26 abril 2008

Passado, presente e futuro, numa única semana!

Foto 1: Banner do jantar comemorativo dos 90 anos do Casarão do Estudante.


Comemorar é ótimo, quando se tem uma história tão rica quanto o movimento estudantil possui é melhor ainda! Como reunir numa única atividade décadas de história, luta política, e conquistas? A União Paranaense dos Estudantes conseguiu. Mais de cem pessoas presentes, mais algumas dezenas que mandaram suas saudações à distância por seus compromissos inadiáveis, no jantar que inaugurou as comemorações pelos 90 anos de Casarão dos Estudantes, a sede do estudante universitário paranaense, e pelos 70 anos de luta da entidade. Estavam presentes, dentre outras autoridades, o Vice-Governador do Paraná, Orlando Pessuti; o atual Presidente da Sanepar e Presidente da UPE na gestão dos conturbados meses de 1968, Stênio Jacob; o Deputado Estadual Tadeu Veneri (PT), ex-diretor da UPE na década de 70; os vereadores Paulo Salamuni (PV) e Luizão Stelfeld (PCdoB); o Presidente Estadual do PCdoB, Milton Alves; o Presidente Municipal do PMDB, Doático dos Santos; a Presidenta Municipal do PT, recentemente em licensa, e ex-Presidenta da UMESC, Gleisi Hoffmann; o Presidente da Paraná Esporte, Ricardo Gomyde; e tantos outros que pretendo ainda publicar nesse blog. Além disso, estiveram presentes ex-presidentes e diretores da UPE de diversas gerações, dentre eles: Joel Benin, Presidente 1997-1999; Arilton Freres, Presidente 2005-2007; Antonio Anibelli, Presidente 2004-2005; o já citado Stênio Jacob; e tantos outros. Destaque para a participação da atual Presidenta da União Nacional dos Estudantes, Lucia Stumpf; do atual Presidente da União Parananese dos Estudantes Secundaristas, Rafael Clabonde; e de José Richa Filho, representando, ao mesmo tempo, o Prefeito de Curitiba e o ex-Presidente da UPE e ex-Governador do Paraná José Richa.

Agora, três participações eu gostaria de destacar. A primeira, a do Vice-Governador Orlando Pessuti. Ele, que atuou no movimento estudantil tanto no Centro Acadêmico de seu curso na UFPR quanto na Presidência da Casa do Estudante Universitário, fez questão de lembrar dessa época, e majestosamente relembrou a fundamental presença dos estudantes no episódio da ocupação da Assembléia Legislativa do Paraná quando a Copel quase foi vendida. A segunda participação explêndida foi a de Vitório Sorotiuk, que presenteou José Richa Filho com uma foto da gestão de seu pai na UPE, corrigindo uma rusga histórica entre os estudantes e o Governo Richa, reconhecendo o valor tanto como um dos melhores presidentes da UPE quanto um dos mais queridos governadores que esse Estado já teve. E, por último, a emocionante presença de Doutor Zequinha, o "Prêmio Esso" pela foto dele enfrentando a cavalaria da PM em 1968 com um estilingue, que foi lembrado por todos, inclusive por Gleisi, que quando era Presidenta dos estudantes secundaristas de Curitiba e Região Metropolitana, Dr. Zequinha era o responsável pela formação política dela e de todos os militantes do movimento estudantil do PCdoB daquela época.



Foto 2: As presidentas da UNE, Lúcia Stumpf, e da UPE, Fabiana "Binha" Zelinski

O clima de nostalgia não teve, pois todos os diretores e ex-diretores estavam bastante preocupados com o futuro da luta estudantil. A Presidenta do DCE da Uniandrade, Fabiola Benvenutti, que também estava presente no jantar, comentou com os diretores a importância de um movimento estudantil que possua diálogo com a comunidade acadêmica, com autoridades, mas sem perder de vista nossas conquistas históricas. "Comemorar, quando temos o que comemorar é ótimo, mas comemorar quando temos tanto ainda por fazer é cobrança ainda maior", confidenciou-me na hora do cafezinho. O mesmo foi lembrado pelo Presidente do DCE da Tuiuti, Zeca e pelo Vice-Presidente da UNE, Marc Emmanuel, com outras palavras, porém com a mesma preocupação. Os militantes do movimento mudança, fizeram questão de lembrar que o Casarão é, antes de mais nada, símbolo de resistência e conquista, lembrando que o casarão já fora tomado pelas forças conservadoras do Estado e recuperadas pela força do movimento estudantil organizado.

