31 janeiro 2008

Superterça chegando: "brainstorm"

Até agora, foram decididos 174 delegados Democratas e 211 Republicanos. No total são 4046 delegados Democratas e 2348 Republicanos. Só na Superterça são escolhidos 2075 Democratas e 1081 Republicanos.
=============================================
Se eu pudesse escrever um anexo ao "Imperialismo, fase superior do capitalismo", de Lênin, certamente eu escreveria sobre a forma latino-americana de conceber o imperialismo ianque. Certamente colocaria nesse anexo a brilhante contribuição de Martí, que, na minha opinião, foi o primeiro a liderar uma ofensiva concreta contra o expansionismo dos Estados Unidos. José Martí compreendeu que a tomada da Flórida, do Texas, e da Califórnia, era a práxis imperialista para sua expansão e dominação da América, e elegeu na defesa de Cuba o freio capaz de parar o gigante Tio Sam. Cuba conseguiu, a sua maneira, frear o gigante. E, de lá para cá, a política imperial dos EUA tem passado por diversos períodos de transformações, porém sempre com uma lógica central expansionista que muda muito pouco independente se Democrata ou Republicano. De um lado, os Democratas dominam a expansão pela interferência econômica, acesso irrestrito a mercados, e usando de força armada quando o resultado não é satisfatório. Do lado Republicano, a interferência sempre parte do domínio das fontes de energia, e também se lançam em armas para defender o que acham certo.

Por diversas vezes ignorada por pura arrogância acadêmica, a crítica latino-americana ao gigante Tio Sam acaba sendo uma das mais acertadas, pois os impactos sociais dos mais suaves aos mais brutos da expansão estado-unidense acabam sendo aqui, já outrora classificado enquanto quintal ianque. Cientistas políticos, filósofos e sociólogos da América Latina já alertavam, lá atrás no tempo, que Bush identificava a vulnerabilidade dos EUA para proteger seus interesses e investimentos, e adotou a política de defesa antecipada, ataque antes de ser atacado. A novidade dessa política se encontra no período histórico pós-guerra fria, pois desde Carter que essa política é doutrina bastante difundida na Casa Branca, e aceita por diversos países europeus.
A reviravolta política estado-unidense veio antes ainda que das atuais prévias dos Partidos Democrata e Republicano. Esboçou-se na eleição presidencial passada, quando Bush perdeu no conjunto dos votos, mas venceu graças a uma polêmica contagem dos votos do Colégio Eleitoral. Veio se confirmando na sonora derrota republicana nas eleições do ano retrasado, onde Casa dos Representantes e Senado ganharam maioria democrata. E nas atuais prévias, tudo indica que o próximo ou próxima presidente dos EUA será um Democrata. Tudo indica que o eleitorado de lá não aceita mais a atual doutrina de expansão, optando por outra, mais engajada, menos protecionista, mais ousada econômicamente, que saia da defensiva agressiva bélica e parta para uma ofensiva de intervenção econômica nos países que disputam a hegemonia mundial com o Tio Sam.
O Partido Republicano tem na sua história o mérito de ter se posicionado contra a escravidão, ao passo que os Democratas eram favoráveis. Afinal, naquela época, a maioria democrata se encontrava nos estados do sul, ao passo que os republicanos se situavam ao norte. Ao mesmo tempo, foi durante governo Republicano que os EUA obtiveram o Texas, Flórida, e Novo México. Durante o governo Bush pai, Republicano, a expansão foi para o Oriente Médio. Durante o governo Clinton, voltou-se para as Américas. E, durante Bush filho, voltou para o Oriente Médio. De acordo com essa lógica, deveríamos nos preocupar, certo? Em partes, pois o ciclo econômico virtuoso está dando provas de finalização, o gigante não dorme mais tranquilo. Logo, não importa se Democrata ou Republicano, o mundo deverá dormir com um olho fechado e o outro aberto. Ou melhor, não dormir.
===========================================================
A importância da Superterça, ou melhor, das prévias anteriores a ela.

