31 agosto 2009

Show do Roberto Carlos em Curitiba: nota explica mas não justifica.


Não sou fã dele, mas admito que gostaria de ir no show de Roberto Carlos. Queria, ainda, fazer um agrado para algumas pessoas queridas. Mas, o preço não compensa. Os ingressos custam de R$400,00 à 1200,00. Um preço acima do usual até para apresentações internacionais. Segundo nota da produtora de Roberto Carlos, Curitiba entrou no roteiro devido o carinho do cantor pelos fãs curitibanos. Mas, que por causa da estrutura do show, os elevados custos tiveram que ser repassados para o público.

O que chama a atenção nessa nota é a fórmula adotada para compor o preço. Fizeram uma pesquisa e descobriram que mais de 80% dos ingressos seriam comprados com carteirinha estudantil. Então, matemática básica: R$1.200,00 divididos por dois é igual à R$600,00; preço igual ao dos demais locais onde o show foi apresentado, exceto Florianópolis (que foi de graça).

Ora, a própria nota da produtora condena o evento por preços abusivos. Primeiro, o grande público de Roberto Carlos não é composto por maioria estudantil, o que justifica questionar a pesquisa feita. Segundo, o teatro que será utilizado será o da Universidade Positivo, que a cada dia que passa mostra que não tem intenção nenhuma em promover espetáculos para a comunidade acadêmica, mas para o público em geral e, assim, fazer publicidade de sua estrutura. E, agora o pior, transgride o motivo pelo qual o estudante deve pagar meia-entrada para eventos esportivos e culturais.

O papel do estudante é estudar. Quando ele recebe benefícios como a carteirinha estudantil, isso deve ser visto como um investimento e não como assistencialismo. O estudante que tem acesso facilitado à eventos como esse, divulga a cultura nacional, além de pesquisá-la, e será determinante para que o futuro profissional seja de horizontes amplos, e não aquele tradicional "bitolado" que em nada ajuda o país.

Utilizar do argumento de que o grande número de ingressos serão vendidos para estudante, e que isso deve ser adotado para compor o enorme preço do ingresso e um crime contra o estudante, além de um desrespeito ao curitibano. O cantor, que disse ter um enorme carinho por seus fãs curitibanos, acaba justamente maltratando seu público e o desrespeitando. Subverte a função da assistência estudantil, e colabora para que a cultura nacional ande para trás. E, considerando que o show será em um teatro universitário, se torna crime hediondo, pois uma mega estrutura paga pelo estudante (afinal, por mais que seja proibido, acabou sendo a mensalidade do estudante quem patrocinou a construção desse teatro), irá novamente passar longe da comunidade acadêmica.

Todos conhecem o grupo Positivo. Que possui uma das mais caras, mais distantes, e mais elitizadas universidades do Paraná; tradicional em desrespeitar a organização estudantil, evitando a todo custo que o direito de livre construção de Centros Acadêmicos seja exercida. Além disso, possui um dos maiores lobbies nacionais da educação (o que o movimento estudantil chama de "tubarão do ensino"). Trocando em miúdos, preço que desrespeita, universidade que desrespeita, cidade que desrespeita por não ter lugar para grandes shows. O curitibano não pode deixar passar batido!

Os dois lados da Nigéria.


Conflitos religiosos, em geral, são mais sintomas do que causa. De fato, seguidores de uma doutrina religiosa acabam entrando em um sanguinolento conflito com seguidores de outra, mas quase sempre enquanto reflexo de inúmeros outros problemas sociais.

A Nigéria é um dos países mais populosos da África, o oitavo maior produtor de petróleo do mundo, e o mais importante país da África Subsaariana. Ao mesmo tempo, nessa última década, declarou moratória, teve eleições repletas de denúncias de irregularidades e fraudes, possui o maior foco epidêmico de poliomielite do mundo, além de uma constante tensão com o vizinho Camarões por causa da península de Bakassi, riquíssima em petróleo.

Pelos motivos acima descritos, não é difícil de compreender os motivos da instabilidade no país. As disputas geopolíticas, econômicas, além da péssima distribuição de riquezas e um oceano de corrupção, castigam o povo nigeriano diariamente. Soma-se ainda imposições étnicas de todos os tipos, o que faz com que norte e sul vivam em constante clima de hostilidades. O que acaba unificando os grupos étnicos de cada região é a religião. 50% da população nigeriana é muçulmana, e esse se concentram em sua maioria na região norte; enquanto 40% é cristã, concentrada ao sul.



