24 julho 2007

O Pan, o Brasil e as vaias no Pan do Brasil.


Uma vogal: u. Um milhão de sentimentos. E, na terra da especulação, especula-se racionalidade onde não há alguma. Terra da especulação, pois não faz um mês do terrível acidente da TAM e menos de 10 meses do acidente da GOL, e já há explicação, culpados, teorias e mais teorias, enfim, tudo menos o fim de uma investigação que não pode ser menos do que rigorosíssima. E, quando o presidente Lula foi vaiado durante a abertura do Pan, novamente estava ela, a especulação, tomando bandeira e partido e explicando o que não é explicável. Como já diria aquela velha máxima: "para tudo existe uma explicação absurdamente simples e invariavelmente errada".

Roberto Gomes, autor de "Crítica da Razão Tupiniquim", em sua coluna na Gazeta do Povo também arriscou seu palpite: "Ouviu a vaia ou a vaia não houve?". Fazendo uso do pensamento desse mesmo filósofo: Roberto Gomes foi sério ou levou a questão a sério? Estranha-me que um pensador como Roberto Gomes tenha ousado criar um texto do qual o senso comum é desavergonhosamente usado para opinar sobre assunto que exige tantas reflexões. Também desconfio de paranóias, mas não é paranóia alguma encarar com seriedade tantos fatos relevantes. Como um grande apaixonado por futebol que é Roberto, já deveria ter percebido que basta alguns gatos pingados esbravejar na arquibancada para que vários que estão ao seu lado façam o mesmo. Não é aquele que fica de costas para o jogo que levanta a torcida organizada, mas sim pedaços da torcida que faz a torcida inteira continuar gritando mesmo que o jogo esteja no intervalo.
Primeiramente, o poder da claque em liderar um número significativo de pessoas a vaiarem a ponto de encobrir o som daqueles que aplaudiam o presidente é exatamente o mesmo que fez com que a maioria aplaudisse César Maia. Inversão de valores ou satisfação com as medidas políticas no Rio de Janeiro? Trata-se de um público do qual a maior antipatia ao Lula é notável antes mesmo dele ter sido eleito. O trabalhador, a verdadeira base do atual presidente, não poderia pagar pelo ingresso da abertura dos jogos no Maracanã, e isso é bastante significativo. E há vídeos onde a claque é organizada para deflaglar a vaia.

O governo Lula é tímido, às vezes covarde. Não toma postura e muitas vezes cede aos que sempre legaram o atraso para nosso país. Não possui força política para alterar as estruturas políticas e tem que ceder espaço para forças políticas que não desejam essas transformações e tão somente querem um naco do poder para si. Mas duvido que tamanhas vaias tenham tido esse senso crítico. Não creio que a classe média carioca esteja insatisfeita com a dificuldade em aliar desenvolvimento social com a necessidade de crescimento econômico. Aliás, não creio que haja sequer a leitura de um crecimento do país, mas tão somente para seus já altivos poderes de consumo, infinitamente superior ao das camadas mais operárias brasileiras. Também vejo que não seria razoável considerar os brasileiros enquanto marionetes, mas aquele público no Maracanã não representa o povo brasileiro, e se conformam em ser marionetes no jogo do poder. Logo, são marionetes, nem tão bons de bola assim e muito espertos, até demais.

A conclusão cartesiana de Roberto Gomes é equivocada, ele esqueceu de duvidar e deixou que seus pensamentos, seu gênio do mal, invadisse a sua crítica e o resultado foi uma conclusão equivocada, portanto, inválida para a verdade. A mentora da vaia foi a oposição a Lula, o organizador líderes dos setores que querem o poder novamente centralizado em mãos das velhas oligarquias, e a deflagradora a classe média carioca. E, seguindo o pensamento da Razão Tupiniquim: Roberto Gomes, que pena, não levo a sério o problema, prefiriu ser sério.
Ósculos e amplexos

04 julho 2007

Análise Geral Conjuntura (3)

Separando o joio do trigo.


Há dois tipos de desenvolvimento econômico: o primeiro busca instalar aqui, num país em desenvolvimento, uma estrutura que iguale os padrões de consumo dos países desenvolvidos. O segundo busca ter dinheiro e estrutura econômica para habilitar um desenvolvimento social em larga escala. O primeiro é contraditório com o segundo, por mais que ambos recebam o mesmo nome. Um se trata de um mito, enquanto o outro uma utopia. O problema é que cada setor da política que disputa o poder no Brasil adota parte de ambas, ou somente aquele tipo inviável para o desenvolvimento social.

