19 janeiro 2010


Não há como não ficar horrorizado com as cenas que vemos do Haiti. Antes do terremoto, imagens da miséria extrema e o povo sofrido do país mais pobre das Américas já chocavam. Após uma catástrofe que ceifou milhares de vidas, as cenas são ainda mais impactantes. Grandes obras e pequenos barracos viraram uma coisa só: escombro. E, sob uma cidade devastada, a contagem de mortos aumenta cada vez mais. Tão somente a solidariedade internacional poderá dar um mínimo de condições de sobrevivência ao povo haitiano.

Dentre as coisas que mais me causaram espanto, entretanto, não foram as imagens fortes que vejo em todos os veículos de imprensa. Mas, o discurso oportunista. Diante de toda a tragédia, há quem deseje que o povo haitiano se vire sozinho. Que vê a presença brasileira no comando das tropas da ONU no país como uma forma de imperialismo verde-amarelo, ou ainda pior, de estar de cão de guarda do imperialismo ianque. Ainda que se valha a crítica da mísera contribuição financeira que o Brasil e os Estados Unidos estão dando ao Haiti, comparado com os auxílios que os bancos receberam ao longo da crise financeira, a retirada das tropas da ONU, nesse momento, significará a morte para ainda mais e mais vítimas.

Quando antes do terremoto, era questionável a presença militar no Haiti quanto aos abusos cometidos pelas forças de paz. E não foram poucos. Entretanto, quando um país vive em meio a uma guerra civil, seu povo não se auto-determina. Quando um país tem absolutamente todo o seu aparato estatal destruído por sucessivos golpes e contra-golpes de todas as espécies, é impossível se falar em soberania e justiça. Uma operação de paz em um país desse é mais do que necessária, é a garantia de que o povo poderá reconstruir seu país algum dia.

Após o terremoto, tudo o que foi construído pelos esforços de paz voltaram para uma condição ainda pior que antes. Os chefes das facções golpistas e os inúmeros grupos criminosos organizados voltaram para as comunidades mais carentes, pois as celas e os presídios foram todos destruídos. E, dessa vez, esses criminosos e golpistas traficam algo que no Haiti é agora mais importante que drogas e contrabando: água e comida! A ajuda humanitária tem sérios problemas para distribuir o que arrecada, pois quem decide o como e o que deve ser distribuído é o governo do Haiti, que agora está novamente ilhado em meio a esses grupos. E, para completar a cena de total desamparo, as tropas presentes no Haiti são insuficientes dado os acontecimentos.

Estamos falando de vidas, de sobreviventes. Estamos falando de ajuda internacional salvando vidas. E há ainda quem no Brasil deseja ver "o circo pegar fogo". Há quem exija a retirada imediata das tropas da ONU do Haiti. Que ainda não entendeu que os abusos cometidos pelos capacetes azuis devem ser denunciados e os responsáveis punidos, mas jamais "jogar o bebê com a água do banho". Que o envio de mais soldados é tão importante quanto o envio de mais médicos, enfermeiras, e toda equipe que possa dar alívio a tantos sobreviventes.

E o mais importante: sob a direção do Brasil, país que vem ensinando ao mundo lições de solidariedade.


6 comentários:

Anônimo disse...

Nice brief and this post helped me alot in my college assignement. Thank you on your information.

Queisse disse...

Sim... a ajuda humanitária é fundamental em momentos de catástrofe.
Isso é fato... não cabe nem a polemização do "antes". Precisamos todos pensar no agora. Depois as coisas voltam a ter seus pesos e suas medidas.
"Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"...

Leonardo de Araújo disse...

O Haiti devastado pelo terremoto necessita de toda a ajuda, mas não sejamos ingênuos de achar que a ONU realmente é humana.
O que está em disputa hoje no Haiti é o peso de cada nação no controle regional.
Os EUA mandando mariners e o Brasil mandando tropas "para ajudar". Os EUA não podem permitir que o Brasil ganhe mais simpatias regionais. Vale lembrar da política atual de afrontar a hegemonia americana (Presidente do Irã, Chaves, ...), seja ela possível ou não e correta ou não.
No capitalismo, até a ajuda humanitária é para reforçar a dominação.
Vamos lembrar das consequencias economicas. Não tem nada melhor para o capitalismo do que uma destruição. Quem serão as empreiteras que recolherão os escombros e reconstruirão o Haiti? Vai ser a Camargo Côrrea ou vai ser uma similar americana? A disputa é econômica. Sempre.
Será que vão aproveitar que a institucionalidade está em crise para uma reforma agrária, uma reforma urbana, distribuir renda? Que nada!!! O objetivo do sistema é se utilizar da desgraça e da comoção para concentrar riquezas. Explorar a desgraça alheia.
O Haiti necessita de toda a ajuda possível para superar essa catástrofe, mas não é necessário, para afirmar isso, perder de vista que a maior ajuda que podemos dar é levantar vozes por soberania e poder na mão do povo haitiano.
Quanto à polemização do antes, cabe sim e essa é a hora mais importante para desmascarar o antes, todavia meu comentário pode ficar maior que o post e o blog é do Micha, então deixemos essa para um outro comentário.
E eu vim aqui só para polemizar sobre o filme Avatar. Risos.

Michael Genofre disse...

Uow! A certeza de uma boa amizade está baseada no respeito. E quer maior prova de amizade que a capacidade de discordar de quem nós amamos e conseguir expor tais discordâncias para estes? Eu sabia que esse assunto causaria polêmicas. Então, para apimentar um pouquinho mais essa (necessária) reflexão sobre o Haiti, escrevi um segundo texto. Concordo com o Leonardo em diversos pontos, principalmente na construção do pensamento. Entretanto, divergimos diametralmente opostos quanto a conclusão de como se dará essa tomada do poder e soberania pelo povo haitiano. Mesmo antes do terremoto, agora sobre seus escombros, e amanhã quando vierem as epidemias.
Mas, é justamente esses comentários que nos empolgam a continuar escrevendo.

-> Anônimo: How did you learn something with me if I've written in Portuguese? By the time, I'd happy for help you. Bye!

Queisse disse...

Apesar de ter sido completamente ignorada pelo Michael no seu "comentário resposta" eu vou voltar a falar, viu? Porque sou uma chata daquelas!
Só por que eu consegui ser sutil e nem um pouco prolixa dessa vez, fiquei sem vez? (risos)

Michael, fecho contigo na necessidade da ajuda emergencial, para a situação emergencial... e continuo pensando que, logo depois de se retomar a triste realidade do país, deve-se retomar também o debate sobre a presença internacional lá.
Vamos resolver o "já", discutir o antes e deixar que o depois seja, porque para mim o grande problema do Haiti ainda é ser subjulgado "aos humores" dos podero$o$.

Então, divido didaticamente as suas falas para evidenciar em como me posiciono:
-Sim, acredito na necessidade de somarmos esforços pela reconstrução da mínima condição humana da população.
-Não, me dá um nó na barriga pensar que "é impossível se falar em soberania e justiça" ou que eu deveria aceitar a idéia de que o "povo não se auto-determina". Isso vai contra tudo o que acredito (e você, meu irmão de coração, é quem melhor sabe disso).
Por isso terminei meu comentário anterior com as palavras do Caetano, que estava num dia bom quando escreveu essa música! Queria provocar a reflexão sobre a situação lá e a quem ela serve de fato. Queria colocar a realidade deles num plano mais próximo do que se vê no "quintal de casa", como no paralelo traçado pelo Caetano e fazer ferver um pouco mais o sangue de quem tanto conhece a posição de colônia... lá é pior, só é bem pior...
Pra bom entendedor, "risco é Francisco"...

P.S. Agora que fui prolixa, didática, clara, ácida, direta e tals, mereço um tiquinho de atenção? (mais risos).
Saudades, Michaaa!!! Quero discutir isso na cozinha de casa, com um bom vinho na taça!
P.S. do P.S. Falei o bom tanto de costume, mas não vou parar! Já que vai ter mais, vou ler a próxima postagem e vou tagarelar por lá, também!
Bjs

Michael Genofre disse...

Na verdade, não consegui ser feliz ao tentar unir os comentários seu e do Leonardo, e acabou que pareceu que te exclui das considerações. (quando escrevi sobre a certeza de uma boa amizade, referia-me sobre os comentários teu e do Léo... mas realmente não fui feliz kkkk)

Quanto a impossibilidade do povo haitiano se auto-determinar, falo sobre esse momento, ad hoc. Todos os critérios que podemos adotar para se definir as condições mínimas de auto-determinação de um povo estão ausentes na realidade haitiana. E a intervenção militar da comunidade internacional não deve ter outra função senão construir tais condições mínimas de auto-determinação e soberania. E, uma vez cumprido esse papel, dizer "adeus Mariana que eu já vou embora".

É impossível para um povo em meio a uma guerra civil, com todo o aparato estatal destruído, vivendo em condições desumanas tanto devido a inúmeras mazelas como a fome generalizada, quanto à total falta de saneamento e até de água, quanto também o controle das condições mínimas de sobrevivência estiverem em mãos de chefes de turbas e do crime organizado. Enfim... concordo que devemos acompanhar com cuidado os possíveis escorregões "nazi" que a qualquer momento podem acontecer. Enfim... defendo a Minustah como um "mal necessário".

Segue mais comentários no outro artigo.

Ósculos carinhosos... e minhas sinceras desculpas pelo lapso de não ter te dado "maiores atenções". (beijinhos em cada bochecha!! kkk)s