Os grupos étnicos, além de uma infinidade de outros atores, envolvem as populações do norte e do sul por meio das milícias religiosas. Através delas, disputam palmo à palmo as riquezas e contradições do país. E a população acaba envolvida, direta ou indiretamente, de acordo com o seu credo.



O conflito religioso existe, é sanguinolento e de difícil solução. Mas, como dito acima, é mais sintoma que causa dos conflitos. Manipulando o povo para que lutem em nome da fé, o povo nigeriano se envolve pela disputa do petróleo, da vacina contra a poliomielite, das ajudas internacionais, da Presidência da Nigéria. Corrupção, miséria, fome, doença, desrespeito às minorias, fazem o pano de fundo real do conflito. E esse toma cores de "guerra santa", pois a maioria da população é manipulada para acreditar que, para exercer a sua fé, é necessário aniquilar a outra.

29 agosto 2009

Universidades paranaenses e o medo de forasteiros!

Xenofobia, medo do que é diferente. "É que Narciso acha feio o que não é espelho", como diria a música "Sampa". Sobre o que falo? Das tentativas parlamentares de se limitar o amplo acesso às universidades paranaenses aos estudantes de outros estados. Com o argumento de que o estudante "forasteiro" vem para cá, utiliza-se da estrutura das universidades estaduais, e volta ao seu estado de origem e, por isso, não gera riquezas para o Paraná, é que alguns Deputados Estaduais resolveram adotar medidas, no mínimo, xenofóbicas. Antônio Belinati (PP), por exemplo, utilizando-se do argumento acima, propôs à Assembleia Legislativa Lei que institui "cota" de 80% das vagas das universidades estaduais para os paranaenses.

O argumento, mais uma vez, além de xenofóbico, desconhece a função da universidade no Brasil. Mesmo que as receitas sejam providas pelo Estado do Paraná, sua função é a de promover o desenvolvimento técnico e científico brasileiro através do desenvolvimento do Estado do Paraná. Logo, dizer que o estudante de São Paulo, Santa Catarina, ou de qualquer outro estado seja sinônimo de desperdício de investimento público se esse estuda na universidade estadual é ser xenofóbico ou narcisista.

A diversidade estudantil oxigena a universidade. Faz com que experiências de outras culturas integrem a pesquisa acadêmica. Faz com que cursos como Medicina, por exemplo, seja obrigado a enxergar que o futuro médico deverá compreender que há inúmeras culturas no Brasil e ele terá que conviver com elas. Além disso, a quantidade de dinheiro que os estudantes de outros estados fazem circular no Paraná é desconsiderado pelo parlamentar. Ele recebe de seus pais, ele trabalha nas empresas daqui, ele compra livros aqui, ele aluga apartamentos aqui, ele abre contas bancárias por aqui, etc, etc, etc. Sem falar que, ao longo de sua vida acadêmica, vai criando vínculos com o Paraná, e pode, em um futuro próximo, ser justamente esse quem determinará se uma empresa multinacional irá se instalar em terras paranaenses.

Além disso, seguindo a mesma linha de raciocínio, o estudante paranaense que se formou aqui no Paraná vai se deparar com Lei que o obriga a manter-se no Estado? O estudante paranaense não migra para outros estados? Seremos um caso à parte no País, ou seremos brasileiros como todos os paulistas, cariocas, catarinenses, gaúchos, pernambucanos, etc?

Depois de dizer que o estudante paulista ou catarinense "rouba" vaga de paranaenses, o argumento xenofóbico pode tranquilamente ser estendido para o infinito absurdo. Depois de roubar vagas, roubará empregos, roubará esposas e maridos, roubará sua casa, e assim por diante.

Simplesmente um absurdo, senhor Belinati e senhores deputados que fazem coro a outras xenofobias. Querem resolver o problema, se isso for um problema, aumentem as vagas no ensino público, e melhorem o ensino fundamental e médio de nosso Estado para que possamos concorrer com melhores condições com o realmente injusto vestibular.

28 agosto 2009

Nota sobre última matéria sobre minha filha.

