataque ao PCdoB, ao PT, ao PMDB, ao PSOL, ao PCB, e assim por diante. Eis o maior vício do Conlute/PSTU, se ele combate tão somente as forças políticas, logo, ele luta pelos cargos ou pelo comando dos cargos das entidades estudantis. Sua sistemática, e por vezes competente, oposição se utiliza de argumentos como "peleguismo", "entreguismo", e tantos "ismos" da UNE, porém não elabora uma proposta sequer tomando por base os anseios estudantis. Não elabora uma contra-proposta sequer de oposição às idéias majoritárias do movimento estudantil, pois se limita a apontar defeitos nas organizações alheias enquanto arauto da moralidade política "de esquerda". Quer a direção das entidades, ao mesmo tempo, polícia da esquerda.

Quando li o título do artigo "Por uma nova concepção de política de finanças no movimento estudantil" na página do Conlute (http://www.conlute.org.br/artigos/13rifas.htm), pensei: será que finalmente uma proposta, um debate real, uma contra-proposta a um problema de fato do movimento estudantil? Teríamos, enfim, um debate real com o Conlute/PSTU acerca dos problemas do movimento estudantil? Enfim, um verdadeiro debate de idéias, baseadas em ricas experiências de luta, com todas suas vitórias e frustrações? Será que meu próximo artigo será sobre uma transformação política do Conlute/PSTU a ponto de mudar todas as considerações sobre ela até então?

O movimento estudantil precisa, urgentemente, de uma nova concepção de política de finanças. Não há independência política sem autonomia financeira. Nada é de graça em nosso país, sempre há alguém que paga pela gratuidade de algo. O jornal, a revista, o caminhão de som, enfim, tudo o que o estudante recebe "de graça" da UNE ou qualquer outra entidade estudantil tem, no mínimo, que ter sido pagas pela UNE ou qualquer entidade estudantil. Quase todas entidades estudantis adotam uma postura mendigante de arrecadação, além de pragmáticas quanto ao seu quase nenhum planejamento além do curtíssimo prazo. Logo, tornou-se incompatível representar o estudante de maneira mendigante. É necessário estabelecer políticas mais ousadas tanto para a arrecadação, captação de recursos, como também mais planejadas, visando o médio e o longo prazo. Ser competente na captação de recursos e superar a praticamente tradicional condição de mendigante financeiro.

Eis que o debate se estabelece no tocante limites tanto na arrecadação, captação de recursos, quanto no gasto e planejamento. Atualização e aperfeiçoamento dos atuais métodos de captação de recursos, e planejamento de novas outras formas. Introduzir também elementos financeiros como o investimento, a poupança, enfim, fazer com que o dinheiro mantenha todas as necessidades das entidades estudantis sem esgotar suas reservas. Tudo isso sem a intenção de lucro, o que além de proibido, é avesso à existência das entidades representativas. Além da fundamental transparência em todas contas e atividades financeiras.

Realmente cheguei a pensar que o Conlute/PSTU iria debater o assunto, mas um banho de água fria me trouxe à realidade: bastou começar a ler o artigo para relembrar que eles não lutam pelos estudantes, eles lutam é pela direção das entidades dos estudantes. Eles não debatem problemas do movimento estudantil, eles debatem sobre o problema deles não dirigirem o movimento estudantil.

O artigo acusa a UNE de ter perdido sua independência e ter se burocratizado devido o recebimento de recursos do Estado e de convênios com empresas privadas. E apontam como solução, "uma nova concepção de finanças" segundo a autora do artigo, a velha mendicância das entidades, baseada na arrecadação de fundos através da contribuição dos próprios estudantes por meios de rifas ou similares (se bem que essa proposta não é feita diretamente para a UNE, como podemos ver no artigo, mas para o Conlute, mandando de vez às favas qualquer possibilidade de coerência do texto).

