14 outubro 2008

E o tsunami vai se mostrando marolinha...

Profetas do apocalipse, acalmem-se: não foi dessa vez, novamente, que o mundo acabou. Apesar das notícias serem apresentadas todas como sinais do fim dos tempos, como um verdadeiro tsunami que varrerá todos os vivos e mortos, tudo leva a crer que não passa de uma boa marolinha. E há quem ande surfando numa boa nessa marola. Aliás, a necessidade de exagerar as análises, talvez por culpa dos "fast thinkers" que a imprensa brasileira sofrivelmente continua confiando como se os reveladores dos tempos atuais, confirma um outro velho adágio popular: "os filósofos pensam que são deuses, já a imprensa acredita que é Deus." E com essa certeza, disparam revelações sobre o fim dos tempos para quem interessar em ser profeta do apocalipse possa.
As relações internacionais são anárquicas, e sua prática vazia de estatuto formal. O que se vê nem sempre revela o que acontece. E, para piorar, para cada situação complexa há uma explicação simples e invariavelmente errada. O estouro da bolha econômica no calo do Tio Sam abalou o mundo todo, isso é fato, mas dizer que isso fará com que o mundo acabe soa como um excelente exagero. Longe de querer fazer um tratado teológico, até porquê não tenho tanto domínio do assunto assim, mas basta ler os Evangelhos, principalmente Mateus e Marcos, e lá veremos o próprio Filho de Deus nos deixando bem claro que não haverá como saber quando esse fim chegará até o dia em que esse fim aconteça segundo a vontade do Pai. O que corta na carne qualquer especulação sobre o fim do mundo ser agora, nesse átimo. Principalmente quando esse mundo em seus últimos suspiros é unicamente o mundo capitalista. E, não é qualquer mundo capitalista também não, é somente o da Veja, o Estado de São Paulo, e tantas outras panfletárias de um capitalismo rebuscado por teorias inventadas pelos próprios veículos de comunicação.
Esta imprensa que condena a intervenção direta dos Estados nas suas economias, uma insalubre luva para a mão-invisível do Smith repaginado, afirmando que esse gesto desesperado é prenúncio da queda do neoliberalismo, é a mesma que defende que o Brasil reaja, militarmente se necessário, para defender empresas privadas e transnacionais no Equador por uma suposta bandeira brasileira em seus mastros. Nasceu um paradoxo onde ele simplesmente não existe. A intervenção do Estado é inevitável para salvar alguns colapsos econômicos, bem como é o primeiro que terá que afrouxar o cinto da ingerência sobre a economia quando os ventos neoliberais soprarem com mais força. Talvez exceto Bush dado a sua questionável sapiência, todos os chefes de Estado não tomam um único paradigma em suas análises. Adotam inúmeras e inúmeras, contratam pesquisas e mais pesquisas, fazem um tira-teima melhor que o do futebol, e ainda assim erram feio por inúmeras vezes. Estamos falando de nações poderosas, também de um Brasil que deseja firmar o pé entre os sócios do Country Club do mundo (o Conselho de Segurança da ONU), e a nossa apocalíptica imprensa brasileira trata tudo como um debate acadêmico, com um monte de professores completamente empoeirados dando aulas para Jecas-tatu que acabaram de ganhar uma bolada na loteria quando todos os vizinhos ainda estão com suas barrigas cheias de lombrigas.
Agora, inúmeros amigos sinceros me questionam: - qual é a sua de procurar análises aprofundadas em veículos de informação (à princípio, não é função deles de fazer essas análises, mas do leitor e também de pesquisadores). Justamente por ser hoje uma postura formalizada desses veículos de se apropriarem do papel de formadoras de opinião, porém emitindo sempre opiniões distorcidas, sofríveis, e inúmeras vezes inverídicas. A pior "barrigada" que a imprensa pode dar é aquela quando ela se apropria do papel de formadora de opinião de maneira irresponsável, alarmando a população sobre inverdades. A invasão de marcianos narrada virtuosamente por Orson Wells parece que não ensinou nada para a imprensa brasileira. Um verdadeiro crime contra o povo.
Então, eu também vou dar uma surfadinha na marolinha do fim dos tempos: A crise econômica vai passar, e o capitalismo vai se transformar independente de crise ou não. Ela se transforma todos os dias, à cada renovação de sua exploração dos meios de produção. Alguns países ficarão mais fortes, outros mais fracos, mas não será de imediato que a disposição entre os atuais ricos e pobres será alterada. A Rússia e os Estados Unidos não irão protagonizar a III Guerra Mundial, tão pouco a Rússia irá organizar um novo bolchevismo internacional com os tradicionais satélites e Krushevs simplesmente porque o saudosismo da Guerra Fria faz com que Putin se transforme da noite para o dia em um saudoso desses tempos. Lula não irá alçar o terceiro mandato, bem como não invadiremos o Equador, nem a Colômbia atrás de narcotraficantes, nem a Venezuela, nem mesmo a Argentina por ter uma seleção consideravelmente melhor que a nossa (por mais que esse seja o melhor motivos para qualquer intervenção direta!). O reconhecimento do Líbano enquanto país independente pela Síria é um início de conversa, mas não a solução de seus problemas. Os movimentos militares coordenados por Venezuela e Rússia não são uma resposta ao Brasil, mas uma resposta à IV Frota dos EUA e a sua tomada de partido no conflito Rússia e Geórgia. A Geórgia não é o mocinho da história. E Bush continuará sendo um mentecapto mesmo depois de derrotado pelo Partido Democrata nessas eleições. E o fato de ser McCain ou Obama, para nós aqui da terra onde têm palmeiras onde canta o sabiá (e também corinthians onde canta os gaviões), muda muito pouco e continuaremos tendo os Estados Unidos enquanto nosso principal cliente e ao mesmo tempo credor.
Mães Dinás e Nostradamus da imprensa brasileira que se cuidem!

30 setembro 2008

Saiu a primeira reforma: a da língua Portuguesa!


Quase completando o final do sexto ano de Governo Lula, demos nosso primeiro passo em uma das inúmeras reformas pendentes: a reforma da língua portuguesa. Apesar de todo o faniquito que os meios de comunicação desejam mostrar, trata-se de um acordo tímido, bem à brasileira, diga-se de passagem. Fiz questão de analisar, palavra por palavra, essas frases acima, e elas estão simplesmente de acordo com ambas ortografias, ou seja, a nova e a atual. Bem à brasileira, pois é uma reforma tímida, que altera menos de 0,5% da ortografia e simplesmente nada da gramática lusófona. Pior para nossos irmãos de lusofonia, que terão mais de 1,5% de mudanças e que, de fato, vai obrigar muitos a voltarem às aulas de português para não ficarem atrasados diante do mundo.
Em 1990, o Brasil concordou com uma ainda mais tímida reforma ortográfica. Concordou mas não a aplicou. Naquela reforma, caiu o trema, mas ele resistiu com bravura. Nessa feita, ele foi para as cucuias de vez, e com inúmeros investimentos que provam que as mudanças são mesmo para valer. Não nos resta outra coisa senão ficar atualizado quanto à nova ortografia.
Na minha opinião, a reforma ortográfica foi sim muito tímida, não mudará tanto assim a vida do brasileiro, e não solucionou alguns verdadeiros dramas daquele que está nos bancos escolares. Por exemplo, continuam os mesmos dramas do uso da letra agá, da letra cê e da letra xis. Simplesmente não há uma regra clara e lógica do qual informe se devemos escrever "hipopótamo" ou "ipopótamo", se devemos escrever "cimeira" ou "simeira", ou o clássico do "xá" ou "chá" e "xarope" ou "charope". Elas simplesmente são assim e ponto, sem maiores explicações, sem uma lógica de fato, apenas as históricas. O uso da crase sequer foi cogitada, e dez entre dez brasileiros possuem sérias dificuldades no uso dessa acentuação gráfica. Aquele monte de "porquês" (Por que, Porque, Por quê e Porquê) continua e se olharmos de perto, não informam tudo aquilo que dizem que informam - se é pergunta, se é resposta, e outros afins.
Tal reforma é consideravelmente mais impactante para os demais países, por foi utilizada a lusofonia brasileira como base, inclusive nas mudanças. Nova Iorque, que sempre foi em português escrito assim, passa a ser escrito, segundo a lógica da nova reforma, Nova Yorque. No Brasil é comum esse uso pelo populacho em dias atuais, mas nos demais países de língua portuguesa não. Idéia passa a ser escrito ideia, e que sinceramente, desde que comecei a utilizar o MSN, há tempos que não vejo ninguém escrevendo com a acentuação que a palavra requer. Agora, palavras como "facto", "acção", tão comuns na terra de Camões, irão adotar a grafia à brasileira (fato e ação). Em Moçambique e Angola, por exemplo, o impacto é consideravelmente maior. E nem consigo imaginar como é que será em Macau, onde a influência do Mandarim e do Cantonês faz da língua portuguesa mero símbolo de um período de ocupação lusitana naquelas plagas.
O que irá causar confusão será o uso do já confuso hífen, que até hoje não sei qual o motivo dela ser escrita com êne no final. Microondas passa a ser micro-ondas, e guarda-roupa passa a ser guardarroupa. Continua confuso, e a reforma não facilita em nada nossas vidas nessa questão. No que diz respeito ao valente trema, temo apenas pela fonética da palavra, pois o som provocado pela palavra lingüiça é consideravelmente diferente da palara linguiça. E, por fim, o acento diferencial é meu principal temor, pois se corre o risco de simplesmente não entendermos o que se está escrito em uma oração. "Não por acaso" significa uma coisa, "Não pôr acaso" outra completamente distinta, e tão somente o acento diferencial nos salva da confusão. Ainda assim, são tão poucos os casos em nossa língua que só o acento diferencial salva, que simplesmente não causará maiores alvoroços em nossas vidas. Bastando apenas um pouco de consideração por parte de quem escreve em se esforçar para que determinadas dúvidas não surjam para que possa ser bem compreendido.
Concluindo: não há motivo para pânicos! Basta se atualizar e desde já se acostumar com a tímida reforma ortográfica de nossa língua. O que pode ser até um incentivo para aqueles chatos que insistem em nos corrigir, os policiais da língua: afinal, prestarão um favor nessa fase de adaptação.
Ósculos e amplexos e bons estudos!

25 setembro 2008

O melhor do mau humor...




