04 março 2008

Devaneios, espero!



No começo do século passado, o liberalismo mundial já demonstrava claros sinais de esgotamento e o mundo encaminhava para sua derrota em uma imensa fase de guerras e depressão econômica. O liberalismo necessita de colônias tanto quanto necessariamente de guerras para garantir seus monopólios. E ao mesmo tempo em que desenvolve o que há de mais avançado em tecnologia e novos padrões de consumo, concentra absurdamente nas mãos de poucos e instituições sociais todo o poder de decisão do mundo. Nessa mesma época, Carl Schmitt irá apresentar um verdadeiro tratado para justificar a necessidade de criação de um poder "decisório", ou seja, a soberania de um país deve ser entendida como a capacidade de se tomar decisões sobre casos de exceção sem a necessidade das leis, burocracias ou tratados. É a teoria embasadora do que mais tarde veio a se transformar o governo nazista, ou seja, uma ditadura sobre os demais governos em nome de um poder emanado de momentos de exceção.
Um século depois, a história se renova. O ápice econômico determinante não é mais o controle do monopólio férreo, mas o petróleo. O liberalismo se transformou no neoliberalismo. Quem adota o pensamento schmittiano não é mais Hitler, mas George W. Bush. Após o atentado de 11 de setembro, Bush inaugura uma colonização à força baseado no poder de exceção denominado Guerra Preventiva. E essa doutrina irá se alastrar como o nazismo se alastrou pelo mundo, colocando em situação tensa tudo e todos que ousem se manifestar contra esse poder "decisório". A ordem, para Bush assim como para Schmitt, baseia-se na decisão do governo, e não na consensualidade dos organismos políticos. A exceção faz a regra, e o país mais poderoso passa a ser a polícia do mundo contra os nefastos efeitos da democracia à sua necessidade de colonização.
Agora, assim como não se pode olhar para o passado e compará-lo imediatamente com a situação presente sem fazer a justa consideração dos momentos históricos distintos, também não se pode analisar o presente com base em um pensamento do passado. Coisa que intelectuais e imprensa brasileira fazem por demais. A caçada anticomunista é a mesma da década de setenta, o apoio ao poderío ditatorial dos Estados Unidos aos governos do mundo é também o mesmo da década de 70. E a noção de desenvolvimento, como não poderia ser diferente, a do milagre econômico.
A resposta da América Latina ao neoconservadorismo, ou neoschmittismo, não é um neoliberalismo reformado, nem tão pouco um socialismo deturpado e extremamente individualista de uma União Soviética da Guerra Fria. Ela é essencialmente de uma visão de centro-esquerda, com alguns enfoques marxistas em alguns governos pintados de socialistas do século XXI. Porém, o neoconservadorismo latino-americano é, ao mesmo tempo, lacaio e parasitário do ditador do mundo Geoge Bush.
Assim, temos o cenário dessa semana. Colômbia, de Uribe, lacaio e parasita do neoschmittiano George Bush e sua guerra preventiva em solos de outras pátrias e uma imensa necessidade de colonizar povos e governos inteiros. Do outro, governos de resistência, de pelo menos princípios marxistas como a Venezuela e Equador. E entre esses, centro-esquerdistas como o Brasil, Chile e Argentina, que reprovam a política neoconservadora, mas que nada além de uma fraca mediação podem fazer pois também, de uma certa forma, disputam internamente o poder com seus próprios neoconservadores e não adotam medidas de ruptura com o grande ditador mundial, apenas frágeis e temporárias liberdades.
Não será surpresa uma guerra tropical, afinal, assim como o imperialismo necessita de colônias e a resistência leva à guerras, a resistência tropical vai no caminho do enfrentamento. Mas será uma imensa surpresa as Farc-ep enquanto quinta coluna bolivariana. Será surpresa um Brasil adotando a oportunista política de fornecimento de armas para ambos os lados e se consagrando o imperador das bandas sul-equatoriais. Será surpresa a Argentina de Señora Cristina se envolvendo em conflitos em nome de uma soberania de seus "vecinos", mas apoiando a Colômbia por conta dos problemas de abastecimento provocados pelos "neo-marxistas do século XXI" Bolívia, Equador e Venezuela. O Chile, que vai buscar a neutralidade o tempo todo, mas de olho nos acres desejados há anos do território de seus vizinhos do norte. E o pobre Paraguai, com Lugo na Presidência, não poderá muito mais do que ficar atado, com um governo inteiramente novo e sem grandes condições de participar de um conflito internacional, restando-lhe o papel de "Casablanca", território livre para brasileiros, bush-uribenhos e bolivarianos negociarem sinistros acordos de guerra. Contra os Estados Unidos, que buscará também se aproveitar da situação atacando a petroleira Venezuela e fornecendo armas para a Colômbia, estarão Alemanha e França, que provavelmente apoiarão, de longe, e financeiramente a política de guerra do Brasil.
E assim, morrendo de medo do sombrio futuro, prefiro continuar acreditando que tudo isso que eu disse agora sejam apenas devaneios. Paródia torta, análise internacional esfarrapada. Torcendo para que seja mais um caso de história repetida apenas enquanto farsa, não como tragédia.

Um comentário:

Anônimo disse...
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