14 janeiro 2010

Communication Breakdown*

Quando eu estava na Venezuela, tive algumas experiências culturais magníficas. Uma delas foi ter conhecido uma excelente pessoa que praticamente se tornou meu anjo protetor. De um altruísmo fantástico, e um excelente domínio do português, ela me levou para conhecer o centro de Caracas e mostrar seus encantos.

Sempre desejei homenageá-la, mas nunca conseguia escrever nada que fosse à altura de todo o carinho e gentileza a mim por ela dispensado. Ela me levou para conhecer a família dela e de seu namorado. Fez questão de me mostrar onde foram os locais de confronto da "Revolución bonita". Levou-me em um dos bairros mais caraquenhos, e lá começou a me apresentar as diversas "abuelitas" que fugiram da Colômbia por medo não das FARC, mas das turbas paramilitares. Mostrou-me centros gastronômicos, centros culturais, teatros, enfim, uma excelente companhia o tempo todo. Sempre que eu resolvia escrever alguma coisa para homenageá-la, não gostava do que escrevia e logo abandonava a ideia. Somente agora é que fui lembrar de algumas histórias, que ainda não são a homenagem mais digna que eu poderia fazer. Mas, resolvi publicar após tanto tempo.

Quando eu estava com ela, tudo parecia fluir tranquilamente. Na época, meu portunhol estava bem esfarrapado, mas arriscava-me a falar com ela sempre em espanhol e ela prontamente me corrigia quando eu acabava falando alguma bobagem. Quando eu cansava do portunhol, eu ia de português mesmo. E ela simplesmente tirava de letra. Meus problemas nasciam quando ela não estava por perto.

Uma dessas situações aconteceu no terceiro dia de viagem. Uma moça belíssima aproximou-se e começou a falar comigo. O problema é que ela não apenas falava bastante, mas parecia que havia acabado de sair do aquecimento rumo ao concurso mundial de falar rapidamente. Não entendendo lhufas do que ela queria me dizer, ousei trocar pelo menos o idioma. Então perguntei se ela falava português. Ela respondeu: - "No mucho". Então perguntei: - "And English, can you speak?". Ela: - "Yes, I can". Feliz da vida, quis saber o grau de conhecimento dela na língua de Shakespeare e perguntei: - "How much?". E ela: "For you, forty dollars".

(*) "Communication Breakdown" é uma música do Led Zeppelin, narrando a dificuldade de seguir em frente em um relacionamento que é sempre a mesma coisa, sem comunicação.

2 comentários:

Leonardo de Araújo disse...

Puxa Michael,
Parece que foi ontem quando li um post seu dizendo que não estava mais muito afim do blog e etc.
Que retomada, hein. E não é só na quantidade.
As "sacadas" sobre a realidade estão bem criativas. O texto continua bem escrito como sempre.
Elogios, enfim.
Brindes
Leonardo

Michael Genofre disse...

Grande Léo, obrigado pela visita.
Quem tem um blog, tem uma relação de amor e ódio com ele. Há tempos em que temos material de sobra para escrever, e há tempos em que não queremos nem passar perto dele. No fim das contas, a gente sempre acha algo que nos "re"inspira. E os comentários dos amigos é o que sempre nos anima ainda mais.
Amplexos!