O Presidente da União da Juventude Socialista e Ex-Presidente da UPE, Arilton Freres, fez questão de lembrar que o Casarão não deve apenas servir de local de reunião da UPE, mas ser palco de elaboração das propostas e ações do movimento social paranaense como um todo. Que há lutas importantes que temos que implementar. Entre elas, a questão do Passe Livre, reforçada pelo Presidente da Upes Rafael Clabonde. "Estamos numa viagem sem volta, o benefício para os estudantes está sendo tratado como coisa inútil pelos conservadores, os mesmo que quando em campanha falam que irão priorizar investimentos em educação; ora passe livre é um investimento fundamental para a educação!" - Disse Rafael Clabonde, lembrando da carta publicada aos usuários do transporte coletivo curitibano.


Foto 3: Fazendo meu jabá; como diria Ivelise, Tesoureira da UPE, à direita na foto, "Os mestres de cerimônia.

O sucesso desse jantar não se deu pelo clima de festividades, mas pela seriedade como a juventude trata a política e o reconhecimento público desse esforço. Quando vemos tantos ex-diretores de entidades estudantis hoje enquanto membros do Legislativo, do Executivo, do Judiciário, ou mesmo no comando de setores estratégicos para o povo paranaense, e esses reunidos em um mesmo lugar para comemorar a existência de um lugar comum na história de todos eles e elas; me pergunto: onde estão aqueles que falam que o movimento estudantil inexiste? Eis a prova de que o defunto pintado por eles possui uma vivacidade notável!



Foto 4: Diretores da UPE com Orlando Pessuti e Stênio Jacob; ao fundo, mural com o símbolo da UPE e alguns materiais das décadas de 60, 70, e 80 usadas pela entidade.

09 abril 2008

"Se o presente é de luta, o futuro nos pertence"




"Os saudosistas em geral e os detratores da UNE em particular lamentam que os estudantes e a entidade tenham mudado, não sejam os de outras épocas, como, aliás, as pesquisas não se cansam de constatar. Para ficar só na moda, o que querem eles: a volta do terno e gravata dos fundadores da UNE ou dos cabelos desgrenhados e da bolsa e das sandálias de couro bicho-grilo? Mas não é só moda. O estilo num sentido mais amplo, a linguagem, as relações, inclusive as de trabalho e as sexuais, tudo, enfim, está em permanente transformação, para melhor ou para pior, dependendo do ponto de vista. Como é que a UNE, uma das mais antigas instituições republicanas, poderia permanecer inalterada?" (Arthur Poerner).



Como é que o movimento estudantil e suas entidades poderiam permanecer as mesmas com todo o presente em constante transformação? O movimento estudantil, tardiamente ou com exatidão, compreendeu que o momento político é mais complexo, que a implementação de suas bandeiras de luta exigem um patamar mais elevado, bem como uma política melhor elaborada, sob o risco de ser atropelado pela imensa roda da história caso não se adapte com rapidez ao novo cenário político. Quem não entendeu o recado, está praticamente fora de combate, ínfimo em sua atuação entre a sociedade. O movimento estudantil que se mobiliza para apoiar o governador em sua luta contra o retorno da assombrosa censura, é o mesmo que, no mesmo dia, e para o mesmo governador, pugna por democracia, pelo fim das listas tríplices e eleições diretas para diretor, nas universidades estaduais e escolas estaduais respectivamente, querendo o fim desse outro resquício dos tempos de chumbo no Brasil. É exatamente o mesmo movimento estudantil que, em um mesmo dia, busca dialogar com a prefeitura de Curitiba sobre a possibilidade de ampliar os benefícios da meia-entrada estudantil e apanha da Guarda Municipal, já no dia seguinte, por exigir o passe estudantil. O que seria contradições tamanhas há pouco tempo atrás, hoje deve ser visto enquanto o cotidiano de entidades estudantis capazes de representar o estudante além das manifestações pelos seus anseios, mas na implementação real de suas bandeiras de luta.



