12 janeiro 2010

Estação do mau humor curitibano.


Longe Lateqve, o curitibano é conhecido como "fechado". Para todos e todas que visitam a capital paranaense, faço o esforço de demonstrar que não somos tão assim. Na verdade, somos tão receptivos quanto manda a boa educação de qualquer brasileiro. Entretanto, não somos tão efusivos quanto em outras regiões do Brasil. Aliás, a efusão brasileira é também conhecida no mundo inteira como bastante exagerada (venha para o Brasil e você será beijado, abraçado, estapeado, tudo por puro carinho efusivo). Em Curitiba não há esse exagero. Não se trata de um "povo fechado", mas de um "povo na dele".

Dificilmente você ganhará os famosos três beijinhos "pra casar" de um curitibano. Um beijo apenas no rosto, e olha lá. Dificilmente você verá um curitibano puxando papo, e quando ver, provavelmente será sobre o tempo (todo curitibano tem uma verdadeira fixação por meteorologia, mesmo que não tenha a menor ideia do que seja um nimbus ou mesmo como se escreve a palavra meteorologia). Carona é coisa impossível. É mais fácil um curitibano lhe pagar a passagem de ônibus, mas depois de você ter colocado-o contra a parede e durante bastante tempo. Informações sobre como chegar em algum lugar o curitibano não dá. Mas não por falta de educação, mas é por não saber mesmo onde fica (os pontos de referência do curitibano são completamente diferentes. Perguntar por nome de rua ou por nome de estabelecimento é receita certa para que o curitibano não saiba como responder). E viver em harmonia com os vizinhos significa morar anos em um lugar e não saber sequer o nome do vizinho.

A própria cidade reserva algumas armadilhas até para os próprios habitantes. O Hospital do Cajuru não está localizado no bairro Cajuru (localiza-se no Cristo Rei). Você aluga um apartamento no bairro Champagnat e vai morar no Bigorrilho (o Champagnat é, na verdade, uma rua no bairro Bigorrilho. Mas as imobiliárias rebatizaram-no para que se tornasse mais atraente). O parque Tingui não está no bairro Tingui (o parque localiza-se no São João), e apesar do nome do parque homenagear os índios de "nariz afinado" que habitavam a cidade antes da chegada dos europeus, o parque é conhecido pela população como "bosque ucraniano". E a parte mais charmosa da rua XV de Novembro, a Rua das Flores, não é nem rua e muito menos parte da XV de Novembro (o calçadão da Rua das Flores localiza-se na avenida Sen. Luiz Xavier).

Entender o povo curitibano não é difícil. Conviver com ele também não é. Exceto em janeiro, a estação do mau humor. É um período realmente complicado de se viver na capital do Paraná. A população parece que viaja simultaneamente para outros destinos do país. E, quem fica, queria poder viajar também. O resultado é uma dor de cotovelo que contagia com elevadas doses de mau humor a cidade inteira. Para somar, o clima fica chuvoso e ao mesmo tempo abafado na cidade. As ruas ficam desertas. O comércio abre tarde e fecha cedo. E nenhum serviço funciona direito. O curitibano passa a odiar o seu emprego, passa a odiar a si próprio. E tão somente quando janeiro acaba é que esse mau humor vai embora.

Decidi quebrar o paradigma. Mau humor é coisa de quem não tem amigos. Sozinho na cidade, comecei a ligar para todos os amigos para ver se alguém me salvava. Um por um, quem atendia ou era a caixa postal do celular ou a secretária eletrônica dos fixos. Passei na casa de alguns para ver se levava a sorte de achar alguém, mas deu em nada. O dia inteiro procurando alguém para contar as novidades e dissolver o tédio. E nada. Lá pelas tantas, já à noite, voltando pra casa, decidi alugar alguns filmes. Locadora fechada. Resolvi dormir, mas o clima estava abafado e não conseguia sequer ficar na cama. Fui para o chuveiro e houve queda de energia em todo o bairro. Procurei uma vela, mas não achei os fósforos. Tentei escutar algumas músicas, mas o MP3 estava sem bateria.

Até que finalmente tocou meu telefone: um dos amigos viu que havia uma chamada não atendida e resolver ver o que eu queria. Ao atender, eu estava no auge da minha ira com o mundo e mandei-o as fávas. Antes de desligar, o amigo reclama: isso que dá ter amigo curitibano. Eita povo mau humorado!

5 comentários:

Leonardo de Araújo disse...

Curitibanos têm bons motivos para preocupar-se demais com o clima, afinal temos quatro estações do ano no mesmo dia em Curitiba.
Oposto do Rio de Janeiro, neste verão infernal onde "o calor é sólido". Na terça, caminhei na praia às 06:00 (da manhã) com 26ºC e cheguei no trabalho hoje às 09:00 com 29ºC, todos medidos à sombra (às 06:00 o sol ainda está atrás das montanhas). Estou até com medo de sair para o almoço!!!
Prefiro o outono de fim da tarde e o inverno madrugueiro de Curitiba. Aliás, sou um fã do inverno de julho! Contradições da vida.
Aqui no Rio são dois beijos. Faço um esforço grande, mas vivo deixando as pessoas no vácuo. Dou aquele um (meio) beijo curitibano. Encosto o rosto já tirando. A outra pessoa vem com o outro lado e eu já estou me desculpando com um aceno do outro lado da rua, hehehehe. Acaba ficando essa fama de que curitibano é antipático. huahauhauhuahuhua
E o pior, quando vou a CWB misturo tudo e sou eu quem fica no vácuo. Acabo concluindo que curitibanos são antipáticos mesmo.

Michael Genofre disse...

Certa vez, graças ao movimento estudantil, tive que viajar para o Rio e logo depois para Minas Gerais. No rio, essa loucura dos dois beijinhos e o vácuo danado que eu sempre deixava por conta do nosso tradicional um (meio) beijo. Quando finalmente me acostumei com a história, fui para Minas, onde o costume local é o do três "prá casá". Novamente vácuos intermináveis... Olá... um beijo, dois beijos... e vácuo!


Ainda defendo que não somos antipáticos, o restante do Brasil é que é simpático em níveis absurdos!

Amplexos!

Queisse disse...

Cara, tô escrevendo um post sobre isso...
Não dá pra comentar aqui! Hehehe
Quando terminarr de dar asas à minha alma prolixa, te aviso pra ir lá no blog pra ver, ok?
Beijossssssssssssss
P.S. curitibano é educado, sim, mas simpático? Nuncaaaaaaaa!!! hehehe

Unknown disse...

ola, tbm sou de Curitiba e
basta pesquisar um pouco na net
pra ver quantos blogs existem
de gente revoltada com o pessoal
daqui, somos famosos pelo frio...
pessoal rssss

Para o problema do beijo, pra evitar vacuo eu dou apenas um beijo e ja vou logo abraçando,
assim não corro o risco de deixar
alguma mulher no vacuo, sempre
funciona.

Céci Maciel disse...

Eu gostei do texto...moro em Curitiba, mas não sou daqui...sou brasileira!!!!!!!!!!!hahahahahaha.....respeito o jeito de ser do curitibano, mas não há lei no mundo que me obrigue a gostar né...detesto morar e conviver com as pessoas nessa terra, o problema é que estou estudando e quando mudei-me pra cá não sabia que era verdade.Achava que era só implicância, mas constatei: são absurdamente mau humorados e antipáticos mesmo!Pena...estamos no Brasil!