29 setembro 2009

Estados Unidos na contramão da democracia.


Estupefato! Não conseguia ouvir ou ler as notícias de hoje sem essa sensação. Os Estados Unidos, na reunião de emergência da Organização dos Estados Americanos - OEA, através de seu representante diplomático, acusou os países que apoiaram o retorno de Zelaya de irresponsabilidade, além de condenar o próprio retorno do presidente legítimo ao país.

Ao longo da 64ª Assembleia Geral da ONU, todos os países americanos que discursaram em Nova Iorque condenaram o golpe, pediram a volta de Zelaya ao poder, pediram eleições no país, e manifestaram seu desejo de solução pacífica do conflito. Exceto um: Estados Unidos da América. Obama, ainda que aplaudido por representar a mudança na condução política da mais importante nação do mundo, foi o único que absteve-se de comentar sobre o golpe em Honduras. Na reunião do G20, presidida por Obama, pouco avançou em relação ao país. E, na reunião emergencial da OEA, onde o tema não era outro senão a instabilidade hondurenha, finalmente os EUA mostraram que os Estados Unidos continua na contramão da democracia, que continua tratando a América Latina e o Caribe como seu quintal.

A influência americana sobre os golpistas brasileiros não ficou por menos. Sarney, Agripino, lideranças de oposição, quando não chamaram a postura brasileira de defender o governo legítimo de Honduras de infantil, chamaram-na de amador. Miriam Leitão, que ainda verei um dia falando sobre futebol, soltou duas péssimas considerações sobre a posição brasileira no caso. A primeira, a de que o Brasil rompeu relações diplomáticas, mas é incoerente por manter sua embaixada aberta em Honduras; e que o Brasil se posicionou contrário ao embargo hondurenho aos veículos de comunicação de oposição ao golpe, quando praticamente aplaudiu quando Venezuela fechou o equivalente à Globo em seu território.

Não falo sobre a credibilidade (ausente) de Miriam Leitão, mas sobre o símbolo que ela representa: o pensamento editorial do PIG (Partido da Imprensa Golpista - termo criado por Paulo Henrique Amorim). Primeiro, segundo os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário sobre representação diplomática e relações consulares, o fato de não reconhecer um país não fecha uma embaixada, apenas retira o canal de diálogo entre os governos. Mas a embaixada representa o povo brasileiro residente em Honduras, portanto, não se trata de nenhuma incoerência. Segundo, jamais pode ser comparado o que houve em Honduras com o que houve na Venezuela. Nessa, houve um golpe por parte da burguesia e oposição ao presidente Chávez, e um contra-golpe por parte dos trabalhadores que devolveu o país ao comando de quem a maioria do povo legitimamente elegeu. Segundo, na Venezuela, Chávez não renovou a consessão da emissora que Miriam Leitão referiu, o que provocou seu fechamento. Já em Honduras, o que aconteceu foi um governo ditatorial que ocupou dois veículos de comunicação à força, censurando-as, fechando-as, após declarado Estado de Sítio.

O representante brasileiro na OEA falou o que deveria ser transmitido em massa: sem o apoio dos Estados Unidos, na contramão da democracia, esgotam-se as possibilidades de solução do conflito em Honduras pelo caminho do diálogo. Sem uma ação mais incisiva dos países da América Latina, o passado odioso de golpes e autoritarismo irá abalar a credibilidade do Continente. Não apoiar o retorno de Zelaya ao poder, com a condição de novas eleições em regime de urgência, será condenar um povo inteiro à barbarie, ao fim da democracia.

Ósculos e amplexos.

Um comentário:

Carol Gross disse...

Não me surpreende a postura estadunidense sobre a questão Honduras, é exatamente a mesma tomada há alguns anos atrás quando a América Latina inteira encontrava-se na mesma situação, sob governos golpistas e cerceadores, quando a democracia foi esquecida pelos governantes e quem lutava por ela era perseguido.

Apesar de toda a festa e animação mundial causada pela eleição de Obama: primeiro presidente negro, mais progressista que os demais, não devemos nos esquecer para qual país ele foi eleito, por mais inovador que pareça ele é o Presidente dos Estados Unidos, portanto é o maior representante do Imperialismo que temos no mundo hoje, não irá se manifestar a favor do fortalecimento da democracia hondurenha, aliás, não fará nada a favor, talvez faça algo contra...

Quanto a Mirian Leitão (que poderíamos chamar só de leitão, pois a sua capacidade de análise política é igual a de um suíno), realmente achei os comentários brandos, perto de sua postura altamente reacionária, creio que o PIG encontra-se raivoso pois não conseguiu detonar o governo por conta da saída extremamente rápida da crise, acabaram pulando sobre a postura acertada do governo brasileiro de ajudar a restabelecer a democracia em Honduras.

Como disse o nosso presidente Lula, tão sabiamente: "Golpes e ditaduras não tem mais espaço na América Latina hoje", portanto para o governo brasileiro não se trata de um asilo a um refugiado, mas sim, de uma visita oficial do presidente legítimo de Honduras à embaixada brasileira.

Qualquer esforço para o fim desta situação lastimável em Honduras é louvável, além de mostrar qual a postura que o governo tem sobre a liberdade, a democracia e a autodeterminação de qualquer povo! Quem sofreu anos com uma ditadura, não admite e nem reconhece um governo que não seja democrático e não represente a vontade da maioria da população!!