Quando a Primeira Dama do Chile, Cecilia Morel, tentou desqualificar a então presidenta da Federação dos Estudantes da (Universidade) do Chile, Camila Vallejo, ficou claro contra quem as forças conservadoras atacam quando atiram contra os estudantes: os comunistas. Disse a primeira dama: "Dá-me pena ver pessoas novas com idéias velhas". Com a FECh voltando à luta e liderando o que tem sido considerado como um dos movimentos mais fortes desde o retorno do país à democracia.
O sistema educacional chileno foi desenhado durante a ditadura daquele país entre 1973 e 1990. Na década de 1980, a educação pública secundarista foi transferida para os municípios enquanto as escolas privadas recebiam financiamento estatal. No caso da educação superior, o sistema educacional foi desmontado para que universidades privadas pudessem ser fundadas no país e a Universidade do Chile fosse desmembrada a fim de se criar universidades de caráter regional. Pese que a educação chilena sempre foi considerada uma das de maior qualidade da América Latina, os grandes inimigos desse desmonte sempre foram os comunistas.
Quando uma Federación, equivalente aqui no Brasil aos nossos DCE, da principal, histórica e maior universidade comanda um processo intenso como as vistas no Chile ao longo do ano, logo as forças conservadoras entram em ação. Temendo um despertar classista de proporções continentais, colocam toda sua artilharia apontada para o cérebro vanguardista da classe trabalhadora: os militantes comunistas. Para se ter uma ideia, todos os principais veículos conservadores de comunicação brasileiros comemoraram a derrota de Camila Vallejo em sua tentativa de re-eleição para o comando da FECh. Veja, Folha de São Paulo, Globo, e tantas outras anunciaram imediatamente após a publicação do resultado do pleito que a presidenta Vallejo havia sido derrotada.
Acontece que o equivalente à União Nacional dos Estudantes lá, no Chile, é a Confederação de Estudantes do Chile, Confech, e ela foi quem convocou os protestos e tomadas em todo o Chile. Ao lado de Vallejo no comando dos "paros estudantiles" estavam líderes de uma série de outras Federaciones, dentre eles, a também importante Federación de los Estudiantes de la Universidad Católica de Chile, FEUC, liderada por Jackson Drago. Mas então, qual o motivo de tanto destaque para Vallejo? A resposta é simples: a principal Federación chilena é liderada por uma comunista. Drago, por exemplo, é de centro-esquerda e somente com muita pesquisa ou quem se interessa pelo movimento estudantil continental sabe de quem se trata.
A imprensa chilena compara Vallejo com a histórica militante e verdadeira heroína dos povos trabalhadores Gladys Marín, presidenta do PC chileno – que tem um histórico de origem também no movimento estudantil e que chegou a ser secretária geral das juventudes comunistas para todo o mundo; além de coordenadora da campanha de juventude na eleição de Allende. Portanto, Vallejo trouxe consigo não apenas suas qualidades individuais, mas um histórico de luta de sua filiação partidária. Sua oposição direta pode ter muita elaboração, como é o caso de Boric (de esquerda, que venceu Vallejo nesse último pleito); ou pode até possuir muita paixão como é o caso do direitista Yobanolo; mas nenhum possui o posicionamento público e a prática de lutas que possui Camila Vallejo.
Boric, reconhecendo os caminhos tomados pela FECh e esta liderança que possui Vallejo e abre o jogo: "La pelea es con el Partido Comunista". Não se trata de uma discordância de fundo conjuntural, ou sequer de "estilo de governo", mas um combate ideológico. E, sendo assim, recebe os aplausos das forças mais conservadoras de toda a América Latina, principalmente as brasileiras Globo, Veja e Folha.
Como o sistema eleitoral da FECh é proporcional, Vallejo assume a próxima gestão como Vice-Presidenta. E o PC chileno aplaude a democracia dessa entidade e promete se desdobrar para que a liderança de Vallejo influencie a gestão para que ela continue de luta.
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