16 janeiro 2008

"É a economia, idiota!"

Apostei em McCain para a corrida em Michigan e, para minha surpresa, deu Romney.

Porém isso não me abalou, serviu de advertência para que eu nunca mais esquecesse de uma questão realmente superadora para todos os países alinhados com o neoliberalismo: "It's the economy, stupid!". Essa frase, enunciada por Bill Clinton quando em debate com o Bush pai, tornou-se o slogan da vitoriosa campanha de 1991. Naquela época, Bush pai havia mergulhado os EUA numa enorme recessão econômica graças principalmente à guerra com o Iraque, e em sua campanha atava Clinton pelos aspectos morais. Ora, como já disse Marx: "A história sempre se repete: primeiro como tragédia, depois como farsa", hoje Bush filho se vê perdido entre uma nova guerra ao Iraque, com resultados ainda piores de quando seu pai governava os EUA, e uma bolha de recessão prestes a estourar devido o "calote" imobiliário e o anúncio de prejuízo histórico do Citybank. O candidato Republicano mais alinhado ao conservadorismo da doutrina Bush, ainda com severas críticas a ela, e John McCain, não desceu do muro no que diz respeito à uma política de combate ao desemprego em Michigan, partindo para uma "água com açucar" proposta de reinvenção da industria naquele Estado, investindo em treinamento e novos investimentos à chegada de novas indústrias. Romney, por sua vez, bateu sem dó na doutrina Bush, apontou defeitos realmente impactantes, e ainda que sua proposta não tenha saído do senso comum, conseguiu sair de Michigan vitorioso. "É a economia, idiota!"


Quando no começo das prévias, antes mesmo do resultado de Iowa ter saído, o assunto que mais possuia peso eleitoral era a qustão iraquiana. Economia situava-se em segundo lugar. Porém, observando mais de perto, a própria questão iraquiana possuía muito mais motivos preocupadores sob o ponto de vista econômico que a rejeição aos horrores da guerra e o retorno dos "filhos da pátria". Com a crise imobiliária, hoje a questão econômica é disparadamente o fator decisivo para a corrida presidencial. Ora, Michigan possui o absurdo índice de quase 8% de desemprego, sua principal indústria é o automobilismo, que há tempos está em baixa, aquele candidato que se mostrasse mais pessimista, que não levasse em sua campanha uma mensagem de esperança para a economia dos EUA, certamente sairia derrotado. Realmente, acabei me perdendo na minha análise e esqueci de ler os discursos de McCain, apenas lendo os de Romney. Esse, ainda que com propostas bastante inconsistentes, jogou duro na tal da "Hope", enquanto que aquele, por mais que mais centrado e sem fórmulas mirabolantes, foi considerado um pessimista de Washington. Romney fez a lição de casa, demonstrou que sempre é necessário dar preferência para aqueles que sabem falar a mesma língua de seu eleitorado. Romney, nascido em Michigan, soube explorar bem suas propostas numa retórica conterrânea.


Com o resultado de Michigan, a corrida presidencial estadunidense torna-se ainda mais imprevisível. Republicanos e Democratas não possuem ainda um nome consolidado. Do lado Republicano, Romney passa a frente, mas qualquer resultado na Carolina do Sul e Flórida, antes da Superterça, pode mudar tudo novamente. Do lado Democrata, Hillary e Obama baixam a "bola", talvez por orientação de seus comitês, talvez pela alta cúpula Democrata, o fato é que a agressividade de seus embates estavam favorecendo uma enorme cisão no Partido, o que certamente enfraqueceria qualquer campanha após o fim das prévias. Em todo o caso, um novo "round" está marcado para sábado, na Carolina do Sul.


A questão racial finalmente entra em jogo de vez na Carolina do Sul, o que explica os estranhos posicionamentos entre Hillary e Obama na luta pela herança de Luther King Jr. Claro que a guerra da secessão já foi superada há tempos, e a recuperação econômica após a grande depressão de 1930 colocou a questão econômica na ordem do dia. Obama não é descendente de escravos, sua etnia é por parte de pai queniana, e por parte de mãe branca estadunidense. Isso faz um enorme diferencial na Carolina do Sul, porém continuo defendendo que é de forte influência, porém não definidora. Afinal, trata-se de um Estado tradicionalmente Republicano, com uma economia baseada nas indústrias texteis e de manufaturas, e que possui também um enorme índice de desemprego, o quinto maior dos EUA. Aposto fichas na forte presença das alas tradicionais Democratas da Carolina do Sul, o que favorece uma vitória de Hillary. Do lado Republicano, Romney tende ser o mais favorecido. Huckabee e McCain possui como bases principais nesse Estado a comunidade evangélica, porém Carolina do Sul é esmagadoramente católica. Ainda que Romney seja mórmon, sua campanha segue em frenético ritmo de ataque à doutrina Bush e uma atenta reflexão acerca da dívida pública desse Estado (mais de 2.500 dólares per capita de dívida), chegando a falar, inclusive, em perdão de parte das dívidas e reaquecimento econômico da região. Ninguém descarta ainda a presença de Giuliani ainda que tardiamente. Certamente, Rudy irá se complicar ainda mais se não esboçar alguma reação nessa prévia.


Que rumbem os tambores, sábado a luta será em Carolina do Sul. Ósculos e amplexos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Michael

Que me diz dessa frase do Barack Obama, depois dos resultados na Carolina do Norte

"Estas eleições não são de negros contra brancos, mas do passado contra o futuro."

Anônimo disse...

Ato falho

Carolina do Sul

Att

Michael Genofre disse...

Grande Marc!
Por não se tratar de uma luta contra negros e brancos, mas de passado contra futuro: Primeiramente pelo fato de que a eleição não depende das questões raciais, mas dos temas que realmente preocupam o eleitorado americano. Hillary representa os democratas tradicionais, Obama, os novos democratas. Segundo, ainda creio que Hillary vença a super-terça pelo fato de que na maioria dos Estados que haverão as prévias são dominadas pelos tradicionalistas democratas. Mas, certamente, Obama conseguiu imprimir a necessidade de mudanças em sua campanha. Comentário pessoal, torço para Obama; mas nunca me esqueço que ele é um Democrata no fim das contas. Um abraço.