Não se deve subestimar as prévias antes da Superterça. O poder de influência que possuem os Estados que antecedem a primeira grande data da corrida presidencial estadunidense já se demonstrou claramente derrubando antigos favoritos e colocando como incerto o resultado final. Mas, para quê tanto faniquito? Flórida, Carolina do Sul, Nevada, Michigan, Iowa, New Hampshire, Wyoming, enfim, todos os Estados onde já tiveram suas prévias, não representam nem 3% do total da Superterça, que por sua vez representa a metade do total das prévias em números de delegados.
A resposta é bastante simples: as prévias que antecedem a Superterça influenciam a própria Superterça, além de evitar que azarões surjam da noite para o dia. A Superterça será a definição de quem concorre de fato, quem terá que amarrar delegados até a Convenção. Elimina concorrentes, e afunila a escolha final em sempre dois candidatos. Do lado Republicano, é dado como certo que seja entre Romney e McCain. Por mais que Huckabee tenha tido seus momentos de glória, é ainda o grande azarão do lado do elefante. Já, do lado do burrico, Obama e Clinton há tempos são os reais candidatos, a saída de Edwards apenas confirmou o que já era uma realidade.
==================================================
Superterça

Democratas
Alabama Primárias 60 delegados
Alaska Caucus 18 delegados
Arizona Primárias 67 delegados
Arkansas Primárias 47 delegados
Califórnia Primárias 441 delegados
Colorado Caucus 71 delegados
Connecticut Primárias 60 delegados
Delaware Primárias 23 delegados
Georgia Primárias 103 delegados
Idaho Caucus 23 delegados
Illinois Primárias 185 delegados
Kansas Caucus 41 delegados
Massachusetts Primárias 121 delegados
Minnesota Caucus 88 delegados
Missouri Primárias 88 delegados
Nova Jersey Primárias 127 delegados
Novo Mexico Caucus 38 delegados
Nova York Primárias 281 delegados
Dakota do Norte Caucus 21 delegados
Oklahoma Primárias 47 delegados
Tennessee Primárias 85 delegados
Utah Primárias 29 delegados
Democratas Estrangeiros Primárias 11 delegados
Total: 2075 delegados

Republicanos
Alabama Primárias 48 delegados
Alaska Caucus 29 delegados
Arizona Primárias 53 delegados
Arkansas Primárias 34 delegados
Califórina Primárias 173 delegados
Colorado Caucus 46 delegados
Connecticut Primárias 30 delegados
Delaware Primárias 18 delegados
Georgia Primárias 72 delegados
Illinois Primárias 70 delegados
Massachusetts Primárias 43 delegados
Minnesota Caucus 41 delegados
Missouri Primárias 58 delegados
Montana Caucus 25 delegados
New Jersey Primárias 52 delegados
Nova York Primárias 101 delegados
Dakota do Norte Caucus 26 delegados
Oklahoma Primárias 41 delegados
Tennessee Primárias 55 delegados
Utah Primárias 36 delegados
Virgínia do Oeste Caucus 30 delegados
Total: 1081

29 janeiro 2008

Colunas de leitores NoSense

Sempre tive a vontade de dar respostas aos Leitores que avidamente escrevem para os jornais e revistas. Bom, apresento agora meu novo blog:

Leitor NoSense

Ósculos e Amplexos.

Carolina (do Sul) se foi, e eu fiquei a ver navios.



Impressionante, santa virada, Batman! Obama deu uma verdadeira surra em Hillary. A questão racial nos EUA é tema saboroso certamente para qualquer analista político, porém de maneira tão enlatada quanto a forma de ver a cultura americana pelas telas de televisão ou cinema. Os debates foram acalorados. Hillary e Obama se preocuparam muito em tirar de cena a questão racial para se aplicarem especificamente nas críticas à crise econômica estadunidense. Porém, mais de 55% dos votos para Obama na Carolina do Sul coloca uma votação em massa de Democratas negros e brancos, preocupados com a postura conservadora de Hillary, num momento econômico cujo conservadorismo é justamente uma das principais vertentes do problema.

