19 dezembro 2011

Eis o futebol como ele é.

Na coluna "História Cultural", do André Egg na Gazeta do Povo, há uma dura crítica ao futebol brasileiro. Segundo Egg, há uma longa decadência do futebol brasileiro, tendo como símbolos a derrota acachapante do Santos contra o Barcelona. Evoca ainda que a seleção derrotada de 1982 carregava muito mais da beleza do futebol brasileiro do que a paradigmática seleção de 1994. Além de outros argumentos.

Pera lá, apesar de André ser um excelente colunista cultural, não é muito bom com argumentos capazes de perfurar a aparência e atingir a essência quando o assunto é futebol. Por exemplo, ignorar completamente a campanha do Brasil nas copas de 1998 e de 2002 é de um equívoco imperdoável para todo aquele que deseja fazer uma boa análise sobre o esporte das multidões (como diria Carneiro Neto). Apesar de nossa frustração com a fatídica final de 98 - eu realmente não sei até hoje como perdemos aquela copa com aquele timaço! - não isenta o fato de ter sido uma das melhores seleções de todos os tempos. Tanto que praticamente a mesma seleção faturou a Copa de 2002 - e há quem acredite que essa seleção era tão boa quanto a de 1970. Aliás, eis um argumento fantástico para os mais saudosistas: o time que ganha sempre supera o time que perde, por melhor que o perdedor seja.

A Copa de 94 é paradigmática para o futebol mundial. Se fôssemos o único time ruim da competição, seria a zebra do século. Mas não éramos. Era o fim de uma era para o mundo inteiro. O futebol deixava de ser semi-profissinal para ser uma parcela importante da economia. Lembremos sempre que o primeiro jogador profissional, de fato, no Brasil surge na década de 80 com o Zico. Nos países europeus essa realidade foi a mesma. E a adaptação para esse novo futebol acabou em 94, com uma Copa de afogadilho feito em um país que nunca deu muita bola para a bola nos pés. E praticamente o único país que já havia encerrado o ciclo do semi-profissionalismo e vinha com tudo para faturar aquela copa foi superada em campo justamente pela seleção canarinho: a Holanda. Sem falar nos grandes momentos como o da superação brasileira contra a Suécia. Foi uma seleção ruim, numa copa ruim, mas valorosa!

No contrafluxo, já possuíamos no nível dos clubes, por exemplo, o São Paulo F.C. que foi o primeiro a se adaptar às exigências desse futebol-empresa (e o resultado foi dois inquestionáveis títulos mundiais). Surgiram clubes e mais clubes mobilizados por muita grana e um conceito de clube-empresa. E tais clubes dominaram o cenário futebolístico brasileiro com força. Lembremos da fila histórica do Coritiba F.C. na década de 90 por não querer se adaptar a essa nova realidade enquanto seu rival Atlético Paranaense nadava de braçada justamente por ter se adaptado mais rapidamente (sendo campeão brasileiro e vice-campeão das Américas logo no começo da década seguinte).

O duelo mundial sempre é um time sulamericano contra um europeu. E, nesse duelo, o Brasil figurou na constelação dos campeões algumas vezes na década que recentemente se encerrou. Campeões mundiais com Corinthians, São Paulo, e Internacional. A década de 90 demonstra que o Brasil começa uma ascendência, com somente São Paulo sendo campeão (duas vezes), mas com Grêmio, Palmeiras, Vasco e Cruzeiro vice-campeões (ou seja, sete vezes com brasileiros no topo do mundo futebolístico). Se compararmos, por exemplo, a década de 80, somente o Flamengo teve este feito no único ano em que brasileiros chegaram lá.

Passadas duas décadas dessa transformação, chegamos a uma final mundial entre Santos e Barcelona. Com todo o seu valor, Santos era um timaço. Mas o Barcelona apresentava, como diria os diários de todo o mundo, um futebol "extraterrestre". O Santos tinha Ganso e Neymar, além de um belo elenco. Barcelona tinha em cada um de seus jogadores um nível superior aos de Ganso e Neymar e em uma harmonia sobre-humana. Deve-se, para ter uma análise correta, concordar com o comentário de Neymar após a partida: "eles nos deram uma aula de futebol". Não se trata de uma decadência do futebol brasileiro, mas de um grande momento do futebol do Barcelona (e apenas desse time, pois o futebol espanhol anda muito mal das pernas). Lembremos que o Barça atropelou todos os que passaram por sua frente, incluindo clubes espanhois, italianos, ingleses e alemães. Atropelou, também, o clube brasileiro. Portanto, buscar argumentos depreciativos ao futebol brasileiro não apenas desqualifica verde-amarelos (e alvinegros) como também desqualifica o inconstestável melhor clube do mundo na atualidade: o Barcelona.

Ósculos e amplexos!


08 dezembro 2011

Eleições na FECH: os comunistas seguirão trabalhando pela unidade do movimento estudantil

Foto: Karol Cariola, Secretária Geral das Juventudes Comunistas chilenas.

            Apesar dos ataques e do anticomunismo que se instalou durante a campanha para a eleição na Federação de Estudantes da Universidade do Chile, de todas as formas a lista apresentada pelas juventudes comunistas conquistaram uma importante votação. Ainda que não tenha sido suficiente para manter a presidência da entidade com Camila Ballejo, significa um reconhecimento do trabalho desenvolvido durante as mobilizações de 2011. Avalia o Partido Comunista chileno.

            Essa foi a análise que realizaram os dirigentes do Partido Comunista e das Juventudes Comunistas, Guillermo Teillier e Karol Cariola, logo após conhecer os resultados que outorgaram Camila Vallejo como Vice-Presidenta e que permitiu o ingresso de um segundo dirigente no cargo de Secretário Executivo da organização.

            O presidente do Partido Comunista disse que "estamos muito orgulhosos do que fizeram as juventudes comunistas junto com forças independentes e ainda mais com a Camila Vallejo. Porque a verdade é que desde o começo Camila teve que enfrentar uma campanha bastante forte contra ela, de diversas tonalidades. Se desatou um anticomunismo como havia tempo não víamos em nosso país. Tenhamos em conta que a própria senhora do Presidente da República teve algumas palavras a respeito de Camila que eram de claro conteúdo anticomunista.

            Teiller agregou que, diante da nova composição da mesa diretora da FECh, os comunistas "não vamos ser obstáculos para o diálogo, para se buscar a convergência, para atuar em conjunto. (...) Esperamos que no futuro esta nova direção eleita na Universidade do Chile atue de forma unitária, que se complementem os dirigentes, e que tenham como norte o único que creio que interessa a todos: estabelecer no país um novo sistema de educação que seja um direito estabelecido constitucionalmente e garantido pelo Estado".

            Por sua parte, a secretaria geral das juventudes comunistas, Karol Cariola, adiantou que a presença dos dirigentes comunistas no interior da FECh terá transcendência, igualmente como tiveram os demais sob a condução da Camila Vallejo durante o ano de 2011.

            "Se de alguma maneira o governo ou a direita, ou quem quer que seja, teve uma intervenção política nestas eleições, isto não significa que, obviamente, que iremos sair do cenário nacional, que iremos deixar de trabalhar por um projeto que temos levantado e que iremos muito mais além de uma batalha eleitoral particular em uma Federação, mas que tem a ver com a transformação de um modelo educacional no Chile e também com a transformação de um país completamente", expressou Karol.

07 dezembro 2011

Ok, vamos falar em democracia..

           Muitos taxaram a ocupação da Assembleia Legislativa do Paraná de atitude antidemocrática. Um dos argumentos mais recorrentes, e nem por isso menos absurdo, foi o de que, uma vez que a eleição dos parlamentares se deu legitimamente, qualquer atitude deles seria igualmente legítima e democrática. Definitivamente, isso não é uma verdade. Tanto que há inúmeros e mais inúmeros mecanismos para garantir que o parlamentar cumpra suas funções sem violar a essência democrática do Estado brasileiro.

            A ocupação de prédios públicos é um ato político bastante típico principalmente no movimento estudantil desde idos da década de setenta ou talvez mais. Uma vez que não há a menor intenção de estabelecer morada no local, não se trata de uma invasão, mas de uma ocupação política e, portanto, resguardado pela Constituição em seu Artigo 5º, IV – direito à livre manifestação do pensamento. Portanto, não é uma atitude antidemocrática, pelo contrário, é amparada pela "Constituição Cidadã".

            A pressão faz parte da democracia. E não há como pressionar sem provocar transtornos. Mas, se queremos identificar atitudes que combatem a democracia, listemos algumas que ocorreram neste mesmo dia: policiais militares à paisana inseridos no meio das manifestações sociais – prática comum das inteligências autoritárias, onde a interlocução de governos com a oposição era feita na base da porrada. Impedimento do acompanhamento público da questão tratada. Esvaziamento das galerias. Limitação de senhas por deputado para acesso ao plenário. Ameaça de linchamento jurídico por parte do Presidente da ALEP. Nenhuma consulta pública para matéria polêmica. E a pior de todas: aprovação em reunião às escondidas e na calada da noite.

            Talvez o único patrimônio público destruído pelos manifestantes tenha sido a "Ordem do Dia" impressa gratuitamente rasgada e um pouco de sujeira. Nada que possa ser qualificado como sequer contravenção.

            Antidemocrático foi terceirizar serviços públicos essenciais tanto na saúde quanto na educação de afogadilho, escondido, torcendo para ninguém ver. Mas o Paraná inteiro viu.

"La Pelea es con el Partido Comunista"

            Quando a Primeira Dama do Chile, Cecilia Morel, tentou desqualificar a então presidenta da Federação dos Estudantes da (Universidade) do Chile, Camila Vallejo, ficou claro contra quem as forças conservadoras atacam quando atiram contra os estudantes: os comunistas. Disse a primeira dama: "Dá-me pena ver pessoas novas com idéias velhas". Com a FECh voltando à luta e liderando o que tem sido considerado como um dos movimentos mais fortes desde o retorno do país à democracia.

            O sistema educacional chileno foi desenhado durante a ditadura daquele país entre 1973 e 1990. Na década de 1980, a educação pública secundarista foi transferida para os municípios enquanto as escolas privadas recebiam financiamento estatal. No caso da educação superior, o sistema educacional foi desmontado para que universidades privadas pudessem ser fundadas no país e a Universidade do Chile fosse desmembrada a fim de se criar universidades de caráter regional. Pese que a educação chilena sempre foi considerada uma das de maior qualidade da América Latina, os grandes inimigos desse desmonte sempre foram os comunistas.

