13 abril 2010

Bacharelado Interdisciplinar.


Confesso que ainda não estou seguro sobre a novidade, mas, à princípio, aplaudo a iniciativa. O bacharelado interdisciplinar (BI) é a primeira iniciativa, de fato, que aproxima a universidade brasileira das necessidades do país para o século XXI. Com o BI, a estrutura de um grande conglomerado de cursos (herança dos tempos militares) se transformaria em algo mais próximo ao conceito mais amplo de universidade: interdisciplinar e crítica (adotada em quase toda a América Latina e nos Estados Unidos).

A novidade resolve rapidamente um dos primeiros grandes problemas do ensino superior brasileiro: a baixa idade dos universitários. O estudante, hoje, tende a entrar na universidade com 17 anos, e se formando por volta dos 21. Ou seja, a grande maioria desses jovens ainda não tiveram tempo para um amadurecimento crítico para exercer seu papel crítico na sociedade e uma profissão de nível superior. Outro problema que a novidade ajuda a resolver é a elevação do acesso à universidade. Ajuda a resolver, pois amplia significativamente a oferta de vagas de acordo com a estrutura geral da universidade, e não mais de acordo com a estrutura de um curso específico. Além de outros benefícios como a de se ter uma educação superior interdisciplinar, trazendo novos elementos críticos e amplos durante a formação do estudante; diminuição significativa da evasão universitária por motivo de arrependimento do curso escolhido; e assim por diante.

É claro que para cada ponto à favor há um ponto contrário. E todos os pontos devem ser analisados criteriosamente pela comunidade acadêmica e pela sociedade em geral. Mas os poucos pontos contrário a que tive acesso apenas reforçaram que a ideia do BI, na soma dos fatores, é uma excelente iniciativa.

Dos pontos contrários levantados, e dos quais mais tem sido abordados pela grande imprensa, dois me deixaram preocupado:

O primeiro, quanto à qualidade do ensino devido o aumento no número de estudantes. Isso somente é verdade na relação matemática de que para cada um estudante que se soma a uma sala de aula, as atenções do professor obrigatoriamente será dividida. Entretanto, a universidade não se resume na relação professor, aluno e sala de aula. Aliás, essa relação deveria ser uma parte muito pequena se considerarmos que estamos falando de bacharelado. A relação na univesidade deve ser muito mais pesquisador e pesquisando do que professor e aluno. E, quanto mais interdisciplinar e quanto maior for o número de pessoas contribuindo com pesquisas científicas e tecnológicas, melhor se torna a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão universitária.

O segundo, quanto à migração dos insuficientes. Não acredito que seja uma preocupação plausível, uma vez que durante os anos iniciais, o estudante vai direcionando seu curso para a área específica. Além disso, esse argumento esconde um preconceito. Quem disse que um curso é melhor ou pior que outro, quando na verdade apenas são diferentes? As exigências para se especificar em um curso como medicina apenas são diferentes do de um curso de enfermagem. O risco de uma migração dos insuficientes da medicina para a enfermagem, por exemplo, não tem o menor cabimento, uma vez que na medida em que avança no BI, o estudante tem que ir escolhendo o seu direcionamento. E, como no exemplo, enfermagem e medicina são áreas diferentes, diferentes são suas necessidades específicas. O insuficiente simplesmente não estará apto para nenhuma delas, e portanto não fará nenhuma delas, não havendo migração.

Com certeza que há inúmeras desvantagens, mas por enquanto nenhuma ainda me convenceu pela inviabilidade da proposta de BI. Mesmo que eu, conforme dito acima, não tenha ainda opinião formada sobre o assunto.

Aceito mais contribuições para melhor opinião. Ósculos e amplexos!