(Talvez esse exílio de ti)


Michael Genofre




Bem aqui me falta um pedaço.
Começa no meio do peito,
Termina do lado do baço.
Um choro contido em plena avenida,
Retrato em branco e preto de mim mesmo,
Acenando sem resposta para o espaço.
Procuro na claridade motivos,
Mas a escuridão rouba-me o comentário.
Talvez esse exílio de ti, talvez,
Talvez véspera de aniversário.
Não importa a que horas acordo,
Tenho a impressão do não dormido.
Pilhas de roupas esperando o céu perfeito,
Não há dia perfeito há semanas
Nesse céu do Criador, desse fim de inverno molhado.
Noto cada barulho falando por mim.
Mas é o do ouvido sob a àgua o que me aterroriza.
Abro os olhos, ainda submerso, e aquela paz me incomoda.
Gritar? Seria incoveniente sim.
Reclamar? Minha mente não me autoriza.
Dia e noite, feijão e massa, tudo é nada, tudo água.
E assim, passam-se os dias, e simplesmente sobrevivo
Ignorando a ausência desse pedaço de mim.
Finjo sorrisos, fujo olhares.
Escorro pelas mãos.
Temo escuridão,
Solidão,
O chão,
O não,
A mim.




(One more cup of coffee)


Bob Dylan


Your breath is sweet and your eyes are like
Two jewels in the sky.
Your back is straight, your hair is smooth on the pillow where you lie.
But I don't sense affection no gratitude or love.
Your loyalty is not to me but to the stars above.

One more cup of coffee for the road!
One more cup of coffee 'fore I go!
To the valley below!

Your daddy he's an outlaw,
And a wanderer by trade.
He'll teach you how to pick and choose,
And how to throw the blade.
He oversees his kingdom,
So no stranger does intrude.
His voice it trembles as he calls out for another
Plate of food.

One more cup of coffee for the road.
One more cup of coffee 'fore I go.
To the valley below.

Your sister sees the future like your mama and yourself.
You've never learned to read or write there's no books upon your shelf.
And your pleasure knows no limits and your voice is like a meadowlark.
But your heart is like an ocean mysterious and dark.
One more cup of coffee for the road.
One more cup of coffee 'fore I go.
To the valley below.

19 setembro 2008

Um pouco sobre mim...

Talvez igualável apenas pelo "Pasquim", a revista MAD foi marcante para a história do Brasil. Ao encontrar o sítio não-oficial da Revista Mad, (http://www.micromania.com.br/), onde se encontram todas as capas publicadas no Brasil desde sua primeira edição, passei a respeitar mais essa revista. Ela foi marcante, e suas capas ilustram com maestria excelentes passagens da minha vida. Compartilho com meus amigos e amigas um pouco sobre mim, ilustrado por algumas capas da revista MAD...
Ósculos e amplexos
Michael Genofre
[PS* Antes que me perguntem, adorava as charges de canto de página do Don Martin, mas meu preferido era o Spy vs Spy]


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Setembro - 1978: Óbvio que não me lembro dessa publicação, apenas está aqui por referência ao mês que nasci. Uma das principais características da MAD é o de ilustrar em sua capa aquilo do qual é o maior assunto pop do momento. "Os Embalos de Sábado à Noite" viriam a se tornar um ícone no Brasil e no mundo. Quem não se lembra ou satiriza os passinhos de Travolta até os dias de hoje? E, segundo minha irmã, estreou no começo de setembro em Curitiba, Cine São João, na época, o maior cinema da capital paranaense [careço de uma fonte oficial, mas vou procurar amanhã mesmo na Biblioteca Pública sobre essa confirmação].



Outra coisa digna de nota: lembrem-se que é uma revista completamente anárquica, que teve sua publicação no Brasil nascida em meados da década de 70, pleno período de chumbo no país.









Março - 1985: Senhores do juri, admito, eu dançava igualzinho aos Menudos, e peço-vos que "no me reprima". Aliás, trata-se de um período valioso para mim, pois os quatro irmãos moravam juntos na mesma casa. Assistia "Perdidos na noite" com meu irmão Moacir, e comendo suas deliciosas panquecas doces (que ele chamava de vira-prato); Viva a Noite com a minha irmã Fátima (do Gugu Liberato, e a dança do passarinho "tchu-tchu-tchu-tchu"); e ensaiava os passos de Rick, Robin, e compania com a minha irmã Mara. Quem nunca pagou um mico com boy band que atire a primeira pedra!






Neste mesmo ano, o comecei a me interessar por futebol, o Coritiba sagrara-se campeão brasileiro de futebol, e no cinema, assisti "Goonies".















Dezembro - 1985: Desculpem-me o salto no tempo, mas somente com sete anos de idade é que a televisão passou a fazer parte da minha vida com maior intensidade. E foi com o fenômeno de Roque Santeiro que a tele novela entrou na minha vida. Hoje, não suporto nenhuma, e até me irrito com diversas delas. Mas lembro-me que, naquela época, foi uma novela de enorme duração, se não me falha a memória, durou mais de um ano (contrariamente aos tradicionais nove meses que geralmente duram as novelas). Lembro que a viúva Porcina chamava o sinhôzinho Malta igualmente a um cachorro, e se tratava do sujeito mais malvado de todo o elenco. "Tô certo ou tô errado?".




Lembro-me de minha primeira televisão. Ela era preto em branco, trocava-se o canal na própria televisão, e toda vez que se fazia isso, tinha que mover uma espécie de anel que existia no próprio botão de canais para melhor sintonizá-los. Ah! Sem se esquecer da palha de aço na antena para "melhor nitidez". Quando desligava a televisão, ficava um ponto claro bem no meio da tela que foi o responsável por alguns sustos em meu quarto! Senão me engano, essa televisão era de meu irmão, e que por algum motivo foi parar sob meus cuidados. Na sala, havia uma televisão gigante, colorida, hoje comparável com as de plasma. Na época, artigo de luxo na maioria das casas brasileiras.







Abril - 1987: A televisão influenciava por demais a minha vida, e acho que a de todos os brasileiros. Pela televisão comecei a me interessar por política, afinal, a idéia de uma constituinte num Brasil democrático mexia com corações e mentes em todos os lares, e lá estava o jornal mostrando os bastidores. Havia uma infantil e saudável brincadeira entre meus amigos sobre o que deveríamos colocar na Constituição. Era algo como se você se perguntasse o que faria caso ganhasse na loteria. Imaginávamos capazes de elaborar leis e mais leis, e assim brincávamos de deputados da constituinte. Todos os estudantes deveriam ter o direito a um recreio de uma hora! Era a minha proposta.




A Aids estava também muito presente em nosso cotidiano. Na época, acreditava-se que se tratava de uma doença de homossexuais ou de quem usava drogas, mas a loucura ultrapassava o preconceito, e enxergavamos a possibilidade de se pegar Aids até mesmo jogando bola. E tomei contato com meu primeiro som musical, vamos dizer assim, adulto, com Cazuza.





Março - 1989: Eu ia colocar a capa de minha primeira edição lida do MAD, mas, para que esse post não fique ainda mais comprido, resolvi dar mais um salto no tempo. Para explicar essa capa, eu precisaria colocar mais algumas outras, a fim de que possam ver o galope da inflação. Mas a coisa pode ser explicada mais ou menos assim. Ao se observar as capas do governo Sarney, notamos que o valor da revista subia sempre Cz$ 20,00 (Cz$ = Cruzado) de uma edição para outra. Nos quatro meses que antecederam essa edição, a inflação fazia com que o preço da revista galopasse em média Cz$ 100,00. Com o Cruzado Novo, a revista passou a custar NCz$ 0,59 (Cruzados Novos), uma operação bastante simples: cortavam-se os três últimos zeros do antigo cruzado, e tinha-se um cruzado novo. Essa capa foi fantástica, pois a catástrofe do naufrágio do Bateau Mouche (o Titanic Tupiniquim) ainda estava vivo em nossas mentes, e mais um plano havia sido publicado (e mais uma vez o povo brasileiro dizendo que não iria dar certo). 1989 foi o ano em que eu fui para meu primeiro congresso estudantil, e também foi o ano de minha primeira eleição de grêmio, que infelizmente, perdi. Minha chapa? Chamava-se "Força Jovem", que perdeu para a chapa "Poder Jovem". De lá para cá, coleciono nomes de chapas nada criativas.


Outubro - 1992: Realmente, poderia escrever sobre praticamente cada capa do MAD. Aliás, pretendo fazer um livro sobre a minha vida, e pretendo ilustrar com alguma referências daquela época. Escolhi dar um salto para o significativo ano de 1992 para mim. Haviam diversas capas que eu poderia colocar para ilustrar o ano de 1992, mas escolhi essa pela lembrança que o fenômeno Família Dinossauro foi para mim. Eu lembro que eu saia correndo da escola para chegar a tempo para ver esse programa. Foi no ano de 1992 que eu "fugi" de casa, para morar alguns meses com minha irmã; foi o último ano de vida de meu pai; eu e minha mãe passávamos por um de nossos maiores apertos financeiros de nossas vidas e morávamos em uma kitinet do qual dividíamos espaço com o ateliê dela; foi o ano do Fora Collor, e que eu considero que de fato passei a militar no movimento estudantil, o início de uma jornada de 16 anos; minha primeira namorada; minha inicicação sexual (que não foi com a primeira namorada); alguns de meus melhores amigos conheci nesse ano e eles estão comigo até dias atuais; primeiro porre; primeira grande bobagem de adolescente ... ufa! Considero o ano de 1992 o ano em que acabou a minha infância!
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Queridos amigos....
Resolvi parar um pouco aqui, em 1992... A cabeça está já doendo de tantas histórias. Mas, irei escrever mesmo meu livro com as ilustrações que eu for encontrando. Algum dia, publico aqui o restante de minha história.
Ósculos e amplexos!

04 setembro 2008

Atletas de alto rendimento: proletários do esporte!



Não são poucas as histórias de revolta e atitudes que levaram atletas "dourados" a protestarem contra a realidade de seus países. Mohamed Ali, que jogou da ponte sua medalha em protesto ao preconceito racial nos EUA; os Panteras Negras, que do alto do pódium ergueram sua mão cerrada; e Cielo, do Brasil, revoltadíssimo com a falta de patrocínio e falta de apoio da CBDA, mandando um recado direto: "eles (a CBDA) só querem é encher o saco!". Defenderam seus países no esporte, bem como continuam os defendendo ao denunciar as mazelas do cotidiano, ainda que por diversas vezes por motivos bastante individuais. Notória autoridade para poucos, e enorme descaso para com quase todos, situações que convivem os atletas em praticamente todos os rincões do planeta. São os proletários do esporte!


Simplesmente não há diferença entre o garoto pobre que deseja ser médico e o garoto que deseja ser jogador de futebol. Ambos dificilmente entrarão no "country club" dos bem sucedidos de qualquer uma das duas carreiras. Isso se, quase que milagrosamente, consigam chegar a entrar na universidade, seja de medicina, seja dos grandes clubes profissionais. A realidade é a mesma para ambos: é mais fácil serem forçados a abandonar seus sonhos a realizá-los. Entre o início e a glória, nenhum incentivo, inúmeras situações onde sequer direitos possuem, e uma carga de alienação tamanha a ponto de não conseguirem reagir contra os seus opressores: em ambos os casos, as grandes organizações privadas transnacionais. Até a glória, passam fome, são robotizados, treinados a aceitar como se de cabresto. E ao atingirem, algum destaque nas manchetes, e retornam para a dura vida desigual e desumana de suas sociedades. A foto de Cielo no alto do pódium estampada na capa dos jornais possui o mesmo efeito da foto do trabalhador dependurada na parede da empresa com os dizeres "funcionário do mês".