O subdesenvolvimento não é condição histórica necessária ao desenvolvimento. Um país desenvolvido não precisou e nem precisa passar pelas condições do subdesenvolvimento para se tornar uma potência. O que determina se um país é subdesenvolvido ou desenvolvido são suas condições históricas, seu processo de formação, suas escolhas no mundo atual, e seu comportamento frente aos problemas econômicos. Quando um governo busca um desenvolvimento econômico que busca igualar os padrões de consumo dos países centrais do capitalismo, busca na verdade, um aumento significativo na sua concentração de renda. Mas, ao mesmo tempo, concentrar renda num país com tamanhas desigualdades e com fortíssimas resistências para se investir com vulto na redução dessas, o desenvolvimento se torna uma alocação de recursos de maneira tal que irá conduzir um aumento da produção que consiga conquistar vantagens comparativas em setores dos países centrais. O resultado final é que, sem maiores mudanças no campo social e um equilíbrio nas suas desigualdades, o padrão de consumo que se atinge com esse desenvolvimento somente será aproveitado por uma parcela pequena da população: sua elite.

No Brasil, o crescimento econômico é condicionado às metas de superávit primário, e essas comprometidas para o pagamento de obrigações internacionais. Soma-se ainda uma altíssima taxa de juros e um absurdo recolhimento de impostos dos mais variados tipos. O desenvolvimento econômico na modalidade até então tratada é contraditória ao desenvolvimento social. Para que se eleve a produção sem modificar suas bases produtivas com o desenvolvimento social, será exigido uma exploração ainda maior da mão-de-obra, e essa terá que ser ainda mais barateada. E, os compromissos de superávit, juros altos, e impostos para se manter impostos, impedem qualquer investimento significativo a ponto de modificar as estruturas sociais e reduzir desigualdades.

Agora, a esquerda brasileira tem alguns desafios. Quando se coloca em pauta o debate do desenvolvimento econômico, deve se levar em consideração que o que interessa para as forças políticas comprometidas com a classe trabalhadora é o desenvolvimento das estruturas de base da produção dentro de um sistema de distribuição de riquezas eficiente e verdadeiramente eqüitativo. Desenvolver a estrutura que permita ao trabalhador determinar seus próprios rumos. Portanto, radicalizar todo o discurso na generalização do desenvolvimento econômico significará uma fuga patológica das necessidades reais e objetivas do trabalhador brasileiro. Outro desafio, é a de disputar o projeto de desenvolvimento econômico que favoreça o trabalhador, por conseqüência, desfavorecendo a elite. Hoje, diversos setores da esquerda não faz nem uma coisa e nem outra, e ainda por cima se ausenta da disputa numa absurda política anti-tudo-e-todos.

Análise Conjuntural (2)

Desenvolvimento econômico x Desenvolvimento social: a questão ambiental , o problema da liderança em biocombustíveis.


Desenvolvimento sustentável, segundo a Nações Unidas, é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações posteriores. Trata-se de uma definição que busca um ponto intermediário na eterna luta entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Reside nesse ponto intermediário duas problemáticas inconciliáveis. A primeira, sob o aspecto do desenvolvimento econômico, é que é necessário aumentar a exploração dos recursos naturais, e o que se tem já pode ser até quadruplicado que ainda assim não atenderá toda a demanda produtiva sem invadir o pouco que ainda restou de recursos preservados. A segunda, sob o aspecto ambiental, é que necessita-se de uma mudança radical na produção mundial a fim de iniciar uma reversão do caótico quadro natural. O desenvolvimento sustentável não é necessariamente preservação ambiental, mas uma marcha lenta no avanço produtivo com o uso de soluções paleativas de substituições graduais.

Um país como os Estados Unidos, a fim de cumprir a parte que lhe cabe na redução do monóxido de carbono, previsto no Protocolo de Quioto, necessitaria comprometer mais de 70% de sua produção, inteiramente baseada no uso de petróleo e seus derivados. Ou seja, os Estados Unidos, mesmo que quisesse, não poderia fazê-lo, pois o colocaria numa situação arriscada demais e que provavelmente iria reduzir drasticamente sua posição atual de liderança mundial. Por compensação, busca criar soluções caseiras. Tramita no Congresso dos EUA diversas propostas de redução do monóxido de carbono, bem modestas em relação ao proposto pelo Protocolo de Quioto, mas que ainda assim iria forçar grandes manobras na produção ianque. Dentre essas propostas, a implementação de combustíveis alternativos e de origem renovável em gradual substituição à gasolina. Para que a produção interna ianque dar conta sozinha da demanda, precisaria comprometer quase dois terços de sua produção de plantas oleaginosas como o milho e o soja. O resultado é a inevitável importação desse combustível.

O Brasil, que mesmo ainda investindo pouco, é em potencial um dos países mais avançados no mundo em matéria de biocombustível. Porém, para suprir a demanda internacional a ponto de ser líder mundial, também terá que migrar sua produção de alimentos por produção de combustíveis. O resultado é, como diria Nelson Rodrigues, óbvio ululante: o país verá um de seus maiores crescimentos econômicos de sua história assim que começar a ser líder mundial de combustíveis alternativos, mas terá um aumento absurdo de famélicos. Uma política de sustentabilidade de seu desenvolvimento que se revela insustentável. O país não criou e demonstra cada dia mais incapaz de reformar e desenvolver profundamente suas estruturas básicas fundamentais e, assim, desenvolver-se socialmente. A distribuição no país é absurdamente desigual e tenderá a ser ainda mais. E não se tratam de previsões pessimistas, mas de simples análise econômica.

Existe ainda mais alguns agravantes, mas citando o principal, em minha opinião: a resistência protecionista dos mercados ianque e europeu apelam justamente no sentido da preservação ambiental. De que tamanho desenvolvimento em combustíveis alternativos não podem ocorrer no Brasil por ser inevitável, segundo argumentos da União Européia, o desmatamento das últimas matas nativas, principalmente da Amazônia. O direito de um país se desenvolver e de ao menos criar suas próprias respostas para seus problemas é usurpado em nome da preservação ambiental, que só se aplica aos outros, pois as potências mundiais não fazem o mesmo entre si.

Para o desenvolvimento econômico em patamares neoliberais tudo se torna contraditório e inconciliável. Não há como conciliar desenvolvimento social, preservação ambiental, e tantas outras necessidades. Ao mesmo tempo, para que um povo tenha a sua soberania no mundo atual, ele deve ter estrutura, e essa só é conquistada justamente com o desenvolvimento econômico e social. A fábrica de contradições do capitalismo é a única que continua à todo vapor, renovando-se, e sem choques com protocolos e soluções paleativas.

Análise Geral Conjuntura (I)

Prefácio Essencial Geral
Urubu tá com raiva do boi
E eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo cumê
Mas o boi num qué morrê
Num tem alimentação
O mosquito é engolido pelo sapo
O sapo: a cobra lhe devora
Mas o urubu não pode devorá o boi
Todo dia chora, todo dia chora
Gavião qué engolir a socó
Socó pega o peixe e dá o fora
Mas o urubu não pode devorá o boi
Todo dia chora, todo dia chora
(Chico Anisio/Arnaud Rodirgues)


A época do Milagre Econômico, dos governos Costa e Silva e Médici, e dos Ministros da Fazenda Bulhões e Delfim Netto, caracterizou-se pelos maiores índices de crescimento econômico da história brasileira. Eram taxas de crescimento eram acima de 10% ao ano. O tal Milagre foi fruto de um período de reformas institucionais e recessão do período anterior, que gerou uma enorme paralisia no setor industrial. Havia também um crescimento econômico mundial que influenciou significativamente na economia brasileira. Mas a que custo?


O governo adotou, na época, uma política recessiva e monetarista, de forte intervenção do governo e, ao mesmo tempo, de transferência de responsabilidades estatais para o setor privado. Uma política de "Teoria do Bolo", cujo continha a idéia de que primeiro deveria crescer o bolo para depois melhor poder dividí-lo, se revelou, no fim das contas, um dos mais intensos períodos de desigualdade na distribuição. Além disso, a inflação, do contrário dos 15% ao ano anunciada pelo governo no período, há cálculos atuais que demonstram que ela chegou a beirar os 200%. O que fez o governo para manter o tal Milagre? A velha fórmula econômica: cortar gastos com aquilo que não é prioridade. E, para os militares e elite brasileira, gastos com saneamento, obras, subsídios à cesta básica, e facilidades nos empréstimos internos, nunca são prioridades.


O período deu uma verdadeira lição ao Brasil, mas que infelizmente nossos governos não aprenderam direito: crescimento econômico não significa desenvolvimento social! A frase do General Médici, "O país vai bem mas o povo vai mal", sintetiza o que significa basear toda a política num sistema econômico, ou apostar as fichas apenas numa fórmula de crescimento acelerado sem as devidas reformas estruturais de base que supram a necessidade de desenvolver o trabalhador brasileiro. O tal Milagre foi uma catástrofe para o desenvolvimento social e quase toda a crise das décadas seguintes foram influenciadíssimas por esse período.
O que temos hoje? A luta pelo crescimento econômico e uma covardia absurda para implementar reformas estruturais de base. Com um período infinitamente mais democrático e com o elemento trabalhador na eterna disputa do poder nacional pelo curtíssimo período de seis anos representado por Lula, o desenvolvimento social deveria ter dados passos mais largos. Os ínfimos 3,5% de crescimento anual para o Brasil não deveria incomodar tanto se considerarmos a enorme estabilidade financeira que possuímos. Mas o crescimento da desigualdade social sim.

Crescimento econômico não é solução para a desigualdade social, nem no Brasil e nem no mundo. A falência definitiva de qualquer pensamento contrário veio com a crise neoliberal, que não conseguia responder como o mundo pôde produzir tanto, em tão pouco tempo, e aumentado tanto as desigualdades quando deveria tê-las sanadas. Um velho pensamento marxista vêm sempre à mente quando discute-se o tema atual, ou seja, é contraditório demais ter ricos e não ter pobres, um depende do outro para que as coisas fiquem dessa maneira. Acabou-se o feudalismo, mas as a essência da luta de classes não mudou quase nada.