16 setembro 2009

Mudanças no FIES: já é alguma coisa.


A Lei de Murphy diz que otimista é aquele que, ao pular de um prédio, a cada andar que vai passando vai dizendo: até aqui tudo bem. Essa risível, e até um pouco boba, comparação serve para ilustrar as mudanças no sistema superior de ensino no Brasil. O projeto de Reforma Universitária, que já foi mexida tantas vezes que, como está agora, ficou tão tímida que sua implementação não faria mais os efeitos necessários para transformar a educação brasileira (isto é, caso seja aprovada ainda durante o governo Lula). E não sou só eu que digo isso, o próprio Ministro da Educação lamenta a forma tacanha que o projeto de Reforma Universitária possui em tempos atuais.

Dentre as novidades, tão tímidas, porém que não deixam de ser polêmicas, está a questão do ENEM como substituto do vestibular e as mudanças no FIES.

O ENEM prioriza o raciocínio. Ele faz com que o estudante se depare com situações possíveis de acontecer em seu cotidiano e, para solucionar os problemas, terá que adotar o conhecimento adquirido ao longo de sua vida escolar. Alguns estudantes consideram muito fácil, mas a realidade nacional demonstra que pouquíssimos se dão bem nesse exame. E a média nacional chega a ser constrangedora. O exame foi modificado, ampliado em seu número de questões, o que o transformou em uma prova ainda mais cansativa, e que no fim das contas irá acabar favorecendo somente quem decorou mais "atalhos" para solucionar todas as questões. E, universidades como a UTFPR, irão abolir seu vestibular para adotar o ENEM como critério seletivo.

Não é necessariamente um avanço. O ENEM acaba sendo apenas uma prova unificada, um vestibular diferente. Não faz diferença no fim das contas, pois continuará favorecendo aquele que não tem que trabalhar e estudar simultaneamente. Tampouco privilegia aquele que teve regularidade em suas avaliações ao londo de seu ensino fundamental e médio. Mas já é um começo. A questionável meritocracia do vestibular atual em nada seleciona universitários ideais. Apenas seleciona decoradores de fórmulas, macetes e atalhos. E, quando chegam na universidade, se deparam com os eternos problemas de falta de conteúdo de base para enfrentar as disciplinas mais avançadas de seu curso. Não afetará, no fim das contas, em nada na qualidade do ensino. Nem para melhor, nem para pior.

Outra mudança é sobre o FIES. Irão mudar as regras. Irão flexibilizar algumas exigências, e discute-se a dispensa da figura do fiador. O problema é que não resolve a exploração que no fim das contas acaba se tornando o empréstimo estudantil. Ainda que com juros mais baixos que os praticados pelo mercado, são astronômicos para quem acaba de sair da universidade e que certamente demorará para entrar no mercado de trabalho por conta da dificuldade em se conseguir bons empregos no Brasil. Para o estudante, na maioria dos casos, é melhor tentar pagar sua faculdade sem utilizar o FIES, para não começar sua carreira profissional superior com uma dívida imensa jogando contra.

Vagas, mais universidades públicas, gratuitas e de qualidade; formação crítica, laica, apoiada no ensino, na pesquisa, e na extensão acadêmica; ainda são as reais alternativas para o ensino superior brasileiro. O fim do vestibular não será processado pela inclusão de outro sistema de seleção, ainda que esse seja consideravelmente melhor que o atualmente adotado. De qualquer maneira, só será possível com uma Reforma Universitária profunda e de qualidade. Um retorno ao projeto original de 2004, mas com acréscimos importantes das críticas da comunidade acadêmica deveria ser pensada, bem como as devidas críticas. A Reforma, como está hoje, é tacanha, como diz o Ministro da Educação. E, as principais linhas da Reforma de 2004 estão longe de ser colocada em voga. Apenas "ajustes" delas ajudam, mas não resolvem. Para os mais otimistas, antes de espatifarem, até aqui tudo bem!

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