Para cada gol do milhardário Ronaldinho, o fenômeno, novos milhares de dólares entram em seus bolsos por ele ter usado a chuteira da Nike. Essa mesma Nike, que poderia patrocinar milhares de atletas, opta em patrocinar algumas dezenas. E essa mesmíssima empresa, suga de milhares de trabalhadores suas vidas para colocar alguns milhares no bolso de Ronaldinho, e alguns milhões nos bolsos de seus executivos. Extremamente lucrativo, para a Nike, bastante lucrativo para Ronaldinho, nada lucrativo para os trabalhadores da Nike, e a situação de total desamparo para o filho do trabalhador da Nike, que por não ter o que calçar, não pode ir à escola, sequer chegar a uma universidade de medicina. Mas a preocupação de nossos doutores, bem vestidos, e que batem bola para se divertir e com as mesmas chuteiras daquele gol que Ronaldinho fez, e que por isso ganhara alguns milhares de dólares, é apenas se o Brasil ficou à frente da Argentina no patético quadro de medalhas.


No esporte, assim como na divisão social do trabalho, basicamente há apenas duas classes: dos opressores e dos oprimidos. E quando atletas como Cielo se manifesta em denúncia, espanta os mais conservadores, enquanto os trabalhadores, alienados por seus trabalhos, não percebem que a realidade de Cielo é exatamente a mesma das suas: a de operar verdadeiros milagres a fim de ter segundos de glória, enquanto a grande parte da vida sequer possuem oportunidades, quanto menos incentivo por parte das instituições concebidas para prover as necessidades de seus povos. E, assim como aconteceu com Cielo, que um dia após a denúncia foi "obrigado" a baixar a guarda e aceitar as condições da CBDA, seu comandante-em-chefe, muitos trabalhadores são obrigados a aceitarem as condições de seus gerentes para que não percam a única condição de sobrevida no desigual sistema: seus salários.


Os atletas podem e devem cumprir a missão de se rebelar contra seus patrões. Nada têm a perder, senão seus grilhões. Atletas de todo o mundo, uni-vos (aos demais proletários de todo o mundo)!

31 agosto 2008

ENEM 2008 - Fácil, porém cansativa!



Desde que o ENEM virou pré-requisito obrigatório para disputar as bolsas do PROUNI (que queixem os mais fundamentalistas, mas é hoje a melhor opção para o trabalhador fazer uma faculdade), seu interesse por estudantes em todo o país cresceu em progressão geométrica. Nessa edição, realizada hoje, eu fui um dos mais de quatro milhões de estudantes que sofreu por horas e horas numa cansativa prova de 63 questões e mais uma redação.


Não desejo opinar sobre o processo, nem tampouco sobre os ônus e bônus do ENEM. Gostaria apenas de expressar minhas opiniões específicas sobre a prova propriamente dita.


A preocupação com o meio-ambiente é o grande tema do ENEM, como todo mundo sabe. Foram sete edições, das onze realizadas e contando com a de hoje, em que tanto a redação quanto boa parte das perguntas objetivas versaram algo sobre o meio-ambiente ou esse serviu para ilustrar algum outro tema. A introdução de novos valores acerca do porquê preservar a Amazônia, tanto do aspecto de sobrevivência humana, quanto por motivos econômicos e estratégicos, fizeram com que diversas perguntas, e algumas delas realmente inteligente, colocasse um "bocadinho" de opinião não-imbecilizante nas cabeças de nossos futuros vestibulandos e vestibulandas. As perguntas "dadas", tradicionais em qualquer prova, avisavam qual era o pensamento reinante em toda a prova: quem "fabrica" chuvas no Brasil, em quase todo o território nacional, é a floresta tropical amazônica. Que tão somente uma preservação sustentável não basta, mas que não se pode também preservá-la de maneira intacta. Ao mesmo tempo, que cada floresta brasileira tem sua particularidade e que nem todas são capazes de um crescimento sustentável. E, por fim, a solução está longe de um consenso. E, de brinde, o estudante teria uma redação para concordar com isso, ou praticar pura metafísica com argumentos de que é possível qualquer solução imediata.


Sobre esses aspectos, achei a prova bastante inteligente. Interdisciplinar do começo ao fim, algumas questões mais complicadas, muitas fáceis e que dependiam apenas de uma boa dose de paciência e atenção na leitura das questões, a alguma ridículas de tão simples (alguns gráficos que me lembraram aquele livro "onde está o Wally", cujo único desafio era encontrar no próprio gráfico o valor desejado, sem conta alguma ou sem maiores teorias em suas interpretações). Por outro lado, 63 questões e mais uma redação em um prazo de seis horas é realmente massacrante para o estudante. Para se responder cada questão com toda atenção desejada, o ideal seria que o estudante tivesse pelo menos cinco minutos em média para cada questão e mais duas horas pelo menos para a redação, com um intervalinho de uns 15 minutos entre uma parte e outra, com direito a troca de opiniões para refrescar a cabeça (utilizando a simples matemática, daria um total de 5 horas e 15 minutos para as objetivas, mais 15 minutos de intervalo, e mais duas horas para a redação, formando um total de sete horas e meia). Ou melhor ainda, diminuir para 30 questões e uma redação seria o ideal para as seis horas de prova.


Ainda não sei se fui bem ou mal. Quando faço a prova, costumo esquecer dela e aguardar o resultado. Para não ficar sofrendo com o gabarito. Mas, como tenho o hábito de ler toda a prova antes e eleger uma prioridade (começo pelas mais difíceis, por ter todo o tempo do mundo), para depois partir para as mais fáceis, e então, vou no banheiro, lavo o rosto, dou um tempo, e volto novo para a redação; fiquei quatro horas e meia na prova e mais trinta minutos na redação. Cinco horas de prova, e isso porque simplesmente não dei toda a atenção do mundo para aquelas que elegi como mais fáceis por não mais aguentar todo aquele massante ataque ao meu intelecto.


Realmente muito cansativo. Nem mesmo aquelas mesinhas com bolachinhas para "gentilmente" realimentar a carência por glicose tinha no ENEM. E a pressão para que não se leve nada é igual a qualquer concurso ou vestibular. Só podia água ou comer no banheiro - o que não é nada agradável (depois descobri que apenas a minha sala é que estava com essa tirania toda, pois os demais estudantes falavam que comeram e beberam tranqüilamente).


Enfim, inteligente, relativamente fácil, porém bastante cansativa essa edição do ENEM. Quando sair o meu resultado eu farei questão de publicar nesse blog. Mas, por enquanto, fica apenas as minhas impressões.


Ósculos e amplexos.

20 julho 2008

Rodada de Doha e mais alguns vinhos





A Rodada de Doha: atletiba? Desde quando?



Se alguém ainda tinha dúvidas se a política externa brasileira havia ou não superado seu eterno paradigma de submissão ou eqüidistância pragmática na relação com os Estados Unidos, o Chanceler Amorim terminou de saná-las. Ao comparar a relação que os países do Norte possuem no que diz respeito à política alfandegária para a agricultura, tascou uma comparação com o pensamento do nazista Göebbels, o famoso "uma mentira dita cem vezes se torna uma verdade". A paulada foi endereçada para a União Européia e para os Estados Unidos que, prontalmente, classificaram como "comparação baixa e infeliz" de nosso Ministro.



Não há motivos para tanto faniquito, como quer informar ou passar a impressão o nosso conhecido Partido da Imprensa Golpista - PIG. Foi uma paulada do porta-voz não apenas do Brasil, mas de todos os países do Sul presentes na prévia da reunião da OMC e mais uma tentativa para concluir a interminável rodada de Doha. Não se trata de um Ministro desiquilibrado, conforme Gazeta, Estadão e Folha tanto afirmaram. Tampouco se trata de uma representante dos Estados Unidos ofendida com a comparação simplesmente por ser filha de sobreviventes do holocausto. Nessa crítica da razão tupiniquim, ou a síndrome de Poliana, como queiram, não se trata de uma preparada representante por ser estadunidense e um despreparado brasileiro. Trata-se de uma crítica dura e necessária sobre os crimes que os países do Norte cometem contra os países do Sul, e o desconforto nada mais foi que um tempo para que a diplomacia do Norte se recupere do soco levado.



Lembro-me de quando a Senadora Heloísa Helena, para cada três discursos no Senado, dois ela comparava o pensamento de alguém com o famoso pensamento de Göebbels. E o mais impressionante era que nenhum dos excelentíssimos pares se ofendiam por conta de ter seu pensamento comparado com uma das mais fortes expressões do nazismo, ou pior, por ser chamado de mentiroso. Ora, era por ser uma frase fácil, de interpretação simples, dita por alguém que não tinha força política qualquer em meio aos mandos e desmandos da Alta Casa. Além de se estar em casa. E essa frase do Secretário de Comunicação do Partido Nazista se tornou freqüente em diversos representantes do povo brasileiro, das camadas intelectuais, e principalmente na academia. Jamais saindo da sacada ou da cozinha de nossa amada Pindorama.
Estamos falando de Celso Amorim, diplomata de carreira e por três mandatos presidenciais Ministro das Relações Exteriores. Ícone da intelectualidade profissional pública. E que, na Rodada de Doha, fala em nome de todos os países-membros da OMC do Hemisfério Sul. O Chanceler possui não apenas um Ministério competente, mas como também o que há de melhor no que diz respeito à assessoria, uma das melhores do mundo. Denunciou uma mentira do Norte para escravizar o Sul, e o Norte acabou mesmo desqualificando Amorim para ganhar tempo, afinal a denúncia veio de nada mais nada menos que o até então sempre tratado enquanto quintal ianque. Mais uma prova de que o Brasil assume de vez uma política internacional independente, compromissada com o seu desenvolvimento e fortalecimento político no cenário mundial.



Enquanto a imprensa taxa o "incidente" diplomático de ato de ignorância de nosso chanceler, esse, com muita sobriedade, informa que cedo ou mais tarde o Sul terá que negociar com o Norte precisando ainda mais do Sul. E que dessa forma, não aceitará uma negociação de afogadilho. E o gesto foi aplaudido pelos países representados. E quanto à nossa ofendida ianque, bom, ela recebeu um pronunciamento oficial do MRE: "Não pedimos desculpas, pois não há o que desculpar; mas aceitamos o recuo que vocês têm que fazer cedo ou mais tarde em nome dos povos do hemisfério Sul."