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Diário de um intercambista: os resultados dos exames de proeficiência idiomática saíram. E, para minha supresa, meu inglês é melhor que meu espanhol. Mas obtive a média necessária em ambas para o ingresso na universidade estrangeira. Agora, é só esperar a burocracia do lado de lá para começar a organizar as malas. Continuem me desejando sucesso, amigos e amigas.
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O peixe morre pela boca: fui fazer uma brincadeira com um amigo sãopaulino quando o Rogério Ceni perdeu aquele pênalti horroso (há dois jogos atrás, quando o goleiro do SPFC tocou a bola pro goleiro adversário, com paradinha horrorosa e tudo) pelo twitter. Mas, não acompanhei o jogo inteiro, pois outros compromissos me afastaram da televisão. Quando voltei, o SPFC havia feito cinco gols no adversário. Não deu nem tempo de apagar o tweet enviado, e com todo direito do mundo houve a tripudiada. Está aqui feita a auto-crítica: o jogo só acaba quando no apito final do árbitro.
O peixe morre pela boca (2): Após o jogo, outro amigo sãopaulino pegou carona no vacilo que eu dei pelo Twitter e disse: São Paulo vai atropelar o Santos nos dois jogos... pois é, o peixe ou melhor o Santo Paulo, morre pela boca!
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Estão abertas as inscrições para um concurso de contos mórmons. Aceito sugestões para que eu possa inscrever algo. Mais informações, em um post futuro.

31 março 2010

Professores e professores.


Se toda generalização é burra, então não devo generalizar. Mas como há professor que acaba sendo um crime sua presença em sala de aula. Seu desrespeito para com a inteligência dos estudantes chega a ser um desrespeito para com todo o investimento feito para que se tornasse professor. Há alguns que fazem questão de retroceder décadas na evolução da educação.

Obviamente que há estudantes e estudantes. Há os que se dedicam, que realmente dão o sangue para se apropriar ao máximo de todo conhecimento que a academia pode oferecer. Mas, há também aqueles que não se importam nenhum um pouco com nada. Às vezes, possui um pé em uma infância que deveria ter ido embora há tempos. Mas, bons professores deveriam saber lidar com cada um desses tipos, bem como os intermediários. Deveriam valorizar os bons estudantes e incentivar os nem tão bons assim a descobrirem o seu potencial. Mas, infelizmente, muitos jogam no lixo qualquer possibilidade disso. E apela para a punição, para a perseguição, para a valorização do caos em sala de aula. Sendo absurdamente autoritário, confundindo isso com respeito.

Lembro-me de um professor de matemática. Ele é famoso em Curitiba. Reza a lenda que aos 18 anos de idade, ele já dava aula. Isso nos idos de 1960. Tive a sorte de ter ele como meu professor no (antigo) Segundo Grau, no Cursinho pré-vestibular, na UFPR, e na PUC. No auge de seus mais de quarenta anos de carreira docente, nunca vi ele levantar a voz. E é um professor que se orgulha de nunca ter mandando nenhum estudante para fora de sala de aula. Absolutamente humilde. E, basta sua presença em sala para que todos o respeitem. Todos reconhecem que se trata de um dos maiores matemáticos do Paraná (talvez da América do Sul), mas todos o admira pela sua capacidade de dar aulas. E é um professor que não enxerga os estudantes como um problema, mas como seres humanos, adultos, que estão em sua sala de aula para aprender independentemente seu grau de compromisso. E, fundamentalmente, é um professor que não teme as novidades e está sempre se atualizando. (O nome do professor é Domênico... que ao lado do professor Jessé e do professor Lúcio; foram os melhores professores de matemática que eu tive).

Infelizmente, essa não é a realidade para todos os professores. Como gostaria que todos fossem assim. Dedicados e preparados. Que todos tivessem o mesmo respeito e carinho pelos estudantes que tem o professor Domênico. Infelizmente, a realidade nos oferece péssimos professores. Infelizmente, a educação brasileira anda para trás também graças aos maus professores.

E o estudante, invariavelmente, fica refém dos maus professores. Sempre levam a culpa pelo mau exemplo dado pelo péssimo docente. Até quando?

Ósculos e amplexos!
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PS* Em Ponta Grossa, na famosa Avenida München, tem uma placa escrita "Ponta Grossa, tô gostando" (sic). O interessante é que, para vê-la, é necessário olhar pelo retrovisor. Coisa marota, não?

