26 janeiro 2006

Basquete X Streetball

Fãs desse novo esporte, se é que dá para se chamar de esporte, que me perdoem: streetball, ou vulgarmente street, pode ser qualquer coisa, menos basquete. Não dá para chamar aquilo só por usar “equipamentos” do basquete (bola e tabela). E, longe de ser saudosista, inclusive sou uma pessoa que, por mim, e por muitos, busca as inovações, pois acredito que se a humanidade e o mundo está em constante transformação, as novidades são parte fundamentais de nossa própria existência. Mas não consigo enxergar nesse entretenimento o esporte que tanto me cativou desde criança e que jogo até os dias de hoje.

Basquete é, essencialmente, sinônimo de coletividade. Inevitavelmente vence aquela equipe que possui a melhor evolução em quadra em todos os fundamentos possíveis, principalmente defesa, ataque e contra-ataque. É o jogo tático aliado à habilidade. Quando você vai defender, não defende o adversário, mas sim a sua cesta, sua alma em jogo, em comparação, o rei do xadrez. Nada é mais importante que defender a sua cesta, e você contribui com seus compatriotas da nação time deslocando o adversário para uma condição desfavorável, atrapalha seu progresso, mina suas artimanhas, ocupa seu espaço, e, se mesmo assim ele conseguir te sobrepujar, que seja em condição tão peculiar que a finalização, o ponto, seja impedido pelo erro. Quando há ataque do adversário, os bravos guerreiros da defesa estão fazendo o mesmo, defendendo. Todo o time na mesma batalha, na defesa da sua alma em jogo: a cesta. Logo após recuperada a bola, o time muda de função, e em questão de segundo, os gladiadores da defesa estão agora em alma e carga total rumo ao ataque. Todos são ataque nesse momento. A bola percorre de mão em mão, de jogador em jogador, tal e qual a posição do time melhor favoreça o lance exato, a conversão dos pontos. E, se o erro acontecer, há uma batalha cruel pelo rebote. A decisão de quem mandará no coração da partida ao alto e sem dono. O basquete é, antes de tudo, uma paixão pelo espírito coletivo e a soma das habilidades dos jogadores de um mesmo time.

Já o Street, caros amigos, não é nada disso. A cesta é mero detalhe, uma espécie de prêmio pela jogada. Não há jogada bela no street pela simples beleza técnica ou tática, mas sim pelo total desprezo ao adversário e ao próprio companheiro de equipe. Bolas simuladas, sem nenhuma objetividade, rumo ao rosto do adversário tem igual plástica nesse jogo que aquele suado ponto do basquete de verdade, onde houve habilidade e superação de um time inteiro e mais aquela alma em jogo. No street, defende-se o adversário e não a cesta. O adversário não pode fazer estripulias em quadra mais do que você, essa é no fim das contas o sentido do street. Para que regras então? Mãos atrapalhadas, rodopios desnecessários, bolas escondidas dentro dos calções ou camisa, enfim, tudo é feio e nada objetivo. E, quem ganha o jogo não é aquele que melhor se superou, nem tão pouco o que mais obteve sucesso nos fundamentos, mas sim aquele que melhor soube fazer malabares ou micagens com o adversário. Admiro os malabaristas, e como não tenho a menor vocação para essa árdua habilidade e que exige incessantes horas de treino, quando os vejo, geralmente no circo, aplaudo com fervor e alegria. Mas, considerar malabarismo mais importante que tudo justamente em um esporte que o objetivo não é o malabarismo, mas a cesta, ou é um outro esporte, ou então é um crime contra aqueles que o levam a sério. E esporte nenhum considera o desrespeito com os colegas e adversários algo louvável, e justamente por isso que afirmo: não sei se streetball é esporte, mas não é, definitivamente, basquete!

3 comentários:

Anônimo disse...

Bom, acho que entendo esta sua posição frente a uma nova "modalidade" do basquete que vem se propagando pelas ruas atualmente.
Talvez aqueles que realmente admirem este esporte podem entendê-lo, durante a época em que eu treinava, sempre lembro da treinadora repetir "respeitem o adversário e joguem o seu jogo" enfim isto é que o esporte deve, ou deveria, passar, o espírito de coletividade, disciplina e respeito mútuo.
Um jogo verdadeiramente belo é aquele que, apesar da rivalidade entre os times, há um respeito entre os jogadores e pela equipe adversária, onde a qualidade técnica, em conjunto com a habilidade individual de cada jogador, produz jogadas espetáculares e defesas entrosadas levando o time à vitória.
Há aqueles que achem as "jogadas" do street mais belas, na minha opinião peripécias desnecessárias, onde não há qualidade técnica, nem conhecimento de fundamentos básicos, só consigo enchergar o desrespeito pelo adversário, que pode acabar gerando animosidade entre os participantes de um "jogo".
Espero que o verdadeiro basquete encontre cada vez mais fãs e cative mais e mais adéptos, onde o espírito de trabalho em equipe seja sempre o principal elo entre os jogadores.

Unknown disse...

Bem,entendo e respeito o que vc disse. Não sou praticante de basquete nem de streetball porém admiro e gosto muito dos dois. Acho que cada um tem sua graça,adOro assistir a um jogo de basquete e concordo com o que vc disse a respeito da coletividade e tal, mas o streetball é uma espécie de show, as pessoas vão para ver as tais "peripécias" dos ballers,essa é a graça, as pessoas ficam ansiosas para ver as enterradas, hurrycanes... é um jogo de criatividade, improviso. Pelo menos em alguns que assisti não vi desrepeito com o adversário,é só um desafio.Por isso pra praticar street tem que ter um certo "jogo de cintura". O streetball não incetiva os jogadores a desrespeitarem seus adversários,essas atitudes são próprias de cada jogador,no basquete também existem esses tipos de jogadores.
E também o streetball veio dos E.U.A. e lá o streetball além de estar misturado com hip hop e tal, é uma saída da criminalidade para os jovens de periferia,uma distração, do jeito que é lá trouxeram pra cá. Sem falar que dali surgiram ótimos jogadores de Basquete e também tem grandes jogadores de Basquete que já jogaram e admiram Streetball, e vice-e-versa.
É claro que Basquete é basquete, Streetball é Streetball,que basquete se trabalha coletividade, já no street é total individualismo, porém, eles são parecidos, querendo ou não automaticamente um lembra o outro.
Enfim...os dois são belos cada um a seu modo. Há espaço para os dois.E considero sim Streetball um esporte, individual, mas um esporte!!

Espero que entenda o meu ponto de vista!Obrigada!

Michael Genofre disse...

Cara Ana Paula, adoraria debater contigo sobre esse tema, ainda mais quando um texto escrito dois anos atrás sucita uma defesa tão bem argumentada quanto a sua. Porém, seu perfil não está permitido. Envie-me um email com seu endereço e farei questão de continuar esse papo. Agradecido.

genofre@gmail.com