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Bodega Privada Merlot
Botella 44281 - Mendoza, Argentina
Levemente maduro, demora para abrir (20'). Rubi-violáceo, indo para tons mais avermelhados. Bouquê de frutas vermelhas, um pouco abaunilhado, com leve notas de tabaco. Na boca é suave, apesar do desequilíbrio no tanino. Bastante adstringente, porém sua permanência é curtíssima. Sugiro que se evite esse vinho, antes mesmo de se começar a degustá-lo, ele se mostrou bastante frustrante. R$ 9,90 no Wal-Mart. Nota MG 74,0.


Tempus Alba Cabernet Sauvignon 2004 - Mendoza, Argentina.



Depois de ter provado o Marques del Turia, e o Bodega Privada, a redenção dos três eleitos pela relação custo-benefício foi o Tempus Alba Cabernet Sauvignon 2004. Devidamente maduro, com um vermelho-atijolado e lágrimas bem mais generosas que o Marques e o Bodega Privada, e um buquê que abre imediatamente após se retirar a rolha. Frutado e floral, com uma suave baunilha, e um certo quê de acetona, e um outro quê de condimentos apimentados. Na boca, é bastante suave para um Cabernet Sauvignon. Taninos bem equilibrados, álcool quase imperceptível, e baixa acidez - o que surpreende por ser um Sauvignon de Mendoza, porém sua permanência é curta, sobrando no final somente os aspectos mais adstringentes de todo Cabernet Sauvignon. Na medida em que o vinho vai trabalhando, vai emagrecendo, até ficar aguado. Apesar de seu início ser bastante promissor, acabou se revelando mais um vinho mediano. Sendo bastante gentil, daria uma nota de MG 78,0. R$ 14,90 no Wal-Mart; 14% Vol. Alc.




Nota de pesquisa: o Tempus Alba Cabernet Sauvignon ter se aberto rapidamente foi uma surpresa agradável. Cepas como C. Sauvignon, Franc, e Merlot produzidos em Mendoza, principalmente "ao pé dos Andes" costumam ser demorados para abrir. Tabaco e baunilha é outra característica marcante para essas cepas de Mendoza. Não ter essas duas características acaba sendo uma raridade. Outra curiosidade que encontrei sobre as cepas de Mendoza é o rápido clareamento de seus vinhos. Logo, um Cabernet Sauvignon mais atijolado não é sinônimo de vino maduro.

17 julho 2008

A primeira avaliação de vinhos.










Sempre fui um admirador de vinhos, porém não muito culto acerca das maravilhas da enofilia. Obviamente que colecionava alguns gostos particulares sobre esse ou aquele vinho, e notava que alguns eram simplesmente esplêndidos em relação a tantos outros. Ainda que não entendesse o motivo, tinha sempre aquela sensação de que muito mais havia em uma garrafa de vinho do que pode explicar nossa vã filosofia. E nada como um enófilo casar-se com uma grande amiga para que esse eterno curioso unisse a admiração por vinhos e a paixão por se inteirar mais intensamente sobre um assunto. O resultado: a admiração tornou-se uma verdadeira paixão, e a curiosidade um desafio para a intelectualidade.
Caneta, muitas perguntas bastante óbvias para quem já está inteirado do assunto, e um apetite por conhecimentos, além da paciência de meu cunhado (uma vez que essa amiga me trata como irmão) em me explicar com riquesas de detalhes acerca do vinho, arrisquei-me nessa aventura de avaliar o objeto de minha mais nova paixão.
Assim foi mais ou menos a história desse neófito na enofilia, falta o encontro com o primeiro desafio: avaliar o primeiro vinho. Essa amiga-irmã, Queisse, indicou-me o Marques del Turia, Bobal-Syrah, 2006 pela relação custo-benefício. A coisa já apertou no início, com a falta de conhecimento da cepa Bobal, ao passo que diversas Syrah, boas e ruins, já haviam passado por mim. Mãos à obra, pesquisa e anotações, cheguei a um resultado bastante consensual entre os valencianos (uma vez que se trata de uma cepa superdifundida na região, e apenas um pouco em mais dois lugares na Espanha): para se entender o Bobal, o vinho costuma ser de baixa graduação alcoólica, e o próprio álcool deve passar desapercebido pela boca. Entretanto, deve se manter um certo tempo no decanter a fim de suavizar o paladar na medida em que vai trabalhando o vinho. Na mistura com o Syrah, essas características devem permanecer, entretanto, o que irá destinguir um bom vinho de um médio dessa mistura será o tanino mais suave, uma acidez um pouco acima do normal para um Syrah, e uma certa corpulência do vinho.
Foi justamente nas características específicas da mistura que Marques del Turia Bobal-Syrah 2006 decepcionou. Um tanto aguado, magro e de lágrimas bem desinteressantes, e sua cor violácea ainda que límpido, apontando talvez sua breve imaturidade. O buquê (desculpem-me os mais contemporâneos, mas prefiro buquê a nariz por meras questões estéticas, e até ontem eu mesmo falava apenas nariz do vinho) é de início, bastante intenso, entretanto, quando o vinho está apto para o paladar, o buquê simplesmente se torna confuso, não complexo, confuso mesmo. Destaca-se o tradicional: frutado, frutas vermelhas com um pouco de café. Adstringente e de permanência média e, realmente o álcool passa bem desapercebido, ainda que sua graduação com a mistura tenha aumentado dos típicos 11% Vol. do Bobal e ido aos 12,5% Vol. Compensa apenas pela relação custo-benefício (R$ 12,99 no Angeloni), pois o vinho é médio. Não me arrisco numa nota ainda, mas na classificação de meu cunhado (o marido da Queisse), Leonardo Araújo, não chegaria mesmo aos 80,0 pontos.

14 julho 2008

Solidariedade aos trabalhadores de campo





Eu ia novamente escrever sobre impressões de nossas eleições municipais, especificamente na minha querida capital paranense. A total ausência de maturidade dos partidos políticos seria o tema e uma tentativa de explicação pela completa superficialidade dos candidatos e candidatas, princiapalmente prefeituráveis para o pleito desse ano. Porém, deixarei para o próximo "post", uma vez que uma outra avaliação tornou-se mais atrativa para esse que vos escreve. No dia de hoje, os trabalhadores dos Correios fizeram uma inusitada manifestação na Boca Maldita. Eles querem adicional por periculosidade, e colocaram um cachorro treinado para mostrar aos transeuntes os riscos que o trabalhador de campo corre todos os dias e sem nenhum adicional por isso.
Imediatamente lembrei-me dos tempos em que eu era um trabalhador da Sanepar, leiturista. Caminhava de oito à dez quilômetros por dia, visitando cerca de quatrocentas residências, comércios ou indústrias em toda Curitiba e Região Metropolitana. De Piên a Adrianópolis, de Campo Largo a Itaperuçu, todos os dias carregando um trambolho para lá de ultrapassado e que pesava 3,5 quilos (mas que no fim do dia parecia ter aumentando uns dez quilos), um sapato apto para trabalhos pesados, preferencialmente em um canteiro de obras, um uniforme resistente inclusive ao calor e ao frio (pois quando fazia calor, passava ainda mais calor, e quando frio, passava ainda mais frio), e tudo isso com um sorriso no rosto para bem recepcionar os nem tão bem humorados clientes da empresa de saneamento. Além de tudo isso, haviam cachorros, marrecos, touros, e até avestruzes para atentar contra a saúde ou, no mínimo, contra a integridade física do trabalhador. E tudo isso numa jornada de trabalho de insuportáveis oito horas.
É essa a realidade de todo leiturista, carteiro, e demais trabalhadores de campo. E realmente merecem adicionais por periculosidade, e em alguns casos até de insalubridade (novamente lembrando de meus colegas da Sanepar que, por não lidar diretamente com o esgoto, mas indiretamente apenas, não possuem direito algum sobre insalubridade). E, quando se entra em greve, estampam em nossa cara que queremos apenas melhorias de salário (como se já se ganhasse grandes coisas), quando é a própria dignidade do trabalhador que está sendo reivindicado. A greve dos Correios é justa, por mais incovenientes que causam a ausência de seus serviços. O respeito ao trabalhador é questionado diariamente na labuta desses profissionais nem sempre valorizados.
Aos trabalhadores e trabalhadoras de campo, minhas totais solidariedades!

07 julho 2008

Alea Jacta Est



Há de se concordar com a imprensa curitibana: a campanha esse ano começou morníssima. Exceto do candidato do PMDB, Reitor Moreira, que abre uma luta sem tréguas para reaglutinar militantes do próprio partido, não se viu nas ruas uma campanha visualmente mais destacada, com bandeirassos e afins. A caminhada de Gleisi Hoffmann do PT no corredor formado pelo estádio Couto Pereira e a Igreja de Nsa. Sra. do Perpétuo Socorro não foi suficiente para dar impressão de volume no lançamento de sua campanha. Gomyde, do PCdoB, e Fábio Camargo, do PTB, considerados reserva técnica pela imprensa, sofrem algumas dificuldades para iniciar suas campanhas e seus respectivos lançamentos de campanha passaram simplesmente despercebidos pelos curitibanos nesse domingo. Os demais candidatos opositores ao atual prefeito, Bruno Meirinho (PSOL), Marinete Silva (PRTB), Lauro Rodrigues (PTdoB), Maurício Furtado (PV), estiveram lado a lado no anonimato e, na prática, não tiveram nenhuma ação mais destacada nesse domingo, aparecendo tão somente no estranho debate na Igreja da Barreirinha.
A estranha tática adotada em quase todas as capitais do país de fragmentação das disputas eleitorais se repetiu em Curitiba. Os partidos de oposição ao atual prefeito, de certa forma, ajudaram a construir o mito de "candidato eleito" de Beto Richa (PSDB) por conta de quatro anos de tímida e fraca oposição. O único episódio de destaque da oposição foi a série de incidentes entre Guarda Municipal e movimento estudantil, que trouxe o debate sobre o passe estudantil para o campo da polêmica, mas ainda muito aquém das grandes contradições do atual governo municipal, não contribuindo muito para com que o atual prefeito não continue mais no Palácio 29 de Março ano que vem.
O debate na Igreja da Barreirinha foi realizado no mesmo clima morno que as campanha tiveram nas ruas. Nenhuma cacetada mais dolorida na atual gestão, tão pouco nenhuma mais certeira do atual prefeito na sua oposição. Destacou-se tão somente uma luta de palavras de ordem por parte das militâncias dos candidatos, poucas propostas, e denúncias genéricas nas contradições de todas as esferas do executivo, de Curitiba até ao Governo Federal.
Dessa forma, Beto Richa fez um debate "mitológico", respondendo com mitos construídos ao longo de sua gestão sem maiores resistências da oposição. Quando apontaram as contradições sobre a saúde, não fizeram nada no que diz respeito ao conceito de políticas públicas de saúde do atual governo municipal, tampouco sobre a ampliação do sistema, melhorias no acesso popular da saúde pública, limitando-se aos aspectos de instalações dos postos públicos e sua demora no atendimento. Uma vez que a denúncia se tornou fraca, genérica, o atual prefeito reagiu com o mito do "melhor sistema de saúde do Brasil", o que não significa grande coisa uma vez que o sistema de saúde pública brasileiro está muito aquém das necessidades populares. No que diz respeito ao transporte coletivo, o velho discurso estético sobre o metrô curitibano ao invés de apontar os abusos da máquina de dinheiro chamada URBS e sua questionável prestação de contas, coisa que o atual prefeito nem precisou dar conta de responder. A única questão mais dolorida, quase no final do debate, quando as torcidas militantes esquentavam o amornado debate, foi sobre a política de propaganda da cidade. Como foi questionado pelo candidato do PMDB, o prefeito tucano se limitou a atacar o Governo Estadual, da mesma legenda do reitor licenciado. E o clima de torcida organizada fez com que a resposta passasse em branco assim como a pergunta.