PS*² Não posso deixar de comentar. Ainda que tenha amado Porto Alegre, algumas coisas não puderam passar desapercebidas. Ao tocar o solo do aeroporto, vi no alto de um prédio os dizeres: "Vipal" (obviamente que é de uma empresa séria... mas o trocadilho foi inevitável).
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Diário de um intercambista: realizada as provas do DELE e do TOEFL! Agora, a ansiedade pelo resultado que sairá tão somente na sexta-feira! (aos que desejaram sorte, meu mais sincero muito obrigado).

27 março 2010

Memórias de viagem: Porto Alegre


"You can't always get what you want... but if you try, sometimes, you might find get what you need!" (The Rolling Stones).

Essa frase, junto com a música, junto com outra frase - "Quando eu ando meio down, vou pra Porto e ... bah! ... Trilegal!" - acompanhou-me ao longo de toda a minha curta estadia em Porto Alegre.

Amei Porto Alegre. Tive a oportunidade de conhecer os centros culturais Mário Quintana e Érico Veríssimo; que dentro deles havia exposição sobre a luz, sobre Lupicínio Rodrigues, Elis Regina, e uma maravilhosa sala contendo brinquedos das décadas de 40 aos dias atuais.

Havia também uma mostra da cultura guarani e sua imensa contribuição para a formação cultural brasileira (ainda que hoje o núcleo guarani se limite em menos de cinco mil pessoas no Brasil; isso que já foram a maior concentração de um mesmo povo em terras sul americana). O som que eles fazem é simplesmente fantástico (fiquei imaginando uma fusão com outros instrumentos. Uma proposta interessante para os amigos músicos de plantão). Tudo isso em uma mesma rua.

O circuito boêmio da Cidade Baixa e da Calçada da Fama foram mais do que aprovados pelos "pueblos del Paraná". E foi impressionante a bela receptividade do portoalegrense. Realmente, uma capital excelente.

Como nem tudo pode ser perfeito, avião lotado, muita turbulência (na decolagem, durante o voo, e o pânico total com a turbulência do pouso), e muito atraso. Além disso, a dificuldade em se fazer uma conferência realmente democrática por parte dos seguidores da governadora Yeda fez com que o brilho do debate sobre ciência, tecnologia e inovação se perdesse um pouco.

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Parabéns ao PCdoB pelo seu aniversário. Estive nas comemorações em Porto Alegre, e a festa foi bonita.
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Realmente nem tudo é perfeito: Cordel do Fogo Encantado anunciou o fim da banda e a saída de seu vocalista e performista Lirinha. É realmente uma pena... são 11 anos de trabalho de encher os olhos.
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Futebol: assisti o jogo Internacional 0 x 3 São José... Com um senhor golaço, e uma tremenda frustração de meus amigos que estavam assistindo comigo (todos colorados).
-> Mas no paranaense, o Coritiba fez 1x0 no Paraná, confirmando seu favoritismo ao título. Feio foi a "confraternização" das torcidas. Até quando?
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Ósculos e amplexos, depois volto com mais notícias do Cozinha.

PS* Diários de um intercambista: está marcado o meu teste de proeficiência linguística. Desejem-me sorte!

24 março 2010

Fotos: Anderson L. Fasolin

Não foi um ato numeroso, mas ninguém esperava que fosse. Convocado de afogadilho, devido a necessidade de demonstrar a preocupação dos estudantes com os escândalos da Assembleia Legislativa do Paraná, às pressas, as entidades convocaram um ato, ontem. Havia entre 50 e 100 pessoas, mas isso não é o mais importante. Ali nasceu o início de uma série de atitudes que serão tomadas pela sociedade civil organizada.

As entidades estudantis já marcaram para a próxima quarta-feira, dia 31 de março, novo ato. Dessa vez com um pouco mais de tempo para mobilização, e convidando outras frentes de luta, sindicatos, e população comprometida com a transparência pública.

Eu creio que haja a necessidade de uma CPI mista da Câmara e do Senado Federal, que junto com as investigações do Tribunal de Contas do Estado e Ministério Público, e também da Polícia Federal, apurem todas as denúncias e vasculhem também outras caixas pretas existentes não somente na ALEP, mas também na Urbs, Câmara Municipal de Curitiba, Prefeitura municipal. Afinal, os apontados pela denúncia da RPC são de um grupo político em comum a todas estas. Bibinho é criação do finado Cury, que foi o mesmo que praticamente criou os grupos políticos que comandam a Urbs, prefeitura, etc (ainda que Beto Richa tenha seu pai como ilustre figura contrária ao Anibal Cury, sua participação política é marcada pelos consortes de Anibal há décadas no comando da prefeitura curitibana).

Ósculos e amplexos!

Carta dos bairros de Curitiba para Fórum Social Urbano

Trecho do Parolin, menos de 10 km do centro de Curitiba.

Repasso a carta do bairros de Curitiba na íntegra

Ósculos e amplexos.

No dia 21 de março de 2010 reuniram-se na sede da Associação Comunidade Itaqui moradores de vários bairros de Curitiba e Região Metropolitana, e deliberaram pela redação da carta abaixo, para que seja lida e discutida no Fórum Social Urbano, fazendo com que sua mensagem circule onde quer que haja lutadores pela moradia digna.

"Os moradores da periferia de Curitiba e Região Metropolitana cansaram de viver sem água potável. As crianças desses bairros não nasceram para beber água suja nem para tomar banho nas cavas geladas do Rio Iguaçu e do Rio Passaúna. Suas mães e pais não agüentam mais madrugar aos domingos para apanhar água no córrego mais próximo, machucando a coluna com latas pesadas, só para poderem lavar os uniformes que são obrigados a vestir no trabalho.

Os moradores da periferia de Curitiba e Região cansaram de viver sem energia elétrica. Não querem mais que seus rapazes se matem porque a luz não é suficiente para abastecer dois vizinhos ao mesmo tempo. Não aguentam mais serem congelados nos banhos noturnos e não suportam mais passar medo tarde da noite, quando seus filhos, netos, maridos e esposas voltam do trabalho, nas ruas entrevadas.

Os moradores e trabalhadores das cidades do Paraná já estão saturados de ameaças vindas de empresas, jagunços, estelionatários, prefeituras e governos, só porque insistem em ter uma casa para morar. Não mais toleram ações de reintegração de posse criminosas propostas por empreiteiros, nem policiais agindo sem identificação na calada da noite, e muito menos grileiros farejando como hienas as casas em que moram.

Os moradores da “Capital Social” e dos municípios que a rodeiam não vão mais aceitar serem despejados dos terrenos para as calçadas, e depois das calçadas para o nada, e do nada para a morte. Não tolerarão mais assassinatos cometidos pela polícia covarde e pela covarde Guarda Municipal, e pelos covardes jagunços das empreiteiras covardes.

Sobretudo, os moradores de Curitiba, Piraquara, Pinhais, São José dos Pinhais, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu e tantos outros municípios não agüentam mais serem tratados como não-cidadãos enquanto produzem sem cessar a riqueza de suas cidades, de seu país e do mundo.

Unidos, os moradores da capital e da região metropolitana exigem moradia digna, transporte gratuito, água e luz de verdade e recursos públicos para todos.

Por todo o mundo, Curitiba é apontada como modelo, como ilha de prosperidade em um país pobre. É verdade que há riqueza, mas ela só existe às custas da exploração e do sofrimento da imensa maioria da população. São os dois milhões e meio que não aparecem na coluna social, que não podem ir ao médico, ao cinema ou ao Festival de Teatro, que não conhecem os parques e os cafés de que a Capital tanto se orgulha, mas que produzem cada centavo que enche os bolsos dos ricos.

Chega! Os trabalhadores de Curitiba e região metropolitana denunciam ao mundo inteiro que não vão mais aguentar a opressão e a conivência das autoridades com ela. Hoje se inicia uma nova etapa da luta, e que os camaradas na mesma situação por todo o Brasil saibam que ela continuará e crescerá!"

São José dos Pinhais, 21 de março de 2010

20 março 2010

... E o Cozinha aprende a ser diário: diário de um intercambista n. 1

Foto: Eu, Carol e Thyara no churrasco em Londrina - 12/03/10

Que delícia! Em plena sexta-feira comendo um churrasquinho, sem camisa, ao fortíssimo sol que estava fazendo no norte do Paraná. Foi uma forma de homenagear Heitor, o filho da anfitrã Lili.