Durante o jogo político, há reviravoltas, há palavras de impacto, mudanças nos rumos dos ventos da política. Quando fiz a análise sobre as prévias na Carolina do Sul, fiz com um perigoso adiantamento de duas semanas. Um crime, considerando que se trata de prévias historicamente mais imprevisíveis dos EUA. A surra dada em Hillary fortaleceu Obama a ponto de, se perder a Superterça, ainda assim estará nos calcanhares de Hillary e cada Estado, cada fração de delegados à Conferência Democrata, se fará decisiva. Ainda que eu aposte em Clinton, não sei mais dizer com toda certeza se não dará Obama.

O que virá, certamente, é a derrota da ultra-direita nos Estados Unidos, representada por Bush, Cheney, e Rice. A patética Política Patriota (Patriot Act), que dá direito aos órgãos e serviços de segurança passar sobre os direitos individuais; a crise econômica, as guerras absurdas, enfim, o eleitorado dos Estado Unidos sente agora na pele seus efeitos e tem o poder de vencer a ultra-direita colocando, na sua forma de pensar, um Democrata no lugar de um Republicano. Quanto mais Obama vai se destacando enquanto um direitista "against" aos ultra-direitistas, Hillary vai se colocando enquanto uma ultra-direita moderada, se é que posso utilizar essa forma de expressão.

Os conservadores já decretaram: Hillary, entre eles New York Times e Herald Tribune; os progressistas, por sua vez, Obama. Resta saber se Michael Moore estava certo há quatro anos atrás, em seus 10 motivos para não cortar os pulsos ainda: a juventude estadunidense será maioria em 2008, vai eleger um Democrata e, esse, será aquele que romper com o tradicionalismo do "neo-facista" Bush.

16 janeiro 2008

"É a economia, idiota!"

Apostei em McCain para a corrida em Michigan e, para minha surpresa, deu Romney.

Porém isso não me abalou, serviu de advertência para que eu nunca mais esquecesse de uma questão realmente superadora para todos os países alinhados com o neoliberalismo: "It's the economy, stupid!". Essa frase, enunciada por Bill Clinton quando em debate com o Bush pai, tornou-se o slogan da vitoriosa campanha de 1991. Naquela época, Bush pai havia mergulhado os EUA numa enorme recessão econômica graças principalmente à guerra com o Iraque, e em sua campanha atava Clinton pelos aspectos morais. Ora, como já disse Marx: "A história sempre se repete: primeiro como tragédia, depois como farsa", hoje Bush filho se vê perdido entre uma nova guerra ao Iraque, com resultados ainda piores de quando seu pai governava os EUA, e uma bolha de recessão prestes a estourar devido o "calote" imobiliário e o anúncio de prejuízo histórico do Citybank. O candidato Republicano mais alinhado ao conservadorismo da doutrina Bush, ainda com severas críticas a ela, e John McCain, não desceu do muro no que diz respeito à uma política de combate ao desemprego em Michigan, partindo para uma "água com açucar" proposta de reinvenção da industria naquele Estado, investindo em treinamento e novos investimentos à chegada de novas indústrias. Romney, por sua vez, bateu sem dó na doutrina Bush, apontou defeitos realmente impactantes, e ainda que sua proposta não tenha saído do senso comum, conseguiu sair de Michigan vitorioso. "É a economia, idiota!"


