13 fevereiro 2012

Diário de Bordo (003) - Avenida España


Quando vi que o hostel estava a poucos minutos do Templo de Asunción, não me aguentei e fui lá apenas para admirar a arquitetura. Foi uma caminhada de uns trinta minutos aproximadamente onde pude sentir o quanto Asunción é a cidade dos contrastes.

Tudo começa no começo. Explico: no início da Avenida Paraguayo Independiente, onde fica a sede do poder central do Paraguai, tem todo o luxo e beleza do Palácio López. Mas, logo ao lado há uma das maiores favelas de Asunción. Esta avenida, seguindo por ela, vai se tornar a Avenida Marescal López, de onde sai a Avenida España. Entre o Palácio (e uma série de construções históricas interessantíssimas) e o começo da Avenida España se encontra um perigoso comércio de tudo quanto é ilegalidades (principalmente drogas e protituição). E um contraste interessante: ao longo de todo o caminho, senti que estava sendo seguido. Mas não era "los ilegales", mas pela polícia. Eles perceberam que eu era mais um desavisado turista e estavam cuidando de mim. Quando tentava atravessar a rua, tomava um apitasso na orelha (e muitos palavrões em guaraní).

Quando se chega no começo da Avenida España algo começa a mudar. O comércio de ilegalidades vai se tornando mais rarefeito e um grande supermercado (o España) surge como um marco divisório entre a pobreza extrema da cidade e o que irá surgir pela frente. Aos poucos, as principais embaixadas do mundo vão te saudando com suas belezas arquitetônicas. Principalmente a coloridíssima embaixada do México.


E a coisa não para de ficar mais exuberante. A Avenida vai se tornado um grande luxo. Lojas e mais lojas do que há de bom e do melhor vão surgindo, mansões e mais mansões também. Lojas de carro que só vendem carrões (vi uma Hammer de perto, estava na frente de uma fila imensa só de mercedez). A coisa vai se tornando cada vez mais impressionante. Fiquei quase duas horas andando toda a avenida, terminando no shopping "del Sol". Lá, o luxo continua. Mas, como diria o camarada Rovilson, o meu lado gordo fala mais alto diante de tanta "gulosimas". E me acabei de comer por lá. A Pizza Hut custa menos de vinte reais (no Brasil eu pago quase cinquenta!). O Whooper, com o dobro do tamanho do brasileiro, não custa vinte reais. E, em um restaurante requintado, comi um surubi (um peixe local) por menos de quarenta reais com tudo o que tem direito.

Uma parada no meio do caminho para ver o jogo do Corinthians e São Paulo. Lembrei-me da Rafinha, que para o que estiver fazendo para fazer fé no timão. Quando recebi pelo celular que o Darwin e a Helena também estavam ligados no jogo. Senti como se uma linha invisível nos unisse naquele momento. E, devido a isso, torci como um grande corintiano (que não sou, todos sabem que sou coxa).

Aliás, a imprensa futebolística por aqui é fenomenal. Tá certo que ela é inteiramente argentina, mas é impressionante como comentam a partida. Diferentemente das emissoras brasileiras, que sempre tratam o espectador como um debiloide, as transmissões argentinas exigem um público "iniciado". Muita informação sobre os jogadores, sobre o campeonato, e nenhuma explicação mais leiga como faria o Galvão Bueno, por exemplo. Partem do princípio de que todo telespectador conhece muito sobre futebol e não tem paciência para obviedades. Tanto que narram somente as melhores jogadas e o gol. No geral, é uma espécie de bate-papo com especialistas da bola.

Outra coisa que me chamou por demais minha atenção. Creio que catraca é coisa de brasileiro. Caracas, Asunción e Montevideo, pelo que vi, não a usam e todos pagam passagem. Tá certo que o transporte público de Caracas e de Asunción é questionável. Mas o de Montevideo deixa muita cidade considerada modelo de gestão pública (como Curitiba, por exemplo) em pé de igualdade. Ao contrário do Brasil, partem do princípio de que é uma minoria quem "tiraria vantagem" desonestamente.

O dia terminou com uma parrillada no hostel. Aliás, como tem gente fazendo churrasco pela cidade no domingo. Em cada esquina há uma carne assando e um tereré sendo tomado como se fosse a coisa mais correta a ser feita em um dia de domingo. Era, no hostel, uma tentativa de adaptar a cultura local em um grande encontro mundial ao lado de uma churrasqueira. Muita carne boa e papos interessantíssimos sobre tudo. Eu, brasileiro, dando aula sobre carnaval, um italiano dando curso sobre política italiana, um estadunidense ensinando espanhol para uma inglesa, dois chilenos mostrando o que há de melhor da música chilena, um romeno desesperado por comprar bebida (Asunción inteira parece guardar o domingo, portanto quase tudo está fechado).

Dormi relativamente cedo e contente com a bela caminhada.

Ósculos e amplexos!

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