Não, o blog não está perdendo sua originalidade. É a vida dando voltas mesmo. Depois dessa viagem para Londrina, onde fui para a formatura do meu irmão, dei entrada em toda a papelada para meu intercâmbio. Então, pelos próximos meses estarei totalmente envolvido nessa nova jornada.

A melhor forma de compartilhar com meus amigos e minhas amigas as experiências dessa nova viagem, resolvi fazer do meu blog aquilo que ele acabou nunca sendo: um diário virtual. Mas, aviso, é temporário. É até que essa viagem termine.

Então, desejem-me sorte e sucesso... irei precisar.

Ósculos e amplexos, e acompanhem o diário de viagem.

Michael Genofre

* Não pude deixar de comentar: soou um tanto estranho passar no intervalo de "O Show de Truman" quase dez minutos de Big Brother Brasil 10 ao vivo. Piada de mau gosto ou trabalho do Chik Jeitoso? (um abraço para o Esmael)

* Impressionante como sempre ignoramos as coisas óbvias. Dizem que o melhor período do intercâmbio é a sua preparação. Por enquanto está dando o óbvio: muita correria, e muitíssima burocracia (que chega a ser insana). Sinceramente, se esse é o melhor, estou com medo do que virá.

* Por fim, uma música que acabei de me lembrar: "apenas apanhei à beira-mar um taxi para estação lunar".

19 fevereiro 2010

"É proibido fumar..."

Não tenho a menor competência para versar sobre a constitucionalidade ou não da
chamada Lei Anti-Fumo adotada em estados como São Paulo e Paraná. Apesar de
sólidos conhecimentos em Direito devido a minha formação em Relações
Internacionais, não posso sequer me considerar apto a me comparar aos juristas
que fizeram toda a faculdade de Ciências Jurídicas e que já estão em um
verdadeiro debate quanto a esse tema. Minha contribuição será de outra forma
.
Uma coisa é fato: ir e voltar sem feder a cigarro é sem
dúvida a melhor contribuição que essa Lei nos trouxe. Entretanto, ela acaba
escondendo outras coisas realmente preocupantes. Primeiro, a transferência para
a população quanto a suas preocupações com o hábito de fumar.
-> Já senti na pele a dificuldade que é parar de fumar,
principalmente pelos meios públicos. O telefone que está impresso em todos os
maços de cigarro simplesmente não atendem e nos fazem escutar horas de
musiquinha xarope. Os postos de saúde tem requintes de crueldade ao tratar com o
tabagista (me ofereceram o tratamento em cinco lugares diferentes, mas um mais
distante que o outro de minha casa ou de meu trabalho). Mas, a propaganda de
cigarro brilhando em postos de gasolina, bancas de jornais, esses continuam lá e
cada vez mais atraentes.
-> Mas, a radicalidade da campanha contra o tabagismo está
na velha solução do Estado: proibindo, castrando, multando, fazendo com que um
seja o fiscal do outro.
-> A minha geração cresceu associando liberdade com um
maço de "FREE", sucesso com "Hollywood", raro prazer e sofisticação com
"Carlton", e um mundo de sabores no mundo de "Marlboro". Campanhas descaradas
chamando a juventude para o hábito de fumar, com Hollywood Rock e Free Jazz
Festival para todos as tribos se entupirem de cigarro. Pior a geração de meus
pais e avôs, que cresceram vendo seus herois no cinema e na televisão dando um
imenso glamour ao hábito que hoje é considerado um ato de estupidez. Gerações e
mais gerações associaram "a hora feliz" ao de tomar umas bebidinhas, conversar
com os amigos e fumar e fumar. Inclusive, até pouco antes da famigerada Lei, o
Narguile se tornou uma febre entre a juventude das principais cidades do
país.
-> Minha mãe me conta que brigou muito com meu pai. Não
por ele fumar, mas por ele insistir para que ela fumasse. Quem não fumava era
brega...
-> Agora, o combate ao fumo simplesmente desrespeita todas essas gerações.
Passa por cima da sua obrigação de dar condições de re-habilitação aos
dependentes da nicotina e do tabaco, e simplesmente proibe com ameaças de multas
e fechamento de estabelecimento em nome de uma postura de tolerância zero. Logo
em um país que havia há tempos dando provas de que esse radicalismo adotado na
Europa e nos Estados Unidos não gera tanto resultado como uma boa campanha pelo
bom senso e com incentivos reais para parar de fumar (e que simplesmente sumiu
da agenda política em todos os Estados da federação).
-> Na própria Europa mudanças significativas a essa lei já
estão sendo estudadas devido os transtornos que surgiram. O primeiro, que os
fumantes acabam fumando mais do que o de costume quando dão aquela saidinha para
dar umas tragadas. Fumam seguidamente dois ou até três cigarros, isso o fumante
mais brando, em cada saidinha. Segundo, o barulho aumentou significativamente
nas ruas e as bitucas ao chão também (uma vez que se é proibido cinzeiros mesmo
fora do estabelecimento e muita gente fica entrando e saindo, aumentando o
ruído). Terceiro, a criminalidade próxima dos estabelecimentos aumentou. Os
clientes ficam mais expostos quando antes estavam protegidos em suas mesas.
Enfim, inúmeros problemas, e nenhuma redução significativa nem dos fumantes
ativos e nem das doenças nos chamados fumantes passivos.
-> Na própria Europa, novamente, já se estabeleceram novos
critérios, como a dimensão mínima do estabelecimento para que se crie
"tabacódromos". Em estabelecimentos com mais de 100 metros quadrados, pode-se
reservar uma área onde se comercializa somente o cigarro e o fumo (e mais nada).
Medida adotada em Portugal, Espanha, e França. Na Turquia, um dos países onde é
assustador o número de fumantes (cerca de dois a cada três adultos fumam),
inúmeros protestos pertubam o sossego dos governantes devido a "imposição
radical" do Estado sobre os cidadãos.
Enfim... Continuo adorando sair à noite e voltar para casa sem maiores odores do cigarro. Continuo achando graça quando viajo para Santa Catarina (onde não há essa lei) e somente vejo os curitibanos saindo para dar uma tragada enquanto os demais fumam em suas próprias mesas. E continuo achando que essa lei não é uma boa, apesar da inúmeras vantagens.
Ósculos e Amplexos!

