11 março 2011

Bruna Surfistinha: boa produção menos fraca biografia é igual a um filminho bom

Alguém se lembra de "Cristiane F. ...13 anos, drogada, prostituída"? Fez um alvoroço danado quando foi lançado. Teve um destaque profundo principalmente nas escolas devido às zelosas professoras que buscavam a todo custo mostrar aos seus aluninhos que a contra-cultura, por tantos endeusada, possui contra-indicações. E a linguagem do cinema era ideal para essas zelosas professorinhas, pois presumiam que seus aluninhos tinham uma certa aversão à leitura. Pois é, o problema é que as melhores e mais interessantes partes da história ficam no livro.

Bruna Surfistinha tem um pouco disso. Baseado em "O Veneno do Escorpião", livro de Bruna Surfistinha/Raquel Pacheco que se tornou um senhor best seller. Afinal, tinha a receita certa: apesar de limitações sérias tanto na narrativa quanto nos aspectos literários, trata-se de alguém do submundo, do mundo paralelo da prostituição, conversando com os ditos normais do mundo real. E a sua mensagem era: o que lhes chocam, aqui é cotidiano. O mundo paralelo é mais real do que se imagina. E ao longo de histórias, por vezes cômicas e por vezes capazes de provocar ânsias de vômito. O livro provoca o imaginário ao mesmo tempo que apresenta, em variadas e descontroladas doses, o mundo de muitas mulheres.

Estamos falando, porém, de cinema. E, infelizmente, nada disso, ou talvez apenas um pouco disso, aparece no filme. A boa produção e os aspectos técnicos surpreendem. Certas limitações na interpretação de Secco, principalmente na parte pré-surfistinha, são corrigidas com inteligentes ângulos de câmera. E as partes em que Secco demonstra que de uma longa carreira televisa sai excelentes momentos interpretativos ganham um tratamento mais do que especial da composição de luzes, câmeras e fotografias. Mas, quem vai ao cinema querendo ver como "nasce" uma meretriz, decepciona-se. Quem vai para ver a empreendedora, decepciona-se. E quem vai para ver uma versão brasileira de Cristiane F. se arrepende da infeliz ideia.

Enumerando o que o filme tem de bom, na pole position se encontra a publicidade. Assim como o seu blog, Bruna Surfistinha se vende muito fácil. Segundo, temos uma produção de qualidade. Terceiro, temos as curvas e seios de Secco. E, lá no fim, em último lugar, a história.

Há sérios problemas em se dar tratamento de heroina a uma prostituta. E o filme carrega este drama o tempo todo. Faz de Bruna uma heroina, sem querer fazer isso. Aliás, o "morde e assopra" está presente ao longo de toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que cuspir o que um cliente ejaculou foi pesado, foi leve demais a personagem ter apenas olheiras profundas quando estava internada no pó. Ao mesmo tempo em que o filme tenta apresentar um drama, não perde o jeitão de documentário auto-biográfico. E quando finalmente o corpo cobra a fatura e acontece uma overdose, ainda assim a personagem vende o clichê de vencedora da contra-cultura, que conseguiu tudo o que queria por esforços próprios. É ou não uma heroína?

O filme opta por pegar o que há de mais fraco na biografia de Bruna Surfistinha. E peca em uma série de abreviações. Agrada para quem quer apenas se entreter, irrita cinéfilos. É um filme bonzinho, nada mais do que isso, porém muito, mas muito comentado.

Ósculos e amplexos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Afinal? quem é aquele cara q vive no pé dela....é o homem com quem ela é casada hoje? o fim do filme mostra q ela continua a fazer programas....

Michael Genofre disse...

Olá, Anônimo...

Um pouco antes de subirem os créditos recebemos a informação de que ele é o marido dela e que ela não mais faz programa. No livro, é ele também, mas muito mais humano e real.