Como diria Julio César: "Alea Jacta Est", a sorte está lançada. A campanha pode e deverá esquentar nos próximos dias. Mas, por enquanto, nenhuma das questões políticas que, de fato, podem influenciar nas vidas curitibanas nos próximos quatro anos estão sendo tratadas. Muito sentimento de guerra, pouca proposta, e, no momento, nenhuma campanha capaz de mexer com corações e mentes dos eleitores. Por enquanto, micro-regionalmente, esse debate está por conta dos candidatos à Camara Municipal. Esboçando uma clara necessidade de se mudar a política da capital paranaense, dada a inversão de prioridades nas funções que os candidatos estão demonstrando. Por enquanto, coube aos vereáveis propostas executivas, e aos prefeituráveis, uma discussão típica de Pequeno Expediente da Câmara Municipal.

03 julho 2008

O último bolinho



Da série sobre coisas corriqueiras que, quando resolvemos prestar atenção, ou ficamos perplexos ou, no mínimo, pensativos. Estava eu e a moça, bela moça, em uma esquina dessas de promoções: um tantão de bolinhos por um tantinho de dinheiro, e grátis um cafezinho. Tempos difíceis, não podia esbanjar. Mas era muito bela a moça. Valia gastar mais do que eu tinha para fazer de mim um pouco mais atraente aos olhos daquela bela donzela. Infelizmente, o dono do estabelecimento não era tão romântico quanto meus desejos, e o dinheiro deu para apenas sete bolinhos e um café para a moça. Lembrando que o meu estava na promoção do café gratuito para a promoção de bolinhos.


Em meio a um delicioso assunto, daqueles em que quase esquecemos da comida e atacamos querer comer aquilo que o outro está formulando em pensamentos, fui notando os bolinhos, lentamente, sendo consumidos. E, o número ímpar favorece algumas brigas, algumas rusgas, discussões e, enfim, um moço feito eu voltando frustrado e sozinho para casa. Esse maldito número ímpar é causador de conflitos internacionais, mataram um, e a Primeira Guerra Mundial começou. Por conta de um que queria um mundo inteiro a si submisso, outra ainda maior se deu início. Por conta de um mundo unido e proletário, uma guerra fria começou. Até o mundo bipolar, na verdade era ímpar na história da humanidade. Entre iraquianos, um governo americano querendo impor uma única verdade. Por conta de uma fórmula, milhares de vidas ceifadas graças ao resultado daquele veneno nuclear. O tal do número ímpar já desfez lares felizes. Ao acrescentar uma terceira, o par se dividiu. O amor de dois do mesmo sexo é tratado como um, e assim não podem contrair nupcias. A aliança, que resume dois seres em um, é lapidado em um metal que, se esticado, vai até o infinito, e por ele pessoas matam ou perdem sua identidade. Por cinco cartas, apenas um jogador é consagrado vencedor no pôquer, causando outros tantos desespero, desatres, ou falência financeira.


E por conta de sete bolinhos se iniciou meu desespero. Na medida em que nossos assuntos iam se entrecortando, formulando, passando, ia restando um insistente e único bolinho no prato das diferenças. - E agora? - Pensava eu quando ainda tinham apenas três daqueles causadores de discórdias. Se eu simplesmente o comesse, ela me consideraria mesquinho ou egoísta o suficiente para nunca mais querer me ver. Se eu deixasse ela comê-lo, poderia me considerar passivo demais para que eu seja digno de seu valor. Quando restaram três bolinhos, meu desespero era ainda apenas metafísico, mas veio uma bocada dela em um, e a minha no outro. O ímpar maior chegara. Meu desespero se tornava objetivo. Catava migalhas na solidão de minha alma. Se eu aceitasse que ela simplesmente atacasse o último bolinho, não honraria mais as calças que eu vesti minha vida inteira. Se ela simplesmente aceitasse que eu o fizesse, mais uma que não tem amor próprio o suficiente para enfrentar as dificuldades da vida à dois. E como perturbava-me aquele último bolinho.


Finalmente, a hora de iniciar a guerra chegou. Ali estavam lançados os dados, e eu pronto para o combate. Discretamente estava eu com guardanapo como se uma espada, ela com um sorriso como se uma mira de perito atirador. Mas era realmente fantástica a moça, e como eu era bobo. Além de rápida, não era ela nem um nem outro na guerra dos machismos e convenções sociais. Antes que eu esboçasse qualquer reação, se propôs pagar a conta. E o bolinho, simplesmente ela dividiu ao meio ante de me dar aquele beijo arrebatador.

05 maio 2008

Como é bom te ver campeão de novo!



Quando começou o campeonato paranaense, era um time frágil. Seu arqui-rival era majestoso.
Aos trancos e barrancos, classificou-se para a segunda fase em segundo. Porém bem distante de seu tradicional rival, que havia feito uma campanha, na falta de uma expressão mais exata, brilhante. Grupos separados, ascensão de um, vacilos do outro. Ainda assim, dois clubes de expressão rumando para a grande final. Do lado rubro-negro, muita confiança, mesmo diante de um tropeço a um rival, menor, porém também importante: Paraná Clube. Mas o rubro-negro devolveu na mesma moeda logo na partida seguinte. Já no outro grupo, um time do interior apavorava os clubes da capital. Classificaram para a semi-final, de um lado, Paraná e Toledo, campeões de seus respectivos grupos, e logo atrás deles, os inimigos tradicionais Coritiba e Atlético. Do lado do furacão da baixada não houve vida fácil: o Toledo continuou complicando a vida do time da capital. Porém, fracassou diante da força da torcida e da qualidade do elenco do clube mais tradicional. Na outra semi-final, um clássico da capital: Paraná e Coritiba. Importante lembrar que, ao longo da década de 1990, o Coritiba não representou dificuldades para o tricolor curitibano. Entretanto, os tempos são outros, e o alviverde não tomou conhecimento de seu adversário e classificou-se para a grande final. Iria enfrentar seu arqui-rival.
E veio a final. Dois jogos, o primeiro no Major Antônio Couto Pereira, casa dos alviverdes paranaenses. Dois gols, a confirmação do artilheiro da esmeraldina, e um passo mais próximo do título ao clube quase centenário.
A festa ficou para o domingo do trabalhador. Casa cheia, de atleticanos. Cenário: Joaquim Américo, a querida baixada daquele que carrega a camisa vermelha e preta. A cidade inteira, talvez o estado do Paraná inteiro, mobilizado para ouvir o jogo, pois a transmissão televisiva fora proibida pela diretoria do time da casa. Muita tensão, muito mistério. Ambos os times divulgaram seus respectivos elencos quando ambos já estavam em campo. A torcida do Coritiba, dez porcento do total do estádio, era barulhenta. Mas ainda mais era a gigante torcida atleticana, que conseguia um barulho tal que aparentava estar só em seu estádio. Do lado de fora, há alguns quilômetros de distância, na sede do primeiro jogo da final, um número, senão igual, quase superior de coxas-branca se encontravam e ouviam o jogo angustiados. Uma cena risível se não fosse o maior evento futebolístico do Paraná.
E assim começou o jogo. O time alviverde tremeu ao longo do primeiro tempo frente ao verdadeiro rolo compressor do ataque rubro-negro. A torcida atleticana também era jogador, o chão tremia à cada lance do lado rubi. Aos treze minutos, numa cobrança de falta, aparentemente um cruzamento de netinho, a bola engana o adiantado goleiro Edson Bastos e o encobre. Joaquim Américo estremece, gol atleticano, e o desespero alviverde. Nesse momento, a torcida do coxa buscava a calma com a lembrança do regulamento. Os dois gols em casa faziam do placar real favorável para o time visitante. E o rolo compressor do time da casa não parava. Aliás, parou pela mão espalmada de Edson Bastos, numa defesa excepcional após uma quase sempre mortal cabeceada defronte ao gol. Daquele momento em diante, ambas torcidas sentiram que o clássico, por mais que o placar dissesse outra coisa, estava apenas começando. O Coritiba conseguiu se firmar em sua defesa apenas no final do primeiro tempo, porém não saiu cabisbaixo. Buscava mostrar aos torcedores esmeraldinos que jogava favorecido pelo regulamento e que se encontrava calmo.
Careca, jogador que realmente não sei o que fazia em campo, era uma visível dificuldade para o Coxa. O seu setor de marcação demonstrava um buraco que o rolo compressor atleticano explorou o primeiro tempo inteiro. Mas, assim que acabou o intervalo, viria ao campo o que seria o algoz dos atleticanos: Henrique Dias, o predestinado. Mas não sem sustos, ou melhor, desespero. Marcelo Ramos amplia o placar para o rubro-negro aos nove minutos do segundo tempo. Eu, declaradamente coxa-branca, pela primeira vez tremi por completo. Aquele rolo compressor poderia fazer mais um, poderia destruir meu time na prorrogação, ou ainda, eu enfartaria na cobrança de pênaltis. Keirrison, o artilheiro, estava tão bem marcado que não me lembro de até aos dezoito minutos do segundo tempo o narrador ter citado o nome dele. Parecia que o clube do Alto da Glória não tinha forças diante à máquina rubro-negra. Mas, como disse e torno a repetir: parecia. Uma jogada boba, uma bola despachada para frente sem muita direção ou perigo iria se tornar o reverso da moeda. A torcida atleticana iria da euforia ao choro simultaneamente com o inverso diretamente proporcional do sentimento coxa-branca. Vinícius, goleiro atleticano ficou sem reação, Danilo, zagueiro do mesmo lado, não se livrou da bola e nem ajudou Vinícius, simplesmente caiu sentado enquanto Henrique Dias surgia do nada e cabeceava a bola para o fundo das redes do time da casa. Exatamente aos dezenove minutos do segundo tempo, Heber Roberto Lopes, impecável juiz nessa partida, assinalava o gol para o time visitante.
E a garra coxa, ou lambança atleticana, como quiserem, mudou completamente os times. O rolo compressor trocou seu operador que usava as cores verde e branco. Keirrison, Marlon, e Henrique Dias quase marcaram em três situações diferentes, duas vezes a bola beijou a ingrata trave, e um vez a bola passou tão próxima ao já vencido Vinícius que alguns chegaram a gritar o gol. Porém, foi logo depois da segunda beijada da bola na trave que ninguém mais segurou o alviverde. Heber Roberto Lopes decretava a vitória do Atlético, mas o título de campeão paranaense ao Coritiba Foot Ball Club.