Queridos amigos e amigas,

Tenho recebido inúmeros telefonemas e mensagens sobre matéria vinculada recentemente na imprensa sobre a prisão de um suspeito do caso da minha filha. Então, para esclarecimento:

- Trata-se de mais um suspeito, e até que saiam os exames que confirmem sua participação no hediondo crime, nada ele tem a ver com caso.

- Trata-se de mais um pedófilo, foragido e procurado pela polícia de São Paulo, que foi localizado em Curitiba (provavelmente pela P2), e que encaminharam amostragem de DNA para verificar ligações com o caso da minha filha.

- Não tenho nenhuma relação com o suspeito em questão, sequer o conheço.

- Mais uma vez a imprensa policial divulga matéria sigilosa, e sem confirmar fontes, causando constrangimentos e muitas complicações para a investigação.

Havendo informação precisa sobre o caso, farei questão de me pronunciar. Minha família e eu queremos o quanto antes a prisão do responsável, mas dentro de evidências científicas e através de um julgamento correto da justiça brasileira.

Agradeço, em nome da minha família, pelas preocupações, orações, auxílios, e denúncias. Com certeza, o que avançou nas investigações foi graças à esses esforços.

Ósculos e amplexos.
Michael Genofre

Ensino Religioso obrigatório: um passo atrás!




Não é de hoje que o tema é polêmico. Desde a primeira constituição republicana do Brasil, 1891, o tema é controverso. E, historicamente, as lembranças de como o ensino religioso foi tratado no País não são das melhores. Ao longo de todo o período colonial e imperial, o ensino religioso foi utilizado como mecanismo de imposição cultural do Estado. Graças a esse mecanismo, temos uma língua portuguesa unificada em todo país, mas, ao mesmo tempo, inúmeras culturas, principalmente indígenas e afro-brasileiras, foram simplesmente sublimadas. Desde a proclamação da República, o Estado brasileiro busca se firmar enquanto um Estado laico, porém não sendo um Estado ateu. Anuncia o cristianismo enquanto orientação moral do Estado, ao mesmo tempo em que defende e tolera a liberdade de culto. E, na educação, entende que o ensino religioso “é parte integrante da formação do cidadão”, mas o mantém facultativo para aquele que se sentir desconfortável com a disciplina.


Certamente, os tempos são outros. Acreditar que o ensino religioso em tempos atuais no Brasil retomaria a imposição dos tempos coloniais e imperiais soa um pouco exagerado. Porém, essa preocupação não é desprovida de bons argumentos e de bom senso. Para o Estado, interessaria à essa disciplina abordar a tolerância religiosa, o respeito à liberdade de credo e culto, compreender a necessidade de se conviver harmonicamente com o próximo independentemente de sua fé, e fundamentalmente, eliminar mitos sobre qualquer religião. Com exceção desse último, que exige uma abordagem mais prolongada e específica sobre o assunto, todos esses interesses podem ser abordados em disciplinas como filosofia, sociologia, história geral e história do Brasil.


Na prática, o ecumenismo e a eliminação de mitos religiosos no ensino religioso cai por terra devido os mecanismos adotados para a habilitação de como a matéria é lecionada. Funciona mais ou menos assim: a religião mais influente de uma determinada região ou bairro acaba fixando os conteúdos e habilitando os professores, e as minorias religiosas do local não tem outro recurso senão a de fazer valer o caráter facultativo da disciplina e não matricular seus filhos nela. A discriminação se torna evidente e perigosa, principalmente por utilizar a escola pública como instrumento para o fortalecimento dessa religião mais influente. Um órgão público acaba, na prática, enfrentando o princípio constitucional de laicidade do Estado e de liberdade de culto religioso. Para não ter conflitos, a maioria dos diretores optam por não oferecer a disciplina de ensino religioso, e a coisa fica resolvida.