Até pouco tempo atrás, o máximo que o movimento estudantil conseguia era sair às ruas e protestar, isso quando conseguia ir às ruas. Hoje, implementa propostas, debate de igual para igual com autoridades, elabora e promove atividades concretas de representação, conquistou espaço na sociedade e na política das comunidades, e continua indo às ruas protestar sempre que as portas se fecham ou quando a intolerância o ignora. Para qualquer pessoa, leiga ou profunda conhecedora do movimento estudantil, se não estiver com miopia política ou de má fé, chega facilmente a seguinte conclusão: as entidades estudantis estão mais representativas por terem conquistado maiores condições para o ato de representar.





Essa mudança no movimento estudantil, ainda aquém de seu pleno desenvolvimento, porém com capacidades representativas consideravelmente aprimoradas, conseguiu transpor a imagem de prefeito "da gente", das obras faraônicas de ano eleitoral, das pesquisas que apontam Beto Richa como reeleito antes mesmo do pleito se iniciar, e mostrar para a sociedade curitibana que os problemas que sempre atormentam a vida do curitibano continuam os mesmos, que a repressão continua sendo o mecanismo de defesa para todo aquele que ousar mostrar que o governo municipal continua hostil aos seus habitantes, que a prefeitura continua subserviente às verdadeira máfias do transporte coletivo e tantas outras máfias, e que negligencia as necessidades do trabalhador e dos estudantes para privilegiar os parasitas e sanguessugas do orçamento público. Sem dúvida, o movimento estudantil foi o único até agora capaz de atirar pedras na vidraça da imagem construída de Beto Richa. Isso incomodou os setores conservadores, que não economizaram em seus mecanismos de manipulação e repressão das massas. Nenhuma matéria da imprensa curitibana foi publicada sem distorcer absolutamente todos os fatos, pouquíssimos vereadores ousaram questionar o prefeito sobre a repressão utilizada, pouquíssimas entidades sociais saíram do muro, e pouquíssimos partidos políticos ousaram manifestar qualquer coisa sobre o assunto, seja contra ou seja à favor. E mesmo com tudo isso, com tantos obstáculos para superar, o movimento estudantil não pára. Intensifica ainda mais sua mobilização em resposta. E ainda assim, haverá quem diga, pior, há quem sobreviva com o discurso, de que o movimento estudantil está parado, imobilizado, aparelhado por partidos, governista, burocrata, blá, blá, blá, blá.

02 abril 2008

Fascismo curitibano: Guarda Municipal e Tartufo para a Classe Média curitibana


A semana teve vários dias de manifestações estudantis por todo o país. Mas chama a atenção a forma em que cada lugar foi recebida e merece análise. Em praticamente todos os lugares onde o governo municipal era ou do PSDB ou do DEM, havendo manifestações, houveram choques entre estudantes e Guardas Municipais. Curitiba não fez por menos, mandou responsáveis por segurança de patrimônio, a Guarda Municipal, caçar estudantes até mesmo em frente ao prédio do Ministério da Fazenda, que todos sabem, é patrimônio federal.
A justificativa da Guarda Municipal: 300 estudantes tentaram invadir o tubo da Estação Central, o que exigiria uma reação mais violenta por conta do baixo efetivo policial na área. Primeiramente, não cabem 300 estudantes mais população que pega ônibus por volta do meio-dia naquela estação. Segundo, é impossível que tenha tido tantos estudantes intencionados pela contravenção. O que sugere que alguns pares de jovens, de fato, tentaram invadir o local, e a truculência da Guarda avaliou da seguinte forma: "se estiver de uniforme, botemos para fora!". Ao fazer isso, é claro que explode um confronto: de um lado Guarda Municipal, de outro estudantes, entre esses, uma minoria contraventora e uma maioria indignada por ter sido forçada a fazer algo que não queria. Terceiro, existem regras na segurança pública. Se o efetivo da Guarda Municipal era insuficiente para simplesmente fazer uma bloqueio nas portas da Estação, acionasse a Polícia Militar, que é a única responsável para conter situações de massa. Mas o que aconteceu foi o abuso de diversos guardas municipais, frustrados e mal treinados, que trazem consigo (e todo mundo sabe disso), armamento proibido àqueles que são responsáveis pela segurança de patrimônio municipal como spray de pimenta e aparelhos de choque elétrico.



