01 março 2011

Oscar 2011: os melhores do ano estão entre "O Discurso do Rei" x "A Rede Social"?


Concordo com a Gazeta do Povo quando diz que venceu o academicismo formal. O problema é que o duelo entre os favoritos não se dá pela qualidade dos filmes. Analisando os indicados ao Oscar de melhor filme (A Rede Social, 127 horas, Cisne Negro, Toy Story 3, O Discurso do Rei, O Vencedor, A Origem, Bravura Indômita, Minhas Mães e Meu Pai, e Inverno da Alma) a maioria dos jornais brasileiros seguiram um apanhado do que os jornais americanos diziam ser os favoritos sem muitas críticas. Afinal, fácil critério, pois os membros da Academia são justamente os maiores colunistas de muitos destes jornais e a princípio eles deveriam saber do que estavam falando.

Acontece que não é de hoje que os critérios para o Oscar são muito mais financeiros do que artisticos - mesmo que haja um esforço oficial, mas ainda não real, de se tornar uma premiação artística. Se o Brasil quiser uma estatueta dourada, basta consumir menos Hollywood que ela virá com toda certeza. Quem duvida, olhe para a quantidade de premiações para filmes argentinos e europeus. Eles consomem bem Hollywood, são portanto clientes fortes. Mas, consomem também muitas produções iranianas e locais e isso faz com que o cinema estadunidense fature menos. Um Oscar faz de um filme completamente desconhecido um fenômeno de vendas. Isso quando um fenômeno de vendas não faz um Oscar.

O suposto duelo entre "A Rede Social" e "O Discurso do Rei" reflete bem a noção de que as vendas ainda fazem o Oscar muito mais do que um bom filme. A crítica se acostumou a bajular "A Rede Social". Natural, pois desde sua estreia ele tem sido avassalador em praticamente todas as premiações pelas quais ele concorreu. Tornou-se portanto, o filme mais falado e comentado do ano. Uma re-invenção do "sonho americano" sob a persona de um vilão, ou talvez não segundo a lógica da grana. É um filme verborrágico, para quem não tem sequer noção de inglês certamente irá perder mais da metade do filme, pois a legendagem sofreu para acompanha-lo. Aliás, linguagem é tudo neste filme, o que o torna difícil de ser digerido. E se uma pessoa não estiver ambientado com o "Facebook" então, não terá noção do tamanho que a coisa ganhou - e que faz a comemoração do milhonésimo usuário algo risível. Mas, chegando ao fim do filme, fica na memória do espectador a reflexão: não há o que faça esse filme ser tão premiado senão pelo sucesso do objeto que foi tratado no longa. E na minha, ficou ainda a sensação de esnobismo estadunidense em considerar o Facebook a invenção do século mesmo tendo sido lançado um tempão depois do Orkut já ter sido uma febre aqui no Brasil. Ficou aquela sensação de Irmãos Wright ganhando a fama de inventores do avião quando o primeiro por propulsão própria foi o 14 Bis do nosso Dumont.

"O Discurso do Rei" é um ótimo filme, não há dúvidas. Mas sobre ele ser o melhor do ano tenho as minhas. Passa-se na tela grande um filme com excelência em todos os aspectos técnicos, mas assim, plasticamente, sem arriscar o pescoço em absolutamente nada. Perfeito como uma redação nota dez de algum concurso vestibular: tecnicamente exata, mas sem qualquer espaço para genialidades. Até mesmo para o coup de cinéma o filme não arrisca e dá uma solução humorada e rápida. É realmente um filme, como diria Rubens Edwald Filho, bom para ganhar prêmio. Em seu enredo, encontramos uma aproximação plebeia para acompanhar as transformações que a família real inglesa começou a passar ao longo dos 20 anos de crise, como diria Carr. O filme faz com que o público ganhe simpatias na medida em que o súdito vai se tornando amigo do rei. E, por consequência, sai do cinema sentindo-se parte da nobreza dos York.

Diante de tantas questões que fazem o Oscar objeto de ironia até mesmo dos Simpsons (lembram-se do Homer jurado de um festival de cinema, votando justamente no que mais tarde seria o vencedor do Oscar?). Infelizmente, em Curitiba, vários indicados ao Oscar somente chegarão aqui, e se chegarem, a partir da notoriedade recebida após a premiação gringa. Mas, dentre os poucos que chegaram, esbanja intensidade e outras qualidades os filmes Toy Story 3 e Cisne Negro. Em se tratando à arte de se contar uma história, deveria ser deles a disputa. São filmes "cheios". Você sai farto do cinema. Carrega na memória durante um tempão. Se impressiona, vibra, torce, enfim, vários elementos que a técnica e a plástica apenas seriam irrelevantes diante de tanta informação bem distribuida e bem contada. Coisa que não acontece nem com "A Rede Social" e nem com "O Discurso do Rei".

Dentro em breve tanto "Cisne Negro" e "Toy Story 3" serão reverenciados pelos cinéfilos de todo mundo, passando a pertencer à seleta lista dos memoráveis de todos os tempos. Já "A Rede Social" e "O Discurso do Rei" fatalmente cairão no esquecimento imediatamente após não mais render cifras para a multimilionária indústria do entretenimento do qual o Oscar costuma consagrar anualmente.

Ósculos e amplexos!

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