24 março 2010

Carta dos bairros de Curitiba para Fórum Social Urbano

Trecho do Parolin, menos de 10 km do centro de Curitiba.

Repasso a carta do bairros de Curitiba na íntegra

Ósculos e amplexos.

No dia 21 de março de 2010 reuniram-se na sede da Associação Comunidade Itaqui moradores de vários bairros de Curitiba e Região Metropolitana, e deliberaram pela redação da carta abaixo, para que seja lida e discutida no Fórum Social Urbano, fazendo com que sua mensagem circule onde quer que haja lutadores pela moradia digna.

"Os moradores da periferia de Curitiba e Região Metropolitana cansaram de viver sem água potável. As crianças desses bairros não nasceram para beber água suja nem para tomar banho nas cavas geladas do Rio Iguaçu e do Rio Passaúna. Suas mães e pais não agüentam mais madrugar aos domingos para apanhar água no córrego mais próximo, machucando a coluna com latas pesadas, só para poderem lavar os uniformes que são obrigados a vestir no trabalho.

Os moradores da periferia de Curitiba e Região cansaram de viver sem energia elétrica. Não querem mais que seus rapazes se matem porque a luz não é suficiente para abastecer dois vizinhos ao mesmo tempo. Não aguentam mais serem congelados nos banhos noturnos e não suportam mais passar medo tarde da noite, quando seus filhos, netos, maridos e esposas voltam do trabalho, nas ruas entrevadas.

Os moradores e trabalhadores das cidades do Paraná já estão saturados de ameaças vindas de empresas, jagunços, estelionatários, prefeituras e governos, só porque insistem em ter uma casa para morar. Não mais toleram ações de reintegração de posse criminosas propostas por empreiteiros, nem policiais agindo sem identificação na calada da noite, e muito menos grileiros farejando como hienas as casas em que moram.

Os moradores da “Capital Social” e dos municípios que a rodeiam não vão mais aceitar serem despejados dos terrenos para as calçadas, e depois das calçadas para o nada, e do nada para a morte. Não tolerarão mais assassinatos cometidos pela polícia covarde e pela covarde Guarda Municipal, e pelos covardes jagunços das empreiteiras covardes.

Sobretudo, os moradores de Curitiba, Piraquara, Pinhais, São José dos Pinhais, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu e tantos outros municípios não agüentam mais serem tratados como não-cidadãos enquanto produzem sem cessar a riqueza de suas cidades, de seu país e do mundo.

Unidos, os moradores da capital e da região metropolitana exigem moradia digna, transporte gratuito, água e luz de verdade e recursos públicos para todos.

Por todo o mundo, Curitiba é apontada como modelo, como ilha de prosperidade em um país pobre. É verdade que há riqueza, mas ela só existe às custas da exploração e do sofrimento da imensa maioria da população. São os dois milhões e meio que não aparecem na coluna social, que não podem ir ao médico, ao cinema ou ao Festival de Teatro, que não conhecem os parques e os cafés de que a Capital tanto se orgulha, mas que produzem cada centavo que enche os bolsos dos ricos.

Chega! Os trabalhadores de Curitiba e região metropolitana denunciam ao mundo inteiro que não vão mais aguentar a opressão e a conivência das autoridades com ela. Hoje se inicia uma nova etapa da luta, e que os camaradas na mesma situação por todo o Brasil saibam que ela continuará e crescerá!"

São José dos Pinhais, 21 de março de 2010

Nenhum comentário: