04 novembro 2006

Cafezinho na Cozinha: Um bate-papo com Luana Bonone.

Luana Bonone, além de querida amiga, é formada em Comunicação Social pela UFMG, Presidente da União Estadual de Estudantes de Minas Gerais, e autora da monografia “Veja: Jornalismo Panfletário também vende!” (orientadora: profª. Dr. Carmem Pereira), sobre a revista Veja. Segue-se uma pequena entrevista que fiz com ela sobre o editorial de Veja, da semana 29/10-4/11.

Michael: Então, gostaria de uma opinião sua sobre o editorial dessa semana.

Luana: Adorei a charge (risos). Veja defende a tese de “Quarto Poder” (referência a Afonso de Albuquerque em seu livro “Um quato poder”), uma cultura norte-americana de jornalismo, ou seja, a mídia como um poder moderador, que investiga e denuncia os demais poderes. O problema é que no Brasil as coisas não funcionam bem assim. Ela escolhe o alvo, acusa, julga e condena... e interfere quase que diretamente nas decisões e acontecimentos do país.

Michael: To gostando, fale mais:

Luana: Acho bom que a Veja, ao término do Editorial, assume que “imprensa livre não é sinônimo de imprensa neutra”, sobre esse ponto de vista, concordo inteiramente com Veja. O grande problema é que Veja não explicita sua opinião como, por exemplo, Carta Capital faz. Na maior parte do tempo, Veja se veste de imparcial para emitir uma opinião, embora escreva, uma vez ou outra, no Editorial, sua opinião em algumas frases que emitem suas convicções. Já, Carta Capital, a sua vez, embasa e formula cada conteúdo e, assim, emite uma opinião baseada nelas. O que faz muita diferença.

Michael: Talvez a Veja reflita a intelectualidade superficial da classe média alta, seu público mais influenciado?

Luana: Sim, Veja acredita, sinceramente, que exerce esse papel de Quarto Poder ao mesmo tempo em que participa de todos os lobbies e pressões nos “bastidores” e, por vezes, fora dele também.

Michael: Seria então uma segunda manifestação contrária ao Governo Lula o fato dele não reconhecer em Veja esse papel de “Quarto Poder” e tratá-la como um veículo importante apenas? Seria, então para Veja, um horror ela ser tratada enquanto revista e não enquanto co-presidente?

Luana: (risos) Na verdade, Veja não reivindica o Poder Moderador, ela compartilha a idéia de Quarto Poder. Que significa liberdade de imprensa, poder de denúncia, poder de mostrar para a sociedade o que está errado, esse papel da mídia, na opinião de Veja, é o que ela reivindica. Mas, na prática, a imprensa acaba adquirindo um poder de pressão social muito maior do que isso. Afonso de Albuquerque fala que o Poder Moderador sempre existiu no Brasil, ganhando força no período militar, mas que no fundo sempre foi um problema na engenharia política do país. Sabe que isso foi o tema de minha monografia, né?

Michael: Óbvio que sei, eu a li. (risos). Mas, estamos falando do maior veículo de imprensa do país. Que, mesmo com tamanhas denúncias sobre sua falta de credibilidade, continua vendendo horrores. Lucro não é definitivamente seu único objetivo, tem que ter coisa maior, não concorda?

Luana: Eis a pergunta que tento responder em minha monografia: como é que a Veja, que não possui a menor objetividade, tem tamanha credibilidade? Eu penso que, e já to pensando em uma pós-graduação sobre isso, que Veja se utiliza muito do expediente do senso comum. Ou seja, reforça opiniões do senso comum, ao mesmo tempo em que as renova, trazendo novos elementos a essa opinião. Certa vez, lembro que, Marilena Chauí, quando em uma palestra na UFMG , a uma pergunta de uma jornalista estupefata, que era a seguinte: “Como é que pode o povo ficar contra a opinião pública?”, e Chauí, respondeu mais ou menos assim: “Justamente porque a idéia introjetada pela mídia de o que é a opinião pública não é a opinião do povo!”.

Michael: Um senso comum pequeno-burguês, uma parcela ínfima e superficial da sociedade dizendo que sua opinião é a opinião pública em geral, e ainda assim a revista continua ganhando fortunas e mais fortunas. Interessante, não?

Luana: Ela tem credibilidade porque mantém-a. Vende muito, tem propagandas, tem variedades, e assim, pega as idéias rasas da pequena-burguesia e distribui como panfleto. Aliás, acho que Diogo Maynard é o retrato caricato da Veja.

Michael: Certa vez, FHC deu uma verdadeira surra intelectual em Maynard, no programa “Manhattan Connexion”. Para se defender, Maynard revela que sua coluna é de humor, não foi feita para ser lavada a sério. Impressionante que só a revista Veja o leva muito a sério?

Luana: (risos) Deve ser de humor mesmo, meu primo adora lê-lo para rir. Mas, a Veja, no fundo, é a própria opinião de Maynard, por isso ela o leva tão a sério.



Ósculos e amplexos, Luana! Obrigado pela entrevista e por autorizá-la. Sucesso!

Nenhum comentário: