
Estupefato! Não conseguia ouvir ou ler as notícias de hoje sem essa sensação. Os Estados Unidos, na reunião de emergência da Organização dos Estados Americanos - OEA, através de seu representante diplomático, acusou os países que apoiaram o retorno de Zelaya de irresponsabilidade, além de condenar o próprio retorno do presidente legítimo ao país.
Ao longo da 64ª Assembleia Geral da ONU, todos os países americanos que discursaram em Nova Iorque condenaram o golpe, pediram a volta de Zelaya ao poder, pediram eleições no país, e manifestaram seu desejo de solução pacífica do conflito. Exceto um: Estados Unidos da América. Obama, ainda que aplaudido por representar a mudança na condução política da mais importante nação do mundo, foi o único que absteve-se de comentar sobre o golpe em Honduras. Na reunião do G20, presidida por Obama, pouco avançou em relação ao país. E, na reunião emergencial da OEA, onde o tema não era outro senão a instabilidade hondurenha, finalmente os EUA mostraram que os Estados Unidos continua na contramão da democracia, que continua tratando a América Latina e o Caribe como seu quintal.
A influência americana sobre os golpistas brasileiros não ficou por menos. Sarney, Agripino, lideranças de oposição, quando não chamaram a postura brasileira de defender o governo legítimo de Honduras de infantil, chamaram-na de amador. Miriam Leitão, que ainda verei um dia falando sobre futebol, soltou duas péssimas considerações sobre a posição brasileira no caso. A primeira, a de que o Brasil rompeu relações diplomáticas, mas é incoerente por manter sua embaixada aberta em Honduras; e que o Brasil se posicionou contrário ao embargo hondurenho aos veículos de comunicação de oposição ao golpe, quando praticamente aplaudiu quando Venezuela fechou o equivalente à Globo em seu território.
Não falo sobre a credibilidade (ausente) de Miriam Leitão, mas sobre o símbolo que ela representa: o pensamento editorial do PIG (Partido da Imprensa Golpista - termo criado por Paulo Henrique Amorim). Primeiro, segundo os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário sobre representação diplomática e relações consulares, o fato de não reconhecer um país não fecha uma embaixada, apenas retira o canal de diálogo entre os governos. Mas a embaixada representa o povo brasileiro residente em Honduras, portanto, não se trata de nenhuma incoerência. Segundo, jamais pode ser comparado o que houve em Honduras com o que houve na Venezuela. Nessa, houve um golpe por parte da burguesia e oposição ao presidente Chávez, e um contra-golpe por parte dos trabalhadores que devolveu o país ao comando de quem a maioria do povo legitimamente elegeu. Segundo, na Venezuela, Chávez não renovou a consessão da emissora que Miriam Leitão referiu, o que provocou seu fechamento. Já em Honduras, o que aconteceu foi um governo ditatorial que ocupou dois veículos de comunicação à força, censurando-as, fechando-as, após declarado Estado de Sítio.
O representante brasileiro na OEA falou o que deveria ser transmitido em massa: sem o apoio dos Estados Unidos, na contramão da democracia, esgotam-se as possibilidades de solução do conflito em Honduras pelo caminho do diálogo. Sem uma ação mais incisiva dos países da América Latina, o passado odioso de golpes e autoritarismo irá abalar a credibilidade do Continente. Não apoiar o retorno de Zelaya ao poder, com a condição de novas eleições em regime de urgência, será condenar um povo inteiro à barbarie, ao fim da democracia.
Ósculos e amplexos.
Um comentário:
Não me surpreende a postura estadunidense sobre a questão Honduras, é exatamente a mesma tomada há alguns anos atrás quando a América Latina inteira encontrava-se na mesma situação, sob governos golpistas e cerceadores, quando a democracia foi esquecida pelos governantes e quem lutava por ela era perseguido.
Apesar de toda a festa e animação mundial causada pela eleição de Obama: primeiro presidente negro, mais progressista que os demais, não devemos nos esquecer para qual país ele foi eleito, por mais inovador que pareça ele é o Presidente dos Estados Unidos, portanto é o maior representante do Imperialismo que temos no mundo hoje, não irá se manifestar a favor do fortalecimento da democracia hondurenha, aliás, não fará nada a favor, talvez faça algo contra...
Quanto a Mirian Leitão (que poderíamos chamar só de leitão, pois a sua capacidade de análise política é igual a de um suíno), realmente achei os comentários brandos, perto de sua postura altamente reacionária, creio que o PIG encontra-se raivoso pois não conseguiu detonar o governo por conta da saída extremamente rápida da crise, acabaram pulando sobre a postura acertada do governo brasileiro de ajudar a restabelecer a democracia em Honduras.
Como disse o nosso presidente Lula, tão sabiamente: "Golpes e ditaduras não tem mais espaço na América Latina hoje", portanto para o governo brasileiro não se trata de um asilo a um refugiado, mas sim, de uma visita oficial do presidente legítimo de Honduras à embaixada brasileira.
Qualquer esforço para o fim desta situação lastimável em Honduras é louvável, além de mostrar qual a postura que o governo tem sobre a liberdade, a democracia e a autodeterminação de qualquer povo! Quem sofreu anos com uma ditadura, não admite e nem reconhece um governo que não seja democrático e não represente a vontade da maioria da população!!
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