Quando no começo das prévias, antes mesmo do resultado de Iowa ter saído, o assunto que mais possuia peso eleitoral era a qustão iraquiana. Economia situava-se em segundo lugar. Porém, observando mais de perto, a própria questão iraquiana possuía muito mais motivos preocupadores sob o ponto de vista econômico que a rejeição aos horrores da guerra e o retorno dos "filhos da pátria". Com a crise imobiliária, hoje a questão econômica é disparadamente o fator decisivo para a corrida presidencial. Ora, Michigan possui o absurdo índice de quase 8% de desemprego, sua principal indústria é o automobilismo, que há tempos está em baixa, aquele candidato que se mostrasse mais pessimista, que não levasse em sua campanha uma mensagem de esperança para a economia dos EUA, certamente sairia derrotado. Realmente, acabei me perdendo na minha análise e esqueci de ler os discursos de McCain, apenas lendo os de Romney. Esse, ainda que com propostas bastante inconsistentes, jogou duro na tal da "Hope", enquanto que aquele, por mais que mais centrado e sem fórmulas mirabolantes, foi considerado um pessimista de Washington. Romney fez a lição de casa, demonstrou que sempre é necessário dar preferência para aqueles que sabem falar a mesma língua de seu eleitorado. Romney, nascido em Michigan, soube explorar bem suas propostas numa retórica conterrânea.


Com o resultado de Michigan, a corrida presidencial estadunidense torna-se ainda mais imprevisível. Republicanos e Democratas não possuem ainda um nome consolidado. Do lado Republicano, Romney passa a frente, mas qualquer resultado na Carolina do Sul e Flórida, antes da Superterça, pode mudar tudo novamente. Do lado Democrata, Hillary e Obama baixam a "bola", talvez por orientação de seus comitês, talvez pela alta cúpula Democrata, o fato é que a agressividade de seus embates estavam favorecendo uma enorme cisão no Partido, o que certamente enfraqueceria qualquer campanha após o fim das prévias. Em todo o caso, um novo "round" está marcado para sábado, na Carolina do Sul.


A questão racial finalmente entra em jogo de vez na Carolina do Sul, o que explica os estranhos posicionamentos entre Hillary e Obama na luta pela herança de Luther King Jr. Claro que a guerra da secessão já foi superada há tempos, e a recuperação econômica após a grande depressão de 1930 colocou a questão econômica na ordem do dia. Obama não é descendente de escravos, sua etnia é por parte de pai queniana, e por parte de mãe branca estadunidense. Isso faz um enorme diferencial na Carolina do Sul, porém continuo defendendo que é de forte influência, porém não definidora. Afinal, trata-se de um Estado tradicionalmente Republicano, com uma economia baseada nas indústrias texteis e de manufaturas, e que possui também um enorme índice de desemprego, o quinto maior dos EUA. Aposto fichas na forte presença das alas tradicionais Democratas da Carolina do Sul, o que favorece uma vitória de Hillary. Do lado Republicano, Romney tende ser o mais favorecido. Huckabee e McCain possui como bases principais nesse Estado a comunidade evangélica, porém Carolina do Sul é esmagadoramente católica. Ainda que Romney seja mórmon, sua campanha segue em frenético ritmo de ataque à doutrina Bush e uma atenta reflexão acerca da dívida pública desse Estado (mais de 2.500 dólares per capita de dívida), chegando a falar, inclusive, em perdão de parte das dívidas e reaquecimento econômico da região. Ninguém descarta ainda a presença de Giuliani ainda que tardiamente. Certamente, Rudy irá se complicar ainda mais se não esboçar alguma reação nessa prévia.


Que rumbem os tambores, sábado a luta será em Carolina do Sul. Ósculos e amplexos.

14 janeiro 2008

Enquanto isso, nos bastidores...