            Quando uma Federación, equivalente aqui no Brasil aos nossos DCE, da principal, histórica e maior universidade comanda um processo intenso como as vistas no Chile ao longo do ano, logo as forças conservadoras entram em ação. Temendo um despertar classista de proporções continentais, colocam toda sua artilharia apontada para o cérebro vanguardista da classe trabalhadora: os militantes comunistas. Para se ter uma ideia, todos os principais veículos conservadores de comunicação brasileiros comemoraram a derrota de Camila Vallejo em sua tentativa de re-eleição para o comando da FECh. Veja, Folha de São Paulo, Globo, e tantas outras anunciaram imediatamente após a publicação do resultado do pleito que a presidenta Vallejo havia sido derrotada.

            Acontece que o equivalente à União Nacional dos Estudantes lá, no Chile, é a Confederação de Estudantes do Chile, Confech, e ela foi quem convocou os protestos e tomadas em todo o Chile. Ao lado de Vallejo no comando dos "paros estudantiles" estavam líderes de uma série de outras Federaciones, dentre eles, a também importante Federación de los Estudiantes de la Universidad Católica de Chile, FEUC, liderada por Jackson Drago. Mas então, qual o motivo de tanto destaque para Vallejo? A resposta é simples: a principal Federación chilena é liderada por uma comunista. Drago, por exemplo, é de centro-esquerda e somente com muita pesquisa ou quem se interessa pelo movimento estudantil continental sabe de quem se trata.

            A imprensa chilena compara Vallejo com a histórica militante e verdadeira heroína dos povos trabalhadores Gladys Marín, presidenta do PC chileno – que tem um histórico de origem também no movimento estudantil e que chegou a ser secretária geral das juventudes comunistas para todo o mundo; além de coordenadora da campanha de juventude na eleição de Allende. Portanto, Vallejo trouxe consigo não apenas suas qualidades individuais, mas um histórico de luta de sua filiação partidária. Sua oposição direta pode ter muita elaboração, como é o caso de Boric (de esquerda, que venceu Vallejo nesse último pleito); ou pode até possuir muita paixão como é o caso do direitista Yobanolo; mas nenhum possui o posicionamento público e a prática de lutas que possui Camila Vallejo.

            Boric, reconhecendo os caminhos tomados pela FECh e esta liderança que possui Vallejo e abre o jogo: "La pelea es con el Partido Comunista". Não se trata de uma discordância de fundo conjuntural, ou sequer de "estilo de governo", mas um combate ideológico. E, sendo assim, recebe os aplausos das forças mais conservadoras de toda a América Latina, principalmente as brasileiras Globo, Veja e Folha.

            Como o sistema eleitoral da FECh é proporcional, Vallejo assume a próxima gestão como Vice-Presidenta. E o PC chileno aplaude a democracia dessa entidade e promete se desdobrar para que a liderança de Vallejo influencie a gestão para que ela continue de luta.

05 outubro 2011

20 anos que esta estátua me dá angústia! (Aniversário do Jardim Botânico de Curitiba)

Viva! Curitiba está em festa. Um de seu mais famoso cartão-postal completa 20 anos! E isso me faz lembrar de sua estátua que tanto me causa angústia cada vez que eu me lembro da bela paisagem de lá. A "A Mãe", como se chama a estátua, provoca-me calafrios. Trata-se de uma mãe com seu filho ao colo em posição de proteção. Tanto ela quanto seu filho estão nus. Nada contra a estética, pois a estátua é realmente muito bela. Muito menos a homenageada, a estátua está no meio de um jardinete em honra à urbanista Francisca Maria (Fanchette) Garfunkel Rischbieter, pioneira no planejamento urbano de Curitiba (e que poucos curitibanos sabem disso). O problema é estarem nus em Curitiba, famosa por seu clima rigorosamente frio.
 
Para piorar, "A Mãe" recebe jatos de água - pense, naquele friozão profissional que faz Curitiba em meados de junho e julho! A expressão da escultura não podia ser mais forte: temos a nítida sensação de que ela protege ainda mais sua criança daqueles jatos tenebrosos que castigam sua nudez. Simplesmente terrível!
 
O cartão-postal é belíssimo. Mas foi polêmico desde sua criação. O urbanista e na época prefeito Jaime Lerner deixou sua assinatura principalmente com sua versão para o Palácio de Cristal (que em seu início esturricava as plantinhas, que já teve seu problema corrigido). Mas, essa estátua, não há como passar por ela, secando em dia de sol, morrendo de frio em dia de chuva ou geada. E tome água!
 
O Jardim Botânico já foi até objeto de manifestação política. Em uma eleição "laranja" que deveria escolher o símbolo da cidade, toda armada para que o Jardim Botânico fosse escolhida, teve um fortíssimo revez. Dentre as opções de voto, a única que não continha o dedo do urbanista Jaime Lerner era o prédio da UFPR na Praça Santos Andrade (se não me engano, as outras opções eram: a Rua 24 Horas, o Ópera de Arame, o Jardim Botânico, e as Estações Tubo). Os estudantes da universidade, ao perceberem que não havia controle na votação e que uma mesma pessoa poderia votar quantas vezes quisesse, fizeram com que a população curitibana mais que dobrasse nessa votação. O resultado: o prédio da UFPR foi eleito o símbolo da cidade, e não o Jardim Botânico - e imediatamente a laranjisse foi ignorada pelos prefeitos subsequentes.
 
Enfim... Nesta Curitiba eu viajo!
 
Ósculos e amplexos!
 
PS* Em tempo, um amigo que mora na região me ligou pouco após eu ter publicado este para me dizer que concertaram a fonte. Agora a água molha só a base da estátua.
 

Um mega-evento no Brasil pode acabar não sendo para trabalhadores brasileiros.

O que aconteceu com este Rock'n'Rio? Muitas pessoas estão se perguntando, mas geralmente se referindo à enorme salada-mista de estilos que passaram no "palco mundo" – o palco principal do mega-evento. A resposta não pode vir se olharmos somente à edição deste ano, afinal, o Rock'n'Rio sempre foi isso mesmo – e talvez justamente o segredo de seu enorme sucesso seja trazer o que atrai todos os públicos ainda que estes públicos não se comuniquem entre si.

 

O mais interessante, e o que cabe enorme reflexão, é que o Rock'n'Rio é o primeiro de muitos mega-eventos que ocorrerão no país nesta década. Ele é a "ponta do Iceberg". Teremos Jogos Mundiais Militares (2011), Encontro Mundial da Juventude Católica com a presença do Papa Bento XVI (2013), Copa do Mundo FIFA (2014) e Jogos Olímpicos (2016). . O Brasil está no foco da mídia internacional o tempo todo (por isso minha crítica quanto ao "Tropa de Elite 2" ser a indicação brasileira ao Oscar, ainda que não houvesse nenhum outro filme feito com tamanha qualidade para servir de concorrente doméstico). Mas, e a população? E a massa de trabalhadores, como fica?

 

Ao ler que o Ministério dos Esportes não se manifestou em sua proposta de "Lei da Copa" em respeito à meia-entrada – que curiosamente o Ministro é um ex-presidente da UNE – é que me dei conta de que muita coisa pode ser sacrificada em nome do evento, e pouca coisa pode ser garantida à população trabalhadora brasileira em nome da governabilidade que se está em jogo diante de tanta responsabilidade para com os gringos. Em nome das grandes estruturas necessárias para os breves e curtos, porém mega-eventos, poderá ser constante vermos a população trabalhadora sendo removida de suas casas ou a agressividade de uma polícia nada humanizada atingir picos elevadíssimos. Ver cada vez mais vezes a militarização de áreas pobres e, como conseqüência, o pensamento de marginalização da população trabalhadora aumentar ainda mais. Ver cada vez mais o ultrajante recurso juridicamente inexistente do mandado de busca coletivo que permite a revista pessoal humilhante em todo aquele que subir ou descer o morro, entrar ou sair das vilas ou favelas (lembrando que culturalmente, por exemplo, Curitiba chama de vilas as suas favelas). Ver a chamada higienização social, que busca "limpar" os centros urbanos da população de rua, tratar o trabalhador como detrito (vários trabalhadores em Curitiba que trabalham em regime de escala ou mesmo na captação de materiais recicláveis dormem na rua vários dias da semana, pois não compensa para eles voltar para casa que fica muito distante de seu local de trabalho – por vezes duas horas de ônibus por trecho).

 

Para piorar, qualquer posicionamento referente aos mega-eventos rapidamente recebe chancela e cor política. Se é a favor da Copa, é partidário da Dilma. Se critica, é partidário da oposição. Os veículos de imprensa, que mal e mau pontualmente publicam aspectos desta realidade – afinal, elas lucram e muito com a cobertura destes eventos – ajudam a reforçar a cultura de declarar lado diante de qualquer crítica.

 

Acredito que as forças políticas e os movimentos sociais comprometidos com a população trabalhadora, pouco importando se estão ou não em qualquer esfera de governo, devem se posicionar criticamente em relação aos mega-eventos. O povo brasileiro quer que tudo aconteça e com sucesso para que lá fora o Brasil seja visto com os melhores olhares e com as melhores impressões. Fazer a linha do "é melhor que nada aconteça" é um erro. Mas, devemos estar vigilantes para que a trabalhadora e o trabalhador não seja triturado em meio aos maus tratos e higienizações que virão por aí. A população trabalhadora não pode pagar com sangue o preço dos mega-eventos que virão.

 

Ósculos e amplexos!

30 setembro 2011

Reflexões para o movimento social (1): A necessidade de profissionalismo é desafiante e urgente.

Talvez o primeiro problema e um dos mais explorados por praticamente todo aquele que deseja fazer um bom discurso de oposição é acerca do afastamento da direção de suas bases. É comum ouvir esse discurso em praticamente toda eleição de sindicato, de grêmio estudantil, de centro acadêmico, e assim por diante. A lógica adotada é também sempre a mesma: a promessa de que, ao se derrotar a chapa situacionista, a base terá sua voz restabelecida no comando de sua entidade ou organização. O problema é que, entra oposição e sai situação, e o afastamento da direção da base permanece.

 

A quantidade enorme de casos em que a troca de forças políticas no comando de uma entidade em nada resultou quanto ao problema de aproximação entre direção e bases leva a crer que não se trata de um problema de força política, mas de uma cultura ou um ciclo vicioso comum à praticamente todas as organizações do movimento social.

 

Existe, e não há como negar, o interesse proposital de manutenção da distância entre direção e bases. Seja por conta de uma prática da oposição – que isola as bases da direção, em uma espécie de "cordão sanitário" a fim de proteger a possibilidade da situação ser derrotada na próxima eleição por esvaziamento de sua base de apoio -, seja por conta de uma estratégia da própria situação de evitar o questionamento constante de sua atuação – quanto mais distante da base, mais fácil de se fazer qualquer trabalho, pois não haverá a necessidade de prestação de contas de maneira constante. Mas, ao mesmo tempo, ambas políticas – na minha opinião, mesquinhas – fazem com que as bases se desmobilizem e se afastem, perdendo a vontade e o envolvimento. O movimento se enfraquece e as disputas entre situação e oposição vão ficando cada vez mais sanguinolentas. Sem bases, sobram somente os desejos dos grupos organizados. A entidade entra em falência, se não de recursos humanos e financeiros, a mais grave: a política.

