06 setembro 2009

Mormons na Guiana: gafe documental?



Se para quem mora no sul do Brasil como eu é extremamente difícil obter informações sobre o norte brasileiro, obtê-las sobre a Guiana é um exercício de paciência e de força de vontade. Guiana é um país pequeno, de população que não chega à metade, em comparação, da população de Curitiba. De democracia bastante instável e recente, sua história política é recheada de fraudes, conflitos étnicos, e constantes ameaças de perda de seu território e de sua soberania. Guiana faz parte do grupo de países conhecidos como "uma outra América do Sul", ou ainda, porção caribenha da América do Sul (Guiana, Guiana Francesa, e Suriname). A questão religiosa é inevitavelmente ligada aos conflitos étnicos de uma população composta por mais da metade de origem indiana, menos de 30% de origem africana, e uma minoria que não chega a 10% da população de outras origens étnicas, incluindo brancos e índios.

Além de um turbulento passado político ao longo da guerra fria, onde já tentou ser satélite da URSS, já flertou com os EUA, uniu-se ao Brasil no bloco dos não-alinhados, possui também inúmeros traumas quando o assunto é liberdade religiosa. O país instaurou a liberdade de culto, revertendo, portanto, a radicalidade do chamado Estado ateu, em 1985. Mas, isso não impediu a tragédia de Jim Jones em 1978, onde mais de 900 pessoas cometeram suicídio coletivo liderados por um maníaco, líder da Igreja "Templo do Povo". Desde então, devido o trauma mais do que justificado, qualquer organização religiosa de origem nos Estados Unidos é vista com bastante desconfiança pelo governo guianense, ainda que o caso "Jim Jones" tenha sido único e nada tendo a ver com as denominações atuais instaladas na Guiana. Das inúmeras denominações religiosas existentes na Guiana, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e os Testemunhas de Jeová, são as duas mais fortes e em acelerado crescimento e ambas possuem origem histórica nos Estados Unidos.


Missionários estadunidenses em prisão domiciliar na Guiana.


O caso da expulsão de missionários mórmons do território guianense, porém, não se aplica a uma represália à Igreja propriamente dita, mas exclusiva aos missionários de origem estadunidense. Os missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias oriundos da Inglaterra, de Trinidad e Tobago, e alguns missionários brasileiros continuarão lá e, a que tudo indica, não terão nenhuma medida governamental contra eles. Além disso, nenhum missionário guianense está impedido de fazer missão em outros países.

O que chama a atenção é a forma de como a coisa foi feita. Primeiramente, os missionários estadunidenses são buscados pela polícia após uma ordem judicial de verificação da situação documental dos missionários. Logo após, cerca de 50 missionários foram presos, e atualmente em prisão domiciliar, e podem ser deportados em menos de um mês se a situação deles não for resolvida. A Embaixada dos Estados Unidos na Guiana e a líder da oposição Volda Lawrence (PNCR), após exigirem maiores explicações, obtiveram como resposta do Ministério de Assuntos Domésticos a seguinte resposta: os missionários americanos SUD são suspeitos de espionagem.


Deputada Volda Lawrence, amiga SUD, e líder da oposição.

Com a declaração de suposta espionagem, um verdadeiro delírio político segundo Lawrence, todas as possíveis especulações caem por terra. Lawrence acusa o Ministro de "querer se aparecer criando medidas que afetam cidadãos estadunidenses"; e com a omissão do Presidente Jagdeo, o Ministro está conseguindo obter sucesso.

O trabalho missionário na Guiana não irá parar mesmo que a deportação se confirme. É um trabalho que consegue fazer com que afros, hindus, índios, e brancos vivam em harmonia e superem as diferenças étnicas. Além disso, o programa de Bem-Estar da Igreja está ensinando milhares de pessoas a saírem da miséria extrema, além de levar auxílio humanitário para as vítimas das constantes enchentes que assolam o território guianense (abaixo do nível do mar).

O caso da Guiana mostra que nosso Continente não é nem um pouco livre de guerras e conflitos de origem étnica. Além de possíveis confrontos entre Venezuela e Guiana, Suriname e Guiana, há ainda sérios problemas na região "virtual" de fronteira entre Guiana e Brasil. Nosso país continua ignorando a Guiana, e, enquanto isso, inúmeros brasileiros entram ilegalmente em busca de ouro e diamante na região da Guiana amazônica. Soma-se ainda toda sorte de tráfico que exite nessa região, de drogas à de mulheres. Um barril de pólvora na América do Sul.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante matéria... gostei (apesar dos pesares)