30 setembro 2008

Saiu a primeira reforma: a da língua Portuguesa!


Quase completando o final do sexto ano de Governo Lula, demos nosso primeiro passo em uma das inúmeras reformas pendentes: a reforma da língua portuguesa. Apesar de todo o faniquito que os meios de comunicação desejam mostrar, trata-se de um acordo tímido, bem à brasileira, diga-se de passagem. Fiz questão de analisar, palavra por palavra, essas frases acima, e elas estão simplesmente de acordo com ambas ortografias, ou seja, a nova e a atual. Bem à brasileira, pois é uma reforma tímida, que altera menos de 0,5% da ortografia e simplesmente nada da gramática lusófona. Pior para nossos irmãos de lusofonia, que terão mais de 1,5% de mudanças e que, de fato, vai obrigar muitos a voltarem às aulas de português para não ficarem atrasados diante do mundo.
Em 1990, o Brasil concordou com uma ainda mais tímida reforma ortográfica. Concordou mas não a aplicou. Naquela reforma, caiu o trema, mas ele resistiu com bravura. Nessa feita, ele foi para as cucuias de vez, e com inúmeros investimentos que provam que as mudanças são mesmo para valer. Não nos resta outra coisa senão ficar atualizado quanto à nova ortografia.
Na minha opinião, a reforma ortográfica foi sim muito tímida, não mudará tanto assim a vida do brasileiro, e não solucionou alguns verdadeiros dramas daquele que está nos bancos escolares. Por exemplo, continuam os mesmos dramas do uso da letra agá, da letra cê e da letra xis. Simplesmente não há uma regra clara e lógica do qual informe se devemos escrever "hipopótamo" ou "ipopótamo", se devemos escrever "cimeira" ou "simeira", ou o clássico do "xá" ou "chá" e "xarope" ou "charope". Elas simplesmente são assim e ponto, sem maiores explicações, sem uma lógica de fato, apenas as históricas. O uso da crase sequer foi cogitada, e dez entre dez brasileiros possuem sérias dificuldades no uso dessa acentuação gráfica. Aquele monte de "porquês" (Por que, Porque, Por quê e Porquê) continua e se olharmos de perto, não informam tudo aquilo que dizem que informam - se é pergunta, se é resposta, e outros afins.
Tal reforma é consideravelmente mais impactante para os demais países, por foi utilizada a lusofonia brasileira como base, inclusive nas mudanças. Nova Iorque, que sempre foi em português escrito assim, passa a ser escrito, segundo a lógica da nova reforma, Nova Yorque. No Brasil é comum esse uso pelo populacho em dias atuais, mas nos demais países de língua portuguesa não. Idéia passa a ser escrito ideia, e que sinceramente, desde que comecei a utilizar o MSN, há tempos que não vejo ninguém escrevendo com a acentuação que a palavra requer. Agora, palavras como "facto", "acção", tão comuns na terra de Camões, irão adotar a grafia à brasileira (fato e ação). Em Moçambique e Angola, por exemplo, o impacto é consideravelmente maior. E nem consigo imaginar como é que será em Macau, onde a influência do Mandarim e do Cantonês faz da língua portuguesa mero símbolo de um período de ocupação lusitana naquelas plagas.
O que irá causar confusão será o uso do já confuso hífen, que até hoje não sei qual o motivo dela ser escrita com êne no final. Microondas passa a ser micro-ondas, e guarda-roupa passa a ser guardarroupa. Continua confuso, e a reforma não facilita em nada nossas vidas nessa questão. No que diz respeito ao valente trema, temo apenas pela fonética da palavra, pois o som provocado pela palavra lingüiça é consideravelmente diferente da palara linguiça. E, por fim, o acento diferencial é meu principal temor, pois se corre o risco de simplesmente não entendermos o que se está escrito em uma oração. "Não por acaso" significa uma coisa, "Não pôr acaso" outra completamente distinta, e tão somente o acento diferencial nos salva da confusão. Ainda assim, são tão poucos os casos em nossa língua que só o acento diferencial salva, que simplesmente não causará maiores alvoroços em nossas vidas. Bastando apenas um pouco de consideração por parte de quem escreve em se esforçar para que determinadas dúvidas não surjam para que possa ser bem compreendido.
Concluindo: não há motivo para pânicos! Basta se atualizar e desde já se acostumar com a tímida reforma ortográfica de nossa língua. O que pode ser até um incentivo para aqueles chatos que insistem em nos corrigir, os policiais da língua: afinal, prestarão um favor nessa fase de adaptação.
Ósculos e amplexos e bons estudos!

25 setembro 2008

O melhor do mau humor...




