02 dezembro 2006

América Latina e o congresso da UNE.

O que acontece com a América Latina, mais precisamente com a América do Sul? Está até parecendo congresso da UNE!

Este texto não possui nenhum tom de chacota. Quando me refiro ao congresso da UNE, refiro-me a alguns aspectos que me soam similares à conjuntura latino-americana. Primeiramente pela característica de que, em ambas, a união e a integração são hipóteses, mas o fato é a fragmentação. Segundo, pela característica da forte presença dos setores da esquerda.

Mesmo em idos tempos em que a totalidade, praticamente, latino-americana era governada por setores de extração liberal e, em alguns casos, claramente conservadores e de direita nacionalistas, a idéia de integração é somada ao comum pensamento dos governadores eleitos, ou impostos. Agora que as contradições neoliberais demonstram a velhacaria dos partidos conservadores, temos uma mudança de pensamento significativa nos governos latino-americanos e uma renovação da idéia de integração, porém renovação claramente no sentido popular e de fortalecimento latino-americano. A eleição de Bachelet, no Chile; a reeleição de Lula no Brasil; a certa reeleição de Chávez na Venezuela; a eleição de Vasquez, no Uruguai; a eleição de Morales na Bolívia; a eleição de Daniel no Equador; demonstram o esclerosamento das forças conservadoras e a ascenção das forças populares mais progressistas, ainda que estas forças não se organizem necessariamente em partidos ideológicos. Indo mais além, até mesmo nos países onde os conservadores se mantiveram no governo, como o México, não foi com tranqüilidade. Nesse país, tivemos um empate inédito, e bastante contestado inclusive. Se compararmos com a União Nacional dos Estudantes, que também já teve, em seu histórico, momentos em que representantes do pensamento conservador dirigiam a entidade. Em um certo momento, as forças progressistas foram substituindo de tal maneira as conservadoras que, hoje, o que vemos, é praticamente uma unanimidade a presença forte e marcante das forças progressistas no cenário congressual. Ainda que estudantes conservadores se façam presentes em todos os congressos, porém com força bastante diminuta; podemos comparar tranqüilamente com a América Latina.

Diferentemente da UNE, que passou sufoco pelas repressões, militares e neoliberais, e por isso tem seriíssimas dificuldades políticas e financeiras; essas dificuldades na América Latina são também causadas pelo sufoco devido à incapacidade das lideranças tradicionais em conduzir a política e a economia dos países latino-americanos. A coisa piora quando, na década de 80, iniciam-se as transformações mundiais operadas pelo neoliberalismo, e o atraso latino-americano nas reformas econômicas necessárias foi algo notório. O que vemos hoje é, senão um sinal claro de repúdio ao neoliberalismo, um repúdio popular às forças conservadoras. Fernando Henrique Cardoso acerta em dizer que o PSDB perdeu suas raízes, mas não no que diz respeito às bases populares como ele afirmou; mas no que diz respeito ao de sempre transitar no caminho do poder.

Com a notável exceção do Chile e do Brasil, talvez um pouco do Uruguai, o cenário político latino-americano ainda é de incerteza democrática. As estruturas políticas são débeis no quesito legitimação. E, quanto mais atrito há para que o processo de transição das forças conservadoras para as progressistas aconteça, mais intensa é a postura de radicalização de seus governantes. É exemplo notório a Venezuela, que depois do golpe de direita e do contra-golpe popular, fez com que Chávez radicalizasse sua postura para o que ele chama de “construção do socialismo do século XXI”. Bom exemplo também consiste nos governos de Bachelet e Lula. Ela, de origem ideológica socialista, ele, de origem ideológica social-democrática de esquerda; são justamente os que terão de ter condutas menos radicais, mais de coalizão. Pois a estrutura política conservadora nesses países é bem consolidada. Ou seja, se não for por meio revolucionário, pode colocar o camarada Aldo Rebelo na presidência que um Brasil progressista não acontece.

Resta saber se a integração latino-americana, daqui para frente, vai seguir uma pauta mais construtiva ou se vai enveredar pela experiência da UNE, ou seja, diversas forças progressistas na gestão, mas quase nada de integração, nem mesmo naquilo em que é comum na estratégia de suas organizações. Encerro com um pensamento de Engels: “o socialismo começou como um movimento burguês; depois que surgiu o comunismo, de características absolutamente contrárias, nunca mais os socialistas foram convenção uníssona”.

Uma outra América Latina é possível, e será socialista!

Ósculos e amplexos.

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