09 outubro 2009

IV Festival do Cinema do Paraná


Infelizmente, a semana de provas na faculdade me impediu de aproveitar melhor o IV Festival de Cinema do Paraná, que acontece desde o dia cinco no MON (o museu do olho). Mas ontem, tudo contribuiu para que eu participasse de pelo menos um dia.

À tarde, na mostra paralela, uma mistura de bom e mau gosto. De um lado, passava o filme "O Livro de Cabeceira" (The Pillow Book), de Peter Greenaway, 1996. De outro, Don Juan de Marco, de Jeremy Leven, 1995. Literalmente, de um lado e de outro, pois as salas de exibição são divididas por um tapume que permite o som vazar de um lado para o outro. Ao escutar "Parfait Mélage" em um filme, ao fundo escutava-se " Have You Ever Really Loved A Woman" do outro filme. Mau gosto? Nada contra o filme "Don Juan de Marco", inclusive ele marcou época. Mas, é o tal do filme que é transmitido na "Sessão da Tarde" pelo menos umas três vezes por ano. Quando se vai em uma mostra paralela de cinema, espera-se ver filmes dos quais não são acessíveis ao grande público.

"The Pillow Book" salvou o dia. A produção Franco-Holandesa-Inglesa, é quase inteiro em japonês. De difícil "digestão", os dez guerreiros sobreviventes que ficaram até o fim da sessão saíram satisfeitíssimos. Os outros cinquenta que não aguentaram o rítmo nada linear de Greenaway, bem ao avesso dos "hollywoodianos", certamente saíram falando horrores do filme. O único problema, é que esse filme excelente simplesmente passou. Depois, procurando na internet, descobri um artigo científico de uma professora da UFPR que detalha as poesias gravadas no corpo dos treze personagens. Seria interessantíssimo, pelo menos, fazer um debate ou simplesmente dar ao público o prazer de saber o que a protagonista escreveu nos corpos dos outros personagens.

À noite, o senso de responsabilidade foi para o mundo das almas, cancelei reunião e faltei a aula para ver as produções que concorrem ao Araucária de Ouro. Ainda que somente filmes brasileiros disputam essa categoria, e que somente um filme em disputa foi apresentado ontem, os espanhois e argentinos convidados deram o ritmo da festa.

O primeiro, foi o espanhol "Manual Prático do Amigo Imaginário", de Ciro Altabás, 2008. Altabás abriu a noite se esforçando para falar em português, o que fez com que o público logo se simpatizasse com o diretor e transferindo-a para seu filme. O filme lembra muito Tom Cruise em Magnólia, mas tão somente a apresentação de auto-ajuda. Pois o restante é muito original. Conta a saga do único amigo imaginário que está com seu amigo real há 28 anos, quando o recorde anterior era o de apenas quatro anos e alguns dias. Nessa palestra de auto-ajuda, o super-herói conta como sobreviveu aos perigos de ser esquecido (o desemprego para o amigo imaginário). O filme é bonito, engraçado, alegre, e apologético às nostalgias de nossas infâncias. Minha única reclamação foi: o diretor não soube a hora de parar. Os últimos minutos de filme são desnecessários.

O segundo filme da noite foi o concorrente ao Araucária de Ouro "Brasil Santo: retratos da fé", de Gil Barone e
Monica Rischbieter, 2009. O filme foi uma ode aos defensores da cultura: os pobres. O filme é um documentário sobre a fé dos humildes. Depoimentos sobre a fé, oração, e sacrifícios em nome da fé dão a tônica do filme. Agradou a todos e todas presentes, que só faltaram aplaudir em pé. Mas, o filme não é nenhuma genialidade. A falta de um roteiro melhor acabado, afinal apenas mostra os depoimentos e esses dão a velocidade do filme, fazem do filme uma espécie de vitrine. Também não é dos mais originais, o tema fé popular já foi bastante documentado, além do filme ficar martelando "já vi algo muito parecido em 'O Povo Brasileiro'". Mas, no geral, o documentário é bom, e forte concorrente ao prêmio.

O terceiro e o quarto filme da noite foram: o espanhol "Com Dois Anos de Garantia", de Juan Parra Costa, 2009; e o argentino "Bosque", de Pablo Siciliano e Eugenio Lasserre, 2008. O primeiro é fraquíssimo. No fim da apresentação, poucos se lembraram que foi exibido o curta de 17 minutos. Ficou aquela sensação coletiva de "eu acho que assisti algo, mas não me lembro o que". O curta conta a história de um grosseirão marido arrependido que tenta substituir a esposa por um robô. No auge da sua agonia, a verdadeira aparece e ele não a diferencia. Mas, por melhor que tenha sido a ideia, o filme não convence e passa batido. O segundo foi sabotado. Problemas técnicos fizeram com que a exibição fosse interrompida três vezes, tendo que pular cenas talvez importantes para o desenlace da história. Um debate sobre a eternidade, um terror psicológico, misturaram-se para fazer de "Bosque" um tratado sobre a existência e as coisas importantes da vida longe da correria da cidade. Mas, o eixo principal do filme vai se tornando a loucura de um bosque do qual ninguém consegue sair vivo. A velocidade do filme vai cansando por demais a plateia. E o fim do filme não mostra supresa alguma. Talvez, devido aos problemas técnicos, o filme poderia ter sido melhor. Mas não creio nisso.

Hoje tem mais!

Ósculos e Amplexos!

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