  • A questão racial nos Estados Unidos é importante, influencia, porém não determina. Barack Obama vai adquirindo maior volume enquanto candidato negro apenas na medida em que Hillary tropeça na campanha de desvalorização de seu rival Democrata. Pior para Hillary, a questão racial por lá, entre os Democratas, em quase todos os estados, tira votos de quem se mantém numa postura de ataque, não ao que está na defesa.
  • Obama defende um aumento considerável para a importação de etanol brasileiro. Motivo: diminuir a influência de Hugo Chavez e impondo um “bloqueio light” ao país Bolivariano. Bom para a economia brasileira, ruim para o povo brasileiro, péssimo para a América Latina e horrível para os trabalhadores do mundo. E olha que Obama é, entre todos os candidatos, o mais progressista. Afinal, disputa-se também o cargo de “chefe do mundo” ao se disputar a presidência do principal comandante do neoliberalismo mundial.
  • Hillary, por sua vez, é crítica feroz à forma Republicana de tratar a América Latina. Segundo ela, a importância dos países latinos foi jogada à segundo plano, e que os Democratas deverão impor um acompanhamento mais de perto. Ainda continua aquela máxima: “Republicanos fazem mal ao mundo, já os Democratas fazem o mesmo, começando pela América Latina”.
  • Bloomberg é a pedra no sapato de Giuliani. A cidade de Nova Iorque se tornou uma garota propaganda indesejável para Rudy, uma vez que o bilionário Bloomberg é quem melhor pode usar dela. A sorte de Rudy é que o eleitorado novaiorquino pressiona para que Bloomberg termine seu mandato como prefeito da Big Apple, o que alivia, mas não cura, a já cambaleante campanha do “Senhor 11 de setembro”.
  • Independentemente se foi um golpe de marketing, ou realmente um momento de fragilidade, mas o certo que o choro de Hillary não foi difícil de se produzir, pois com a agenda de campanha e o Obama mordendo seus calcanhares, o choro se torna algo praticamente “piece of cake”.

  • Aumenta a lista de apoiadores gigantes à Obama, dessa vez foi o ex-candidato John Kerry. O apoio foi dado num comício na Carolina do Sul, próximo ponto de combate antes da Superterça, uma vez que Michigan foi desconsiderada pelo Partido Democrata.

  • Bill Richardson está fora do páreo, renunciou recentemente. Ele se junta a Dodd e Bidden na condição de cabo eleitoral para outro candidato, provavelmente Obama.

  • Brincadeira de internauta: Huckabee ganhou em Iowa, motivo: apelou para o Chuck Norris.

  • Estranhamente, ninguém comentou nada sobre a libertação dos reféns das Farc e da vitória de Hugo Chavez enquanto mediador. Muito menos sobre uma reclassificação das Farc de grupo terrorista para movimento beligerante.

  • Outra brincadeira, agora de intelectual de boteco: perguntaram para Hillary e Obama quais são os presidentes Latino-Americanos que mais admiram. A resposta de Obama: Lula! A de Hillary: Eu!

Ósculos e amplexos

Depois do Estado Granito, lá vem o do Grandes Lagos.



E a corrida para a Casa Branca continua...


McCain e Clinton foram os vencedores em New Hampshire. Porém, Barack Obama segue “cabeça-a-cabeça” com Hillary, e do lado Republicano as coisas continuam indefinidas.


Nada mais natural para um Estado conservador, de importância secundária na grande máquina econômica estadunidense, onde, do lado Democrata, quem obteve maior presença foi o eleitorado tradicional e, do lado Republicano, uma considerável aversão à novidades.
É difícil ter seriedade em considerações como “Hillary virou o jogo após ter chorado, após ter se lembrado que é mulher”. Sinceramente, esse tipo de análise apenas reforça o caráter preconceituoso e machista do analista em questão. Hillary é, definitivamente, a candidata mais conservadora do lado Democrata. Ela irá obter, praticamente, todos os votos dos Democratas tradicionais. Obama, por sua vez, representa o clima de mudança também característico desse partido, porém, também característico é a demora em qualquer forma de renovação na rígida e complexa estrutura Democrata.