O movimento estudantil tem toda razão em ser contra o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas. Além das razões acima, tem aquela ainda mais intestinal: a de que os anseios e opiniões dos estudantes são constantemente desrespeitadas, ou ainda subjugadas, por professores e diretores. Basta um diretor ter maior engajamento religioso para que o estudante seja constrangido de fazer valer o caráter facultativo da disciplina de ensino religioso. E o acesso à justiça, tão difícil para a maioria dos brasileiros, para o estudante é praticamente inexistente. O resultado é claro: o estudante será discriminado, perseguido, seu aprendizado será completamente comprometido, e na esmagadora maioria dos casos não terá como se defender. Para um País que necessita reformar todo seu sistema educacional e que busca democraticamente fazer isso, tornar-se obrigatório o ensino religioso na escola pública é um passo para trás.

27 agosto 2009

Templo SUD da Nigéria é fechado por tempo indeterminado.


A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias fechou por tempo indeterminado seu Templo Aba Nigéria como uma precaução aos recentes atos de violência no país, além de dispensado trabalhadores em outros templos da área.

"A segurança de nossos visitantes e trabalhadores do templo é sempre nossa primeira prioridade", disse o porta-voz SUD Scott Trotter. "Incidentes de violência nos últimos meses na região onde o templo está situado não necessariamente se relacionam com o templo, mas pode colocar os membros da igreja em risco. Como medida de precaução, os trabalhadores do templo estão sendo deslocados para outras áreas, e o templo ficará fechado enquanto a situação não se resolva".

Na edição dessa quarta-feira do "Ogden Standart-Examiner" relatou que recentemente, em meados de junho, um e-mail de um trabalhador do templo que dizia que viu quatro homens armados com AK-47 atirando nas proximidades do templo. As balas atingiram a cabine de segurança em frente ao prédio. Desde então, o templo foi fechado.

Localizado nos arredores de Aba, o complexo do templo inclui uma sede de Estaca e um escritório administrativo. O templo foi dedicado em 7 de agosto de 2005, pelo Presidente Gordon B. Hinckley.

Há dois anos atrás, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias registrou outro ato de violência na Nigéria, quando quatro missionários em Port Harcourt foram sequestrados. Eles foram confundidos com empresários de uma empresa petrolífera, e somente foram resgatados após a ajuda de líderes locais da Igreja.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias realiza sua obra missionária na região desde 1978. Em menos de uma década depois, possuía cerca de 10 mil membros, em 1987. Atualmente, possui cerca de 30 mil membros, 30% dos membros da Igreja no continente africano.

--------------------------
Foto 1: The Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints.
Foto 2: Mormon Times.

Matéria baseada no artigo da Mormon Times "Mormons indefinitely close Nigeria temple", 26/08/09, de Scott Taylor.

Ganhei um selinho!


Ganhei um selinho da minha querida Luana Bonone (http://versonotrombone.blogspot.com/)! Trata-se de uma rede de blogs por indicação, ou seja, para fazer parte, é necessário que a pessoa seja indicada por alguém. Mas a coisa é simples. Pega o selo, diz de onde recebeu a indicação, dispara mais dez selinhos por aí. Deve-se colocar também cinco coisas que gosta de fazer. Como adorei a ideia, seguem minhas indicações:

01 - Blog do Raoni: debutante na rede de blogs, mas que já mostra conteúdo. Militante do PCdoB-PR, além de um irmão para mim.

02 - Blog do Esmael Moraes: jornalista, militante histórico do PCdoB-PR, e fui Diretor de Públicas na gestão dele como Presidente da Umesc. Blog de excelente qualidade, fala sobre os bastidores da política paranaense.

03 - Blog da União Paranaense dos Estudantes: última entidade geral estudantil que participei (pois, ainda sou Presidente do meu Centro Acadêmico). Possui uma dificuldade imensa de comunicação, mas em tempo recorde, lançou o blog com menos de uma semana após a posse. Então há esperanças.


04 - Revista MAS que Coisa!: blog dos Membros Adultos Solteiros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias; bem jovial, de excelente qualidade, e que uma de suas editoras (Evelise) conheço pessoalmente, pois pertence à Ala Bacacheri (Ala que também sou membro).


05 - Shrereklandia: Blog do Jonivan (o Tim da Matemática Industrial da UFPR); apesar de se auto-definir um ogro, o blog versa sobre HQ's, livros, e outras coisas que ele gosta. Meu amigão e camarada; além de diretor de formação da União da Juventude Socialista do Paraná.

06 - Contradição e Coerência: Blog inspiradíssimo da minha amiga, irmãzona, Queisse Ximene Araújo. Militante do PCdoB-PR (dentro em breve, do PCdoB-RJ). Possui crônicas da vida cotidiana, algumas enigmáticas.