(Talvez esse exílio de ti)


Michael Genofre




Bem aqui me falta um pedaço.
Começa no meio do peito,
Termina do lado do baço.
Um choro contido em plena avenida,
Retrato em branco e preto de mim mesmo,
Acenando sem resposta para o espaço.
Procuro na claridade motivos,
Mas a escuridão rouba-me o comentário.
Talvez esse exílio de ti, talvez,
Talvez véspera de aniversário.
Não importa a que horas acordo,
Tenho a impressão do não dormido.
Pilhas de roupas esperando o céu perfeito,
Não há dia perfeito há semanas
Nesse céu do Criador, desse fim de inverno molhado.
Noto cada barulho falando por mim.
Mas é o do ouvido sob a àgua o que me aterroriza.
Abro os olhos, ainda submerso, e aquela paz me incomoda.
Gritar? Seria incoveniente sim.
Reclamar? Minha mente não me autoriza.
Dia e noite, feijão e massa, tudo é nada, tudo água.
E assim, passam-se os dias, e simplesmente sobrevivo
Ignorando a ausência desse pedaço de mim.
Finjo sorrisos, fujo olhares.
Escorro pelas mãos.
Temo escuridão,
Solidão,
O chão,
O não,
A mim.




(One more cup of coffee)


Bob Dylan


Your breath is sweet and your eyes are like
Two jewels in the sky.
Your back is straight, your hair is smooth on the pillow where you lie.
But I don't sense affection no gratitude or love.
Your loyalty is not to me but to the stars above.

One more cup of coffee for the road!
One more cup of coffee 'fore I go!
To the valley below!

Your daddy he's an outlaw,
And a wanderer by trade.
He'll teach you how to pick and choose,
And how to throw the blade.
He oversees his kingdom,
So no stranger does intrude.
His voice it trembles as he calls out for another
Plate of food.

One more cup of coffee for the road.
One more cup of coffee 'fore I go.
To the valley below.

Your sister sees the future like your mama and yourself.
You've never learned to read or write there's no books upon your shelf.
And your pleasure knows no limits and your voice is like a meadowlark.
But your heart is like an ocean mysterious and dark.
One more cup of coffee for the road.
One more cup of coffee 'fore I go.
To the valley below.

19 setembro 2008

Um pouco sobre mim...

Talvez igualável apenas pelo "Pasquim", a revista MAD foi marcante para a história do Brasil. Ao encontrar o sítio não-oficial da Revista Mad, (http://www.micromania.com.br/), onde se encontram todas as capas publicadas no Brasil desde sua primeira edição, passei a respeitar mais essa revista. Ela foi marcante, e suas capas ilustram com maestria excelentes passagens da minha vida. Compartilho com meus amigos e amigas um pouco sobre mim, ilustrado por algumas capas da revista MAD...
Ósculos e amplexos
Michael Genofre
[PS* Antes que me perguntem, adorava as charges de canto de página do Don Martin, mas meu preferido era o Spy vs Spy]


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Setembro - 1978: Óbvio que não me lembro dessa publicação, apenas está aqui por referência ao mês que nasci. Uma das principais características da MAD é o de ilustrar em sua capa aquilo do qual é o maior assunto pop do momento. "Os Embalos de Sábado à Noite" viriam a se tornar um ícone no Brasil e no mundo. Quem não se lembra ou satiriza os passinhos de Travolta até os dias de hoje? E, segundo minha irmã, estreou no começo de setembro em Curitiba, Cine São João, na época, o maior cinema da capital paranaense [careço de uma fonte oficial, mas vou procurar amanhã mesmo na Biblioteca Pública sobre essa confirmação].



Outra coisa digna de nota: lembrem-se que é uma revista completamente anárquica, que teve sua publicação no Brasil nascida em meados da década de 70, pleno período de chumbo no país.









Março - 1985: Senhores do juri, admito, eu dançava igualzinho aos Menudos, e peço-vos que "no me reprima". Aliás, trata-se de um período valioso para mim, pois os quatro irmãos moravam juntos na mesma casa. Assistia "Perdidos na noite" com meu irmão Moacir, e comendo suas deliciosas panquecas doces (que ele chamava de vira-prato); Viva a Noite com a minha irmã Fátima (do Gugu Liberato, e a dança do passarinho "tchu-tchu-tchu-tchu"); e ensaiava os passos de Rick, Robin, e compania com a minha irmã Mara. Quem nunca pagou um mico com boy band que atire a primeira pedra!






Neste mesmo ano, o comecei a me interessar por futebol, o Coritiba sagrara-se campeão brasileiro de futebol, e no cinema, assisti "Goonies".