 

Não há tática ou estratégia defendida por uma força política que dispute uma organização e que aceite uma entidade falida politicamente como resultado. Por conta disso, inúmeras políticas tomam como critério de análise a capacidade de relacionamento ou o conjunto de mecanismos de tomada de decisão que mais envolveram o conjunto de representados; abandonando ou desconsiderando as lutas sociais. Em outras palavras, é mais valorizada uma entidade que se torna eficiente no sentido de se traduzir enquanto centro de convivência do que uma que busca disputar e transformar aspectos da sociedade atual a que está imersa. E praticamente inexistem as organizações que conseguem ser excelentes centros de convivência ao mesmo tempo em que são combativas nas lutas sociais.

 

Quando uma entidade não consegue ser nem uma coisa e nem outra, as próprias bases dão por falida sua entidade e se afastam. A exigência, e o grande desafio, portanto, é ter organizações do movimento social que sejam capazes de se bem relacionar interna e externamente ao mesmo tempo em que usa deste relacionamento para se projetar com força política capaz de lutar e provocar mudanças sociais.

A profissionalização dos quadros de uma entidade, ou a criação de meios para a contratação de quadros profissionais, talvez seja um caminho obrigatório para as organizações do movimento social. Por diversos motivos – e muito bem justificados -, deseja-se que a transformação ou mesmo uma ação defendida por uma organização do movimento social seja alcançada de maneira autônoma e diretamente pela própria entidade. Porém, a política institucional gera resultados de tamanha valia, com tamanha regularidade e com tantos bons resultados que chega a ser atualmente tola a política de evitá-la. Em outras palavras, por exemplo, ter um razoável time de advogados no movimento produz muito mais resultado e impacto positivo em uma luta social do que não tê-los – por vezes, a luta só chega em algum lugar por ter desenvolvido uma boa atuação jurídica apesar de todos os esforços de mobilização, agitação e luta.

 

Atingir este grau de profissionalismo é um desafio e tanto! Por exemplo, o movimento estudantil, cuja base não tem obrigações de contribuição como no movimento sindical, imaginar um time multiprofissional, composto por ex-militantes enquanto formadores e gestores do conhecimento acumulado, todos bem remunerados, parece ser mais uma utopia em um primeiro momento. Mas é fato notável que os poucos – e bravos - militantes sejam consumidos pelo movimento, sendo obrigados a atuar de maneira voluntária e amadora nos mais diversos aspectos. "Batem o escanteio e correm para a área para o cabeceio". E o resultado: há muita motivação no começo, muitos esforços sobre-humanos pelo caminho, e completa destruição do sujeito caso fique muito tempo neste processo. Sequer experiência profissional podem acrescentar em seus currículos profissionais, pois não é visto com bons olhos tanto tempo de dedicação em atividade voluntária – muito menos em atividade considerada por muitos como "subversiva".

 

Com o passar do tempo, e isso já é facilmente identificável em dias atuais, a precariedade de recursos, a enorme sobrecarga na militância, e o desgaste da imagem da entidade ou do próprio movimento para com a base, vai esgotando os poucos batalhadores que se dispõe a dirigir e organizar o seu movimento social. Extremamente cansados, estes militantes – na sua maioria honesta e sem pretensões de se tornar milionários fazendo luta social – caso não consigam se profissionalizar e assim poder abrir caminho para novos dirigentes e bem assessorá-los, serão obrigados a se afastar e correr o risco de ter todo o seu esforço até então perdido. Além de ser um imenso desafio, portanto, também é uma necessidade de imensa urgência.

29 setembro 2011

Eu, Binha e o Shiniti no GoogleStreetView

Sete da manhã, de um dia bastante frio em minha cidade. Na foto do GoogleStreetView: eu, Binha e Shiniti! Inconfundíveis...

23 setembro 2011

PL 267/11: Projeto daqueles que sentem saudade da palmatória.


Ninguém questiona o aumento real da violência. No meio de milhares de formas de criminalidade está uma população amedrontada e que, com toda legitimidade, exige soluções imediatas. Estes sentimentos de medo e de insegurança dão margem para que nossos legisladores reforcem a clássica função do Estado em deter o monopólio da força, mas não cumpre o papel de promover a paz para seu povo. Por vários motivos, desde a grande corrupção e freqüente abuso de poder por praticamente todas as formas de autoridade até a falta de acesso à justiça pela maioria da população, a pacificação social é traduzida como aumento da repressão, perda da individualidade e da preservação da intimidade, e intensificação das práticas punitivas. Dentro desse cenário, diversas juventudes vão se constituindo constantemente um objeto nas políticas repressivas. Principalmente as juventudes das camadas mais pobres.


A violência urbana, enquanto representação coletiva, sempre é associada à criminalidade. Nisso, na busca por um grupo social determinado em que seus membros seriam os grandes responsáveis por todo crime que ocorra, cria o sujeito-bandido dotado de inúmeros símbolos e aparências que mais povoam o imaginário e o senso comum do que se associa de fato com a realidade. Dessa forma, é freqüente vítimas se tornarem principais alvos das práticas repressivas e com total apoio da população insegura. E o jovem, em sua maioria populacional, é o que menos possui condições de se defender das mazelas e da própria violência e é também constantemente associado à criminalidade.


O sentimento de medo que há no Brasil é bem fundamentado, pois há aumento real da criminalidade principalmente nos centros urbanos. Porém, tal aumento, não se justifica pelo aumento de uma suposta população bandida. Há uma complexa rede de relações diretas e indiretamente envolvidas com os mais diversos processos sociais. Há o crime organizado com forte recrutamento de trabalhadores, mas os índices de violência contabilizam que os homicídios, em sua maioria, não estão relacionados diretamente com o crime organizado. Há uma fortíssima relação entre a ansiedade provocada pela desigualdade social e o aumento no número de homicídios. Quanto maior a insegurança da população quanto aos seus empregos e ao atendimento de suas necessidades, principalmente as suas necessidades básicas, será mais violenta sua realidade social.


A configuração cultural, institucional e econômica do país, somado com o medo justificado do crime, fortalece no sentimento das massas de que há de se tomar lado com todas as forças na dicotomia entre o bem e o mal. E o representante eleito há de construir propostas e projetos que coloquem o Todo-Poderoso Estado, com seu monopólio da força, em combate ao lado dos defensores do bem contra a população bandida, defensora do mal. Com isso, uma chuva de projetos legislativos é discutida diariamente com o propósito de se aumentar ainda mais a repressão. Sempre alimentando a cultura de que ordem e autoridade é igual à violência legalizada.


A cultura que compreende ordem e autoridade como violência legal atinge todos os aspectos da vida da juventude brasileira. Não apenas a polícia, mas praticamente toda a forma de autoridade na vida de um jovem bebe da mesma água que compreende a violência como algo legítima. Quando a violência troca de mãos é que se tem um problema. Ao invés de se alimentar uma cultura de paz, alimenta-se uma cultura de violência ser legítima ou ilegítima. É o caso do Projeto de Lei 267/11, de autoria da Deputada Federal Cida Borghetti (PP-PR), que estabelece punições para estudantes que desrespeitam professores ou violarem regras éticas e de comportamento de instituições de ensino. O projeto, extremamente subjetivo quanto ao delito, mas absurdamente objetivo quanto à punição, entende que os professores e direção escolar vem perdendo autoridade e busca resgata-la munindo estes profissionais com poderes de repressão e violência (no caso, suspensão escolar e encaminhamento para autoridade judicial, que irá prendê-lo).


O projeto não possui nenhuma preocupação educacional. Ele apenas "lê" que o estudante adquiriu um poder ilegítimo – lembrando que o projeto bebe na fonte que associa autoridade com violência. Não se enxerga um indivíduo agredindo a um outro, mas condena a possibilidade de um estudante agredir um professor. E, uma vez que a ética escolar é fortemente influenciada por seus professores, o contrário pode ser justificado – a agressão de um professor pode ser legítima.


O projeto cai no gosto da população amedrontada. A criminalização da juventude é constante no imaginário que compõe a tal da população-bandida. Nesse imaginário, a figura do mau professor inexiste. O abuso emocional, verbal, ou mesmo psicológico que tais professores cometem contra seus estudantes é algo tão longínquo que muitos pais não acreditam em seus próprios filhos quando esses dizem que foram maltratados por seus professores. E, na ausência de um grêmio estudantil forte, na ausência de uma comunidade escolar democrática e de respeito mútuo entre as categorias escolares, muitos estudantes encontram na violência física contra seu algoz a sua única forma de defesa ou mesmo de manifestação. A exceção vira regra, o estudante é marginalizado, e Projetos de Lei como o da Deputada Federal Cida Borghetti é aclamado.


Há uma preocupação real em se garantir a segurança de professores contra maus estudantes. Realmente, quando um indivíduo agride outro fisicamente ou o ameaça de faze-lo deve sim sofrer as devidas e justas conseqüências. Porém, não é isso que o PL 267/11 fortalece. Ele revigora a criminalização da juventude. Ele dá margens, inclusive, para que isto seja utilizado como mecanismo de perseguição política. Ele se embasa nos mesmíssimos argumentos dos tempos de ditadura militar no país onde se dizia: ame a repressão ou deixe o país, no caso a escola.


O PL 267/11 vai na contramão da democratização da comunidade escolar, valoriza os maus professores, não soluciona o problema de violência nas escolas, e ainda conta com a possibilidade de suspender o direito que todo brasileiro tem à educação. Direito esse que nem mesmo nas penitenciárias se é retirado ou obstruído. Este Projeto de Lei joga por terra a possibilidade de colocar as juventudes como protagonistas de uma série de soluções que os atingem diretamente e reforça a idéia de que toda autoridade se demonstra pelo tamanho do porrete que segura. E, uma vez que permite a suspensão do estudante, coloca-o fora da alçada da proteção escolar e o expõe com maior facilidade ao contato com a violência – consideravelmente pior – que um jovem poderá sofrer fora da escola.


O PL 267/11, no fim das contas, é um projeto que favorece aqueles que sentem saudade da palmatória.

29 abril 2011

"Inverno da Alma", 2010: um olhar diferente sobre os EUA.


"Inverno da Alma" (Winter's Bone) [EUA] , 2010 - 100 minutos Direção: Debra Granik Roteiro: Anne Rosellini, Debra Granik, Daniel Woodrell (romance) Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Kevin Breznahan, Garret Dillahunt, Lauren Sweetser


Uma das coisas que mais me provocam quando assisto a uma produção independente dos EUA é o quanto ele mostra sobre os Estados Unidos. Provoca, pois, apesar de uma maioria esmagadora de filmes que assistimos serem produzidos inteiramente por lá, pouco Hollywood nos mostra sobre a vida dos estadunidenses. Assistir a um filme como "Inverno da Alma" para um brasileiro não é coisa fácil, pois requer uma pesquisa um pouco mais observadora sobre a dura realidade de muitos estadunidenses - principalmente a de seus trabalhadores. Isso explica o motivo pelo qual tantos e compententíssimos críticos fizeram resenhas tão rasas sobre esse filme.

Os mesmos críticos, consideravelmente melhores do que eu, avaliaram como exagero "Inverno da Alma" ter sido indicado para tantos prêmios, inclusive Sundance e Oscar. Mas, o "zeitgeist" do cinema-arte estadunidense desde o 11 de Setembro é o mesmo: apresentar ao mundo o verdadeiro heroi americano, ou seja, seu sofrido povo trabalhador. Como o público para tal é restrito, isso explica a verdadeira onda de independentes que venham dos EUA.

Em geral, a sinopse que encontramos não ajuda em nada. Ela geralmente é descrita assim: Ree (Lawrence), de 17 anos, é a única responsável por uma mãe catatônica e duas crianças que, de uma hora para outra, se vê em uma corrida contra o tempo para encontrar seu pai para que o terreno e tudo mais o que houver sobre ele não sejam tomados pela justiça. Não ajuda, pois, apesar de ser isso mesmo o filme, ele revela muitíssimo mais do que isso.

A história se passa nas rústicas montanhas do Missouri. O filme é rústico e cru como tal. Nessa região, uma verdadeira epidemia de crystal meth vem mudando a paisagem e seu povo - uma anfetamina cerca de seis vezes mais barata que a cocaína e que pode ser fumada, cheirada, injetada, ou simplesmente mascada e que tem seus ingredientes encontrados em uma mistura de derivados da amônia e elementos encontrados em remédios e xaropes para gripe. Pacatos lenhadores vão se transformando, aos poucos, em traficantes. Simples aldeões tem suas saúdes e famílias sendo destruídas ora pelo consumo dessa droga, ora pelo envolvimento com o mundo do crime com entorpecentes. E é exatamente sobre isso que o filme trata: a destruição de uma família por conta desta droga.

Lentamente vamos acompanhando a angústia de Ree. Vamos acompanhando sua família que se nega prestar qualquer tipo de informação sobre seu desaparecido pai. Vemos uma tortura diferente na adolescente para cada passo que ela consegue avançar. Vamos conhecendo um Estados Unidos que nega oportunidade para essa menina - que não pode contar com a polícia, nem com a família, e tampouco com o Estado; o primeiro quer despejá-la, o segundo calá-la, e o terceiro enviá-la para a guerra por 40 mil dólares (que poderá demorar até 84 meses para ser pago). Tudo isto em uma interpretação profunda e muito convincente de Lawrence.

Não há rápidas reviravoltas ou epifanias apelativas. O filme tem uma toada do começo ao fim. E sofremos calados junto com a protagonista.

Os prêmios não enlouqueceram, o filme realmente é muito bom!

Ósculos e amplexos!

[Também publicado em cinemadonosense]

"Hop: coelho sem páscoa", 2011: inadequado para maiores.


"Hop: Coelho sem Páscoa" (Hop ), [EUA] , 2011 - 95 min. Infantil Direção: Tim Hill Roteiro: Cinco Paul, Ken Daurio, Brian Lynch Elenco: Russel Brand, James Marsden, Hugh Laurie, Kaley Cuoco, Elizabeth Perkins, Gary Cole, David Hasselhoff



Para quem foi assistir pensando em ver a mesma genialidade de "Meu Malvado Favorito, 2010" vai sair um tanto quanto decepcionado. Os amarelinhos de "Hop" não se aproximam em nada dos amarelinhos de "Meu Malvado". E para quem foi assisti-lo pensando em ver um "Alvin e os Esquilos, 2007", irá descobrir que "Hop" é um pouquinho melhor que o fraquíssimo Alvin. De qualquer maneira, o filme é desaconselhável para adultos. Sua fofura toda é inteiramente destinada para crianças - que juro que as vi no cinema bocejando.

A páscoa deveria ser no calendário cristão a data mais importante dada a imensa importância que expiação do Senhor significa, porém o apelo comercial faz com que o natal seja uma data consideravelmente mais comemorada. Trata-se apenas de uma observação que, no máximo, poderia causar reflexão sobre como há apropriações e subversões de acordo com o lucro que se pode explorar disso. Não há o menor sentido em criar uma rivalidade entre duas datas do calendário cristão. Porém, em nome do lucro, o filme é feito para explorar o apelo do período de páscoa e ao longo da exibição é possível ver que essa rivalidade aparece o tempo todo e se propondo a ser muito mais do que uma brincadeira. Colocar pintinhos no lugar de renas é de um mau gosto imenso.

Saindo do contexto religioso, o filme não convence. Não é propriamente engraçado, chega a ser chato. É enjoativo de tão doce e a solução para cada momento de conflito é completamente sem sal. Há uma ou outra tirada ocasionalmente divertida (como David Hasselhoff não se surpreender com um coelho falante uma vez que ele era "Michael" de "Supermáquina"). Os atores humanos são sub-aproveitados. E as "Boinas Rosas" são uma imensa perda de tempo, já que nem sequer chegam a ser personagens.

Ao final da sessão, pensei comigo se o filme convenceria menores de 10 anos de idade. Mas o comentário de um representante desta faixa etária que estava por lá esgotou todas as expectativas. Ele perguntou sabiamente à sua mãe: - já que há um teletransporte para os coelhos, para quê serve um trenó puxado por filhotes de galinha?

Viva a sinceridade quase que cruel das criancinhas! Ósculos e amplexos!


[Também em cinemadonosense]

"Ah o Amor" (Ex), 2009: bela comédia-romântica italiana.







"Ah o Amor" (Ex), 2009 (Itália) Diretor: Fausto Brizzi Elenco: Claudio Bisio, Nancy Brilli, Cristiana Capotondi, Cécile Cassel, Fabio de Luigi, Alessandro Gassman, Claudia Gerini, Flavio Insinna, Silvio Orlando, Martina Pinto, Carla Signoris, Gian Marco Tognazzi, Giorgia Würth, Malik Zidi. Produção: Fulvio Lusciano, Federica Lusciano Roteiro: Fausto Brizzi, Massimiliano Bruno, Marco Martani Fotografia: Marcello Montarsi Trilha Sonora: Bruno Zambrini Duração: 120 min. Gênero: Comédia Romântica Distribuidora: Art Films/ Serendip Filmes Estúdio: Italian International Film / Italian International Film / Mes Films / Paradis Films / Rai Cinema Classificação: 14 anos





Por mais que seja impossível de ser preciso, todo mundo sabe quando pega gripe e a solução perfeita para um relacionamento. Quando o assunto é fim de relacionamento então, sobram teorias e teóricos do coração partido. E, como em um teatro, "ah o amor" vai desmontando cada uma dessas teorias.

Temos nada menos do que seis casais que, de uma maneira ou outra, encerram seu relacionamento. Abre-se com a história do psicólogo Sergio (Claudio Bisio) que defende a tese de que o amor não dura mais do que mil dias - obviamente um divorciado e que terá que se virar com suas filhas adolescentes depois da morte acidental de sua ex-esposa. Depois, a de um casal -Filippo (Vincenzo Salemme) e Caterina (Nancy Brilli) - que briga na justiça não pelo divórcio, mas pela inversa guarda de seus filhos - ninguém quer ter essa responsabilidade após a separação. Outro é sobre o processo de separação do próprio juiz do caso anterior - Luca (Silvio Orlando) e Loredana (Carla Signoris). Outro casal surge de uma situação complexa, Elisa (Claudia Gerini) reencontra o que seria o homem de sua vida sob a batina daquele que irá celebrar o casamento dela com Corrado (Gianmarco Tognazzi), ou seja, o padre (Angelo Infanti) tinha sido o seu grande namorado nota 10. Outro casal é composto, na verdade, por um triângulo terrível onde um ex-namorado e policial barra pesada atormenta a vida do atual namorado daquela que ele considera o amor de sua vida. E, por fim, o único casal que não está na Itália, tem que se deparar com a distância entre Paris e Nova Zelândia por conta de uma promoção no emprego dela. Tudo isso entre o natal e o dia dos namorados (que na Itália é em 14 de fevereiro).

É uma comédia que, apesar do acréscimo sufixo de romântica, não deixa de ser italiana. Também não tem a pretenção de ser felliniana (praticamente única referência que temos sobre comédia italiana aqui do outro lado do Atlântico). E, apesar da água com açúcar tradicional do gênero ter sido mantido, é uma delícia de ver os encontros e desencontros. E na medida em que vão se desenrolando as histórias, vamos nos vendo torcendo para que todas as teorias sobre relacionamento apresentadas no começo do filme sejam, uma a uma, desfeitas. Quando vemos, até mesmo nossas próprias teorias sobre o fim de relacionamento vão para as cucuias.

O filme apresenta uma nova geração de atores italianos (sinceramente, não reconheci nenhum, exceto o maravilhoso Silvio Orlando). Inclusive, até o próprio filme brinca com isso ao ter um dos casais morrendo de tédio ao longo de uma apresentação de uma famosa cantora italiana "das antigas". Interpretações bem italianas, mas que não se rendem à fácil e incômoda "italianisse caricata" e preconceituosa. São todos, a sua maneira, finais de relacionamento bem contadas na telona e que poderia ser reproduzida na vida de qualquer casal ao redor do planeta. Aliás, são histórias que, de tão bem elaboradas, poderiam cada uma delas gerar um filme todo próprio.

A minha única reclamação é a de que o desenrolar da trama demora muito para chegar ao seu fim. As duas horas de exibição cansam um pouco. E tão somente no dia seguinte é que o cansaço passa e a gente se dá conta da mensagem que o filme quer passar. Mas, sem dúvida, um excelente entretenimento.

Ósculos e amplexos!

[também em cinemadonosense]

28 abril 2011

"O Fiel Camareiro", 1983: quem é o protagonista, afinal?


"O Fiel Camareiro" (The Dresser) , 1983 (Inglaterra) Direção: Peter Yates Atores: Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Zena Walker. Duração: 113 min Gênero: Drama



Apesar de ser um filme direcionado à classe artística, principalmente a teatral, ele acaba sendo muito mais do que isso. Ele acaba sendo um genuíno tratado sobre a senilidade. Como pano de fundo, temos o próprio formato das companhias shakespearianas de teatro inglês em seus últimos dias no começo do século passado. Não se faz mais teatro [leia mais em cinemadonosense.blogspot.com]

25 abril 2011

"Meu Malvado Favorito", 2010: Há tempos não se ria tanto com uma animação.


"Meu Malvado Favorito" (Despicable Me) [EUA/França] , 2010 - 95 min. Animação / Infantil Direção: Pierre Coffin, Chris Renaud Roteiro: Ken Daurio, Cinco Paul Elenco: Steve Carell, Jason Segel, Russell Brand, Kristen Wiig, Julie Andrews, Will Arnett, Danny McBride, Jemaine Clement, Miranda Cosgrove, Jack McBrayer, Mindy Kaling, Ken Jeong



Há tempos não se ria tanto com uma animação americana, digo, francesa. Ok, animação quase que inteiramente francesa, [veja mais em cinemadonosense.blogspot.com]

Ósculos e amplexos!

"Os Visitantes: eles não nasceram ontem, 1993": moda nos cinemas de Paris?

"Os Visistantes: eles não nasceram ontem", 1993 (Les Visiteurs) [FRA] Direção: Jean-Marie Poiré Roteiro: Christian Clavier e Jean-Marie Poiré Elenco: Christian Clavier, Jean Reno e Valérie Lemercier.


Juro que não entendi o motivo, mas este filme foi fenômeno de bilheteria em seu país de origem. Talvez por um motivo de época, ou por ser o humor do francês assim mesmo. De qualquer maneira, é um humor de difícil digestão para o público brasileiro.

[continua em http://cinemadonosense.blogspot.com]

PS* Apresento meu novo blog, que irá apresentar as críticas que anotei ao longo do tempo sobre vários filmes. Este é o primeiro. Ósculos e amplexos!

12 abril 2011

"Cópia Fiel, 2010": Um ensaio sobre cópia e realidade.

"Cópia Fiel" (Copie Conforme) [Fra/Ita], 2010 - 106 minutos - Drama Direção: Abbas Kiarostami Roteiro: Abbas Kiarostami Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Adrian Moore.

Logo ao se iniciar o filme temos um gostinho de que não se tratará de um filme simples, mas de um ensaio sobre cópia e originalidade. Em um ambiente acadêmico, um premiado autor de um ensaio filosófico sobre a arte da cópia é ansiosamente esperado. Ao chegar, em inglês, James Miller (William Shimell) está no centro das atenções em uma complexa explicação sobre seu livro, como teve a ideia, e outras abordagens que todo escritor apresenta ao longo de um painel sobre seu trabalho. Ele, por si só é uma cópia de uma série de outros intelectuais fazendo o que eles sempre fazem em um briefing qualquer. A cadência monótona vai sendo quebrada pela presença de Elle (Juliette Binoche) e seu filho. Eles surgem ainda mais atrasados que o autor do livro, provocam o curador do evento, saem antes da apresentação de Miller chegar ao fim. E, finalmente, agora em francês, ela e filho conversam sobre aparências. A originalidade do filho irrita-a profundamente.

Eis um filme que brincará o tempo todo com a questão sobre valor entre cópia e originalidade. As histórias de casamento, apesar de serem praticamente um grande clichê, tanto a alegria de seu começo quanto a tristeza de seu fim, possui seus instantes de originalidade. E tanto um como outro necessita da interpretação livre de quem observa para que se construa uma obra de arte. E o filme irá maravilhosamente destrinchar em sutilezas. Até mesmo as inúmeras obras de arte que estão bem fotografadas no filme perdem seu valor ao serem tratadas enquanto cópias da realidade.

Obviamente que o filme não entregará tudo de mão beijada. Do começo ao fim dele ele irá trazer elementos que, dependendo do ponto de vista de quem o observa, fará do filme uma entediante história de casal passando por um pedido de socorro às mulheres iranianas [sério... eu juro que vi isso], encerrando na doce melancolia da entrega após a reconciliação.

É um filme que precisa de um olhar acadêmico, iniciado. Belíssimo, apesar de bastante complexo. Binoche está simplesmente fantástica e Shimell não está por menos. A visita à Toscana é feita de modo pra lá de atraente. E a brincadeira entre tempo e espaço que é marca registrada dos filmes iranianos está complementando inúmeras técnicas francesas e italianas de cinema.

Sem falar que, no olhar deste que escreve, após a grande reviravolta, temos uma deliciosa brincadeira quanto a linguagem do homem, da mulher e do casal. No caso do filme, respectivamente, inglês, francês, e italiano. Obviamente que em crise, são pouquíssimos os momentos em que o italiano concilia o duro e ranzinza inglês e a reclamona e sonhadora francesa.

Um filme muito bom.

Ósculos e amplexos!

"Rio", 2011: belíssima animação "Brazil for Export".


Rio (Idem) [EUA], 2011 - 96 min, Animação Direção: Carlos Saldanha Roteiro: Don Rhymer Elenco: Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Leslie Mann, Jamie Foxx, Will.i.Am, Tracy Morgan

-Atenção: contém spoiler -

"Rio" é um filme que, para nós brasileiros, deve ser visto com outros olhares além do cinematográfico. Teremos duas imensas vitrines para mostrar ao mundo o quanto o Brasil melhorou, apesar de suas insistentes mazelas sociais: Copa do Mundo e Olimpíada. Muitos [e horrorosos] blockbusters já pousaram na Cidade Maravilhosa com o propósito de arrancar nacos desta visibilidade toda. E a animação "Rio", apesar de feita por uma equipe bastante brasileira, não deixa de ser um olhar gringo sobre uma das cidades mais apaixonantes do país.

Ao assistir o filme, incomodava-me com a corrupção e o contrabando se limitar à favela. Criminalizando, como sempre, o pobre. Incomodou-me um bocado os batedores de carteira serem macacos. E me incomodou muito a pesada carga ianque-ecologista que, nas entrelinhas, corrobora a perigosa internacionalização de nosso patrimônio natural. Não me lembro, por exemplo, uma ação efetiva da polícia (chegando ao absurdo dos contrabandistas serem presos e ainda assim não aparecer ninguém fardado os prendendo).

O filme se passa durante o carnaval. Como não há período mais caricato para o Rio de Janeiro que este, não podemos reclamar muito do segurança louco para cair na folia ou de tudo acabar em samba. Assim como não podemos reclamar do curtíssimo trajeto em que o filme se passa (um morro qualquer, Lapa, Copacabana, e Santa Tereza). Mas podemos reclamar do samba na Sapucaí que, no filme, não tem um terço do impacto e força do qual ele realmente possui. E o baile funk então não passa nem perto.

Por outro lado, o filme possui imagens que consegue captar aquela luz maravilhosa que há no Rio de Janeiro. Consegue, por exemplo, mostrar como a estátua do Cristo Redentor realmente "olha" para toda a cidade - e em 3d, a ponta dos dedos do Cristo chega a roçar o óculos. Para quem conhece a cidade maravilhosa o filme teletransporta com uma facilidade imensa, de maneira bem convincente. E assim, a animação consegue agradar crianças e adultos, sendo uma ótima atração em família.

Destaque para uma coisa importante para todos que forem ao Rio de Janeiro e que o filme soube explorar com precisão: se você não confiar em ninguém perderá o que o Rio tem de melhor, ou seja, a alegria e a hospitalidade carioca. Porém, se confiar em todo mundo conhecerá o que há de pior, ou seja, a corrupção e a bandidagem de uma minoria de "espertalhões" que apavora a cidade roubando e "dando a volta" nos turistas mais desprevenidos. Tal característica não irá mudar por conta de uma Copa ou Olimpíada. Portanto, confie para fazer amizades - valorosíssimas por lá - mas não vacile para não perder nada importante - seja a carteira ou mesmo a vida.

Ósculos e amplexos!

11 abril 2011

VIPS, 2010 : Um "Prenda-me se for Capaz, 2002" piorado.


"VIPs", 2010 [BRA] - 96 minutos Aventura / Drama Direção: Toniko Melo Roteiro: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori Elenco: Wagner Moura, Arieta Corrêa, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Norival Rizzo, Roger Gorbeth, João Francisco Tottene, Jorge D'eli.


É inevitável a comparação de "VIPS, 2010" com "Prenda-me se for Capaz, 2002". Ambos tem como ponto de partida pedaços de uma história real, publicados em livro. Ambos compram o enredo, mas sabotam a verdade contada nas linhas. Ambos tem demonstrado como a mentira NÃO tem pernas curtas e vai longe. E ambos se tem o bandido no lugar do mocinho.

A versão brasileira não possui, porém, o mesmo glamour da versão de Spielberg. E as diferenças começam a se notar por aqui. Ao invés de um piloto da PANAM, um piloto de contrabandistas. Ao invés de golpes financeiros, apenas uma engenharia social bem elaborada. Ao invés de um gênio do crime, um personagem com gravíssimo problema de identidade.

Wagner Moura, carismático e de interpretação impecável, que diferentemente de Di Caprio, desenvolve cada personagem de maneira infinitamente distinta. Porém, o filme passa tempo demais entre contrabandistas e o auge, quando faz um dos maiores merchants da história do cinema brasileiro para a Gol, linhas aéreas, chega a ser cansativo de tão enrolado.

Saindo da comparação com o filme de Spielberg, VIPs é um flashback desnecessariamente prolongado. Perde-se a oportunidade de se fazer excelentes brincadeiras com os tolos e fúteis símbolos da High Society. Não se decide se aborda a psicopatia de Marcelo (Moura) ou se explora a essência da expressão "seja alguém na vida". E possui um final, na minha opinião, decepcionante e desfocado.

Destaque para Gisele Fróes, que empresta um charme imenso à mãe do personagem mesmo e à Arieta Corrêa, atriz que convence muito bem em seu papel.

Ósculos e amplexos!


PS* Acatando a sugestão de outros cinéfilos, agora as críticas terão a ficha técnica logo abaixo do cartaz do filme neste Blog.

07 abril 2011

Uma Manhã Gloriosa, 2010: nada mais que um passatempo matinal.


O filme demora um pouco para engrenar. Muita verborragia de uma personagem inicialmente patética, "workaholic", e muitas cenas em que pouco ou em nada contribui para com o filme. E, tediosamente, uma piada ou outra, com também pouca ou nenhuma sofisticação, vai enrolando o filme até que finalmente, lá pela metade da película, a história começa de fato.

Não é uma obra fantástica e o risco de frustrar maiores espectativas é grande. Nem sequer de comédia romântica dá para chamar, pois há pouquíssimo romance ou qualquer elemento mais significativo do gênero. É apenas um filme para se assistir descompromissadamente. Para dar um "relax" após um estafante dia de trabalho.

Becky Fuller (Rachel McAdam) não convence nem como pateta, nem como uma competente produtora de TV. Aliás, importante lembrar que, apesar de lembrar nossos programas matinais, tanto o conceito de programa matinal quanto o de produtora de TV nos Estados Unidos é consideravelmente diferente. E, tanto para a realidade estadunidense quanto para a brasileira, Becky Fuller é fraquinha, fraquinha.