07 - Blog do Pablitus: Blog do Pablo Machado, engenheiro civil, militande do PCdoB de Foz do Iguaçu. Conta da vida, das ideias, das observações do conturbado mundo que vivemos.


08 - Acampamento da Upes: definitivamente, não se trata de uma atividade festiva. Trata-se de um movimento de resistência dos estudantes secundaristas paranaenses em defesa de sua sede. Essa, foi derrubada por um grupo de especuladores imobiliários, e a juventude aguerrida tá acampada no terreno para que a empresa não tome de vez o patrimônio dos estudantes.

09 - Jogando Sentimentos Fora (PuroEu): blog da minha amiga Viviane Becker. Fala sobre absolutamente tudo, de moda, passando por observações, até sobre o Internacional; clube que ela torce. Minha ex-colega de Relações Internacionais, atual estudante da PUC-PR.

10 - Centro Acadêmico de Relações Internacionais (CARI-FACINTER): Não podia faltar o blog do meu CA, né? Mas, como todo blog de entidade estudantil é uma tortura para se manter atualizado, esse não é diferente. Entretanto, quando tem postagem, ele é interessantíssimo!


Coisas que gosto:

1 - Viajar
2 - Ler
3 - Basquete
4 - Guitar Hero
5 - Jogar conversa fora com os amigos!


Ósculos e Amplexos!

22 agosto 2009

PEC do ensino fundamental de oito horas diárias.


Normalmente, eu aplaudo toda iniciativa que vise a melhoria do ensino no Brasil. Mas, a PEC do Deputado Felipe Maia (DEM-RN), aprovada pela CCJ da Câmara Federal, não é das mais felizes.

A PEC 317/08 prevê a obrigatoriedade do ensino fundamental ser de oito horas diárias, ou seja, a Constituição Federal deverá exigir que o ensino fundamental passe a ser obrigatoriamente integral em todo o país. O que chama a atenção é a de ser essa proposta uma de emenda constitucional, e não uma inclusão ao Plano Nacional de Educação de mecanismos para que isso aconteça.

A CCJ não rejeitou a PEC por não ter o que rejeitar. Constitucionalmente, é previsto a obrigatoriedade do ensino, porém nada diz sobre a carga horária mínima. E, ao mesmo tempo, na Carta Magna, nada impede de que a matéria seja incorporada. E, no PNE, é visível o desejo do país em aumentar a carga horária do ensino fundamental para, pelo menos, sete horas diárias, em ritmo e estrutura que o país consiga atender uniformemente.

O problema da PEC é a não definição de absolutamente nada. Simplesmente colocar uma ampliação dessa na Constituição Brasileira e solicitar para que leis complementares busquem a solução como estrutura e regras dessa ampliação é chover no molhado. Na melhor das hipóteses, implica no racionamento de vagas, pois o sistema de ensino brasileiro ainda não comporta dobrar as vagas existentes e, obviamente, acabará tendo que cortar as vagas pela metade para atender a exigência constitucional. Atualmente, menos de meio milhão de estudantes estão no ensino integral, seja público ou particular; menos de 1,5% da população estudantil.

Além de ser uma PEC bastante questionável, e desnecessária devido o PNE buscar essa ampliação aos poucos e no ritmo adequado, essa PEC ainda não diz a sua intensão real. O legislador não informa para que deve servir essa ampliação de horário, além de tomar como pressuposto que todos os estudantes, mesmo os mais necessitados, possuem esse tempo assegurado e garantido em tempos atuais. Ou é isso, ou simplesmente o legislador deseja que o país adote uma postura paternalista, e não uma postura de investimento maciço na educação. E, ao adotar tal postura paternalista, é notório que inúmeras classes sociais irão sair prejudicadas.

De afogadilho, "forçando a barra", a educação brasileira não melhora. Forçar, nesse caso, significará aumento da evasão escolar. Não irá melhorar o ensino, mas o limitará. Aumentará o abismo entre pobres e ricos. Elitizará ainda mais a educação brasileira. Além de, tranquilamente, seguir no caminho oposto ao direito de educação enunciado na própria constituição brasileira.

