24 maio 2010

Amor sem escalas (Up in the air): gênero indefinido!


Na capa do DVD, o gênero classificado é comédia. Para muitos críticos se trata de um romance. Para os mais conciliadores, comédia-romântica. Para mim, classificaria-o como melancólico. Mas, como não há essa classificação, recomendo que o filme "Amor sem escalas" (Up in the air, 2009) fique na prateleira de gênero indefinido.

Há tempos não via argumentos tão bem desenvolvidos e personagens tão bem interpretados, em uma história tão bem contada. Mas, alerto: dê uma chance para o filme te conquistar, pois demora para isto acontecer. Aliás, a sutileza é a tônica do filme e o tempo dele também é bem sutil, em um limiar de quase total monotonia. Entretanto, aos poucos, cada personagem vai conquistando a quem assiste ao filme. E, quando se aproxima o fim do filme, estamos completamente apaixonados pela história e atônitos pelo final sutilmente surpreendente.

O nome dado em português não colabora. Mais uma para a saga "como destruir o interesse por um filme logo pelo título". Não me surpreenderia se alguém entrasse com processo por propaganda enganosa. Ryan Bingham (George Clooney) possui a mais lucrativa e medíocre profissão em tempos de estouro de bolha econômica e crise financeira: ele trabalha despedindo pessoas. As empresas contratam empresas como a de Bingham não por não ter coragem de despedir seus funcionários, mas por elas possuírem uma abordagem capaz de dar falsas esperanças aos miseráveis demitidos e assim diminuir o número de processos trabalhistas. Bingham dá palestras "motivacionais" sobre como viver sem "pesos na mochila", sendo tais pesos qualquer coisa que não caibam em uma mochila, como casa, família, parentes, amores, etc. "Não somos cisnes, somos tubarões" é a tese de Bingham, e ele realmente vive sua estúpida filosofia de vida. Como não tem uma família, nem mesmo uma casa equipada para se chamar de lar, além de uma profissão da qual se torna impossível se dizer orgulhoso, seus símbolos de status são: atendimento preferencial para VIP nos aeroportos, hotéis e locadoras de veículos. Seu hobby e sonho: acumular 10 milhões de milhas aéreas para ser membro de um seleto clube de milhagens de uma empresa aérea americana (e ele simplesmente não come nada que não lhe acumule milhas por isso).

Bingham ama a vida que tem. Dos 365 dias do ano, ele passa 322 viajando entre um aeroporto e outro. Sejamos sinceros: há algo mais melancólico que um aeroporto? Ele conhece uma versão feminina de si, Alex (Vera Farmiga). Mesmo soando um tanto cômico, os flertes se dão em meio à cartões de clubes de fidelidade - não havendo mais limites para a melancolia. Seu "namoro" com Alex é por meio de roteiros profissionais coincidentes (ainda que o próprio filme, por intermédio da irmã de Bingham, diga que adultos não namoram). Trocam carícias e picantes provocações por meio de seus celulares (e por mensagem de texto!). Por fim, Bingham tem que lidar com a novata e inovadora colega de trabalho Anna Kendrick (Natalie Keener), que propõe revolucionar o trabalho implementando um sistema de demissão à distância, via teleconferência.

Há poucos momentos em que Bingham demonstra ter coração. O primeiro, é o romance com Alex, que aos poucos ele vai se permitindo criar vínculos. O segundo, a recusa pelo procedimento de Anna - afinal, mesmo não se importando com ninguém, ele se importa consigo próprio e argumenta que o encontro pessoalmente evita maiores danos no futuro desempregado. E o terceiro, a tentativa de integração com sua família (não darei mais detalhes para que esse texto não contenha spoilers).

Amor sem escalas é uma apologia à melancolia. Seja pela crise econômica que é o pano de fundo, seja pela vida sem maiores apegos da sonhada vida dos tubarões executivos, seja simplesmente por ser a vida algo melancôlico para quem quer vê-la assim. É um filme excelente, mas sem grandes cores. Um cinza que vai colorindo o vazio do sonho americano.

Ósculos e amplexos!

