04 setembro 2008

Atletas de alto rendimento: proletários do esporte!



Não são poucas as histórias de revolta e atitudes que levaram atletas "dourados" a protestarem contra a realidade de seus países. Mohamed Ali, que jogou da ponte sua medalha em protesto ao preconceito racial nos EUA; os Panteras Negras, que do alto do pódium ergueram sua mão cerrada; e Cielo, do Brasil, revoltadíssimo com a falta de patrocínio e falta de apoio da CBDA, mandando um recado direto: "eles (a CBDA) só querem é encher o saco!". Defenderam seus países no esporte, bem como continuam os defendendo ao denunciar as mazelas do cotidiano, ainda que por diversas vezes por motivos bastante individuais. Notória autoridade para poucos, e enorme descaso para com quase todos, situações que convivem os atletas em praticamente todos os rincões do planeta. São os proletários do esporte!


Simplesmente não há diferença entre o garoto pobre que deseja ser médico e o garoto que deseja ser jogador de futebol. Ambos dificilmente entrarão no "country club" dos bem sucedidos de qualquer uma das duas carreiras. Isso se, quase que milagrosamente, consigam chegar a entrar na universidade, seja de medicina, seja dos grandes clubes profissionais. A realidade é a mesma para ambos: é mais fácil serem forçados a abandonar seus sonhos a realizá-los. Entre o início e a glória, nenhum incentivo, inúmeras situações onde sequer direitos possuem, e uma carga de alienação tamanha a ponto de não conseguirem reagir contra os seus opressores: em ambos os casos, as grandes organizações privadas transnacionais. Até a glória, passam fome, são robotizados, treinados a aceitar como se de cabresto. E ao atingirem, algum destaque nas manchetes, e retornam para a dura vida desigual e desumana de suas sociedades. A foto de Cielo no alto do pódium estampada na capa dos jornais possui o mesmo efeito da foto do trabalhador dependurada na parede da empresa com os dizeres "funcionário do mês".


Para cada gol do milhardário Ronaldinho, o fenômeno, novos milhares de dólares entram em seus bolsos por ele ter usado a chuteira da Nike. Essa mesma Nike, que poderia patrocinar milhares de atletas, opta em patrocinar algumas dezenas. E essa mesmíssima empresa, suga de milhares de trabalhadores suas vidas para colocar alguns milhares no bolso de Ronaldinho, e alguns milhões nos bolsos de seus executivos. Extremamente lucrativo, para a Nike, bastante lucrativo para Ronaldinho, nada lucrativo para os trabalhadores da Nike, e a situação de total desamparo para o filho do trabalhador da Nike, que por não ter o que calçar, não pode ir à escola, sequer chegar a uma universidade de medicina. Mas a preocupação de nossos doutores, bem vestidos, e que batem bola para se divertir e com as mesmas chuteiras daquele gol que Ronaldinho fez, e que por isso ganhara alguns milhares de dólares, é apenas se o Brasil ficou à frente da Argentina no patético quadro de medalhas.


No esporte, assim como na divisão social do trabalho, basicamente há apenas duas classes: dos opressores e dos oprimidos. E quando atletas como Cielo se manifesta em denúncia, espanta os mais conservadores, enquanto os trabalhadores, alienados por seus trabalhos, não percebem que a realidade de Cielo é exatamente a mesma das suas: a de operar verdadeiros milagres a fim de ter segundos de glória, enquanto a grande parte da vida sequer possuem oportunidades, quanto menos incentivo por parte das instituições concebidas para prover as necessidades de seus povos. E, assim como aconteceu com Cielo, que um dia após a denúncia foi "obrigado" a baixar a guarda e aceitar as condições da CBDA, seu comandante-em-chefe, muitos trabalhadores são obrigados a aceitarem as condições de seus gerentes para que não percam a única condição de sobrevida no desigual sistema: seus salários.


Os atletas podem e devem cumprir a missão de se rebelar contra seus patrões. Nada têm a perder, senão seus grilhões. Atletas de todo o mundo, uni-vos (aos demais proletários de todo o mundo)!

2 comentários:

Queisse disse...

Booooa!
poucos conseguem refletir para além da teoria, raridade, camarada...
Realmente, a relação explorador X explorado não está encerrada nas fábricas: é social! E com o esporte não é diferente.
Valeu, mais uma vez, a visita!
Bjs

Marc Sousa disse...

Mr. Genofre

Cara esta é uma boa abordagem, é o capitalismo selvagem no mundo do esporte. Será que nos conforta a presença do Orlando Silva no Ministério?

Tem texto novo no meu blog, se puder dá um pulo lá: www.anexos.zip.net

Abraço