08 fevereiro 2010

Digestivo cultural: a difícil arte de se interpretar Dylan.


Todos conhecem Bob Dylan. Suas músicas nem sempre são fáceis de se compreender, tampouco de se executar. O próprio Bob Dylan possui limitações imensas para executar suas próprias composições. O que, ao mesmo tempo foi um grande incentivo para inúmeros compositores. Afinal, sobreviver de direitos autorais enquanto o dono da bela voz faz todo o sucesso não é nada fácil (não é verdade, Lou Reed?).

Hoje, proponho uma investigação sobre uma composição de Bob Dylan: "One More Cup of Coffee".

A primeira exibição é do próprio Bob Dylan. Com sua voz inconfundível e os arranjos bastante marcantes.

Depois, temos a belíssima voz da turca Sertab Erener. Ela coloca um fundo grandioso, elementos da música turca, além da impressão de grandiosidade em toda a composição.

Notem que a batida permaneceu a mesma em todas as músicas, deixando para a letra a entoação mais dramática da música. Mas, o mais fantástico é quando The White Stripes incorpora a ideia do "Valley Bellow", dando um clima "Farwest" à música.

Para mim, vence a composição de The White Stripes (como pode apenas duas pessoas produzirem tamanha musicalidade?).

Bom proveito, e aguardo as opiniões e comentários.

"One More Cup Of Coffee (Valley Below)"

Your Breath is sweet, your eyes are like
Two jewels in the sky
Your back is straight your hair is smooth
On the pillow where you lie.
But I don't sense affection
No gratitude or love.
Your loyalty is not me but to the stars above

Chorus :
One more cup of coffee for the road.
One more cup of coffee for I go,
To the valley below.