Agora, o filme reserva surpresas agradáveis. A dupla Diane Keaton e Harisson Ford não apenas salvam o jornal matinal, dão um pouco de cinema ao filme. Ford está um contraponto exato com o momento apelativo de puro desespero do enredo. Ele consegue ter um mau humor cômico. E Keaton, apesar das situações patéticas que sua personagem lhe colocou, está elegantíssima. O engraçadão "homem do tempo" possui uma vingancinha sobre ele do qual provoca a maior parte dos risos.

Agora, destaque negativo para Patrick Wilson. Ele apenas contribui para o enredo para dizer que o personagem de Ford é a terceira pessoa mais odiosa do mundo. Nem mesmo o romance com Fuller consegue empolgar.

Se não esperar profundidade, nem mesmo uma grande história, é um bom passatempo. Nada mais do que isso.

Ósculos e amplexos!

30 março 2011

Outdoor das entidades estudantis:

Alguém deu uma oportunidade a ele. E não foi a educação pública! Por 10% do PIB para a Educação, já!

28 março 2011

O discurso do Rei: redondo, mas um pouco irritante para a história


"O Discurso do Rei", 2010 (The King's Speech) [ING] Direção: Tom Hooper Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael Gambon. Duração: 118 min Gênero: Drama

O filme é de uma plasticidade inigualável. A câmera parece tratar cada um dos personagens de maneira diferente e para cada situação de maneira diferente. E assim vamos nos angustiando com a gagueira de um nobre que está à beira de uma guerra e cujo seu papel de apaziguar nações inteiras depende de sua eloquência. E não para por aí. O filme ainda possui grandes cenas, sem cortes, que dá a medida certa para casa momento dramático.


Ao mesmo tempo, vemos na tela algumas mudanças que incomodam. O desprezo do nobre aos plebeus, que no começo é evidente, ao decorrer do filme desaparece. E não é devido a amizade ou a qualquer outro motivo. Ela simplesmente desaparece. Em um momento importante, o tema é resgatado pelos membros do clero, e o representante maior da nobreza se irrita com tudo, menos com a classe social de seu "clínico". Temos um Churchill abobalhado, exagerado. E olha que exagerar o exagerado Churchill é uma tarefa dificílima. E o "paizão" não convence mesmo! E, por fim, o trauma da chegada de mais uma guerra mundial passa longe. O medo de cortar a espinha é sublimado. E o discurso do rei, auge do filme, não passa nada da expectativa da guerra. Ah! E a renúncia à coroa do irmão do rei passa batido tão rapidamente que dá a impressão de que uma boa parte da história não foi contada para se chegar logo "ao trono".


O filme é bom, redondo, na medida certa. Tem uma boa história e o cinéfilo sai da sala se sentindo melhor. Até mesmo acredita que a família real inglesa é boazinha, que tem importância central para o mundo anglófono. Mesmo diante de um rei nervosinho, pavio curto, e até mesmo antipático para com seus súditos (pois ó superstar carismático é o irmão dele), dá para gostar dele e torcer por sua volta por cima.


Ósculos e amplexos!


22 março 2011

"Sexo sem Compromisso, 2011": amizade com privilégios.


"Sexo Sem Compromisso", 2011 (No Strings Attached) [EUA] - 111 minutos Comédia / Romance Direção: Ivan Reitman Roteiro: Elizabeth Meriwether e Michael Samonek Elenco: Natalie Portman, Ashton Kutcher, Kevin Kline, Cary Elwes, Greta Gerwig, Lake Bell, Olivia Thirby, Ludacris


O filme provavelmente passaria batido no Brasil se o próximo trabalho de sua protagonista, a linda e sensual Natalie Portman, não lhe rendesse o Oscar que lhe rendeu. E no oportunismo dos "homens espertos demais", "Sexo sem Compromisso, 2011" chega no Brasil em ordem inversa (foi feito antes de "Cisne Negro", mas chegou aqui depois). E nos revelou, infelizmente, mais uma comédia romântica com algumas, porém poucas, sacadas inteligentes.

Não deixa de ser um fato curioso que o tema provoque tanta euforia nos Estados Unidos. O que aqui no Brasil conhecemos como "Amizade Colorida" há tempos, lá provoca a imaginação puritana e a censura dos mais conservadores. Aqui talvez fertilizaria a imaginação dos mais novos, em processo de descoberta de suas primeiras paixões. Porém, o filme é inadequado para menores de 16 anos.

Em matéria de comédia romântica, gênero surrado e frequentemente ignorado pelos críticos, infelizmente o cinema atual decretou uma fórmula do qual quase todos do gênero seguem um mesmíssimo roteiro. Um ou uma pateta, uma situação de difícil solução, inconstância no tempo do filme, e final feliz - invariavelmente com a solução do conflito. "Sexo sem Compromisso" tem um Kutcher menos pateta do que o pateta usual do gênero, mas nem por isso menos pateta. Tem a parte Non Sense, que é protagonizada pelo sempre preciso Kevin Kline - que é o pai do protagonista, um "tiozão" que se envolve com a ex-namorada de Adam (Kutcher). Tem os amigos, tanto de Adam quanto de Emma (Portman), que rasgam bordões. E a grande sacada do "Mixtape Menstruation".

O filme arranca boas gargalhadas, além de encantar casais devido o clima romântico. Mas, infelizmente é mais um do mesmo: fraquinho, sem muitas inovações, altamente previsível e de "fácil digestão". Bom até mesmo para aqueles momentos de maiores solitudes (típicas de todo cinéfilo).

Ósculos e amplexos!

18 março 2011

Passe Livre, 2011: pastelão moralista.

Que tal receber um "passe livre" de uma semana de sua esposa? Pois é, também fiquei me perguntando: "prá quê?". Com um enredo fraco como esse, que não desafia os pudores nem mesmo de um menino de oito anos de idade, a chance do filme ser bom é nula. E como são ainda mais bobos os motivos: os maridos observam outras mulheres e grosseiramente dão bandeira, deixando as suas paranoicas.

A verborragia típica do mundo masculino é maltratada. Ela tem alguma graça somente quando os rapazes estão bêbados - e tão somente entre eles. No cinema, é chato, é cansativo, é bobo. As comédias de situação são previsíveis por demais. E os diretores não economizaram em apelar para a escatologia para arrancar algumas risadas - ou asco, como o nu frontal na cena da sauna que é de um mau gosto horripilante, além de preconceituosa ou quando se explora o sofrimento daquela que deseja parar de fumar e tem a mais grosseira de todas as cenas escatológicas que já vi no cinema.

O tom preconceituoso, o enredo moralista leva para um final sem graça, com a velha "moral da história". E o cinéfilo volta para casa com aquela sensação de tempo (e dinheiro) perdido.

Ósculos e amplexos!

Rango, 2011: uma homenagem de qualidade ao western.


- Atenção: contém spoilers -

Brincadeiras com atributos antropomorfos de certos animais já viraram rotina para muita coisa. No cinema, então, já estamos acostumados com um urso comilão, com gatos preguiçosos, e burros nada espertos. E que tal um camaleão com problema de identidade? E assim está composta a psiquê de um bom personagem.

O heroi surge na tela de maneira patética: dentro de um aquário onde interpreta um ator - outro trocadilho ótimo para um camaleão. Contracena com uma boneca, ou melhor, com o tronco e um braço de uma boneca, um "peixe de corda", um inseto morto, e com o cenário. A vida quadrada, outro trocadilho, tem a cara de Rango. As comparações, os trocadilhos, serão uma constante em todo o filme. E da patética vidinha em aquário, veremos um personagem crescer junto com a história. Como um excelente filme de "faroeste" deve ser.

Do "teatro" para as telas, a homenagem ao estilo "bang-bang" vai crescendo em Rango. Após o acidente, nos vemos em meio ao cenário de Win Wenders de "Paris, Texas, 1984" - que em minha opinião, definiria como o faoreste retornaria em tempos mais atuais.E assim, outra constante: a graça e o bom gosto vai sendo demonstrado a cada segundo enquanto o filme passa pelos cenários e situações comuns ao gênero western.

Não dá para falar da homenagem sem falar de suas referências. Do xerife "quase" honrado, da frágil dama que tem que ser durona em busca de justiça, pistoleiros de rápido gatilho, o índio rastreador (aliás, senti-me em meio à diligência que perseguiu Butch Cassidy e Sundance Kid), o "saloon", saqueadores, o impacto da chegada do forasteiro como em "Por um Punhado de Dólares, 1964" e o bigodinho de Lee Van Cleef em uma temerosa serpente mojave de arrepiar.

A homenagem não possui referências apenas do gênero. Ele brinca, por exemplo, com Jerry Lewis, reproduzindo a cena do encontro de Lewis com George Raft em "O Terror das Mulheres, 1969" quando, apavorado, vai se complicando a cada nova tentativa de limpar o rosto do bandido. Também com "Senhor dos Anéis" e "Star Wars" - que para muitos são "westerns" medieval e espacial, respectivamente. Aliás, chega a ser um marco a batalha à "Star Wars" com A Cavalgada das Valquírias, de Wagner, tocada por banjos. Aliás, falando em trilha sonora, as corujinhas fazem uma homenagem à altura de Morricone e Tiomkim que os deixariam orgulhosos.

A dramaticidade, o crescente, as quebras repentinas de continuidade, os exageros, enfim cada coisa desprende um aroma de puro western. Mas, assim como Western não é filme apenas para "vovô", a animação não é filme apenas para os netinhos. Olhar para o filme de com um ou outro preconceito será sinônimo de decepção, com toda a certeza.

Até mesmo os pontos negativos do filme são típicos de um bom "faroeste": custa entrar na história, a ação demora para aconter, enredo irritantemente simples e dependente das expressões dos personagens. Além disso, é uma brincadeira de metalinguagem cinematográfica. Ou seja, para iniciados ao gênero. Sem isso, o filme se torna entediante, pois não tem nem piadinha fácil - daquelas que sacrificam o roteiro em busca da graça que não tem.

Ósculos e amplexos!

PS* Uma curiosidade: cada resenha ou crítica que vejo sobre o filme, noto uma criatividade dos críticos quanto ao porquê do nome "Rango". Misturam "Django", "Jivago", e tantos outros nomes de forma bastante criativa mesmo! O mais interessante é que o próprio filme dá uma pista: em uma garrafa, nosso cameleão cobre parte da palavra DURANGO ... e voilá: tem-se (Du) Rango (Kid).

17 março 2011

Biutiful, 2010: a morte é linda!