Dezembro - 1985: Desculpem-me o salto no tempo, mas somente com sete anos de idade é que a televisão passou a fazer parte da minha vida com maior intensidade. E foi com o fenômeno de Roque Santeiro que a tele novela entrou na minha vida. Hoje, não suporto nenhuma, e até me irrito com diversas delas. Mas lembro-me que, naquela época, foi uma novela de enorme duração, se não me falha a memória, durou mais de um ano (contrariamente aos tradicionais nove meses que geralmente duram as novelas). Lembro que a viúva Porcina chamava o sinhôzinho Malta igualmente a um cachorro, e se tratava do sujeito mais malvado de todo o elenco. "Tô certo ou tô errado?".




Lembro-me de minha primeira televisão. Ela era preto em branco, trocava-se o canal na própria televisão, e toda vez que se fazia isso, tinha que mover uma espécie de anel que existia no próprio botão de canais para melhor sintonizá-los. Ah! Sem se esquecer da palha de aço na antena para "melhor nitidez". Quando desligava a televisão, ficava um ponto claro bem no meio da tela que foi o responsável por alguns sustos em meu quarto! Senão me engano, essa televisão era de meu irmão, e que por algum motivo foi parar sob meus cuidados. Na sala, havia uma televisão gigante, colorida, hoje comparável com as de plasma. Na época, artigo de luxo na maioria das casas brasileiras.







Abril - 1987: A televisão influenciava por demais a minha vida, e acho que a de todos os brasileiros. Pela televisão comecei a me interessar por política, afinal, a idéia de uma constituinte num Brasil democrático mexia com corações e mentes em todos os lares, e lá estava o jornal mostrando os bastidores. Havia uma infantil e saudável brincadeira entre meus amigos sobre o que deveríamos colocar na Constituição. Era algo como se você se perguntasse o que faria caso ganhasse na loteria. Imaginávamos capazes de elaborar leis e mais leis, e assim brincávamos de deputados da constituinte. Todos os estudantes deveriam ter o direito a um recreio de uma hora! Era a minha proposta.




A Aids estava também muito presente em nosso cotidiano. Na época, acreditava-se que se tratava de uma doença de homossexuais ou de quem usava drogas, mas a loucura ultrapassava o preconceito, e enxergavamos a possibilidade de se pegar Aids até mesmo jogando bola. E tomei contato com meu primeiro som musical, vamos dizer assim, adulto, com Cazuza.





Março - 1989: Eu ia colocar a capa de minha primeira edição lida do MAD, mas, para que esse post não fique ainda mais comprido, resolvi dar mais um salto no tempo. Para explicar essa capa, eu precisaria colocar mais algumas outras, a fim de que possam ver o galope da inflação. Mas a coisa pode ser explicada mais ou menos assim. Ao se observar as capas do governo Sarney, notamos que o valor da revista subia sempre Cz$ 20,00 (Cz$ = Cruzado) de uma edição para outra. Nos quatro meses que antecederam essa edição, a inflação fazia com que o preço da revista galopasse em média Cz$ 100,00. Com o Cruzado Novo, a revista passou a custar NCz$ 0,59 (Cruzados Novos), uma operação bastante simples: cortavam-se os três últimos zeros do antigo cruzado, e tinha-se um cruzado novo. Essa capa foi fantástica, pois a catástrofe do naufrágio do Bateau Mouche (o Titanic Tupiniquim) ainda estava vivo em nossas mentes, e mais um plano havia sido publicado (e mais uma vez o povo brasileiro dizendo que não iria dar certo). 1989 foi o ano em que eu fui para meu primeiro congresso estudantil, e também foi o ano de minha primeira eleição de grêmio, que infelizmente, perdi. Minha chapa? Chamava-se "Força Jovem", que perdeu para a chapa "Poder Jovem". De lá para cá, coleciono nomes de chapas nada criativas.


Outubro - 1992: Realmente, poderia escrever sobre praticamente cada capa do MAD. Aliás, pretendo fazer um livro sobre a minha vida, e pretendo ilustrar com alguma referências daquela época. Escolhi dar um salto para o significativo ano de 1992 para mim. Haviam diversas capas que eu poderia colocar para ilustrar o ano de 1992, mas escolhi essa pela lembrança que o fenômeno Família Dinossauro foi para mim. Eu lembro que eu saia correndo da escola para chegar a tempo para ver esse programa. Foi no ano de 1992 que eu "fugi" de casa, para morar alguns meses com minha irmã; foi o último ano de vida de meu pai; eu e minha mãe passávamos por um de nossos maiores apertos financeiros de nossas vidas e morávamos em uma kitinet do qual dividíamos espaço com o ateliê dela; foi o ano do Fora Collor, e que eu considero que de fato passei a militar no movimento estudantil, o início de uma jornada de 16 anos; minha primeira namorada; minha inicicação sexual (que não foi com a primeira namorada); alguns de meus melhores amigos conheci nesse ano e eles estão comigo até dias atuais; primeiro porre; primeira grande bobagem de adolescente ... ufa! Considero o ano de 1992 o ano em que acabou a minha infância!
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Queridos amigos....
Resolvi parar um pouco aqui, em 1992... A cabeça está já doendo de tantas histórias. Mas, irei escrever mesmo meu livro com as ilustrações que eu for encontrando. Algum dia, publico aqui o restante de minha história.
Ósculos e amplexos!

