24 setembro 2009

Discurso dos EUA na 64ª AG da ONU.


Foto: ONU/Marco Castro

"Responsabilidade para nosso futuro em comum." (Título do discurso de Barack Obama)

Foi grande a espectativa do primeiro discurso na ONU do presidente Obama. Tanto que, ao dizer que era uma honra para ele discursar pela primeira vez na ONU como 44º presidente dos EUA, logo no começo de seu discurso, foi ovacionado pelos presentes. E foi um discurso longo, mais do que o dobro dos tradicionais quinze minutos utilizados por quase todos os presidentes discursantes.

O discurso de mudança, tão característico de sua campanha presidencial, foi reforçado em seu primeiro discurso na ONU. Nada mais natural, afinal, sempre se é importante ressaltar que não é mais o Bush usando o púlpito, nem mesmo a sua desastrosa política internacional. Porém, aponta a necessidade de mudança como responsabilidade depositada pelos cidadãos estadunidenses e exigida pelo momento histórico. Nesse sentido, Obama anuncia o interesse dos EUA em estabelecer novas formas de atitudes em nome da ação coletiva em benefício da justiça e prosperidade, tanto nos EUA quanto no exterior. Apontou que a política de seu antecessor foi promotora de uma visão cética e desconfiada da comunidade internacional, e que iria buscar uma nova forma de interação com os demais países do mundo, de forma não tão unilateral como antes. Porém, alertou que ele é o presidente dos Estados Unidos, e que sua prioridade são os interesses dos estadunidenses.

No que diz respeito à segurança internacional, o tom do discurso foi mudado, mas não seu conteúdo, se comparado aos tempos de Bush. Obama, ao contrário de seu antecessor, não enumerou os inimigos dos Estados Unidos e os apontou como ameaças a serem combatidas pelo mundo. Enumerou uma série de conflitos existentes com preocupação e os encaixou com as ameaças contra os Estados Unidos em um patamar semelhante. Entretanto, ao mesmo tempo, anunciou suas medidas domésticas no que diz respeito à proibição do uso de tortura nos Estados Unidos, o fechamento da prisão de Guantânamo e o início da abertura à Cuba, a existência de um plano de retirada progressiva das tropas do Iraque até 2011, ainda que enfatizando a manutenção do combate ao Al Qaeda (no Afeganistão e Paquistão). Ainda nesse contexto da segurança internacional, apontou a política de desarmamento nuclear e sua política de não proliferação de armas de destruição em massa como prioridade de seu governo, anunciando avanços no diálogo com países como Rússia, China e outros. E, por fim, rapidamente anunciou esforços políticos para a pacificação do Oriente Médio, principalmente no que diz respeito ao conflito árabe-israelense.

Sobre o tema da mudança climática, Obama apontou investimentos na ordem de 80 bilhões de dólares para o desenvolvimento de energia limpa. Além de parcerias com os membros do G-20 a fim de organizar um fundo internacional a fim de coordenar esforços no combate à crise alimentar e energética. Entretanto, Obama foi bastante sóbrio ao falar das dificuldades dos Estados Unidos, e também do mundo, atingir as metas sobre emissão de poluentes até 2020 e 2050. Ainda que veja com preocupação a dificuldade em se atingir tais metas, não descredibilizou a mudança climática como fazia Bush. Pelo contrário, solicitou à comunidade internacional a união de esforços a fim de que as reduções de poluentes possam se aproximar ao máximo das metas estabelecidas pela ONU.

Por fim, sobre a crise econômica mundial, Obama segue na linha de que o pior já passou. Entretanto, assumiu que ainda há riscos e muita coisa a ser feita. Sem entrar em maiores detalhes sobre o enfrentamento da crise, nem sugestões ao mundo. Apenas pediu cautela sobre as análises futuras.

Como disse no começo, o tom mudou, mas o conteúdo continua o mesmo. Não ter o jogo de cena, nem situar os Estados Unidos como vítima de eixos do mal, tampouco não ufanizar as ações dos Estados Unidos em suas ações de ingerência, não demonstra significativas mudanças na condução da política internacional por parte dos Estados Unidos. Os EUA, pelo que disse Obama, continua com praticamente a mesmíssima agenda internacional, com retoques, importantes, porém não tão transformadoras assim. De novidade, apenas a intenção de melhorar a confiança da comunidade internacional sobre os Estados Unidos em todos os ramos da política internacional, porém, sempre dando o recado de que o país contunará sendo o que é, ingerente como é, e capaz de tudo para manter sua posição e seu status quo. Nenhuma surpresa, mas também nenhuma frustração, no discurso do senhor Obama.

Ósculos e amplexos.

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