12 abril 2011

"Cópia Fiel, 2010": Um ensaio sobre cópia e realidade.

"Cópia Fiel" (Copie Conforme) [Fra/Ita], 2010 - 106 minutos - Drama Direção: Abbas Kiarostami Roteiro: Abbas Kiarostami Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Adrian Moore.

Logo ao se iniciar o filme temos um gostinho de que não se tratará de um filme simples, mas de um ensaio sobre cópia e originalidade. Em um ambiente acadêmico, um premiado autor de um ensaio filosófico sobre a arte da cópia é ansiosamente esperado. Ao chegar, em inglês, James Miller (William Shimell) está no centro das atenções em uma complexa explicação sobre seu livro, como teve a ideia, e outras abordagens que todo escritor apresenta ao longo de um painel sobre seu trabalho. Ele, por si só é uma cópia de uma série de outros intelectuais fazendo o que eles sempre fazem em um briefing qualquer. A cadência monótona vai sendo quebrada pela presença de Elle (Juliette Binoche) e seu filho. Eles surgem ainda mais atrasados que o autor do livro, provocam o curador do evento, saem antes da apresentação de Miller chegar ao fim. E, finalmente, agora em francês, ela e filho conversam sobre aparências. A originalidade do filho irrita-a profundamente.

Eis um filme que brincará o tempo todo com a questão sobre valor entre cópia e originalidade. As histórias de casamento, apesar de serem praticamente um grande clichê, tanto a alegria de seu começo quanto a tristeza de seu fim, possui seus instantes de originalidade. E tanto um como outro necessita da interpretação livre de quem observa para que se construa uma obra de arte. E o filme irá maravilhosamente destrinchar em sutilezas. Até mesmo as inúmeras obras de arte que estão bem fotografadas no filme perdem seu valor ao serem tratadas enquanto cópias da realidade.

Obviamente que o filme não entregará tudo de mão beijada. Do começo ao fim dele ele irá trazer elementos que, dependendo do ponto de vista de quem o observa, fará do filme uma entediante história de casal passando por um pedido de socorro às mulheres iranianas [sério... eu juro que vi isso], encerrando na doce melancolia da entrega após a reconciliação.

É um filme que precisa de um olhar acadêmico, iniciado. Belíssimo, apesar de bastante complexo. Binoche está simplesmente fantástica e Shimell não está por menos. A visita à Toscana é feita de modo pra lá de atraente. E a brincadeira entre tempo e espaço que é marca registrada dos filmes iranianos está complementando inúmeras técnicas francesas e italianas de cinema.

Sem falar que, no olhar deste que escreve, após a grande reviravolta, temos uma deliciosa brincadeira quanto a linguagem do homem, da mulher e do casal. No caso do filme, respectivamente, inglês, francês, e italiano. Obviamente que em crise, são pouquíssimos os momentos em que o italiano concilia o duro e ranzinza inglês e a reclamona e sonhadora francesa.

Um filme muito bom.

Ósculos e amplexos!

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