14 outubro 2008

E o tsunami vai se mostrando marolinha...

Profetas do apocalipse, acalmem-se: não foi dessa vez, novamente, que o mundo acabou. Apesar das notícias serem apresentadas todas como sinais do fim dos tempos, como um verdadeiro tsunami que varrerá todos os vivos e mortos, tudo leva a crer que não passa de uma boa marolinha. E há quem ande surfando numa boa nessa marola. Aliás, a necessidade de exagerar as análises, talvez por culpa dos "fast thinkers" que a imprensa brasileira sofrivelmente continua confiando como se os reveladores dos tempos atuais, confirma um outro velho adágio popular: "os filósofos pensam que são deuses, já a imprensa acredita que é Deus." E com essa certeza, disparam revelações sobre o fim dos tempos para quem interessar em ser profeta do apocalipse possa.
As relações internacionais são anárquicas, e sua prática vazia de estatuto formal. O que se vê nem sempre revela o que acontece. E, para piorar, para cada situação complexa há uma explicação simples e invariavelmente errada. O estouro da bolha econômica no calo do Tio Sam abalou o mundo todo, isso é fato, mas dizer que isso fará com que o mundo acabe soa como um excelente exagero. Longe de querer fazer um tratado teológico, até porquê não tenho tanto domínio do assunto assim, mas basta ler os Evangelhos, principalmente Mateus e Marcos, e lá veremos o próprio Filho de Deus nos deixando bem claro que não haverá como saber quando esse fim chegará até o dia em que esse fim aconteça segundo a vontade do Pai. O que corta na carne qualquer especulação sobre o fim do mundo ser agora, nesse átimo. Principalmente quando esse mundo em seus últimos suspiros é unicamente o mundo capitalista. E, não é qualquer mundo capitalista também não, é somente o da Veja, o Estado de São Paulo, e tantas outras panfletárias de um capitalismo rebuscado por teorias inventadas pelos próprios veículos de comunicação.
Esta imprensa que condena a intervenção direta dos Estados nas suas economias, uma insalubre luva para a mão-invisível do Smith repaginado, afirmando que esse gesto desesperado é prenúncio da queda do neoliberalismo, é a mesma que defende que o Brasil reaja, militarmente se necessário, para defender empresas privadas e transnacionais no Equador por uma suposta bandeira brasileira em seus mastros. Nasceu um paradoxo onde ele simplesmente não existe. A intervenção do Estado é inevitável para salvar alguns colapsos econômicos, bem como é o primeiro que terá que afrouxar o cinto da ingerência sobre a economia quando os ventos neoliberais soprarem com mais força. Talvez exceto Bush dado a sua questionável sapiência, todos os chefes de Estado não tomam um único paradigma em suas análises. Adotam inúmeras e inúmeras, contratam pesquisas e mais pesquisas, fazem um tira-teima melhor que o do futebol, e ainda assim erram feio por inúmeras vezes. Estamos falando de nações poderosas, também de um Brasil que deseja firmar o pé entre os sócios do Country Club do mundo (o Conselho de Segurança da ONU), e a nossa apocalíptica imprensa brasileira trata tudo como um debate acadêmico, com um monte de professores completamente empoeirados dando aulas para Jecas-tatu que acabaram de ganhar uma bolada na loteria quando todos os vizinhos ainda estão com suas barrigas cheias de lombrigas.
Agora, inúmeros amigos sinceros me questionam: - qual é a sua de procurar análises aprofundadas em veículos de informação (à princípio, não é função deles de fazer essas análises, mas do leitor e também de pesquisadores). Justamente por ser hoje uma postura formalizada desses veículos de se apropriarem do papel de formadoras de opinião, porém emitindo sempre opiniões distorcidas, sofríveis, e inúmeras vezes inverídicas. A pior "barrigada" que a imprensa pode dar é aquela quando ela se apropria do papel de formadora de opinião de maneira irresponsável, alarmando a população sobre inverdades. A invasão de marcianos narrada virtuosamente por Orson Wells parece que não ensinou nada para a imprensa brasileira. Um verdadeiro crime contra o povo.
Então, eu também vou dar uma surfadinha na marolinha do fim dos tempos: A crise econômica vai passar, e o capitalismo vai se transformar independente de crise ou não. Ela se transforma todos os dias, à cada renovação de sua exploração dos meios de produção. Alguns países ficarão mais fortes, outros mais fracos, mas não será de imediato que a disposição entre os atuais ricos e pobres será alterada. A Rússia e os Estados Unidos não irão protagonizar a III Guerra Mundial, tão pouco a Rússia irá organizar um novo bolchevismo internacional com os tradicionais satélites e Krushevs simplesmente porque o saudosismo da Guerra Fria faz com que Putin se transforme da noite para o dia em um saudoso desses tempos. Lula não irá alçar o terceiro mandato, bem como não invadiremos o Equador, nem a Colômbia atrás de narcotraficantes, nem a Venezuela, nem mesmo a Argentina por ter uma seleção consideravelmente melhor que a nossa (por mais que esse seja o melhor motivos para qualquer intervenção direta!). O reconhecimento do Líbano enquanto país independente pela Síria é um início de conversa, mas não a solução de seus problemas. Os movimentos militares coordenados por Venezuela e Rússia não são uma resposta ao Brasil, mas uma resposta à IV Frota dos EUA e a sua tomada de partido no conflito Rússia e Geórgia. A Geórgia não é o mocinho da história. E Bush continuará sendo um mentecapto mesmo depois de derrotado pelo Partido Democrata nessas eleições. E o fato de ser McCain ou Obama, para nós aqui da terra onde têm palmeiras onde canta o sabiá (e também corinthians onde canta os gaviões), muda muito pouco e continuaremos tendo os Estados Unidos enquanto nosso principal cliente e ao mesmo tempo credor.
Mães Dinás e Nostradamus da imprensa brasileira que se cuidem!