Your daddy he's an outlaw
And a wanderer by trade.
He'll teach you how to pick an choose
And how to throw the blade.
And he oversees his kingdom
So no stranger does intrude.
His voice it trembles as he calls out
For another plate of food

Chorus

Your sister sees the future
Like your momma and yourself.
You've never learned to read or write
There's no books upon your shelf.
And your pleasure know no limits
Your voice is like a meadow larks.
But your heart is like an ocean
Mysterious and dark.








26 janeiro 2010

Desfazendo uma injustiça com a Justiça.

Como diria Dalton Trevisan: "província, cárcere, lar - esta Curitiba, e não a outra para inglês ver, com amor, viajo, viajo, viajo". Dentre suas histórias, uma que faço sempre questão de contar para quem chega de outras cidades é a gambiarra que se tornou o Centro Cívico. Mais especificamente, a praça 19 de Dezembro.

Para comemorar o centenário de emancipação política do Paraná, o governador da época , Bento Munhoz da Rocha Neto, ousou em planejar o que seria o Centro Cívico de Curitiba. Planejar um todo conjunto arquitetônico para ser, ao mesmo tempo, sede dos três poderes do Estado mais a prefeitura da sua sede política, e também um conjunto multifuncional era coisa inédita no país. E tal ousadia somente iria se repetir quando do projeto de Lúcio Costa na construção de Brasília. No Paraná, para o nosso "plano piloto", ou o conjunto arquitetônico do Centro Cívico, foi convidado o arquiteto curitibano e professor da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) David Xavier de Azambuja. Que, por sua vez, convidou o carioca, diplomata e arquiteto Olavo Redig de Souza, o arquiteto catarinense Flávio Almícar Régis do Nascimento, e seu aluno, o carioca Sérgio Rodrigues.

Tudo estava planejado para as comemorações do centenário. Entretanto, faltou mão-de-obra, faltou concreto e faltou ferro para todas as construções serem levantadas a tempo da inauguração. O resultado foi a redução drástica do projeto inicial. Ainda assim, para piorar, corria-se o risco de chegar o dia do centenário e não ter nada pronto para inaugurar. A solução foi inaugrar uma praça.

A praça 19 de dezembro existia no projeto original com o nome de "Praça do Centenário", mas era para ter sido feita em frente ao Palácio Iguaçu. Entretanto, o que havia ali era um imenso canteiro de obras, e que pegaria muito mal inaugurar algo assim. Então, o jeito foi improvisar. Mas nada que venha de Bento Munhoz poderia ser algo modesto. Então, uma grande obra inspirada no movimento paranista foi construído ali. Para um imenso painel retratanto momentos importantes da historia paranaense, principalmente toda a migração que construiu o Estado do Paraná, foram convidados os artistas Poty Lazarotto e Erbo Stenzel. Além de um imenso obelisco, demonstrando a força da estrutura do Estado do Paraná, com seus fundadores e administradores registrados em sua base, e em seu topo o brasão de armas do Paraná.

A gambiarra não acabou por ali. Convidado para esculpir o "Homem Paranaense", foi convidado o artista Humberto Cozzo. E, dois anos depois da inauguração da praça, o artista choca a população com uma estátua incomum para os padrões da época. Tratava-se de um adolescente, dando um passo em direção ao oeste do Estado, completamente nu e com um pênis em repouso e "bem dotado", maior que a metade da coxa. Para piorar, o "Homem Paranaense", batizado pela população local de "Homem Pelado", possuía traços de todas as etnias que compuseram o estrato social do Estado. É possível identificar todas as etnias nele, lábios de negro, nariz de indígena, cabelos de branco, e por aí vai.

Polêmica vai, polêmica vem, hoje todo mundo conhece a praça justamente como "a praça do homem pelado. Mas, a gambiarra não acabou com a estátua do "homem pelado". Humberto Cozzo também foi convidado para fazer um monumento para o Tribunal de Justiça. E então criou "a Justiça". Mas, a obra não foi aceita pelos juizes e juristas curitibanos. Tratava-se de uma mulher nua, de medidas fartas, sem venda, sem balança, sem espada, e com olhos bem abertos e um certo sorriso maroto em seus lábios. A estátua foi condenada a ficar escondida por vinte anos nos fundos do Palácio Iguaçu, até que resolveram colocá-la ao lado do Homem Pelado.