14 agosto 2009

Mulheres perfeitas?


Fuçando pela internet, encontrei uma obra prima da literatura de auto-ajuda da década de 1950 chamado "How to be a good wife" (como ser uma boa esposa). Não se trata de um livro, mas de um curto texto, publicado em 1954, pela Economic Domestic High School, cujo elenca 10 dicas sobre o que fazer quando o marido chega em casa. Dentre as dicas, apenas para ilustrar, encontramos: "planeje na noite anterior qual será o delicioso jantar, e se prepare ao longo do dia para que esteja pronto minutos antes do marido chegar"; "Arrume-se, reserve 15 minutos para descançar e ficar linda para seu marido antes dele chegar"; "deixe a casa limpa, mas guarde todos os materiais de limpeza, bagunça dos filhos, e elimine vácuos na sala"; "Deixe-o confortável: não o incomode, e arrume para ele um sofá confortável ou sugira que vá se deitar na cama"; etc. Obviamente que esse modelo de "como ser uma boa esposa" da década de 50 definitivamente é absurdo em plenos 2009. Mas me surpreendo com a quantidade de mulheres (isso mesmo, mulheres) que acham que a total submissão é a melhor forma de "segurar" o marido em casa.

Quando Ira Levin, autora de "O Bebê de Rosemary", publicou "As Esposas de Stepford", o barulho foi geral nos Estados Unidos. Não era preciso ser uma militante do movimento feminista para ficar indignada com o conteúdo desse livro. O livro é um conto de terror, onde uma mulher de sucesso, para salvar seu casamento, decide morar em uma pacata vizinhança. Nessa vizinhança, as mulheres são completamente submissas aos seus maridos. Literalmente lambiam o chão que os maridos pisassem se isso fosse preciso. E, obviamente, o marido da personagem principal estava adorando isso. Até que ela descobre que as mulheres tem alguma coisa de muito errado. E, (atenção: "spoiler" à frente) finalmente ela descobre que as mulheres foram substituídas por robôs, e ela seria a próxima a ser substituída. O final definitivamente não é feliz, mas chega de "spoilers". Indignação semelhante aqui no Brasil aconteceu ao ser lançado "Mulheres de Atenas", de Chico Buarque, e "Ai, Que Saudades da Amélia" de Mários Lago. No Brasil, mulher de Atenas e Amélia, nos Estados Unidos, Stepford, viraram sinônimos de mulher submissa, e hoje em dia um verdadeiro insulto às mulheres.

As esposas de Stepford foi adaptado para o cinema em duas versões, em 1975 e em 2004, sendo no Brasil chamados de "Esposas em Conflito" e "Mulheres Perfeitas" respectivamente. O primeiro, um pouco mais fiel ao livro, e o segundo tentando ser uma comédia (e um desatre se comparado ao livro). Em ambos os livros, é possível notar justamente o padrão de "How to be a Good Wife" nas esposas zelosas de Stepford.

Voltando ao começo do texto, o que me impressiona não são as mudanças que houveram nesses mais de cinquenta anos. Realmente, ainda que não tenha gostado do filme "Mulheres Perfeitas", a visão de Stepford em dias atuais somente poderia ser visto como uma comédia de sarcástico humor. Mas o que realmente me surpreende são as imensas quantidades de mulheres que desejam ser robôs de Stepford, ainda que de maneira adaptada ao século XXI. Mesmo as mais militantes e engajadas, quando simplesmente é citado o movimento feminista, elas são as primeiras que, preconceituosamente, classificam o movimento como "coisa de lésbica" ou "coisa de mal amada". Outras, nem tão politizadas assim, consideram um absurdo qualquer forma de traição, mas aplaudem quando na novela das oito uma personagem se pega no tapa com outra por ser ela amante de seu marido. Outras ainda consideram a surra levada em casa de seus clássicos "machões de cozinha" algo passível de perdão, mas coloca a traição conjugal como única cláusula para o divórcio e denúncias. E, pasmem, há aquelas que realmente tentam adaptar ou seguir as dicas de "How to be a Good Wife" para melhor segurar seu marido.

