12 agosto 2009

Minha nostalgia: o velho era eu.


Boa parte da minha vida caminhei sobre as pedras da Ruas das Flores. E, sempre que volto a andar sobre elas, fico nostálgico. Sobre essas pedras, vivi amores, perdi amores, fui feliz, fui infeliz, tive bons assuntos, tive assuntos nem tão bons assim, encontrei quem queria, esperei por quem nunca mais pude ver.

Entre seus fascínios, há ainda galerias. Galerias fascinantes. Ora pela sua arquitetura ou sua decoração, ora pelas maravilhas que encontramos em seus interiores, em suas lojas. Não se trata de arrombo consumista, mas da delícia de se experimentar sensações revigorantes.

Entre uma de suas galerias, na Ritz tenho por predileção um café, o Athena. Galerias e cafés em Curitiba não são incomuns. E, ao mesmo tempo, não são tão numerosas. Principalmente se compararmos a quantidade de galerias que Belo Horizonte possui, igualmente encantadoras; ou ainda os cafés de São Paulo, elegantes e revigorantes. A Galeria Ritz é o acesso para um enorme prédio. Fica ao lado de uma enorme loja de departamentos. E, dependendo de sua pressa, talvez você corre o risco de nem perceber onde fica sua entrada. O café Athena não tem nada demais. É uma cafeteria talvez ainda mais simples dentre as demais dessa região da cidade. Mas, como disse, nessa galeria localiza-se a minha cafeteria predileta.

A cafeteria Athena possui um atendimento tão prestativo e tão atencioso que não duvido do dia em que receberão os clientes com pétalas de rosas caso esses assim o desejem. Possui vários computadores à disposição com preços simbólicos, dando a impressão que é apenas para que o cliente fique mais um pouquinho naquele ambiente acolhedor sem se ausentar de possíveis compromissos resolvíveis pela internet. O cardápio também possui preços convidativos, além de inúmeras opções para aquele que, como eu, se abstém de café e chá preto. E não ficam te olhando de maneira estranha por você não tomar café e adorar cafeterias. Conhecem as demais lojas da galeria e não temem em chamar alguém de alguma delas para que te atendam no café e assim lhe proporcionar a facilidade de solucionar suas compras sem sair de lá. Aliás, sobre isso, inúmeras vezes tomei um chocolate quente enquanto a agência de turismo em frente ao café organizava minha próxima viagem. Possui inúmeras revistas atuais, inclusive as minhas gringas prediletas "Newsweek" e "The Economist", e não se incomodam nem um pouco por você ficar um tempão apenas lendo e consumindo pouco. Tem uma música ambiente bem selecionada e na altura ideal para você ouvir a música e não precisar gritar para que te escutem. Além de uma simples, mas muito bem feita, cozinha árabe, que existia no local antes dos atuais donos e que foi mantido. E muito mais.

Em minha última visita, em meu último momento nostálgico na Rua das Flores, na cafeteria Athena, escutava Bob Dylan, estava lendo uma das inúmeras farpas críticas trocadas entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade em uma revista que havia por lá, bebia um chocolate quente e comia um Wrap maravilhoso, e fui bruscamente interropido em meus pensamentos por uma conversa ao lado. Velhinhos rindo e conversando sobre a vida. Não estavam nada nostálgicos, debatiam o futuro dos jogadores de futebol, sobre as crises internacionais, sobre a última decisão anti-gripe adota por algum juiz paranoicamente precavido. Não havia ali nenhuma nostalgia, não havia preocupações com Bandeira e Andrade. Não havia ali sequer a referência de que qualquer um deles viveram tantas histórias e sentiram tantas emoções na Rua das Flores.

O velho era eu. Ranzinza, querendo apenas meu mundinho, minhas lembranças, minhas vontades satisfeitas, e tudo sem olhar para o futuro. Eles eram os jovens, preocupados apenas em se fazer boa companhia ao amigo ao lado. Somente a experiência desses é que se pode beber a juventude em goles realmente revigorantes. De igual entre nós, apenas o gostar daquele lugar e ainda, provavelmente, por motivos completamente diferentes.

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