Ora, se o que determina se uma entidade está desse ou do outro "lado da força", seguindo o raciocínio do próprio artigo, é sua saúde financeira e a fonte de sua arrecadação, logo seria o bastante se cada estudante contribuisse regularmente para com suas entidades e a permanência desse lado da "força" estaria garantida. Agora, mostre-me uma única entidade estudantil que possui saúde financeira através de contribuições espontâneas dos próprios estudantes, que eu mostro um homem que compra revista masculina unicamente pelas suas entrevistas e nem sequer dá uma olhadinha nas fotos de mulher pelada.

Saúde financeira nas entidades estudantis por intermédio de contribuição dos próprios estudantes nem mesmo a carteirinha é capaz de garantir. As poucas entidades que conseguem sobreviver com saúde financeira por via da contribuição estudantil regular, invariavelmente, é por ter um acordo com a universidade que coloca no boleto da mensalidade a contribuição mensal, e é claro, com um sistema para lá de burocrático para que se evite que o estudante decline de contribuir. E isso não garante a independência, pelo contrário, é mais fácil manter-se submisso à reitoria a enfrentá-la e correr o risco de romper com esse acordo. Isso sem falar em inúmeros exemplos de entidades que possuem uma luta quase mortal entre seus diretores pela administração dessa arrecadação, tornando-se extremamente antidemocráticas suas gestões.

É claro que a contribuição do estudante é fundamental, mas não para a saúde financeira da entidade, mas, além da questão da contribuição ideológica (você só contribui com aquilo que acredita), por questão de "lastro" político-financeiro. Sobre esse último, por exemplo, o chamado patrocínio das carteiras estudantis consiste, geralmente, na seguinte política de troca: a empresa paga o comercial, a entidade se obriga em divulgar a propaganda. Nada mais do que isso. Caso a empresa queira algo a mais e que represente perigo para o estudante, a entidade terá condições financeiras para ficar com um patrocínio menor ou mesmo sem patrocínio nenhum até que alguma outra empresa aceite tão somente os termos que a entidade deseja.

Por fim, as verbas do Estado não são doações e nem troca de favores. São todas perfeitamente legais e previstas para entidades representativas em seus projetos sociais. O movimento estudantil deve é aprender como funciona esses sistemas em todas as esferas públicas, pois quem usa esse sistema hoje são justamente os inimigos dos estudantes. Sem as entidades estudantis para disputar tais verbas, essas irão integralmente para qualquer outra entidade representativa, que hoje hegemonicamente vai para as entidades mantenedoras de instituições pagas de ensino. E o que o governo pede em troca é prazo cumprido e prestação de contas. A contra-partida não se encontra no acordo, mas na aprovação do projeto. Ora, o movimento estudantil luta, põe milhares de estudantes nas ruas, fazem mudanças acontecer nos governos e no Estado, nada mais do que justo que seus projetos sejam financiados por essas mudanças.

Agora, a torpe visão da Conlute/PSTU não confia nem mesmo no debate do próprio movimento estudantil. Teme manipulações em todos os cantos, pois, na visão deles, se eles não dirigem, tudo é manipulado. Se recebe dinheiro do Estado, é por ter passado para o outro lado da força (gostaria de saber se o PSTU já recusou, alguma vez, de receber o fundo partidário para justificar essa postura).

04 março 2008

Devaneios, espero!



