Fãs desse novo esporte, se é que dá para se chamar de esporte, que me perdoem: streetball, ou vulgarmente street, pode ser qualquer coisa, menos basquete. Não dá para chamar aquilo só por usar “equipamentos” do basquete (bola e tabela). E, longe de ser saudosista, inclusive sou uma pessoa que, por mim, e por muitos, busca as inovações, pois acredito que se a humanidade e o mundo está em constante transformação, as novidades são parte fundamentais de nossa própria existência. Mas não consigo enxergar nesse entretenimento o esporte que tanto me cativou desde criança e que jogo até os dias de hoje.
Basquete é, essencialmente, sinônimo de coletividade. Inevitavelmente vence aquela equipe que possui a melhor evolução em quadra em todos os fundamentos possíveis, principalmente defesa, ataque e contra-ataque. É o jogo tático aliado à habilidade. Quando você vai defender, não defende o adversário, mas sim a sua cesta, sua alma em jogo, em comparação, o rei do xadrez. Nada é mais importante que defender a sua cesta, e você contribui com seus compatriotas da nação time deslocando o adversário para uma condição desfavorável, atrapalha seu progresso, mina suas artimanhas, ocupa seu espaço, e, se mesmo assim ele conseguir te sobrepujar, que seja em condição tão peculiar que a finalização, o ponto, seja impedido pelo erro. Quando há ataque do adversário, os bravos guerreiros da defesa estão fazendo o mesmo, defendendo. Todo o time na mesma batalha, na defesa da sua alma em jogo: a cesta. Logo após recuperada a bola, o time muda de função, e em questão de segundo, os gladiadores da defesa estão agora em alma e carga total rumo ao ataque. Todos são ataque nesse momento. A bola percorre de mão em mão, de jogador em jogador, tal e qual a posição do time melhor favoreça o lance exato, a conversão dos pontos. E, se o erro acontecer, há uma batalha cruel pelo rebote. A decisão de quem mandará no coração da partida ao alto e sem dono. O basquete é, antes de tudo, uma paixão pelo espírito coletivo e a soma das habilidades dos jogadores de um mesmo time.
Já o Street, caros amigos, não é nada disso. A cesta é mero detalhe, uma espécie de prêmio pela jogada. Não há jogada bela no street pela simples beleza técnica ou tática, mas sim pelo total desprezo ao adversário e ao próprio companheiro de equipe. Bolas simuladas, sem nenhuma objetividade, rumo ao rosto do adversário tem igual plástica nesse jogo que aquele suado ponto do basquete de verdade, onde houve habilidade e superação de um time inteiro e mais aquela alma em jogo. No street, defende-se o adversário e não a cesta. O adversário não pode fazer estripulias em quadra mais do que você, essa é no fim das contas o sentido do street. Para que regras então? Mãos atrapalhadas, rodopios desnecessários, bolas escondidas dentro dos calções ou camisa, enfim, tudo é feio e nada objetivo. E, quem ganha o jogo não é aquele que melhor se superou, nem tão pouco o que mais obteve sucesso nos fundamentos, mas sim aquele que melhor soube fazer malabares ou micagens com o adversário. Admiro os malabaristas, e como não tenho a menor vocação para essa árdua habilidade e que exige incessantes horas de treino, quando os vejo, geralmente no circo, aplaudo com fervor e alegria. Mas, considerar malabarismo mais importante que tudo justamente em um esporte que o objetivo não é o malabarismo, mas a cesta, ou é um outro esporte, ou então é um crime contra aqueles que o levam a sério. E esporte nenhum considera o desrespeito com os colegas e adversários algo louvável, e justamente por isso que afirmo: não sei se streetball é esporte, mas não é, definitivamente, basquete!
3 comentários:
Bom, acho que entendo esta sua posição frente a uma nova "modalidade" do basquete que vem se propagando pelas ruas atualmente.
Talvez aqueles que realmente admirem este esporte podem entendê-lo, durante a época em que eu treinava, sempre lembro da treinadora repetir "respeitem o adversário e joguem o seu jogo" enfim isto é que o esporte deve, ou deveria, passar, o espírito de coletividade, disciplina e respeito mútuo.
Um jogo verdadeiramente belo é aquele que, apesar da rivalidade entre os times, há um respeito entre os jogadores e pela equipe adversária, onde a qualidade técnica, em conjunto com a habilidade individual de cada jogador, produz jogadas espetáculares e defesas entrosadas levando o time à vitória.
Há aqueles que achem as "jogadas" do street mais belas, na minha opinião peripécias desnecessárias, onde não há qualidade técnica, nem conhecimento de fundamentos básicos, só consigo enchergar o desrespeito pelo adversário, que pode acabar gerando animosidade entre os participantes de um "jogo".
Espero que o verdadeiro basquete encontre cada vez mais fãs e cative mais e mais adéptos, onde o espírito de trabalho em equipe seja sempre o principal elo entre os jogadores.
Bem,entendo e respeito o que vc disse. Não sou praticante de basquete nem de streetball porém admiro e gosto muito dos dois. Acho que cada um tem sua graça,adOro assistir a um jogo de basquete e concordo com o que vc disse a respeito da coletividade e tal, mas o streetball é uma espécie de show, as pessoas vão para ver as tais "peripécias" dos ballers,essa é a graça, as pessoas ficam ansiosas para ver as enterradas, hurrycanes... é um jogo de criatividade, improviso. Pelo menos em alguns que assisti não vi desrepeito com o adversário,é só um desafio.Por isso pra praticar street tem que ter um certo "jogo de cintura". O streetball não incetiva os jogadores a desrespeitarem seus adversários,essas atitudes são próprias de cada jogador,no basquete também existem esses tipos de jogadores.
E também o streetball veio dos E.U.A. e lá o streetball além de estar misturado com hip hop e tal, é uma saída da criminalidade para os jovens de periferia,uma distração, do jeito que é lá trouxeram pra cá. Sem falar que dali surgiram ótimos jogadores de Basquete e também tem grandes jogadores de Basquete que já jogaram e admiram Streetball, e vice-e-versa.
É claro que Basquete é basquete, Streetball é Streetball,que basquete se trabalha coletividade, já no street é total individualismo, porém, eles são parecidos, querendo ou não automaticamente um lembra o outro.
Enfim...os dois são belos cada um a seu modo. Há espaço para os dois.E considero sim Streetball um esporte, individual, mas um esporte!!
Espero que entenda o meu ponto de vista!Obrigada!
Cara Ana Paula, adoraria debater contigo sobre esse tema, ainda mais quando um texto escrito dois anos atrás sucita uma defesa tão bem argumentada quanto a sua. Porém, seu perfil não está permitido. Envie-me um email com seu endereço e farei questão de continuar esse papo. Agradecido.
genofre@gmail.com
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