Fazer agrados para o marido, além dele fazer agrados para a esposa, são coisas excelentes e saudáveis para qualquer relacionamento. Mas, a vida é a dois, ou em família. Dividir tarefas, ser compreensível, entender que ninguém é dono de ninguém, e buscarem juntos superar os desafios, dialogarem sem a famosa "Discutir a Relação" ou outros dramas, dividir tarefas equitativamente, enfim, o casal em tempos atuais deve ser mais casal. A esposa deve ser mais companheira, e o marido ainda mais companheiro. Ele deve apoia-la em estudos, negócios, trabalhos, gostos e sonhos. E ela deve fazer o mesmo. Criar um ambiente familiar saudável para os filhos e não sair criando tabus e estreitamentos de horizontes. Enfim, rasgar todos os manuais de conduta e partir para uma vida conjugal saudável e inteligente. E, de vez em quando, ler o livro de Ira Levin como o devido conto de terror que ele é.

Ósculos e amplexos!

12 agosto 2009

Minha nostalgia: o velho era eu.


Boa parte da minha vida caminhei sobre as pedras da Ruas das Flores. E, sempre que volto a andar sobre elas, fico nostálgico. Sobre essas pedras, vivi amores, perdi amores, fui feliz, fui infeliz, tive bons assuntos, tive assuntos nem tão bons assim, encontrei quem queria, esperei por quem nunca mais pude ver.

Entre seus fascínios, há ainda galerias. Galerias fascinantes. Ora pela sua arquitetura ou sua decoração, ora pelas maravilhas que encontramos em seus interiores, em suas lojas. Não se trata de arrombo consumista, mas da delícia de se experimentar sensações revigorantes.

Entre uma de suas galerias, na Ritz tenho por predileção um café, o Athena. Galerias e cafés em Curitiba não são incomuns. E, ao mesmo tempo, não são tão numerosas. Principalmente se compararmos a quantidade de galerias que Belo Horizonte possui, igualmente encantadoras; ou ainda os cafés de São Paulo, elegantes e revigorantes. A Galeria Ritz é o acesso para um enorme prédio. Fica ao lado de uma enorme loja de departamentos. E, dependendo de sua pressa, talvez você corre o risco de nem perceber onde fica sua entrada. O café Athena não tem nada demais. É uma cafeteria talvez ainda mais simples dentre as demais dessa região da cidade. Mas, como disse, nessa galeria localiza-se a minha cafeteria predileta.

A cafeteria Athena possui um atendimento tão prestativo e tão atencioso que não duvido do dia em que receberão os clientes com pétalas de rosas caso esses assim o desejem. Possui vários computadores à disposição com preços simbólicos, dando a impressão que é apenas para que o cliente fique mais um pouquinho naquele ambiente acolhedor sem se ausentar de possíveis compromissos resolvíveis pela internet. O cardápio também possui preços convidativos, além de inúmeras opções para aquele que, como eu, se abstém de café e chá preto. E não ficam te olhando de maneira estranha por você não tomar café e adorar cafeterias. Conhecem as demais lojas da galeria e não temem em chamar alguém de alguma delas para que te atendam no café e assim lhe proporcionar a facilidade de solucionar suas compras sem sair de lá. Aliás, sobre isso, inúmeras vezes tomei um chocolate quente enquanto a agência de turismo em frente ao café organizava minha próxima viagem. Possui inúmeras revistas atuais, inclusive as minhas gringas prediletas "Newsweek" e "The Economist", e não se incomodam nem um pouco por você ficar um tempão apenas lendo e consumindo pouco. Tem uma música ambiente bem selecionada e na altura ideal para você ouvir a música e não precisar gritar para que te escutem. Além de uma simples, mas muito bem feita, cozinha árabe, que existia no local antes dos atuais donos e que foi mantido. E muito mais.

Em minha última visita, em meu último momento nostálgico na Rua das Flores, na cafeteria Athena, escutava Bob Dylan, estava lendo uma das inúmeras farpas críticas trocadas entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade em uma revista que havia por lá, bebia um chocolate quente e comia um Wrap maravilhoso, e fui bruscamente interropido em meus pensamentos por uma conversa ao lado. Velhinhos rindo e conversando sobre a vida. Não estavam nada nostálgicos, debatiam o futuro dos jogadores de futebol, sobre as crises internacionais, sobre a última decisão anti-gripe adota por algum juiz paranoicamente precavido. Não havia ali nenhuma nostalgia, não havia preocupações com Bandeira e Andrade. Não havia ali sequer a referência de que qualquer um deles viveram tantas histórias e sentiram tantas emoções na Rua das Flores.