Parabéns nação alviverde, como é bom comemorar de novo! Em menos de um semestre, duas vezes campeão. Parabéns torcida que sofreu e comemorou comigo lá no Couto até às onze da noite, quando finalmente recebemos a taça merecida. Aliás, muito me estranha um clube que deseja que seu estádio sedie Copa do Mundo utilizar o argumento de que a entrega da taça provocaria tumulto capaz de tornar o local inseguro. Duas hipóteses: ou a diretoria do Atlético já não acreditava em seu elenco, ou realmente falta muito para que o Joaquim Américo seja digno de ser chamado de Estádio, quiçá para Copa do Mundo.

26 abril 2008

Passado, presente e futuro, numa única semana!

Foto 1: Banner do jantar comemorativo dos 90 anos do Casarão do Estudante.


Comemorar é ótimo, quando se tem uma história tão rica quanto o movimento estudantil possui é melhor ainda! Como reunir numa única atividade décadas de história, luta política, e conquistas? A União Paranaense dos Estudantes conseguiu. Mais de cem pessoas presentes, mais algumas dezenas que mandaram suas saudações à distância por seus compromissos inadiáveis, no jantar que inaugurou as comemorações pelos 90 anos de Casarão dos Estudantes, a sede do estudante universitário paranaense, e pelos 70 anos de luta da entidade. Estavam presentes, dentre outras autoridades, o Vice-Governador do Paraná, Orlando Pessuti; o atual Presidente da Sanepar e Presidente da UPE na gestão dos conturbados meses de 1968, Stênio Jacob; o Deputado Estadual Tadeu Veneri (PT), ex-diretor da UPE na década de 70; os vereadores Paulo Salamuni (PV) e Luizão Stelfeld (PCdoB); o Presidente Estadual do PCdoB, Milton Alves; o Presidente Municipal do PMDB, Doático dos Santos; a Presidenta Municipal do PT, recentemente em licensa, e ex-Presidenta da UMESC, Gleisi Hoffmann; o Presidente da Paraná Esporte, Ricardo Gomyde; e tantos outros que pretendo ainda publicar nesse blog. Além disso, estiveram presentes ex-presidentes e diretores da UPE de diversas gerações, dentre eles: Joel Benin, Presidente 1997-1999; Arilton Freres, Presidente 2005-2007; Antonio Anibelli, Presidente 2004-2005; o já citado Stênio Jacob; e tantos outros. Destaque para a participação da atual Presidenta da União Nacional dos Estudantes, Lucia Stumpf; do atual Presidente da União Parananese dos Estudantes Secundaristas, Rafael Clabonde; e de José Richa Filho, representando, ao mesmo tempo, o Prefeito de Curitiba e o ex-Presidente da UPE e ex-Governador do Paraná José Richa.

Agora, três participações eu gostaria de destacar. A primeira, a do Vice-Governador Orlando Pessuti. Ele, que atuou no movimento estudantil tanto no Centro Acadêmico de seu curso na UFPR quanto na Presidência da Casa do Estudante Universitário, fez questão de lembrar dessa época, e majestosamente relembrou a fundamental presença dos estudantes no episódio da ocupação da Assembléia Legislativa do Paraná quando a Copel quase foi vendida. A segunda participação explêndida foi a de Vitório Sorotiuk, que presenteou José Richa Filho com uma foto da gestão de seu pai na UPE, corrigindo uma rusga histórica entre os estudantes e o Governo Richa, reconhecendo o valor tanto como um dos melhores presidentes da UPE quanto um dos mais queridos governadores que esse Estado já teve. E, por último, a emocionante presença de Doutor Zequinha, o "Prêmio Esso" pela foto dele enfrentando a cavalaria da PM em 1968 com um estilingue, que foi lembrado por todos, inclusive por Gleisi, que quando era Presidenta dos estudantes secundaristas de Curitiba e Região Metropolitana, Dr. Zequinha era o responsável pela formação política dela e de todos os militantes do movimento estudantil do PCdoB daquela época.



Foto 2: As presidentas da UNE, Lúcia Stumpf, e da UPE, Fabiana "Binha" Zelinski

O clima de nostalgia não teve, pois todos os diretores e ex-diretores estavam bastante preocupados com o futuro da luta estudantil. A Presidenta do DCE da Uniandrade, Fabiola Benvenutti, que também estava presente no jantar, comentou com os diretores a importância de um movimento estudantil que possua diálogo com a comunidade acadêmica, com autoridades, mas sem perder de vista nossas conquistas históricas. "Comemorar, quando temos o que comemorar é ótimo, mas comemorar quando temos tanto ainda por fazer é cobrança ainda maior", confidenciou-me na hora do cafezinho. O mesmo foi lembrado pelo Presidente do DCE da Tuiuti, Zeca e pelo Vice-Presidente da UNE, Marc Emmanuel, com outras palavras, porém com a mesma preocupação. Os militantes do movimento mudança, fizeram questão de lembrar que o Casarão é, antes de mais nada, símbolo de resistência e conquista, lembrando que o casarão já fora tomado pelas forças conservadoras do Estado e recuperadas pela força do movimento estudantil organizado.

O Presidente da União da Juventude Socialista e Ex-Presidente da UPE, Arilton Freres, fez questão de lembrar que o Casarão não deve apenas servir de local de reunião da UPE, mas ser palco de elaboração das propostas e ações do movimento social paranaense como um todo. Que há lutas importantes que temos que implementar. Entre elas, a questão do Passe Livre, reforçada pelo Presidente da Upes Rafael Clabonde. "Estamos numa viagem sem volta, o benefício para os estudantes está sendo tratado como coisa inútil pelos conservadores, os mesmo que quando em campanha falam que irão priorizar investimentos em educação; ora passe livre é um investimento fundamental para a educação!" - Disse Rafael Clabonde, lembrando da carta publicada aos usuários do transporte coletivo curitibano.


Foto 3: Fazendo meu jabá; como diria Ivelise, Tesoureira da UPE, à direita na foto, "Os mestres de cerimônia.

O sucesso desse jantar não se deu pelo clima de festividades, mas pela seriedade como a juventude trata a política e o reconhecimento público desse esforço. Quando vemos tantos ex-diretores de entidades estudantis hoje enquanto membros do Legislativo, do Executivo, do Judiciário, ou mesmo no comando de setores estratégicos para o povo paranaense, e esses reunidos em um mesmo lugar para comemorar a existência de um lugar comum na história de todos eles e elas; me pergunto: onde estão aqueles que falam que o movimento estudantil inexiste? Eis a prova de que o defunto pintado por eles possui uma vivacidade notável!



Foto 4: Diretores da UPE com Orlando Pessuti e Stênio Jacob; ao fundo, mural com o símbolo da UPE e alguns materiais das décadas de 60, 70, e 80 usadas pela entidade.

09 abril 2008

"Se o presente é de luta, o futuro nos pertence"




"Os saudosistas em geral e os detratores da UNE em particular lamentam que os estudantes e a entidade tenham mudado, não sejam os de outras épocas, como, aliás, as pesquisas não se cansam de constatar. Para ficar só na moda, o que querem eles: a volta do terno e gravata dos fundadores da UNE ou dos cabelos desgrenhados e da bolsa e das sandálias de couro bicho-grilo? Mas não é só moda. O estilo num sentido mais amplo, a linguagem, as relações, inclusive as de trabalho e as sexuais, tudo, enfim, está em permanente transformação, para melhor ou para pior, dependendo do ponto de vista. Como é que a UNE, uma das mais antigas instituições republicanas, poderia permanecer inalterada?" (Arthur Poerner).



Como é que o movimento estudantil e suas entidades poderiam permanecer as mesmas com todo o presente em constante transformação? O movimento estudantil, tardiamente ou com exatidão, compreendeu que o momento político é mais complexo, que a implementação de suas bandeiras de luta exigem um patamar mais elevado, bem como uma política melhor elaborada, sob o risco de ser atropelado pela imensa roda da história caso não se adapte com rapidez ao novo cenário político. Quem não entendeu o recado, está praticamente fora de combate, ínfimo em sua atuação entre a sociedade. O movimento estudantil que se mobiliza para apoiar o governador em sua luta contra o retorno da assombrosa censura, é o mesmo que, no mesmo dia, e para o mesmo governador, pugna por democracia, pelo fim das listas tríplices e eleições diretas para diretor, nas universidades estaduais e escolas estaduais respectivamente, querendo o fim desse outro resquício dos tempos de chumbo no Brasil. É exatamente o mesmo movimento estudantil que, em um mesmo dia, busca dialogar com a prefeitura de Curitiba sobre a possibilidade de ampliar os benefícios da meia-entrada estudantil e apanha da Guarda Municipal, já no dia seguinte, por exigir o passe estudantil. O que seria contradições tamanhas há pouco tempo atrás, hoje deve ser visto enquanto o cotidiano de entidades estudantis capazes de representar o estudante além das manifestações pelos seus anseios, mas na implementação real de suas bandeiras de luta.



Até pouco tempo atrás, o máximo que o movimento estudantil conseguia era sair às ruas e protestar, isso quando conseguia ir às ruas. Hoje, implementa propostas, debate de igual para igual com autoridades, elabora e promove atividades concretas de representação, conquistou espaço na sociedade e na política das comunidades, e continua indo às ruas protestar sempre que as portas se fecham ou quando a intolerância o ignora. Para qualquer pessoa, leiga ou profunda conhecedora do movimento estudantil, se não estiver com miopia política ou de má fé, chega facilmente a seguinte conclusão: as entidades estudantis estão mais representativas por terem conquistado maiores condições para o ato de representar.