No começo do século passado, o liberalismo mundial já demonstrava claros sinais de esgotamento e o mundo encaminhava para sua derrota em uma imensa fase de guerras e depressão econômica. O liberalismo necessita de colônias tanto quanto necessariamente de guerras para garantir seus monopólios. E ao mesmo tempo em que desenvolve o que há de mais avançado em tecnologia e novos padrões de consumo, concentra absurdamente nas mãos de poucos e instituições sociais todo o poder de decisão do mundo. Nessa mesma época, Carl Schmitt irá apresentar um verdadeiro tratado para justificar a necessidade de criação de um poder "decisório", ou seja, a soberania de um país deve ser entendida como a capacidade de se tomar decisões sobre casos de exceção sem a necessidade das leis, burocracias ou tratados. É a teoria embasadora do que mais tarde veio a se transformar o governo nazista, ou seja, uma ditadura sobre os demais governos em nome de um poder emanado de momentos de exceção.
Um século depois, a história se renova. O ápice econômico determinante não é mais o controle do monopólio férreo, mas o petróleo. O liberalismo se transformou no neoliberalismo. Quem adota o pensamento schmittiano não é mais Hitler, mas George W. Bush. Após o atentado de 11 de setembro, Bush inaugura uma colonização à força baseado no poder de exceção denominado Guerra Preventiva. E essa doutrina irá se alastrar como o nazismo se alastrou pelo mundo, colocando em situação tensa tudo e todos que ousem se manifestar contra esse poder "decisório". A ordem, para Bush assim como para Schmitt, baseia-se na decisão do governo, e não na consensualidade dos organismos políticos. A exceção faz a regra, e o país mais poderoso passa a ser a polícia do mundo contra os nefastos efeitos da democracia à sua necessidade de colonização.
Agora, assim como não se pode olhar para o passado e compará-lo imediatamente com a situação presente sem fazer a justa consideração dos momentos históricos distintos, também não se pode analisar o presente com base em um pensamento do passado. Coisa que intelectuais e imprensa brasileira fazem por demais. A caçada anticomunista é a mesma da década de setenta, o apoio ao poderío ditatorial dos Estados Unidos aos governos do mundo é também o mesmo da década de 70. E a noção de desenvolvimento, como não poderia ser diferente, a do milagre econômico.
A resposta da América Latina ao neoconservadorismo, ou neoschmittismo, não é um neoliberalismo reformado, nem tão pouco um socialismo deturpado e extremamente individualista de uma União Soviética da Guerra Fria. Ela é essencialmente de uma visão de centro-esquerda, com alguns enfoques marxistas em alguns governos pintados de socialistas do século XXI. Porém, o neoconservadorismo latino-americano é, ao mesmo tempo, lacaio e parasitário do ditador do mundo Geoge Bush.
Assim, temos o cenário dessa semana. Colômbia, de Uribe, lacaio e parasita do neoschmittiano George Bush e sua guerra preventiva em solos de outras pátrias e uma imensa necessidade de colonizar povos e governos inteiros. Do outro, governos de resistência, de pelo menos princípios marxistas como a Venezuela e Equador. E entre esses, centro-esquerdistas como o Brasil, Chile e Argentina, que reprovam a política neoconservadora, mas que nada além de uma fraca mediação podem fazer pois também, de uma certa forma, disputam internamente o poder com seus próprios neoconservadores e não adotam medidas de ruptura com o grande ditador mundial, apenas frágeis e temporárias liberdades.
Não será surpresa uma guerra tropical, afinal, assim como o imperialismo necessita de colônias e a resistência leva à guerras, a resistência tropical vai no caminho do enfrentamento. Mas será uma imensa surpresa as Farc-ep enquanto quinta coluna bolivariana. Será surpresa um Brasil adotando a oportunista política de fornecimento de armas para ambos os lados e se consagrando o imperador das bandas sul-equatoriais. Será surpresa a Argentina de Señora Cristina se envolvendo em conflitos em nome de uma soberania de seus "vecinos", mas apoiando a Colômbia por conta dos problemas de abastecimento provocados pelos "neo-marxistas do século XXI" Bolívia, Equador e Venezuela. O Chile, que vai buscar a neutralidade o tempo todo, mas de olho nos acres desejados há anos do território de seus vizinhos do norte. E o pobre Paraguai, com Lugo na Presidência, não poderá muito mais do que ficar atado, com um governo inteiramente novo e sem grandes condições de participar de um conflito internacional, restando-lhe o papel de "Casablanca", território livre para brasileiros, bush-uribenhos e bolivarianos negociarem sinistros acordos de guerra. Contra os Estados Unidos, que buscará também se aproveitar da situação atacando a petroleira Venezuela e fornecendo armas para a Colômbia, estarão Alemanha e França, que provavelmente apoiarão, de longe, e financeiramente a política de guerra do Brasil.
E assim, morrendo de medo do sombrio futuro, prefiro continuar acreditando que tudo isso que eu disse agora sejam apenas devaneios. Paródia torta, análise internacional esfarrapada. Torcendo para que seja mais um caso de história repetida apenas enquanto farsa, não como tragédia.