17 setembro 2006

“Hoje eu quero fazer meu carnaval” (Chico Buarque).

Sim, é possível levar o mundo a sério. Tanto, que ele não o deixa levá-lo de outra forma. Levar o mundo é expressão curiosa, uma vez que necessita de um otimismo do qual o mundo não lhe fornece, leva a crer que você pode levar o mundo quando na verdade é ele que te leva. Fracassos da máquina militar do Tio Sam, reviravoltas no Oriente Médio, avanço econômico da Ásia, intensas migrações, catástrofes naturais em ritmo frenético, enfim, a própria globalização mudando de rumo. Tudo isso acontecendo, e a crença de que você é capaz de levar o mundo continua.
O fenômeno da globalização é tão insipiente que parece não alterar em nada os rumos dos conflitos no Oriente Médio. Nem para atiçá-lo, nem para acalmá-lo. O que leva a crer que, primeiro, o caráter, ainda que arcaico, das guerras nessa região não se alteram por uma política econômica global; e segundo, que o ideal neoliberal de que o simples aumento do livre comercio gera a paz não passa de um grande fiasco. Israel, que penou por uma independência bélica e supremacia militar na região, possui armamento nuclear. E, afiadíssimo aos desígnios do mundo neoliberal, teimou e acabou não assinando o tratado de não-proliferação de armas nucleares. Isto coloca novamente o perigo nuclear na lista das maiores aflições da humanidade, e em colocação de igual para igual com as catástrofes naturais. Além de Israel, temos na península coreana e no estreito de Taiwan uma das maiores concentrações de armamentos nucleares. E, com a exceção da China, esses países estão numa turbulência política tamanha que qualquer faísca basta para que um arsenal seja detonado. Não nos esqueçamos que, para uma auto-defesa questionável, porém compreensível, a socialista Coréia do Norte se arma também com ogivas nucleares, criando tensão com o maior de todos os países detentores de poder bélico-nuclear, ou seja, os Estados Unidos. E, criando tensão com Estados Unidos, cria-se também tensão com França, Inglaterra, Alemanha e tantos outros países europeus, e todos esses com armamento nuclear. E, enfim, todos esses países foram os que mais se desenvolveram com a política neoliberal de livre comércio.
O final da história é incerto. Tudo que podemos concluir é que o mundo nos leva, porém ele é decidido em três patamares bastante distintos. O primeiro é o militar. Quem detém o poder quer mantê-lo e usa seus militares igualmente àquela pessoa que solta seus cachorros para se livrar de um ser incômodo. O segundo na esfera da grande política, cujo seus presidentes e suas políticas de curto prazo para que não sobre nada para um próximo de outra vertente organizativa possa se gabar. E o terceiro é o do movimento social organizado. Cada qual tem a sua posição no mundo, e cada um deles, de acordo com o seu acúmulo de forças, decide mais. E, aquele pobre ser, desiludido com o fato de não poder levar o mundo, pode dormir um pouco melhor uma vez que ele poderá fazer parte de algum desses tabuleiros que decidem o mundo.
Só espero que o tabuleiro militar não inicie uma débâcle do mundo à base nuclear antes do movimento social organizado ter uma força maior e iniciar seu levante para um mundo melhor. Para todos e todas, óculos e amplexos. E como é bom estar novamente ao ar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hoje não vou comentar o conteúdo do texto em sí, mas a alegria de ter os seus textos para novamente nos instigar a pensar um pouco melhor sobre este mundo no qual estamos inseridos...

Seja novamente bem vindo e espero que seus compromissos não impessam de ter esta leitura tão diversificada.

O conteúdo do texto eu comento outro dia, agora estou perdida entre os conteúdos devaniantes de minha monografia!!!

Michael Genofre disse...

Melhor que a alegria de voltar, é a de tê-la como fiel leitora. Fico aguardando comentários do texto então. Beijos