Essa mudança no movimento estudantil, ainda aquém de seu pleno desenvolvimento, porém com capacidades representativas consideravelmente aprimoradas, conseguiu transpor a imagem de prefeito "da gente", das obras faraônicas de ano eleitoral, das pesquisas que apontam Beto Richa como reeleito antes mesmo do pleito se iniciar, e mostrar para a sociedade curitibana que os problemas que sempre atormentam a vida do curitibano continuam os mesmos, que a repressão continua sendo o mecanismo de defesa para todo aquele que ousar mostrar que o governo municipal continua hostil aos seus habitantes, que a prefeitura continua subserviente às verdadeira máfias do transporte coletivo e tantas outras máfias, e que negligencia as necessidades do trabalhador e dos estudantes para privilegiar os parasitas e sanguessugas do orçamento público. Sem dúvida, o movimento estudantil foi o único até agora capaz de atirar pedras na vidraça da imagem construída de Beto Richa. Isso incomodou os setores conservadores, que não economizaram em seus mecanismos de manipulação e repressão das massas. Nenhuma matéria da imprensa curitibana foi publicada sem distorcer absolutamente todos os fatos, pouquíssimos vereadores ousaram questionar o prefeito sobre a repressão utilizada, pouquíssimas entidades sociais saíram do muro, e pouquíssimos partidos políticos ousaram manifestar qualquer coisa sobre o assunto, seja contra ou seja à favor. E mesmo com tudo isso, com tantos obstáculos para superar, o movimento estudantil não pára. Intensifica ainda mais sua mobilização em resposta. E ainda assim, haverá quem diga, pior, há quem sobreviva com o discurso, de que o movimento estudantil está parado, imobilizado, aparelhado por partidos, governista, burocrata, blá, blá, blá, blá.

02 abril 2008

Fascismo curitibano: Guarda Municipal e Tartufo para a Classe Média curitibana


A semana teve vários dias de manifestações estudantis por todo o país. Mas chama a atenção a forma em que cada lugar foi recebida e merece análise. Em praticamente todos os lugares onde o governo municipal era ou do PSDB ou do DEM, havendo manifestações, houveram choques entre estudantes e Guardas Municipais. Curitiba não fez por menos, mandou responsáveis por segurança de patrimônio, a Guarda Municipal, caçar estudantes até mesmo em frente ao prédio do Ministério da Fazenda, que todos sabem, é patrimônio federal.
A justificativa da Guarda Municipal: 300 estudantes tentaram invadir o tubo da Estação Central, o que exigiria uma reação mais violenta por conta do baixo efetivo policial na área. Primeiramente, não cabem 300 estudantes mais população que pega ônibus por volta do meio-dia naquela estação. Segundo, é impossível que tenha tido tantos estudantes intencionados pela contravenção. O que sugere que alguns pares de jovens, de fato, tentaram invadir o local, e a truculência da Guarda avaliou da seguinte forma: "se estiver de uniforme, botemos para fora!". Ao fazer isso, é claro que explode um confronto: de um lado Guarda Municipal, de outro estudantes, entre esses, uma minoria contraventora e uma maioria indignada por ter sido forçada a fazer algo que não queria. Terceiro, existem regras na segurança pública. Se o efetivo da Guarda Municipal era insuficiente para simplesmente fazer uma bloqueio nas portas da Estação, acionasse a Polícia Militar, que é a única responsável para conter situações de massa. Mas o que aconteceu foi o abuso de diversos guardas municipais, frustrados e mal treinados, que trazem consigo (e todo mundo sabe disso), armamento proibido àqueles que são responsáveis pela segurança de patrimônio municipal como spray de pimenta e aparelhos de choque elétrico.



Sabemos também que se tratava de uma minoria de pessoas entre os trabalhadores da Guarda Municipal de Curitiba que abusaram de seus poderes, excedendo em situações inclusive do qual não possuem poder algum. Foi um ato covarde, pois bateram em jovens, estudantes, que sempre são vistos como aquele filho malcriado que merece palmadas, típico de uma mentalidade limitada e doentia. A culpa, logo só pode ser atribuída ao governo municipal, de Beto Richa, senhor Prefeito do PSDB. Ele treina mal, paga mal, contrata mal, e ordena pior ainda sobre seus homens de azul.

A Guarda Municipal disse ainda que os estudantes depredaram o patrimônio público, o que exigiu medida mais radical. Ora, estranhamente não há um vidro sequer trincado na Estação Central, uma pichaçãozinha nova sequer em nenhum dos muros da redondeza. Que tipo de depredação foi essa? Esse mesmo argumento, somado ao suposto "pertubação da ordem pública", foi utilizado para dar voz de prisão aos líderes estudantis. Ora, estranhamente nenhum dos supostos "contraventores" foram presos, apenas líderes estudantis. Conclusão: presos por atividade subversiva, não há outra explicação. Os conservadores curitibanos continuam dormindo com medo do fantasma vermelho embaixo da cama. Cômico, se não fosse trágico.


Outra análise importante que deve ser feita: a situação dos estudantes. O lamentável confronto ocorreu após, e não durante, uma passeata estudantil. Era praticamente a distância de um quilômetro entre o local do confronto e o local onde terminou a passeata estudantil. Os dirigentes estudantis simplesmente tiveram a infelicidade de estar no lugar errado na hora errada, e por isso foram presos enquanto responsáveis pela tentativa de invasão a Estação Central. Mas, por outro lado, é importante lembrar que durante certo tempo, não foram as entidades estudantis que organizaram passeatas na capital paranaense pelo passe livre, mas o Movimento Passe-Livre. Esse movimento tinha como mecanismo de protesto justamente a invasão de tubos e o ato de "pular a catraca". Com a reconstrução das entidades estudantis, esse movimento foi engolido pelos inúmeros movimentos organizados pelas entidades. Mas os adeptos daquele movimento também acabaram incorporados, e sem a menor consulta às entidades (simplesmente, sob consulta às entidades seriam inibidos, logo não iriam fazê-la), e assim que não haviam mais uma massa de estudantes que o reprenderiam pela tentativa de invasão, deram continuidade àquilo que estavam acostumados pelo MPL, Movimento Passe-Livre (o movimento "pula-catraca").



Agora, o prêmio Tartufo do mês vai para a classe média curitibana. Segundo seu jornal, a gazeta, opiniões se dividem. Uns apoiam a brutalidade da Guarda Municipal, afinal fizeram uma contravenção (Guarda Municipal não tem poderes de pelotão de choque, estão parabenizando outra contravenção). Outros apoiam a brutalidade, por serem contra a reivindicação dos estudantes (o fascismo da classe média curitibana é forte e quer reeleger Beto Richa/PSDB).

25 março 2008

Cante! & Perco-me em ti.


CANTE!

Cante!
Mas cante até!
Cante!
Para mim, para você, para qualquer
Não apenas sussurre,
Cante, faça-se ouvir!
Imagine duetos, sonetos, minuetos, à capellas,
Imaginando no qualquer canções belas.
Solte o verbo, cante, enrouqueça-se de tanto cantar!
Cante a vida, a morte, a alegria, a dor, o calor, o amar.
Cante!
Traduza aquele olhar da pessoa desejada num cantar.
O delicioso frio na espinha no segundo antes de beijar.
Aquele riso de deboche só para desfarçar.
Cante!
Um poema, um dilema, uma peleja, um conversar.
Um abraço de amigo, um ente querido, em qualquer lugar.
A sensação divina do imprevisível, do fascinar.
Cante!
Mas cante alto!
Soluce se quiser chorar, mas o faça copiosamente.
O choro é também um estranho despertar.
O soluçar é um sopro que teima em se reprisar
Cante isso, aquilo, mas não pare de cantar.
Cante!
Não demonstre sigilo, queira cantar.
Deseje esboçar, deseje sentir.
Deseje o desejar.
Por quem canta, o coração deixa-se levar!

PERCO-ME EM TI.


Olhe para mim mais uma vez, estou aguardando.
Fico delirando, imaginando quando você vai voltar a me olhar.
Perco-me em devaneios, sonhando no quando eu poderei te acalentar.
No lábio no lábio,
Naquele nó na garganta.
No seu perfume, no seu andar.
Seus pés, lindos pés, obras de arte.
Delicados, desenhados, pés de sonho.
Panturrilhas encurvadas, contrabalanceam o curvar de suas coxas.
Belas coxas.
Sua grandeza, de espírito e de altura,
Minha imaginação vai ao longe te desenhando.
Seios, lindos seios, esculpem o teimoso vestido.
Suas mãos, desejáveis mãos,
Todos os pecados serão lembrados e redimidos com um único e breve toque.
Uma simples lembrança sua, doce presença, anuncio-me em céu de gostosuras.
Andando na minha direção, antecipas o paraíso.


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Michael Genofre

08 março 2008

Talvez, apenas masoquismo de leitor (...)



Talvez seja minha mania quase masoquista de ler sobre tudo que tenho acesso a única justificativa para que eu continue lendo algumas coisas que sei que irão ou ofender a inteligência do leitor ou roubarão preciosos minutos que poderiam ser gastos em qualquer outra coisa mais produtiva. E o pior: sempre leio crendo que se trata de coisa séria, elaborada por pessoa séria, e que possui opiniões construtivas para nosso país, ainda que contrárias às minhas. Talvez por isso eu continue acessando a página da Conlute, a entidade estudantil nacional do PSTU.

Disse, repito, talvez seja por uma mania quase masoquista. Há também a questão da pesquisa política. Essa deve ser feita tanto pelos órgãos de comunicação da situação quanto da oposição. E, nesse quesito, a Conlute seja a única oposição às forças de situação no movimento estudantil que possui uma política de comunicação competente dentro de suas limitações. Ainda que invariavelmente leviano em seus posicionamentos, pois desejam uma nova UNE sem fazer uma proposta do que deveria ser essa nova UNE, apenas agredindo inconseqüentemente as forças políticas que a compõe. Quando se acessa a página ou quando se adquire um jornal desse movimento-entidade, pode-se ter certeza que se trata de uma opinião completamente contrária a todas as organizações políticas que compõem a União Nacional dos Estudantes. Isso faz com que sua maior virtude seja, ao mesmo tempo, seu maior vício.

A crítica sistemática feita pelo Conlute/PSTU ao movimento estudantil, na prática, usa a UNE enquanto cavalo de tróia para combater as forças políticas estudantis. Quando se ataca a UNE, na opinião deles, leia-se um ataque ao PCdoB, ao PT, ao PMDB, ao PSOL, ao PCB, e assim por diante. Eis o maior vício do Conlute/PSTU, se ele combate tão somente as forças políticas, logo, ele luta pelos cargos ou pelo comando dos cargos das entidades estudantis. Sua sistemática, e por vezes competente, oposição se utiliza de argumentos como "peleguismo", "entreguismo", e tantos "ismos" da UNE, porém não elabora uma proposta sequer tomando por base os anseios estudantis. Não elabora uma contra-proposta sequer de oposição às idéias majoritárias do movimento estudantil, pois se limita a apontar defeitos nas organizações alheias enquanto arauto da moralidade política "de esquerda". Quer a direção das entidades, ao mesmo tempo, polícia da esquerda.

Quando li o título do artigo "Por uma nova concepção de política de finanças no movimento estudantil" na página do Conlute (http://www.conlute.org.br/artigos/13rifas.htm), pensei: será que finalmente uma proposta, um debate real, uma contra-proposta a um problema de fato do movimento estudantil? Teríamos, enfim, um debate real com o Conlute/PSTU acerca dos problemas do movimento estudantil? Enfim, um verdadeiro debate de idéias, baseadas em ricas experiências de luta, com todas suas vitórias e frustrações? Será que meu próximo artigo será sobre uma transformação política do Conlute/PSTU a ponto de mudar todas as considerações sobre ela até então?