Quando em Iowa a juventude compareceu em peso no Caucus Democrata, em New Hempshire as primárias revelaram uma divisão “fifty-fifty” entre o eleitorado Democrata. Tudo isso, enfim, comprova uma das mais disputadas e incertas definições para o grande candidato do lado Democrata para a Casa Branca. A maioria dos analistas políticos dos quais eu possuo simpatia tanto pelo mérito quanto pela concordância aos seus métodos de análise, concordam que há uma fortíssima tendência para que o próximo Presidente dos EUA seja Democrata, e também que os tradicionais desse partido definam as prévias, o que deixaria Hillary no comando da corrida e Obama seu Vice. Todavia, também concordam que somente após a Superterça, quando mais de 20 Estados farão as suas prévias, é que realmente se poderá ter certeza de uma definição sobre qual o candidato Democrata para a Casa Branca.

Do lado Republicano, há tempos que não se existia tamanha incerteza quanto ao resultado das prévias. Giuliani está cada vez mais fora do páreo, Huckabee tende a ser apenas um incômodo, e o combate mesmo se definirá entre McCain e Romney. Entretanto, tão somente após a Superterça e, talvez somente após as prévias no Texas, é que se terá uma maior definição sobre o candidato Republicano.


Michigan poderia ser um verdadeiro divisor de águas e uma espécie de “termômetro” da Superterça. Porém, a severa punição por parte Democrata devido a antecipação da data das prévias nesse Estado, ou seja, a de “caçar” o direito de voto dos delegados à Conferência Nacional, fez com que apenas Hillary surja na cédula Democrata. Os demais candidatos insistem para que o eleitorado acrescente a palavra “uncommited”, algo como “sem compromisso”, para que o resultado final não dê margem ao fortalecimento da campanha de Hillary baseando-se num Estado com candidatura única. Se não fosse por essa punição, Obama certamente teria uma vitória considerável nesse Estado.

Do lado Republicano, aposto fichas novamente no azarão McCain. O estado de Michigan é o mais afetado pela crise imobiliária, o que mais sofre com a desvalorização do mercado automobilístico. O estado dos grandes lagos possui o maior índice de desemprego dos Estados Unidos, e a postura de Huckabee e de Romney não favorecem muito suas campanhas nesse Estado. Giuliani tende a ficar novamente de fora, principalmente com a possível confirmação de Bloomberg, atual prefeito de Nova York e com 73% de aprovação, como candidato independente.


Para encerrar, algumas auto-críticas: quando tentei explicar o confuso sistema de prévias, acabei trocando as bolas, e disse que em New Hampshire a eleição é por Caucus (sendo que é justamente o primeiro estado a realizar primárias); segundo, a lei do cara-e-coroa em caso de empate entre os Democratas só é válido para o Caucus de Iowa, nos demais Estados segue regimento próprio. Até o resultado em Michigan, e que rumbem os tambores, a Superterça está chegando! Ósculos e amplexos.

08 janeiro 2008

The caucus 2008 began! Obama and Huckabee are the winners in Iowa!

Como sempre, o Cozinha tarda mas não falha. Desejando um ano de 2008 repleto de alegrias e sucessos, segue a análise da corrida presidencial nos EUA. Afinal, “tiro ianque para cima nos acerta na testa”.

Iowa é um estado de maioria evangélica e campeã em dar verdadeiras lições aos presidenciáveis sobre o quanto é necessário mudar no meio da campanha se deseja ser o próximo chefe da Casa Branca. Agora, diferentemente do que alguns meios de comunicação noticiaram, não foi nem a cor da pele de Obama e nem o fato de Clinton ser mulher os fatores decisivos para o resultado obtido no lado Democrata. Se olhar com mais atenção, a surpresa se deu do lado Republicano, quando a modesta campanha de Huckabee supera a máquina bem abastada principalmente de Romney.