Pensem em uma abordagem sobre a miséria de uma vida feita de maneira monótona mesmo diante de uma que possuía tudo para ser das mais agitadas. Misture com uma visita a uma Barcelona feia, suja, sem nenhum glamour: a Barcelona dos trabalhadores ilegais, das prostitutas, da malandragem. Pensem em um personagem no qual o espectador irá alimentar simultaneamente repulsa e dó por ele. Pensem em um filme do qual não dá trégua nenhum segundo sequer. Isto é Biutiful.
Gostar ou não do filme realmente não importa, ele é bom e pronto. O problema é que retratar a vida (ou a morte) tão de perto não é coisa que queremos ver no cinema. Ainda mais que estamos acostumados com a vidinha besta dos personagens hollywoodianos. Quando nos deparamos com alguém que urina sangue, vamos sentindo dores junto. E isto é o que fez tantos críticos e cinéfilos torcerem o nariz para este filme. Mas, para quem assistiu 21 gramas e Babel não esperaria outra coisa do diretor Iñarritu senão algo intenso, um capítulo de um imenso tratado sobre a morte e a miséria da vida.
Não há interrupção na obscuridade que o filme se propõe relatar. E o roteiro é solto como a vida. O drama é construído no tempo em que as coisas acontecem: desgraças em doses diárias e pequenas, que vão agudizando a dor do protagonista ou do que está vivo. Não se sabe quem é mais desgraçado. E ao fim, saímos do cinema sem saber se foi uma sessão sobre amores, morte, endermidades ou miséria. Tudo gira ao redor de Bardem, que mesmo sem maiores expressões, está pra lá de convincente. Mas os coadjuvantes estão equilibradíssimos (em seus desequilíbrios). Com destaque para as crianças.
Na medida em que vemos a vida de Uxbal (Bardem) se esvaindo, vamos vendo como a morte pode ser linda, ou Biutiful.

Ósculos e amplexos!

16 março 2011

Besouro Verde: ruim como a série.

Antes de analisar o filme, um momento de reflexão histórica. . .

"Batman, 1989" e "Batman: o cavaleiro das trevas, 2009" são exceções maravilhosas no histórico de adaptações de super-herois para o cinema. Em geral, os filmes costumam ser ora bobos, ora simplesmente horríveis de assistir. O próprio Batman padeceu desse mal nos filmes seguintes, piorando cada vez mais e mais.

Uma boa explicação é a de que a história do heroi às vezes é mais importante do que vê-lo em ação. Para os fiéis fãs de Histórias em Quadrinhos, o enredo é vital - somente a pancadaria deixa a história chata e imediatamente irrelevante. Ao mesmo tempo, na hora em que a pancadaria é inevitável, história boa é aquela em que dá para sentir medo do vilão e impressionar-se com a fúria do mocinho. E, se este frágil equilíbrio é de uma dificuldade imensa para HQs, para o cinema então é para grandes mestres.

Os citados filmes do Batman acima são produções que agradaram tanto cinéfilos quanto fãs de HQs. Possui o equilíbrio perfeito. Uma história convincente. Um enredo de qualidade. Um vilão de dar medo. E uma pancadaria de primeira categoria quando se faz necessário. E até mesmo algumas polêmicas, como a morte do Curinga no filme de 1989, contribuíram para fazer deles um marco para o estilo "super-herois" no cinema.

Se você está se perguntando qual o motivo de eu tanto falar em Batman e necas do Besouro Verde, a explicação vem agora.

Besouro Verde pertence ao imaginário dos mais antigos devido às aparições da dupla Besouro e Kato em outra série, também de uma dupla: Batman e Robin. Na época, década de 1960, a FOX resgatou um antigo sucesso do rádio para concorrer com Batman, mas que foi um fracasso de audiência. Ainda assim, devido a febre que foi a série de Batman e Robin, o primeiro ano de Besouro Verde teve 26 episódios, todos um fracasso e tanto. Insistente, a FOX começou a fazer "crossovers" de Besouro Verde em episódios de Batman. Mas, nem isso salvou o fracassado heroi.

E a comparação não pode parar por aí. Britt Reid é rico, mas talvez não tanto quanto Bruce Wayne. Possui um parceiro bom de briga, mas nem tão parceiro quanto Robin. Tinha o Beleza Negra, que era um carro muito legal, mas nem tão legal quanto o Bat-móvel. E seu filme anos depois não poderia ter outro resultado: não é tão legal quanto os do Batman.

Para os mais novos então a coisa é pior. Há um certo carinho pelo personagem graças a um outro filme: "Dragão: a história de Bruce Lee, 1993". Neste filme, há uma inverdade, há uma "mentirinha" que acabam vendendo no filme: a de que Besouro Verde foi um sucesso nos Estados Unidos antes da série se chamar Kato em Hong Kong.

Enfim, o filme Besouro Verde, 2010, tinha tudo para ser ruim e nisto não decepciona. É ruim mesmo. Britt Reid (Seth Rogen) é interpretado por um ator que somente foi convincente em sua carreira fazendo personagem de "eterno chapado". Outra dificuldade imensa é a superação do mito Bruce Lee. E não dá outra: o filme não consegue e Kato (Jay Chou) é um bobalhão bom de briga. E o filme comete outras sacanagens. Ele mata Mike Axford, personagem que distorcia as histórias do Besouro Verde, fazendo do heroi um bandido nos jornais para colocar a linda e, para o filme, desnecessária Cameron Diaz (o nome da personagem é o de menos, pois colocaram Diaz no filme para "valer" o ingresso). Isso sem falar no bandido, que não dá medo em ninguém e o próprio filme tira onda dele. Ah! E os efeitos 3D são desnecessários, não contribuindo em absolutamente nada o filme inteiro.

Ósculos e amplexos!

Vamos falar de cinema: salas de Curitiba [2]


[continuando]

CINE AGUA VERDE: é um resistente no que diz respeito ao antigo conceito de cinema e justamente por isso é bastante obsoleto. A tela é pequena, o som não é dos melhores, e as poltronas são muito desconfortáveis. Apesar de ser uma sala de cinema em um shopping, ele é antigo e não soube muito bem se adaptar às mudanças. Também não é nenhum diferencial quanto ao que exibe, insistindo em passar blockbusters que estão em cartaz em todos os shoppings. E seu ingresso é caro diante de tantos pontos negativos.

CINEPLUS JARDIM DAS AMÉRICAS: O shopping parece ter sido feito para atender exclusivamente estudante universitario e da UFPR. Ao lado da cidade universitária, seu acesso é um bocado confuso, mas o cinema é suficiente para atender seu público. Salas que dificilmente lotam, mas que também dificilmente está vazia. Bastante juventude, mas que sabe se comportar. Limpeza razoável. Funcionários, explorados "até o talo" em numero suficiente. Um preço de ingresso bastante atraente e filmes que recentemente saíram de cartaz completam o quadro de um cinema excelente para dar uma relaxada depois de uma maratona de estudos. Como geralmente estudante está na pindaíba, tem pouco barulhinho irritante de pipoca.

CINESYSTEM CIDADE: Perca o preconceito de classe no Shopping Cidade. O shopping atende a população do Boqueirão, bairro que de tão populoso parece uma cidade. E a sua maioria esmagadora de clientes é a de trabalhadores e filhos de trabalhadores de classes média e média-baixa. O cinema é da rede Cinesytem, pioneira no conceito de salas de cinema em shopping. E como toda pioneiria tem cheiro de rústico, o cinema tem um pouco disso também. Mas é badalado como o Müeller, mas com uma juventude bem mais educada e não se vê muita sujeira. Peca, porém, por insistir nos blockbusters e peca ainda mais por ter um dos mais baratos sacos de pipoca da cidade.

CINESYSTEM CURITIBA: Outro cinema bastante obsoleto. Por ser um dos primeiros, mesmo após as reformas, tem tela pequena e bancos muito desconfortáveis. O ângulo de visão para a tela é péssima. E as salas costumam lotar em quase todas as sessões nos dias mais agitados. O preço do ingresso é camarada, mas há uma certa cara feia quando se apresenta carteirinha de estudante. O cinema é bastante sujinho, devido a visível insuficiência de funcionários (que também são explorados até o talo). O corredor de acesso para as salas são clautrofóbicas.

IMAX THEATRE: Chega a ser um absurdo o tamanho de sua tela. Eu, que sou daqueles que gosta de assistir a sessão bem pertinho da telona, no IMAX me rendi a sentar-me mais ao fundo. É grande mesmo! E justamente nisto é que está seu maior problema. Se um personagem senta-se em uma cadeira e dialoga com outro sentado do outro lado de uma mesa, você é obrigado a olhar para um de cada vez e virando a cabeça como se assistisse a uma partida de tênis. A acústica é de assustar e somado com um poderoso sistema de som, as cadeiras tremem a cada explosão e também a cada sussurro da mocinha da história. Mas, como são desconfortáveis! Devido a todo este exagero todo, o óculos 3D não vence e você assiste quase o filme inteiro com distorções irritantes. Ao mesmo tempo, porém, a profundidade do pouco que o óculos consegue captar é abismal. Cinema exagerado, pede filmes exagerados. E como quase sempre o exagero não é bom, seria um exagero de minha parte continuar a opiniar sobre esta sala.

UCI ESTAÇÃO: Depois da reforma, a entrada se tornou mais aconchegante, exceto pela bombonière (que de bom, só a maldita pipoca - docinhos velhos, refrigerantes "descalibrados", e tudo muito caro). Tem assento demarcado, o que faz com que a fila demore ainda mais para andar ao mesmo tempo em que dá garantias de que você não terá que se sentar na escadaria nos dias de maior movimento. Tem um público barulhento e por vezes mal educado. Muito burburinho, muita pipoca, e muita gente. Dentro do cinema, é uma sala da UCI como todas as outras. Suficiente e principal concorrente da Cinemark.

UCI PALLADIUM, CINESYSTEM TOTAL, e CINEPLUS XAXIM: ainda não tive a oportunidade de conhecê-los.

Vamos falar de cinema: salas de Curitiba [1]


Não há como passar em frente e não lastimar que alí havia um cinema. No gigante Cine São João assisti meu primeiro filme (A História sem Fim, 1984) e que desde então só tenho alimentado essa paixão pelo cinema. Hoje, o antigo gigante é uma minúscula portinha de um cineminha pixulé e que só passa filme pornô - e que me recuso a entrar, apesar da curiosidade em saber se lá dentro as coisas também sofreram maiores intervenções. O mesmo rumo teve os cines Lido1 e Lido2, onde passavam os blockbusters que marcaram a geração "coca-cola" dos anos 90. Quando não se entregaram para a exibição de pornografias, os cinemas curitibanos se transformaram em igrejas. Até mesmo os "cabeças", da Fundação Cultural de Curitiba, como o cine Luz e o Ritz hoje são passado.