04 setembro 2008

Atletas de alto rendimento: proletários do esporte!



Não são poucas as histórias de revolta e atitudes que levaram atletas "dourados" a protestarem contra a realidade de seus países. Mohamed Ali, que jogou da ponte sua medalha em protesto ao preconceito racial nos EUA; os Panteras Negras, que do alto do pódium ergueram sua mão cerrada; e Cielo, do Brasil, revoltadíssimo com a falta de patrocínio e falta de apoio da CBDA, mandando um recado direto: "eles (a CBDA) só querem é encher o saco!". Defenderam seus países no esporte, bem como continuam os defendendo ao denunciar as mazelas do cotidiano, ainda que por diversas vezes por motivos bastante individuais. Notória autoridade para poucos, e enorme descaso para com quase todos, situações que convivem os atletas em praticamente todos os rincões do planeta. São os proletários do esporte!


Simplesmente não há diferença entre o garoto pobre que deseja ser médico e o garoto que deseja ser jogador de futebol. Ambos dificilmente entrarão no "country club" dos bem sucedidos de qualquer uma das duas carreiras. Isso se, quase que milagrosamente, consigam chegar a entrar na universidade, seja de medicina, seja dos grandes clubes profissionais. A realidade é a mesma para ambos: é mais fácil serem forçados a abandonar seus sonhos a realizá-los. Entre o início e a glória, nenhum incentivo, inúmeras situações onde sequer direitos possuem, e uma carga de alienação tamanha a ponto de não conseguirem reagir contra os seus opressores: em ambos os casos, as grandes organizações privadas transnacionais. Até a glória, passam fome, são robotizados, treinados a aceitar como se de cabresto. E ao atingirem, algum destaque nas manchetes, e retornam para a dura vida desigual e desumana de suas sociedades. A foto de Cielo no alto do pódium estampada na capa dos jornais possui o mesmo efeito da foto do trabalhador dependurada na parede da empresa com os dizeres "funcionário do mês".


Para cada gol do milhardário Ronaldinho, o fenômeno, novos milhares de dólares entram em seus bolsos por ele ter usado a chuteira da Nike. Essa mesma Nike, que poderia patrocinar milhares de atletas, opta em patrocinar algumas dezenas. E essa mesmíssima empresa, suga de milhares de trabalhadores suas vidas para colocar alguns milhares no bolso de Ronaldinho, e alguns milhões nos bolsos de seus executivos. Extremamente lucrativo, para a Nike, bastante lucrativo para Ronaldinho, nada lucrativo para os trabalhadores da Nike, e a situação de total desamparo para o filho do trabalhador da Nike, que por não ter o que calçar, não pode ir à escola, sequer chegar a uma universidade de medicina. Mas a preocupação de nossos doutores, bem vestidos, e que batem bola para se divertir e com as mesmas chuteiras daquele gol que Ronaldinho fez, e que por isso ganhara alguns milhares de dólares, é apenas se o Brasil ficou à frente da Argentina no patético quadro de medalhas.


No esporte, assim como na divisão social do trabalho, basicamente há apenas duas classes: dos opressores e dos oprimidos. E quando atletas como Cielo se manifesta em denúncia, espanta os mais conservadores, enquanto os trabalhadores, alienados por seus trabalhos, não percebem que a realidade de Cielo é exatamente a mesma das suas: a de operar verdadeiros milagres a fim de ter segundos de glória, enquanto a grande parte da vida sequer possuem oportunidades, quanto menos incentivo por parte das instituições concebidas para prover as necessidades de seus povos. E, assim como aconteceu com Cielo, que um dia após a denúncia foi "obrigado" a baixar a guarda e aceitar as condições da CBDA, seu comandante-em-chefe, muitos trabalhadores são obrigados a aceitarem as condições de seus gerentes para que não percam a única condição de sobrevida no desigual sistema: seus salários.


Os atletas podem e devem cumprir a missão de se rebelar contra seus patrões. Nada têm a perder, senão seus grilhões. Atletas de todo o mundo, uni-vos (aos demais proletários de todo o mundo)!