Como sempre, o Cozinha tarda mas não falha. Desejando um ano de 2008 repleto de alegrias e sucessos, segue a análise da corrida presidencial nos EUA. Afinal, “tiro ianque para cima nos acerta na testa”.
Iowa é um estado de maioria evangélica e campeã em dar verdadeiras lições aos presidenciáveis sobre o quanto é necessário mudar no meio da campanha se deseja ser o próximo chefe da Casa Branca. Agora, diferentemente do que alguns meios de comunicação noticiaram, não foi nem a cor da pele de Obama e nem o fato de Clinton ser mulher os fatores decisivos para o resultado obtido no lado Democrata. Se olhar com mais atenção, a surpresa se deu do lado Republicano, quando a modesta campanha de Huckabee supera a máquina bem abastada principalmente de Romney.
Questões raciais ou de gênero são importantes, sem dúvida, porém não são determinantes para as prévias do Partido Democrata do Iowa. Primeiramente, pelo grande número de delegados jovens, que representou 59% dos votos de Obama. Estes demonstraram clara insatisfação com quaisquer propostas onde não se dava um claro posicionamento de rompimento com a política atual dos Estados Unidos. Obama radicalizou o discurso, principalmente no que diz respeito à invasão iraquiana, defendendo a retirada imediata das tropas estadunidenses. Enquanto Clinton se apresentava enquanto moderada, com uma certa experiência da qual justamente a juventude do Partido Democrata do Iowa mais é contra. Edwards, com uma política situada entre o posicionamento moderado de Clinton e a radicalização de Obama, acabou obtendo praticamente um empate com Hillary. Importante lembrar que as prévias entre os Democratas funcionam num modelo distinto do Republicano, enquanto esse é direto, bastando comprovante de endereço e filiação para escrever numa cédula o nome de seu candidato, aquele é por meio de delegados que, após se reunirem, determinam o voto de um grupo e aquele candidato que não obtiver um mínimo de 15% dos votos perde o direito de ser votado, e seus eleitores obrigados à ou se absterem ou migrar seu voto para outro candidato. No caso de Iowa, Kucinich orientou seus eleitores a migrarem seus votos para Obama. Obama venceu com mais de 900 votos, enquanto Clinton e Edwards obtiveram pouco mais de 700 votos.
Do lado Republicano foi onde surgiu a grande surpresa. Huckabee vence com uma campanha consideravelmente mais modesta que a de McCain e Romney, e confirma a baixa popularidade de Giuliani além das fronteiras dos Estados da Costa Atlântica. Com uma votação grandiosa, Huckabee conseguiu agrupar um elevado número de redes evangélicas, decisivas para os Republicanos do Iowa. Romney, mórmon, não conseguiu se manter à frente, contrariando as mais diversas pesquisas de opinião, justamente por basear sua campanha muito mais no apelo publicitário que na famosa campanha “de porta-em-porta”. Huckabee fez a lição de casa, aplicou sua experiência enquanto pastor, e emplacou uma sonora vitória sobre seus adversários.
Em ambos partidos, semelhança no eleitorado somente na tradicional ojeriza às campanhas negativas, de ataque aos adversários. Foi em Iowa que Bill Clinton foi derrotado e, devido a isso, ter radicalizado na sua postura de campanha. O mesmo exemplo serviu para Reagan e Bush pai em 1980 (Reagan perdeu em Iowa, tendo Bush como vencedor. Reagan reagiu e sagrou-se vitorioso, porém Bush obteve maior projeção após esse primeiro resultado). Além disso, Iowa costuma ensinar que, mesmo com um colégio eleitoral pequeno, mesmo sendo um Estado pequeno, ele costuma a ser decisivo, pois inaugura um efeito dominó inevitável no processo das prévias americanas (caucus).
Daqui a algumas horas sai o resultado em New Hampshire, que diferentemente de Iowa, é um Estado conservador. Tradicionalmente uma prova real do resultado de Iowa. Ir mal nesses dois estados é tão prejudicial quanto tropeçar na largada de uma corrida de 100 metros rasos. O Estado Granito, cujo lema é “Viver livre ou morrer”, é uma das treze colônias fundadoras, e onde a política de continuidade se torna mais decisiva que uma de maior radicalismo. Por isso, creio que Clinton obterá uma reação, provavelmente ganhando essa prévia, porém não se tratará de uma ampla margem de vitória. Aparentemente, tudo indica que haverá um empate técnico (afinal, se houver empate de verdade, a decisão vai para o cara-ou-coroa, segundo os estatutos do Partido Democrata, e assim se torna impossível qualquer análise). Não creio que Edwards obtenha em New Hampshire uma votação tão grande quanto o que teve em Iowa.
Do lado Republicano, também aposto em uma reação de Romney e Giuliani. O que deixará Huckabee com um provável terceiro lugar. Apenas não consigo ter um critério mais sólido para apostar em McCain, podendo ser esse o grande azarão da rodada. Que rumbem os tambores, e foi dada a partida!
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