O velho era eu. Ranzinza, querendo apenas meu mundinho, minhas lembranças, minhas vontades satisfeitas, e tudo sem olhar para o futuro. Eles eram os jovens, preocupados apenas em se fazer boa companhia ao amigo ao lado. Somente a experiência desses é que se pode beber a juventude em goles realmente revigorantes. De igual entre nós, apenas o gostar daquele lugar e ainda, provavelmente, por motivos completamente diferentes.

08 agosto 2009

Um duro golpe nos estudantes paranaenses!


Hoje me uno em solidariedade aos estudantes secundaristas do Paraná que estão acampados no terreno onde se situava a sede da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas, Upes.

Há dez anos atrás, eu e minha grei política da época ocupávamos aquela casa, em nome da Umesc (na época, União Metropolitana de Estudantes Secundaristas de Curitiba), Umes-Campo Mourão e diversos grêmios estudantis da capital, com o propósito de devolvê-la para os estudantes. Tratava-se de uma revolta política, interna entre as forças da própria entidade. Nosso grupo político não aceitava os abusos cometidos pela gestão que nos antecedera, tão pouco pela impunidade pelo qual foram eles todos tratados. Internamente, depois de muito confronto, chegando inclusive às vias de fato, a sede foi recuperada, mas nós fomos expulsos de dentro da casa. Mas, pouco tempo depois reinou a democracia, todas as forças frequentavam a sede juntos, discutindo como gestar a entidade e como promover os interesses estudantis. Na manhã de ontem, a essa casa foi derrubada. Uma outra espécie de oportunista invadiu e levou a sede embora: o especulador imobiliário.

A sede da Upes foi uma conquista estudantil, um símbolo do que o estudante é capaz de conquistar. Ela já foi muito mais bonita, quando era de material e seu terreno muito maior. Passou o tempo, a casa foi demolida e o terreno partido. Em cima do que sobrou, foi construída uma casa de madeira, daquelas bem populares, e tenho dúvidas até os dias de hoje se a casa foi inteiramente entregue e construída. Sempre houve espertalhões que desejaram o valioso terreno no bairro nobre do Juvevê. Principalmente nos tempos sombrios da ditadura militar, e nos tempos tenebrosos de FHC/Lerner.

Para mim, além das resistências, dos debates, dos inúmeros cursos de formação e conscientização política que ministrei ou participei naquela sede; lá fiz inúmeros amigos leais, conheci alguns verdadeiros amores em minha vida, tive experiências de solidariedade com vizinhos imensas, passei fome, frios, medo, mas também comi bem, me aqueci, me encorajei lá dentro. De tempos em tempos eu visitava a nova geração, e olhava orgulhoso alguns materiais do meu tempo que na sede estavam guardados. Lembrava a dificuldade que era confeccionar jornais, principalmente usando fotocópias, mimiógrafos (com aquele cheirinho dopante inesquecível), o que desse para enviar para o maior número possível de estudantes a nossa opinião (que nunca chegava devido imensas dificuldades políticas e também de logística de distribuição).


Como disse, uma sede é um símbolo. Ela acompanha o reflexo de como suas forças tratam o movimento estudantil. Hoje, pode-se dizer tranquilamente que apenas uma juventude política se importa com ela. E como uma andorinha apenas não faz verão, uma força política apenas não faz o movimento estudantil se fortalecer nem para defender seu próprio patrimônio. Vejo os tempos atuais desse movimento social que tenho tanto carinho, pois foi o meu umbral para o engajamento político, tenebrosos.

A atual diretoria não possui culpa nenhuma, talvez apenas a de não ter dinheiro para contratar dispendiosíssimos advogados para defender essa difícil lide histórica. É um passado maldito que herdaram de acumulados históricos de oportunismo e erros desenfreados. Em nome da democracia, talvez a minha geração teve mais culpa que a atual, pois, no enfrentamento contra os oportunistas, levamos socos e pontapés, e perdemos. Contribuímos, de certa forma, para que as gerações futuras fossem perdendo ainda mais coisas para os tubarões da lei do menor esforço.