24 setembro 2009

Discurso do Brasil na 64ª Assembleia Geral da ONU

Foto: ONU/Marco Castro


O Presidente Lula iniciou seu discurso na 64ª Assembleia Geral da ONU anunciando a abordagem de três temas, três ameaças que afligem nosso planeta: a persistência da crise econômica, a ausência de uma governança mundial estável e os riscos da mudança climática no planeta.

Quanto a primeira ameaça, Lula denunciou, ainda que sutilmente, que o caminho adotado pela economia mundial é perversa e equivocada. Para o presidente, ainda foram enfrentadas tão somente as consequências da crise, não sendo ainda, portanto, enfrentadas suas causas. Ou seja, que os caminhos do neoliberalismo, principalmente no que diz respeito à "mão invisível", que vê o Estado como obstáculo para a economia. "Mais do que uma crise de grandes bancos, trata-se de uma crise dos grandes dogmas", referindo-se ao grande dogma do neoliberalismo e sua concepção econômica tida como inquestionável. A tese da liberdade absoluta para o capital financeiro foi derrubada pela crise, bem como a demonização das políticas sociais. Conclui, sobre essa ameaça, que a verdadeira raiz da crise foi a perda da autonomia dos Estados em administrar e gerir as riquezas e o poder. Para Lula, o fato de o mundo ter reagido sobre alguns aspectos da crise provocou um certo e perigoso conformismo. Os problemas reais ainda não foram resolvidos, principalmente no que diz respeito a resistência em se regular os mercados financeiros.

Como demonstração de que o sistema econômico mundial caminha sobre tortos caminhos, Lula cita o Brasil como exemplo de país em que o Estado foi determinante para que este fosse o último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica. "Não se trata de nenhuma mágica", disse o presidente, mas da preservação do país da especulação e redução da vulnerabilidade externa. Sempre com aprofundadas políticas sociais, com recomposição dos índices de emprego. E alertou que é necessário que o mundo possa entrar em uma nova compreensão para essas mudanças. Citando a necessidade de reformas da ONU, do Banco Mundial e do FMI.

Sobre a segunda ameaça, Lula usou dos acontecimentos em Honduras para ilustrar a necessidade da ONU e dos países desenvolvidos se envolverem com maior força a fim de garantir a democracia como modelo político mundial. Citou, ainda, o Haiti.

Por fim, no que diz respeito à terceira ameaça, Lula novamente partiu para a demonstração do Brasil como exemplo de "andar no caminho certo". Citou a aprovação das leis de proteção da mata amazônica; o uso do etanol como combustível renovável e que não depende de insumos alimentícios, o potencial energético que no país é utilizado em mais de 80 porcento de fontes renováveis, e a redução dos índices de CO2.

O discurso do Presidente Lula foi, na medida do que se permite em uma Assembleia da ONU, uma demonstração de que o Brasil deve ter uma imagem a ser melhorada. Que se trata de um país sólido economicamente, e que caminha na direção certa no que diz respeito ao seu patrimônio verde. Atacou, ainda que de leve, a postura protecionista dos grandes. E demonstrou que o Brasil realmente exerce papel de liderança regional, sem se auto-intitular-se liderança.

Por fim, foi um discurso realmente sem maiores surpresas, pois repetiu boa parte do que vem dizendo ao longo de seus discursos na ONU.


Ósculos e amplexos.

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