PS* Apesar de Bingham ser compulsivo em matéria de se ganhar tempo nos "check in", o filme dá excelentes dicas para amenizarmos o sofrimento aeroportuário (principalmente com as paranoicas determinações de segurança que há nos EUA).

22 maio 2010

The sex and the city 2: elas estão de volta!


Elas estão de volta! O segundo filme sobre Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda chegará nas telonas dia 28 de maio. E, por melhor ou pior que seja, irá contar um pouco mais sobre as quatro amigas que revolucionaram o modelo sitcom (comédia de situação) e se tornaram referências para se observar o complexo universo feminino.

Para quem não sabe do que se trata - provavelmente por ter passado os últimos 12 anos em Marte -, o filme é a continuação das histórias da série (saga) homônima que foi exibida pela HBO entre 1998 e 2004 (no Brasil entre 2002 e 2004, com cortes das cenas mais picantes e episódios mais polêmicos - um "The Sex and the City" light). Ao todo, são mais de 45 horas de programa, divididos em 94 episódios, exibidos em seis temporadas e um filme para o cinema. Trazia a história de quatro mulheres solteiras, bonitas, inteligentes, sexualmente bastante ativas, e com idades entre 30 e 40 anos. Sem nenhum exagero, um Balzac contemporâneo e multimidiático.

A série revolucionou o sitcom com o assassinato das insurportáveis claques - as risadas e aplausos de fundo, que simulava uma "interação" com o público; e com a saída do estúdio e explorando toda a cidade para o cenário das histórias. Mas, foi mais além, soube partir de uma estereotipação de seus personagens, mas foi com o decorrer do tempo amadurecendo-os. Ao invés de fixos estereótipos, as personagens foram construídas à partir dos anseios e características típicas do imaginário feminino, e na medida em que iam vivendo suas aventuras, agregavam novas características e inovando seus personagens.

Ainda que tenha revolucionado o sitcom, não é esse elemento o que provocou tanta paixão tanto por mulheres quanto homens pela série, mas todo um conjunto que apresentou o novo universo feminino do século XXI. Definitivamente não é um olhar feminista, inclusive há uma certa rejeição ao complexo e multifacetado movimento de mulheres. É uma nova balzaquiana, ou melhor, quatro diferentes "balzacas" apresentando diferentes pontos de vista para os mesmos temas. São mulheres solteiras, emancipadas, de classe média, com suas virtudes, vícios e muitos impulsos consumistas. São mulheres que lidam com seus problemas sozinhas ou somente com o apoio de suas amigas. Que vivem na charmosa Nova York, que desfrutam de todas as vantagens de se viver na metrópole mais cosmopolita do mundo. Mas que ao mesmo tempo buscam um amor para que tudo isso torne suas vidas completas e mais feliz. E fundamentalmente: é uma série divertida e inteligente!

Outra coisa que me chama bastante a atenção em The Sex and the City é que, ao mesmo tempo em que pode ser resumido em sexo, comportamento e consumismo, é também uma grande injustiça em resumir a série de tal forma. É uma série sobre mulheres que compram o que querem, fazem sexo com quem querem, alcançam os objetivos profissionais que traçam, frequentam lugares concorridos ou simples que desejam, e enfrentam e superam doenças e decepções, mas que temem ficar sozinhas. A instabilidade feminina é demonstrada com um humor incrível, ao mesmo tempo em que manda um recado para os homens: se quer ter uma mulher de verdade em sua vida, deve simplesmente aceitar suas instabilidades e aprender a conviver com elas. São mulheres que condenam o patriarcalismo tradicional, ainda que não consigam se desprender dele (elas são por diversas vezes patriarcalistas radicais, por vezes bastante preconceituosas, ainda que condenem ambos com veemência). São mulheres desprovidas de pudores sexuais e afetivos, mas que se tornam infelizes e neuróticas sem a presença de um parceiro.

Por fim, a série e o primeiro filme deu um final feliz para as quatro amigas. Não deu para todas o casamento enquanto desfecho para o "felizes para sempre", mas trouxe o parceiro para cada uma delas. O segundo filme irá explorar o que acontece depois do "felizes para sempre". Irá explorar a vida após o casamento. Irá explorar outro lugares, e o olhar feminino sobre o diferente (inclusive a espinhosa abordagem sobre a cultura árabe). Uma série que virou filme, um filme que fechou a saga, uma continuação que promete pelo menos matarmos as saudades das quatro amigas que se tornaram referência tanto para a linguagem do sitcom quanto para a mulher do século XXI.