Questões raciais ou de gênero são importantes, sem dúvida, porém não são determinantes para as prévias do Partido Democrata do Iowa. Primeiramente, pelo grande número de delegados jovens, que representou 59% dos votos de Obama. Estes demonstraram clara insatisfação com quaisquer propostas onde não se dava um claro posicionamento de rompimento com a política atual dos Estados Unidos. Obama radicalizou o discurso, principalmente no que diz respeito à invasão iraquiana, defendendo a retirada imediata das tropas estadunidenses. Enquanto Clinton se apresentava enquanto moderada, com uma certa experiência da qual justamente a juventude do Partido Democrata do Iowa mais é contra. Edwards, com uma política situada entre o posicionamento moderado de Clinton e a radicalização de Obama, acabou obtendo praticamente um empate com Hillary. Importante lembrar que as prévias entre os Democratas funcionam num modelo distinto do Republicano, enquanto esse é direto, bastando comprovante de endereço e filiação para escrever numa cédula o nome de seu candidato, aquele é por meio de delegados que, após se reunirem, determinam o voto de um grupo e aquele candidato que não obtiver um mínimo de 15% dos votos perde o direito de ser votado, e seus eleitores obrigados à ou se absterem ou migrar seu voto para outro candidato. No caso de Iowa, Kucinich orientou seus eleitores a migrarem seus votos para Obama. Obama venceu com mais de 900 votos, enquanto Clinton e Edwards obtiveram pouco mais de 700 votos.

Do lado Republicano foi onde surgiu a grande surpresa. Huckabee vence com uma campanha consideravelmente mais modesta que a de McCain e Romney, e confirma a baixa popularidade de Giuliani além das fronteiras dos Estados da Costa Atlântica. Com uma votação grandiosa, Huckabee conseguiu agrupar um elevado número de redes evangélicas, decisivas para os Republicanos do Iowa. Romney, mórmon, não conseguiu se manter à frente, contrariando as mais diversas pesquisas de opinião, justamente por basear sua campanha muito mais no apelo publicitário que na famosa campanha “de porta-em-porta”. Huckabee fez a lição de casa, aplicou sua experiência enquanto pastor, e emplacou uma sonora vitória sobre seus adversários.

Em ambos partidos, semelhança no eleitorado somente na tradicional ojeriza às campanhas negativas, de ataque aos adversários. Foi em Iowa que Bill Clinton foi derrotado e, devido a isso, ter radicalizado na sua postura de campanha. O mesmo exemplo serviu para Reagan e Bush pai em 1980 (Reagan perdeu em Iowa, tendo Bush como vencedor. Reagan reagiu e sagrou-se vitorioso, porém Bush obteve maior projeção após esse primeiro resultado). Além disso, Iowa costuma ensinar que, mesmo com um colégio eleitoral pequeno, mesmo sendo um Estado pequeno, ele costuma a ser decisivo, pois inaugura um efeito dominó inevitável no processo das prévias americanas (caucus).

Daqui a algumas horas sai o resultado em New Hampshire, que diferentemente de Iowa, é um Estado conservador. Tradicionalmente uma prova real do resultado de Iowa. Ir mal nesses dois estados é tão prejudicial quanto tropeçar na largada de uma corrida de 100 metros rasos. O Estado Granito, cujo lema é “Viver livre ou morrer”, é uma das treze colônias fundadoras, e onde a política de continuidade se torna mais decisiva que uma de maior radicalismo. Por isso, creio que Clinton obterá uma reação, provavelmente ganhando essa prévia, porém não se tratará de uma ampla margem de vitória. Aparentemente, tudo indica que haverá um empate técnico (afinal, se houver empate de verdade, a decisão vai para o cara-ou-coroa, segundo os estatutos do Partido Democrata, e assim se torna impossível qualquer análise). Não creio que Edwards obtenha em New Hampshire uma votação tão grande quanto o que teve em Iowa.

Do lado Republicano, também aposto em uma reação de Romney e Giuliani. O que deixará Huckabee com um provável terceiro lugar. Apenas não consigo ter um critério mais sólido para apostar em McCain, podendo ser esse o grande azarão da rodada. Que rumbem os tambores, e foi dada a partida!