Meu pai muito me falava da Cinelândia Curitibana, que conheci na década de 1980 já em decadência. Era composta pelos "cines" São João, Astor (que naufragou junto com o Titanic, 1997), Condor, Lido(s), Plaza, Bristol, e Avenida. Ao longo da década de 1990 o glamour das salas de cinema foi se perdendo de vez: aos poucos iam se transformando em bingos. E com a chegada do Shopping Curitiba, veio a modernidade: as salas de cinema em Shopping.

Na verdade, as salas de cinema em shopping não foi bem assim uma novidade, pois no Shopping Itália havia o cine Itália e o Palace Itália (que ficava na cobertura do arranha-céu do CCI, e que passavam os melhores filmes de terror e à meia-noite), e no Shopping Água Verde até hoje sobrevivem os cines Água Verde (1 e 2). Mas o conceito de sala de cinema que virou coqueluche no Brasil veio com o Shopping Curitiba e logo após com o Crystal e o atual Estação. Depois disso, nunca mais o cinema curitibano foi o mesmo.

Perdemos muito em glamour, ganhamos em qualidade e rotatividade de filmes. Perdemos o ritual que se era necessário para assistir a um filme, ganhamos em segurança (somos assaltados agora pelo preço dos ingressos, mas não mais por punguistas na fila). Entre ônus e bônus, segue abaixo minha avaliação das salas de cinema de Curitiba.

CINEMARK MÜELLER: apesar desse shopping ter perdido seu título de mais luxuoso de Curitiba, continua sendo o principal shopping da juventude curitibana. Talvez somente o Estação consegue reunir tamanha juventude. E isso faz com que você assista em uma sala da rede Cinemark (que é idêntica em qualquer lugar) com um montão de joves sempre. E, talvez pela agitação da idade e da necessidade de auto-afirmação de alguns mais empolgados, paz e tranquilidade é coisa impossível. Tem também uma limpeza que deixa bastante a desejar, assim como o atendimento - fruto de um visível número insuficiente de funcionários explorados "até o talo".

CINEMARK BARIGÜI: como todo Cinemark, é idêntico ao do Müeller inclusive na visível insuficiência de funcionários. Porém, por ser no atual shopping mais luxuoso da cidade, tem-se um público bastante complicado e com "tipinhos" cansativos de se aturar. Explico: não houve uma vez sequer que eu fui lá e não vi alguém dando escândalo na fila do ingresso por algum motivo bobo sequer. Não houve uma vez sequer que eu fui lá e não vi pelo menos uma vez alguém em um poderoso telefone no meio da sessão. E tive que me render ao barulho enlouquecedor da pipoca, pois o pessoal lá come pipoca como se não houvesse o amanhã. Por outro lado, a rotatividade de filmes lá é interessante, e muito do que já saiu de cartaz ainda resiste por lá.

Unibanco Crystal: não é o mais luxuoso, mas é o shopping mais requintado no que diz respeito ao seu público. É o shopping da semana de moda de Curitiba e está localizado em um dos bairros mais charmosos de Curitiba. Seu cinema tem um público mais "cabeça" e sua estrutura é suficiente para os mais cinéfilos. Mas, por ser antigo, peca na estrutura em diversos pontos. A tela não é das maiores e os bancos são um pouco desconfortáveis, ambos comparados, por exemplo, ao cinemark (que possui a melhor relação Tela e Poltrona das salas de cinema). Seu ingresso possui um precinho justo e o número de funcionários, também explorados "até o talo" pelo menos é suficiente.

Shopping Novo Batel - Creio que está para nascer shopping mais charmoso que o NovoBatel. Ao lado do Crystal, possui porém um público consideravelmente diferente: a ausência de público. Você se sente um pouco solitário lá dentro. E a depressão se aprofunda na medida em que vai descendo as escadas rumo a bilheteria. E termina por ser enterrado em uma sala com estrutura fraquinha e bastante insuficiente até mesmo para os poucos exigentes. O lado bom é que o irritante barulhinho da pipoca inexiste.

[continua]

14 março 2011

Partido e Juventude (acerca dos itens 16 e 21 do Documento-Base) - Michael Genofre*



Segundo texto, publicado na tribuna de debates do PCdoB-PR, acerca da entidade de massas que contribuí ao longo de quase duas décadas de minha vida.

A crise que fez o PCdoB do Paraná caminhar por tantos caminhos equivocados formaram gerações de militantes, no mínimo, sacrificadas e sem grandes perspectivas sobre seu futuro. A ausência de uma direção em questões importantes fez dela irresponsável para com um grande número de jovens que, por muitas vezes, sacrificaram saúde, família, vida profissional, vida acadêmica e tantas outras coisas em nome de um projeto que, cada vez mais, revelava-se inexistente. Sua entidade de juventude, criada para ser ampla, porém sem deixar de ser a entidade de juventude do PCdoB, foi, no Paraná, violentamente desamparada. E não há ou houve um militante de juventude sequer que não conheça a dor, a fome, o preconceito, o julgamento depreciativo e o desrespeito vindos não de seu inimigo social, mas de sua própria direção.

Sem comprometimento para com a luta revolucionária não há como compreender a importância da atuação de uma juventude socialista. Os militantes da UJS serão vistos enquanto “comunistas de calças curtas” enquanto um projeto claro de construção de lideranças não for levado a sério pelo partido no Paraná. Isto quando não são vistos enquanto problema, pois aumentam rapidamente a demanda por decisões políticas em suas direções partidárias e seu retorno é impossível de mensurar no curto prazo.

O trabalho de juventude deve ser sempre considerado importante. Ao mesmo tempo, todos os membros do Partido precisam compreender com nitidez e profundidade o significado estratégico que a UJS possui para o movimento revolucionário e para a própria organização partidária. A União da Juventude Socialista não é igual a outras organizações partidárias de juventude. Ela é mais do que uma forma de sobrevivência de jovens partidários, que ainda não se desenvolveram politicamente ou tampouco acumularam forças o bastante para enfrentar os ardores da batalha política. A UJS é fruto de um processo histórico de construção e acúmulo de forças protagonizado pelo Partido do Socialismo entre a juventude brasileira. Ela elabora, questiona, organiza-se com linguagem própria e forma uma militância de altíssima qualidade. Boa parte, se não uma grande maioria, dos principais quadros do PCdoB tiveram sua formação política ainda em tenra idade, pois vieram das fileiras da União da Juventude Socialista.

A autonomia organizativa da UJS não implica em desamparo político e estrutural do PCdoB à sua juventude. Ainda que se tenha melhorado em inúmeros aspectos - em dias atuais não se tem cizânias entre a juventude, há um Secretário de Juventude de qualidade e há um segundo militante na Presidência da UJS, e outros elementos que demonstram essa melhoria – aumentaram-se dificuldades orgânicas (houve uma redução drástica no número de militantes e filiados, imensa dificuldade em se construir núcleos, indisposição da militância em valorizar o trabalho cotidiano de conscientização e atuação de base, e assim por diante).

O aumento de tamanhas dificuldades é fruto da ausência da organização partidária em meio à juventude. Ainda que autônoma, a UJS é uma organização do PCdoB, e justamente por isso deve ser fonte de preocupação diuturna de todos os seus dirigentes e militantes. Os comunistas devem reforçar a direção política e ideológica do Partido entre seus filiados com atuação na juventude, ao mesmo tempo em que deverá respeitar a autonomia orgânica e apoiar a liberdade de iniciativa da UJS.

Um dos problemas recorrentes da atuação de juventude é que, como qualquer atividade política, ela necessita de recursos financeiros. E, uma vez que seus membros, em sua quase totalidade, são militantes do movimento estudantil, eles não possuem sequer salário que garanta seu sustento diário, quanto menos de meios próprios para sua atuação política. O PCdoB paranaense deve tratar em sua política de finanças, de maneira permanente, as finanças da UJS enquanto uma atividade política. O Partido deve construir formas para que a UJS tenha suas próprias fontes de recursos. E até que a UJS consiga se sustentar, o Partido deve assumir a responsabilidade de financiar a existência de sua juventude ou buscar fontes para essa existência.

No que diz respeito à organização de juventude, o Partido não deve fazer experimentos, mas inovações. Aumentar o apoio aos secretários municipais de juventude – devendo ser uma tarefa exclusiva para o militante que a assume. As secretarias de juventude devem ser construídas, sempre que possível, em todos os organismos do Partido, sejam eles direções municipais, comitês distritais, Comitês de Macrorregiões ou Organismos de Base. Serão responsáveis, em sua área de atuação, de orientar a política, dando respaldo ideológico, às atividades da UJS – sempre respeitando sua autonomia organizativa e liberdade de iniciativa; planejar e acompanhar a atuação dos jovens comunistas (filiados ao Partido) nas lutas da juventude em que sua militância se envolva; gestar o conhecimento historicamente acumulado a fim de proporcionar à juventude uma atuação mais sólida e evitando cometer erros ou equívocos previsíveis; interagir com as demais secretarias e tarefas executivas do Partido e inserir nos comitês de atuação governamental e parlamentar propostas de Políticas Públicas de Juventude elaboradas pela União da Juventude Socialista.

Compreender a atualidade dos movimentos sociais de juventude, principalmente o estudantil, de maneira a aumentar a presença dos comunistas qualitativamente e quantitativamente. Dar apoio na construção dos núcleos da UJS, bem como voltar a formar e acompanhar as bases partidárias onde haja a presença da juventude de maneira especial. São tarefas mínimas para todo aquele que assumir a tarefa de Secretário de Juventude. Esse militante deverá ser membro da Comissão Política de seu nível de organização partidária, ter capacidade política e de elaboração para a juventude – além de paciência e trato com a juventude. Não ser militante da UJS, ter preferencialmente mais de 30 anos (idade limite para atuação na UJS).

A formação dos jovens comunistas, que deve ser uma prioridade para o PCdoB, deve possuir um plano anual composto de prazos, metas e textos de elaboração ou base sobre acontecimentos paranaenses. Além de apoiar o programa de formação próprio que a UJS possui, deve o Partido inserir em seu processo de formação a juventude, sempre respeitando os mais variados graus de compreensão partidária que cada militante possui.

Por fim, o PCdoB paranaense deve se acostumar com a condição especial que o militante de juventude possui. O jovem comunista, que deve ter sua atuação política realizada através da UJS, deve participar de uma Base do PCdoB – ainda que não se recomende nenhuma tarefa executiva de partido para ele ou ela. Simultaneamente, deve o Partido também definir sua política de quadros para sua juventude, especialmente para seus jovens comunistas dirigentes da UJS e àqueles que já encerraram sua contribuição nesta entidade pelo avançar da idade – criando perspectivas enquanto experiente quadro intermediário do partido.

* Michael Genofre é filiado ao PCdoB de Curitiba. Analista internacional especializado em internacionalização de cidades; ex-secretário estadual de organização da UJS-PR, integrante da executiva da UPE (2001-2005).