O movimento estudantil precisa, urgentemente, de uma nova concepção de política de finanças. Não há independência política sem autonomia financeira. Nada é de graça em nosso país, sempre há alguém que paga pela gratuidade de algo. O jornal, a revista, o caminhão de som, enfim, tudo o que o estudante recebe "de graça" da UNE ou qualquer outra entidade estudantil tem, no mínimo, que ter sido pagas pela UNE ou qualquer entidade estudantil. Quase todas entidades estudantis adotam uma postura mendigante de arrecadação, além de pragmáticas quanto ao seu quase nenhum planejamento além do curtíssimo prazo. Logo, tornou-se incompatível representar o estudante de maneira mendigante. É necessário estabelecer políticas mais ousadas tanto para a arrecadação, captação de recursos, como também mais planejadas, visando o médio e o longo prazo. Ser competente na captação de recursos e superar a praticamente tradicional condição de mendigante financeiro.

Eis que o debate se estabelece no tocante limites tanto na arrecadação, captação de recursos, quanto no gasto e planejamento. Atualização e aperfeiçoamento dos atuais métodos de captação de recursos, e planejamento de novas outras formas. Introduzir também elementos financeiros como o investimento, a poupança, enfim, fazer com que o dinheiro mantenha todas as necessidades das entidades estudantis sem esgotar suas reservas. Tudo isso sem a intenção de lucro, o que além de proibido, é avesso à existência das entidades representativas. Além da fundamental transparência em todas contas e atividades financeiras.

Realmente cheguei a pensar que o Conlute/PSTU iria debater o assunto, mas um banho de água fria me trouxe à realidade: bastou começar a ler o artigo para relembrar que eles não lutam pelos estudantes, eles lutam é pela direção das entidades dos estudantes. Eles não debatem problemas do movimento estudantil, eles debatem sobre o problema deles não dirigirem o movimento estudantil.

O artigo acusa a UNE de ter perdido sua independência e ter se burocratizado devido o recebimento de recursos do Estado e de convênios com empresas privadas. E apontam como solução, "uma nova concepção de finanças" segundo a autora do artigo, a velha mendicância das entidades, baseada na arrecadação de fundos através da contribuição dos próprios estudantes por meios de rifas ou similares (se bem que essa proposta não é feita diretamente para a UNE, como podemos ver no artigo, mas para o Conlute, mandando de vez às favas qualquer possibilidade de coerência do texto).

Ora, se o que determina se uma entidade está desse ou do outro "lado da força", seguindo o raciocínio do próprio artigo, é sua saúde financeira e a fonte de sua arrecadação, logo seria o bastante se cada estudante contribuisse regularmente para com suas entidades e a permanência desse lado da "força" estaria garantida. Agora, mostre-me uma única entidade estudantil que possui saúde financeira através de contribuições espontâneas dos próprios estudantes, que eu mostro um homem que compra revista masculina unicamente pelas suas entrevistas e nem sequer dá uma olhadinha nas fotos de mulher pelada.

Saúde financeira nas entidades estudantis por intermédio de contribuição dos próprios estudantes nem mesmo a carteirinha é capaz de garantir. As poucas entidades que conseguem sobreviver com saúde financeira por via da contribuição estudantil regular, invariavelmente, é por ter um acordo com a universidade que coloca no boleto da mensalidade a contribuição mensal, e é claro, com um sistema para lá de burocrático para que se evite que o estudante decline de contribuir. E isso não garante a independência, pelo contrário, é mais fácil manter-se submisso à reitoria a enfrentá-la e correr o risco de romper com esse acordo. Isso sem falar em inúmeros exemplos de entidades que possuem uma luta quase mortal entre seus diretores pela administração dessa arrecadação, tornando-se extremamente antidemocráticas suas gestões.

É claro que a contribuição do estudante é fundamental, mas não para a saúde financeira da entidade, mas, além da questão da contribuição ideológica (você só contribui com aquilo que acredita), por questão de "lastro" político-financeiro. Sobre esse último, por exemplo, o chamado patrocínio das carteiras estudantis consiste, geralmente, na seguinte política de troca: a empresa paga o comercial, a entidade se obriga em divulgar a propaganda. Nada mais do que isso. Caso a empresa queira algo a mais e que represente perigo para o estudante, a entidade terá condições financeiras para ficar com um patrocínio menor ou mesmo sem patrocínio nenhum até que alguma outra empresa aceite tão somente os termos que a entidade deseja.

Por fim, as verbas do Estado não são doações e nem troca de favores. São todas perfeitamente legais e previstas para entidades representativas em seus projetos sociais. O movimento estudantil deve é aprender como funciona esses sistemas em todas as esferas públicas, pois quem usa esse sistema hoje são justamente os inimigos dos estudantes. Sem as entidades estudantis para disputar tais verbas, essas irão integralmente para qualquer outra entidade representativa, que hoje hegemonicamente vai para as entidades mantenedoras de instituições pagas de ensino. E o que o governo pede em troca é prazo cumprido e prestação de contas. A contra-partida não se encontra no acordo, mas na aprovação do projeto. Ora, o movimento estudantil luta, põe milhares de estudantes nas ruas, fazem mudanças acontecer nos governos e no Estado, nada mais do que justo que seus projetos sejam financiados por essas mudanças.

Agora, a torpe visão da Conlute/PSTU não confia nem mesmo no debate do próprio movimento estudantil. Teme manipulações em todos os cantos, pois, na visão deles, se eles não dirigem, tudo é manipulado. Se recebe dinheiro do Estado, é por ter passado para o outro lado da força (gostaria de saber se o PSTU já recusou, alguma vez, de receber o fundo partidário para justificar essa postura).

04 março 2008

Devaneios, espero!



No começo do século passado, o liberalismo mundial já demonstrava claros sinais de esgotamento e o mundo encaminhava para sua derrota em uma imensa fase de guerras e depressão econômica. O liberalismo necessita de colônias tanto quanto necessariamente de guerras para garantir seus monopólios. E ao mesmo tempo em que desenvolve o que há de mais avançado em tecnologia e novos padrões de consumo, concentra absurdamente nas mãos de poucos e instituições sociais todo o poder de decisão do mundo. Nessa mesma época, Carl Schmitt irá apresentar um verdadeiro tratado para justificar a necessidade de criação de um poder "decisório", ou seja, a soberania de um país deve ser entendida como a capacidade de se tomar decisões sobre casos de exceção sem a necessidade das leis, burocracias ou tratados. É a teoria embasadora do que mais tarde veio a se transformar o governo nazista, ou seja, uma ditadura sobre os demais governos em nome de um poder emanado de momentos de exceção.
Um século depois, a história se renova. O ápice econômico determinante não é mais o controle do monopólio férreo, mas o petróleo. O liberalismo se transformou no neoliberalismo. Quem adota o pensamento schmittiano não é mais Hitler, mas George W. Bush. Após o atentado de 11 de setembro, Bush inaugura uma colonização à força baseado no poder de exceção denominado Guerra Preventiva. E essa doutrina irá se alastrar como o nazismo se alastrou pelo mundo, colocando em situação tensa tudo e todos que ousem se manifestar contra esse poder "decisório". A ordem, para Bush assim como para Schmitt, baseia-se na decisão do governo, e não na consensualidade dos organismos políticos. A exceção faz a regra, e o país mais poderoso passa a ser a polícia do mundo contra os nefastos efeitos da democracia à sua necessidade de colonização.
Agora, assim como não se pode olhar para o passado e compará-lo imediatamente com a situação presente sem fazer a justa consideração dos momentos históricos distintos, também não se pode analisar o presente com base em um pensamento do passado. Coisa que intelectuais e imprensa brasileira fazem por demais. A caçada anticomunista é a mesma da década de setenta, o apoio ao poderío ditatorial dos Estados Unidos aos governos do mundo é também o mesmo da década de 70. E a noção de desenvolvimento, como não poderia ser diferente, a do milagre econômico.
A resposta da América Latina ao neoconservadorismo, ou neoschmittismo, não é um neoliberalismo reformado, nem tão pouco um socialismo deturpado e extremamente individualista de uma União Soviética da Guerra Fria. Ela é essencialmente de uma visão de centro-esquerda, com alguns enfoques marxistas em alguns governos pintados de socialistas do século XXI. Porém, o neoconservadorismo latino-americano é, ao mesmo tempo, lacaio e parasitário do ditador do mundo Geoge Bush.
Assim, temos o cenário dessa semana. Colômbia, de Uribe, lacaio e parasita do neoschmittiano George Bush e sua guerra preventiva em solos de outras pátrias e uma imensa necessidade de colonizar povos e governos inteiros. Do outro, governos de resistência, de pelo menos princípios marxistas como a Venezuela e Equador. E entre esses, centro-esquerdistas como o Brasil, Chile e Argentina, que reprovam a política neoconservadora, mas que nada além de uma fraca mediação podem fazer pois também, de uma certa forma, disputam internamente o poder com seus próprios neoconservadores e não adotam medidas de ruptura com o grande ditador mundial, apenas frágeis e temporárias liberdades.
Não será surpresa uma guerra tropical, afinal, assim como o imperialismo necessita de colônias e a resistência leva à guerras, a resistência tropical vai no caminho do enfrentamento. Mas será uma imensa surpresa as Farc-ep enquanto quinta coluna bolivariana. Será surpresa um Brasil adotando a oportunista política de fornecimento de armas para ambos os lados e se consagrando o imperador das bandas sul-equatoriais. Será surpresa a Argentina de Señora Cristina se envolvendo em conflitos em nome de uma soberania de seus "vecinos", mas apoiando a Colômbia por conta dos problemas de abastecimento provocados pelos "neo-marxistas do século XXI" Bolívia, Equador e Venezuela. O Chile, que vai buscar a neutralidade o tempo todo, mas de olho nos acres desejados há anos do território de seus vizinhos do norte. E o pobre Paraguai, com Lugo na Presidência, não poderá muito mais do que ficar atado, com um governo inteiramente novo e sem grandes condições de participar de um conflito internacional, restando-lhe o papel de "Casablanca", território livre para brasileiros, bush-uribenhos e bolivarianos negociarem sinistros acordos de guerra. Contra os Estados Unidos, que buscará também se aproveitar da situação atacando a petroleira Venezuela e fornecendo armas para a Colômbia, estarão Alemanha e França, que provavelmente apoiarão, de longe, e financeiramente a política de guerra do Brasil.
E assim, morrendo de medo do sombrio futuro, prefiro continuar acreditando que tudo isso que eu disse agora sejam apenas devaneios. Paródia torta, análise internacional esfarrapada. Torcendo para que seja mais um caso de história repetida apenas enquanto farsa, não como tragédia.