O casamento do Homem Pelado com a Mulher Pelada desconfigurou completamente a Praça 19 de Dezembro. De gambiarra em gambiarra, hoje poucos curitibanos imaginam todos os significados da praça, principalmente a enorme desproporção entre os "nubentes". E, recentemente, uma corrente pela internet organizada por diversos historiadores e arquitetos desejam que a Justiça vá para onde deveria ter sido colocada: em frente ao Tribunal de Justiça. O resultado: temos uma nova polêmica na cidade.

Essa Curitiba, que amo, viajo, viajo, viajo.


Ósculos e amplexos!

Quando uma solução provoca ainda mais confusão.


De um lado, o presidente francês Sarkozy: "o uso da burca (burqa) reduz a mulher à servidão ... não é um sinal de religião, mas de subserviência". De outro, a respeitada Human Rights Watch: "a liberdade de exprimir religião e a liberdade de consciência são direitos fundamentais". No meio, a polêmica sobre o Estado francês proibir o uso da burca em edifícios públicos.

Deixando um pouco de lado as acusações de que o presidente francês estaria apoiando uma espécie de combate à imigração, um clássico problema social da direita francesa (e que vale outro excelente debate), o debate rende algumas opiniões interessantes. O fato é que o uso da burca registra uma das mais tradicionais formas de opressão de gênero. E que choca o mundo ocidental, pois se trata de uma opressão explícita. Entretanto, a sua proibição por força de lei provoca o questionamento sobre qual é o limite da liberdade de expressão religiosa diante de um estado laico?

Não li todo o alcorão, mas até a metade que li, e segundo os que já leram e estudaram profundamente o livro sagrado dos muçulmanos, não há nenhuma referência quanto ao uso dessa vestimenta. Trata-se de um costume tribal que se alastrou por diversas partes do Oriente Médio e que, devido às ondas migratórias dessa região para a Europa, tornou-se possível ver mulheres com essa vestimenta nas ruas parisienses com certa regularidade. O argumento usado pela organização de direitos humanos citada acima defende que tal costume deve ser resguardado pelo Estado, por ser o direito de expressão religiosa um direito humano fundamental. Ou seja, havendo mulheres que desejem manter essa cultura, o estado, mesmo que laico ou ainda ateu, deve proteger essa vontade.

Acontece que acima do direito de expressão religiosa se encontra o direito de ser livre. Não encontramos e nem encontraremos o direito de ser oprimido. Uma burca é uma opressão do qual aquelas que a defendem ou fazem por medo, ou por alienação cultural de seus pais e maridos. Permitir essa violência em nome do direito de se expressar religiosamente é permitir que o direito à igualdade de gênero seja desrespeitado. Um estado laico deve dar todo o suporte, mobilizando suas capacidades de defesa e proteção social para que proteja toda mulher que opte por se livrar de tais vestes opressoras. O Estado deve investir na conscientização da população para que combata toda forma de violência contra a mulher.

Ao se proibir por força de lei o uso da burca, por outro lado, o tiro pode sair pela culatra. Os defensores do uso da burca poderão proibir suas mulheres de saírem de casa. O cárcere privado poderá prevalecer por conta da medida proibitória do uso da vestimenta. O que se revela uma solução que provocará ainda mais confusão. E uma vez em cárcere privado, torna-se inimaginável as formas distintas de violência que a mulher irá sofrer. O Estado acabará favorecendo uma violência ainda maior de acordo com a forma adotada para combater outra forma de violência.

No fim das contas, a mulher fica entre a opressão do costume religioso que a obriga a usar burca e a opressão do Estado que a proibirá de usar. Manter como está não é bom, mudar dessa forma também não é. Surge um impasse que não poderá ser resolvido sem consultar, principalmente, as mulheres sobre qual a solução para essa questão. Então pergunto: qual a solução, queridas mulheres? (lembremos que as possibilidades são infinitas, muito além das duas únicas expostas nesse texto - a manutenção ou a proibição por força de lei).

Ósculos e amplexos!