25 janeiro 2007

Para o coração do confuso amor de Priscila.


Every little thing she does is magic! (The Police)


Fica determinado,
a fins deste, apenas sete formas do amor.
A primeira se refere a relação sexual, carnal;
A segunda, ao aspecto maternal;
A terceira, àquilo inanimado;
A quarta, ao desejo idealizado;
A quinta, às coisas do viver;
A sexta, àquilo que é de se defender;
A sétima, àquilo que é superior.
Da primeira maneira,
Oras bolas, descarta-se, obviamente,
o do tipo sem compromisso.
Não dá para ser omisso,
Há de ter algo implícito.
Para ser então amor,
Deve-se sentir com alguém como se pra sempre se queira.
Da segunda maneira,
Não carece ser o da mãe, exclusivo.
Pode ser pelo irmão, primo, um ente querido.
Porém tão forte quanto, é somente da genitora.
Da alma protetora, que daria a própria vida,
Para renascer, se preciso, o fruto do seu ventre.
Da terceira maneira,
Pode parecer mesquinho,
mas há de ser considerado.
Quem nunca se perdeu de amores,
por um objeto inanimado.
Aquele urso de pelúcia, ou aquele carrinho
desde a infância guardado.
Da quarta maneira,
o amor é um pouco mais pesado.
Um apego àquilo que na idéia foi formulado.
De febre insana se provocado.
De desmoronar castelos se usurpado.
Mas hilário se para outrém contado.
Da quinta maneira,
ninguém se dá conta, exceto se for dele privado.
É aquele comichão danado,
para fazer o que sempre se fez toda a vida.
É o tal do “vestir a camisa”
e teimar ir em frente.
E, quando o desânimo o abater,
Seu amor por ele te faz agradecer por estar ainda vivo.
Da sexta maneira,
confunde-se com honras.
Mas, naquilo que se materializa,
torna-se mais violenta que peste bubônica.
É a pátria do soldado, o partido do comunista,
a ira do derrotado, o aplauso do artista.
A sétima, não poderia faltar.
Use chapéu para lembrar.
Sobre você há sempre algo para amar.
Um amor maior, que serve para te orientar.
Se Deus, Astros, Sol, Buda ou Iemanjá,
só se mudam as orações e a forma de contemplar.
Enfim, tudo isso é o amar.
Se resta dúvidas, também não precisa perdoar.
O amor, que ao mesmo tempo tão complexo,
É sublime, e ele, por si só, não tem a menor
necessidade de perdoar.

24 janeiro 2007

A morte do dente opressor


Era apenas um dente. Um simples e qualquer dente. Irmão de tantos outros mais velhos ou mais novos. Com o tempo, este dente foi adoecendo. Já não mais cumpria bem a sua função. E, quando tinha que cumprir suas obrigações de dente, forçava os demais a produzirem muito mais para compensar a falta de produtividade do irmão dente doente.
O tempo foi passando e o dente doente foi piorando. Nem sequer produzir ele não conseguia
mais. Passou então a escravizar a sociedade dentária inteira. Tudo parecia gerar para tão somente ele. O canino picotava a carne mais vezes para ele. O molar amolara os alimentos em ritmo alucinante também para ele. E quando os dentes ameaçavam de greve, o dente doente aplicava imediata repressão. E como era longa e dolorosa a repressão do dente opressor!
E a opressão se acentuava. Era tão absoluta, que a sociedade dentária parecia ter se acostumado com as algemas de sangue e dor. Aos poucos, os demais dentes foram assumindo novos formatos, desgastes e mais desgaste um sobre os outros. Haviam aqueles que, oportunisticamente, selecionavam o seu trabalho em nome daquele dente tirano e doente. Eram os dentes mais próximos a ele. Mas, em geral, todos trabalhavam para o dente opressor. A própria alimentação passou a se moldar segundo o gosto do dente tirano. Se algo não o agradasse, era imediatamente reprimido ou simplesmente expulso da boca, a cidade dentária. E, com o passar do tempo, vários e vários alimentos simplesmente pararam de entrar na cidade. Nem mais se perguntava se era ou não do gosto do tirano dente, simplesmente associavam alimentos semelhantes e barravam na idéia, antes mesmo da entrada na cidade.
Semanas, meses, anos se prolongaram. Tudo parecia em paz. Todos trabalhavam dobrado, quadruplicado em prol daquilo que ninguém mais sabia o motivo. Esqueceram que era para o dente opressor, ou simplesmente incorporam para si que a vida é assim mesmo. Que a dor que de vez em quando passavam era um mal necessário para a manutenção da paz.
Sem pressa, o tempo foi passando. Uma revolta pairou sobre as mentes. Poucos sabiam ou entendiam a necessidade de mudança. Idéias eram reprimidas em nome de um dogma criado pelo dente opressor.
Foi numa manhã de quarta-feira, o dente opressor foi arrancado. Sem aviso prévio, sem comemorações. A tristeza abateu sobre os demais dentes, afinal, eram todos irmãos. A boca inteira ficou dormente, sem entender o que aconteceu. Mas, lá no fundo, os cisos comemoravam. Sabiam que seu tempo de exército de reserva acabara. O opressor foi condenado ao boticão, e cumpriu-se a sentença. E foi logo na manhã da sexta-feira seguinte que, singelamente, a boca voltou a sorrir. Serão mais anos de trabalho para recuperar a beleza da cidade. Mas, não haverão mais dores, não haverá mais sofrimento. Cada qual trabalhará mais e mais, mas para o bem comum. E, no lugar do dente opressor, apenas um símbolo, porém agora produtivo, de que é necessário se livrar do opressor para que toda a sociedade possa respirar o verdadeiro e inebriante ar da paz e igualdade.
(Hoje sem ósculos, só amplexos, pois a boca ainda está dormente da revolução e execução do dente opressor.)