Sabemos também que se tratava de uma minoria de pessoas entre os trabalhadores da Guarda Municipal de Curitiba que abusaram de seus poderes, excedendo em situações inclusive do qual não possuem poder algum. Foi um ato covarde, pois bateram em jovens, estudantes, que sempre são vistos como aquele filho malcriado que merece palmadas, típico de uma mentalidade limitada e doentia. A culpa, logo só pode ser atribuída ao governo municipal, de Beto Richa, senhor Prefeito do PSDB. Ele treina mal, paga mal, contrata mal, e ordena pior ainda sobre seus homens de azul.

A Guarda Municipal disse ainda que os estudantes depredaram o patrimônio público, o que exigiu medida mais radical. Ora, estranhamente não há um vidro sequer trincado na Estação Central, uma pichaçãozinha nova sequer em nenhum dos muros da redondeza. Que tipo de depredação foi essa? Esse mesmo argumento, somado ao suposto "pertubação da ordem pública", foi utilizado para dar voz de prisão aos líderes estudantis. Ora, estranhamente nenhum dos supostos "contraventores" foram presos, apenas líderes estudantis. Conclusão: presos por atividade subversiva, não há outra explicação. Os conservadores curitibanos continuam dormindo com medo do fantasma vermelho embaixo da cama. Cômico, se não fosse trágico.


Outra análise importante que deve ser feita: a situação dos estudantes. O lamentável confronto ocorreu após, e não durante, uma passeata estudantil. Era praticamente a distância de um quilômetro entre o local do confronto e o local onde terminou a passeata estudantil. Os dirigentes estudantis simplesmente tiveram a infelicidade de estar no lugar errado na hora errada, e por isso foram presos enquanto responsáveis pela tentativa de invasão a Estação Central. Mas, por outro lado, é importante lembrar que durante certo tempo, não foram as entidades estudantis que organizaram passeatas na capital paranaense pelo passe livre, mas o Movimento Passe-Livre. Esse movimento tinha como mecanismo de protesto justamente a invasão de tubos e o ato de "pular a catraca". Com a reconstrução das entidades estudantis, esse movimento foi engolido pelos inúmeros movimentos organizados pelas entidades. Mas os adeptos daquele movimento também acabaram incorporados, e sem a menor consulta às entidades (simplesmente, sob consulta às entidades seriam inibidos, logo não iriam fazê-la), e assim que não haviam mais uma massa de estudantes que o reprenderiam pela tentativa de invasão, deram continuidade àquilo que estavam acostumados pelo MPL, Movimento Passe-Livre (o movimento "pula-catraca").



Agora, o prêmio Tartufo do mês vai para a classe média curitibana. Segundo seu jornal, a gazeta, opiniões se dividem. Uns apoiam a brutalidade da Guarda Municipal, afinal fizeram uma contravenção (Guarda Municipal não tem poderes de pelotão de choque, estão parabenizando outra contravenção). Outros apoiam a brutalidade, por serem contra a reivindicação dos estudantes (o fascismo da classe média curitibana é forte e quer reeleger Beto Richa/PSDB).