Ainda que eu me irritasse com algumas futilidades e outras coisas, no geral, adorava a série e estou ansioso para ver o resultado do segundo filme.

Ósculos e amplexos!

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Dedico esse post para minha querida amiga, verdadeira irmã, Priscila (fã incondicional de The Sex and The City).
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Diário de um intercambista: infelizmente, o projeto teve que ser adiado para o ano que vem. Aos que torceram por mim, meu mais sincero muito obrigado. Mas, a vida é assim mesmo. Nem sempre tudo dá certo. Viva a resiliência!

05 maio 2010

Homem de Ferro 2: uma opinião.

O filme Homem de Ferro 2 tem excelentes cenas de ação, convincentes efeitos, e só. Infelizmente, a praga das continuações atacou as empresas Stark. Um elenco, ou melhor, uma constelação de bons atores não conseguiu segurar a fraca e apelativa história. E para os fãs de HQ, continuam assassinando a trajetória de Tony Stark. Nem a tradicional "invasão rápida" de Stan Lee surpreende mais. E o pai "bonzinho" de Tony Stark é um crime para as melhores edições do HQ de Homem de Ferro.

Viúva Negra (a linda Scarlett Johannson) tem apenas uma única cena de ação e, de praxe, nenhum fio de cabelo fora do lugar após a pancadaria. A interpretação de Downey Jr. não é das mais inspiradas. A sua cara é a mesma com crise, à beira da morte, em meio a uma luta, e no detetive Sherlock Holmes. Pepper Potts (a tão bela quanto Johannson, Gwyneth Paltrow) e Chicote Negro (Mickey Rourke) são os únicos que convencem pela interpretação. Os personagens vão se perdendo ao longo da trama. Sem tempo para demonstrar sequer remorso, dores, ou outros problemas que qualquer ser humano normal passa diante de tantos acontecimentos.

Para quem gosta de HQ, o filme é fraco. Para quem não acompanha, mediano. Para aficcionados pela fusão HQ e cinema, o filme pode ser assistido como mero passatempo, pois carece de uma boa trama. Um HQ que somente apresenta pancadaria, sem uma boa história que a acompanhe, sem um bom argumento pelo qual a briga começou, geralmente é deixada de lado logo nas primeiras páginas. Mas, como em um filme não podemos fazer isso, torcemos em vão até o final para que o óbvio sempre aconteça: o bandido dá trabalho, mas perde para o mocinho de maneira relativamente fácil depois de inúmeros e intermináveis prelúdios do que vai acontecer.

O que se salva é o gancho para a versão cinematográfica de "Os Vingadores". Para quem não acompanha HQ, é a resposta da Marvel (editora/universo de Homem de Ferro, Thor, Hulk, e tantos outros herois) para a Liga da Justiça da DC Comics (Editora/Universo de Superman, Batman, Flash, e tantos outros). A série tem uma curiosidade interessante: o governo apoia o "clube de herois"; coisa inusitada para o universo Marvel. Para quem acompanha, sabe o quanto essa série é importante. E pelo jeito, será com a primeira formação (Homem de Ferro, Hulk, Thor, Formiga Negra e Vespa), ou seja, sem o xarope do Capitão América. Com o possível Hulk Vs Homem de Ferro, para a continuação da saga cinematográfica de Hulk, já sabemos de antemão como é possível "Os Vingadores" surgirem.

Enfim, o filme Homem de Ferro 2 dá esperanças para que o universo HQ no cinema se torne mais enriquecido. Mas, vá assistí-lo sem muitas esperanças de ver um bom filme. A chance de sair decepcionado é grande.

Ósculos e Amplexos!

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Parabéns Carol pela decisão do batismo! Certamente será uma das mais importantes decisões de sua vida.
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Diário de um intercambista: consegui um emprego temporário para levantar uma grana pro meu intercâmbio. E a universidade estrangeira já fez contato comigo, prometendo que a coisa vai dar certo.
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