09 abril 2008

"Se o presente é de luta, o futuro nos pertence"




"Os saudosistas em geral e os detratores da UNE em particular lamentam que os estudantes e a entidade tenham mudado, não sejam os de outras épocas, como, aliás, as pesquisas não se cansam de constatar. Para ficar só na moda, o que querem eles: a volta do terno e gravata dos fundadores da UNE ou dos cabelos desgrenhados e da bolsa e das sandálias de couro bicho-grilo? Mas não é só moda. O estilo num sentido mais amplo, a linguagem, as relações, inclusive as de trabalho e as sexuais, tudo, enfim, está em permanente transformação, para melhor ou para pior, dependendo do ponto de vista. Como é que a UNE, uma das mais antigas instituições republicanas, poderia permanecer inalterada?" (Arthur Poerner).



Como é que o movimento estudantil e suas entidades poderiam permanecer as mesmas com todo o presente em constante transformação? O movimento estudantil, tardiamente ou com exatidão, compreendeu que o momento político é mais complexo, que a implementação de suas bandeiras de luta exigem um patamar mais elevado, bem como uma política melhor elaborada, sob o risco de ser atropelado pela imensa roda da história caso não se adapte com rapidez ao novo cenário político. Quem não entendeu o recado, está praticamente fora de combate, ínfimo em sua atuação entre a sociedade. O movimento estudantil que se mobiliza para apoiar o governador em sua luta contra o retorno da assombrosa censura, é o mesmo que, no mesmo dia, e para o mesmo governador, pugna por democracia, pelo fim das listas tríplices e eleições diretas para diretor, nas universidades estaduais e escolas estaduais respectivamente, querendo o fim desse outro resquício dos tempos de chumbo no Brasil. É exatamente o mesmo movimento estudantil que, em um mesmo dia, busca dialogar com a prefeitura de Curitiba sobre a possibilidade de ampliar os benefícios da meia-entrada estudantil e apanha da Guarda Municipal, já no dia seguinte, por exigir o passe estudantil. O que seria contradições tamanhas há pouco tempo atrás, hoje deve ser visto enquanto o cotidiano de entidades estudantis capazes de representar o estudante além das manifestações pelos seus anseios, mas na implementação real de suas bandeiras de luta.



Até pouco tempo atrás, o máximo que o movimento estudantil conseguia era sair às ruas e protestar, isso quando conseguia ir às ruas. Hoje, implementa propostas, debate de igual para igual com autoridades, elabora e promove atividades concretas de representação, conquistou espaço na sociedade e na política das comunidades, e continua indo às ruas protestar sempre que as portas se fecham ou quando a intolerância o ignora. Para qualquer pessoa, leiga ou profunda conhecedora do movimento estudantil, se não estiver com miopia política ou de má fé, chega facilmente a seguinte conclusão: as entidades estudantis estão mais representativas por terem conquistado maiores condições para o ato de representar.





Essa mudança no movimento estudantil, ainda aquém de seu pleno desenvolvimento, porém com capacidades representativas consideravelmente aprimoradas, conseguiu transpor a imagem de prefeito "da gente", das obras faraônicas de ano eleitoral, das pesquisas que apontam Beto Richa como reeleito antes mesmo do pleito se iniciar, e mostrar para a sociedade curitibana que os problemas que sempre atormentam a vida do curitibano continuam os mesmos, que a repressão continua sendo o mecanismo de defesa para todo aquele que ousar mostrar que o governo municipal continua hostil aos seus habitantes, que a prefeitura continua subserviente às verdadeira máfias do transporte coletivo e tantas outras máfias, e que negligencia as necessidades do trabalhador e dos estudantes para privilegiar os parasitas e sanguessugas do orçamento público. Sem dúvida, o movimento estudantil foi o único até agora capaz de atirar pedras na vidraça da imagem construída de Beto Richa. Isso incomodou os setores conservadores, que não economizaram em seus mecanismos de manipulação e repressão das massas. Nenhuma matéria da imprensa curitibana foi publicada sem distorcer absolutamente todos os fatos, pouquíssimos vereadores ousaram questionar o prefeito sobre a repressão utilizada, pouquíssimas entidades sociais saíram do muro, e pouquíssimos partidos políticos ousaram manifestar qualquer coisa sobre o assunto, seja contra ou seja à favor. E mesmo com tudo isso, com tantos obstáculos para superar, o movimento estudantil não pára. Intensifica ainda mais sua mobilização em resposta. E ainda assim, haverá quem diga, pior, há quem sobreviva com o discurso, de que o movimento estudantil está parado, imobilizado, aparelhado por partidos, governista, burocrata, blá, blá, blá, blá.

2 comentários:

Viviane Glenn Becker disse...

E que a luta continue sempre, para que o futuro nos pertenca. ;))
Bjus Micha !!

Anônimo disse...

Fala Michael

Bom texto, tenho algumas opiniões particulares, que inclsuve gostaria de dividir com vc, mas numa mesa de bar.

Mas a luta é valida, é tomar as ruas pra exigir um direito dos estudantes.

Abraço e se puder da uma passada no meu blog.