16 novembro 2006

Sobre a declaração do PSTU sobre a vitória de Lula.

Quer divertir um pouco o intelecto? Vá até a página do PSTU e leia qualquer coisa. Se não ficares ofendido por ousar levar à sério, certamente rirás um bocado. Logo na primeira grande constatação da “Declaração”, ou seja, a de que “os resultados desse segundo turno das eleições mostram que Lula foi reeleito Presidente da República” (sic), já é digna de risos ululantes. Ainda bem que esses resultados mostraram isso, pois mais de 60% dos votos, pelo menos para mim, não deixa a menor margem para dúvidas. E, o partido que defendeu o voto nulo, que para um partido que, pelo menos, tenta ser sério, é outra grande piada; faz um joguete que nem a criatividade da Marquesa de Rabicó conseguiria explicar o que a declaração tenta dizer, ou sussurrar.

Lembro-me de que, certa vez, num dos animados debates em meu Centro Acadêmico (orgulhosamente, o CAFIL), regados a muita birita e argumentos “descolados”; quase que um colega de faculdade saí no soco comigo. Tudo por eu ter defendido que Hobbes, por querer emular as ciências naturais, em busca de leis gerais, cria uma tendência a-historicista, tratando a anarquia enquanto elemento político natural de uma sociedade, quando a ciência já provou de tudo quanto é maneira que exatamente o contrário o que acontece. E que, por isso, não deve ser levado tão a sério, obviamente se o objetivo for o de analisar os conflitos políticos da atualidade. No dia seguinte, estávamos em sala de aula. Nossa amizade continua numa boa. E, é claro, os dois foram com voracidade estudar “O Leviatã” para uma nova rodada de birita nas animadas festas do CAFIL. Enfim, ilustrei essa passagem apenas para dizer que o PSTU, se numa situação semelhante, ainda estaria de porre e querendo brigar comigo na sede do CAFIL desde então.

É meio o que acontece na “Declaração”. A mágoa histórica que os militantes do PSTU ressentem sobre o PT é tamanha que, ainda que afirmem com todas as letras sua luta sem tréguas pelo “fim da burguesia”; que essa burguesia, no processo eleitoral, foi claramente representada por Geraldo Alckmin; para o PSTU, todos os canhões de Navarone deverão ser apontados sempre em direção ao Partido dos Trabalhadores e seus aliados (leia-se, principalmente, PCdoB, e não outros partidos de formação não-operária). Trata-se de uma antinomia aparente, porém explicável com sincera simplicidade: o PSTU não luta contra a burguesia, mas pelo seu espaço ao sol na esquerda brasileira, quiçá mundial, e que vê tudo e todos enquanto inimigos potenciais.

Agora, destaque total para o terrorismo do parágrafo sexto da “Declaração”, onde se lê: “A reforma trabalhista pretende eliminar conquistas históricas dos trabalhadores, como o décimo-terceiro salário e o FGTS, reduzir as férias e flexibilizar mecanismos de contratações”. É a “anarchophilia” mais engenhosa que eu já vi de um partido político que tenta, ou pelo menos diz que tenta, ser sério. Gostaria que algum analista de lá me dissesse como isso é possível em dias atuais, pois, francamente, não consegui achar nenhuma forma, exceto a loucura.

Por fim, a expressão que demonstra claramente a posição dos militantes do PSTU “(...) o PSTU manterá uma luta sem tréguas contra o governo petista” (sic). Notem que se trata de uma luta contra o governo do Partido dos Trabalhadores, e não contra os pensamentos conservadores, nem contra a burguesia, nem contra os lobbistas, nem contra a corrupção, contra as mazelas sociais, contra os ataques neoliberais às massas trabalhadoras; mas tão e exclusivamente o PT!

Ósculos e amplexos!

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