18 agosto 2007

A economia doméstica e o efeito borboleta.

Pode parecer filme de ficção ou de terror psicológico, mas o trabalho doméstico é uma realidade econômica onde muitos analistas se debruçam e afirmam: é a base de qualquer economia urbana. É na economia doméstica onde o comércio possui grande impacto, e justamente aí onde as principais operações de crédito encontram seus principais clientes no Brasil.
O brasileiro, geralmente, possui um comportamento econômico de caráter imediatista ou de planejamento de curto prazo. Talvez um resquício de uma época de inflação galopante onde ou se comprava algo na hora ou corria-se o risco de nunca poder poupar o suficiente para adquirí-lo.
Naquela época, os preços mudavam em questão de minutos, e isso forçava a população a, assim que recebia o seu salário, sair numa disparada em busca de seus produtos, pois corria o risco de não mais poder comprar metade do que se precisava em questão de duas ou três horas depois. Depois do Real, o que se viu no Brasil em matéria de mudança de comportamento foi apenas a introdução do planejamento de curto prazo, mas a manutenção do caráter de consumo imediatista. Ou seja, em geral, o brasileiro prefere iniciar uma dívida parcelada em 12 ou 24 meses para comprar a sua televisão a optar por uma poupança, às vezes em tempo menor, para adquirí-la. O critério é sempre o mesmo: parcelando, o produto é entregue imediatamente, enquanto que poupando, o mesmo só poderá estar na sala do brasileiro quando finalmente tiver o montante necessário.
O comportamento norte-americano é bem diferente ao do brasileiro. Já é culturalmente um de longo prazo. Isso, basicamente, explica o volume de micro-investidores no mercado de ações e no mercado de valores imobiliários desses países. O estadunidense, culturalmente, investe suas reservas em mercados de ações, ao passo em que o brasileiro, quando no muito, aplica em poupança ou em carteiras de curto ou médio prazo. Isso explica também um segundo momento da economia, ou seja, as chamadas reservas de segurança. Tratam-se de investimentos conservadores, onde o risco é muito pequeno, porém a rentabilidade é significativamente baixa, o suficiente para que o dinheiro investido não se desvalorize simplesmente. Muitos estadunidenses aplicam dinheiro no mercado de valores imobiliários, conservador, e tido como algo seguro, à prova de quebras. Já o brasileiro, opta por comprar imóveis e imediatamente colocá-los para alugar, sem gerar uma cota sequer de ação em mercado imobiliário.
Acontece que diversos estadunidenses começaram a comprar não somente cotas do mercado de imóveis, mas também as dívidas. Aquele aluguel que alguém deixa de pagar gera uma dívida cujo credor vende para o mercado a fim de ver o dinheiro mais rapidamente e o investidor receber mais tarde pelo juros. Com isso, empresas de todos os portes começaram a comprar também essa parte do mercado imobiliário e, como é considerado conservador e seguro, gerou uma economia rentável e que valorizava demais economias. Mas, chegou o dia em que as dívidas se tornaram impagáveis e o montante aplicado nelas deixou de ter algum valor. Milhões, bilhões, talvez trilhões de dólares perderam valor da noite para o dia, pois o mercado de valores concluiu que o pagamento dessa dívida se tornou impossível. E assim, a economia estadunidense entrou em crise e arrastou com ele mercados internacionais que também possuíam elevados valores investidos na dívida imobiliária. Instaurando a mais atual crise do mercado internacional.
Quando um gigante escorrega, tudo ao seu redor estremece junto. E quando vários escorregam ao mesmo tempo, temos tremores imensos. É claro que a crise iniciada na economia doméstica americana vai afetar o Brasil, porém, pela nossa característica de não investir muito no mesmo setor que os americanos e europeus aplicam, sendo praticamente apenas investimentos bancários e de comércio internacional, não teremos grandes prejuízos em nossa economia. É claro que, quando o vizinho tem dificuldades para que seu dinheiro valha o suficiente para comprar, os produtos nossos terão que diminuir seu preço a fim de que ele possa adquirí-lo, afinal, se ele não compra, a gente também não vende. Ganharemos menos dinheiro, porém, o inverso também é verdadeiro, poderemos comprar mais pois o vizinho estará liquidando tudo, como se fosse um bazar.
É claro que nossa economia sofrerá com o impacto da nova crise econômica mundial. Achar que não é inocência ou delírio. Porém, não terá tantas perdas quanto a economia estadunidense ou européia, pois a nossa base econômica não possui tanta dependência do mercado de valores imobiliários. Não iremos crescer economicamente com a crise mundial, pois o vizinho não poderá comprar o que queremos vender. Mas, aquela televisão de marca estadunidense poderá ser financiada em menos meses por nós brasileiros.