17 outubro 2009

Curitiba e a Copa.


Recentemente me perguntaram: você, como atual estudante e futuro profissional de Relações Internacionais, acha que Curitiba está pronta para ser sede da Copa do Mundo? Minha resposta foi: infelizmente, quase não tem sequer noção do que seja um evento desse porte.

Antes que eu seja apedrejado, deixe-me explicar e fundamentar minha resposta. Primeiro, eu fui praticamente um engajado curitibano pela escolha da minha cidade natal para sede da Copa do Mundo. Mas sabia que muitos de meus conterrâneos também faziam campanha muito mais pela oportunidade de ver os melhores jogadores do mundo mostrando seus talentos nos gramados curitibanos do que pelo desenvolvimento que um evento como esse proporciona às suas sedes. A oportunidade de vê-los existe, mas ao alcance de poucos. É um evento elitizado, e como tal, possui regras complexas e exige bastante dinheiro para que a pessoa possa acompanhar no estádio as performances das seleções. Se hoje reclamamos dos elevados valores para os jogos do Campeonato Brasileiro, entre R$ 20,00 e R$ 100,00, quando esses valores forem convertidos para o Euro ou o Dólar e aos padrões da FIFA, os preços irão começar pelo valor de aproximadamente R$ 100,00 e, daí por diante, o céu é o limite. Ainda que hajam lotes para a população local, a preços mais módicos e com disponibilidade de compra nos famosos "guichês", a quantidade é minúscula. Quem quiser assistir a Copa terá que desembolsar uma boa grana, nem sempre dará para assistir ao jogo ou a seleção que desejar, e ainda assim entrar nas complicadas regras da FIFA para compra de ingressos.

Parte da minha família morava na Alemanha quando ocorreu a última Copa por lá. Quantos jogos minha família conseguiu assistir no estádio? Resposta fácil: nenhum. Caro, difícil, regras complicadas, além do imenso medo de falsificação dos ingressos.

Falemos agora de outro aspecto: o institucional. Que um evento desse porte transforma cidades isso é um fato. Desenvolve de maneira fantástica não apenas devido às obras de infra-estrutura, mas também, por se tornar vitrine para o mundo, inúmeros investimentos privados desembarcam na cidade para aproveitar os quase trinta dias de jogos e podendo ficar por um bom tempo depois. Mas, novamente, o curitibano, nesse caso aquele responsável pela administração e organização da cidade, também não tem a menor ideia do que seja um evento como esse.

O metrô curitibano, que todo curitibano diz: "agora sai" - devido às últimas campanhas eleitorais terem sido praticamente sobre esse tema e nem sequer o cheiro do trem o curitibano sentiu - é ainda uma proposta tímida, ainda que consideravelmente melhor do que as propostas apresentadas pelas gestões anteriores (que não estavam nenhum pouco interessados nas demandas da cidade, queriam colocar o metrô onde desse, da forma que pudesse, e gastando o menos possível). Mas, esse metrô, que irá atender praticamente 1/4 dos usuários do transporte coletivo apenas com a sua Linha Azul (CIC-Sta. Cândida), terá até a Copa provavelmente terminada somente a Linha Azul. Esta não faz integração com dois importantíssimos locais: Aeroporto Afonso Pena e Rodoferroviária de Curitiba. Se o metrô tivesse sido levado mais à sério desde o momento em que a população curitibana reivindicou com força (no fatídico embate Vanhoni e Tanigushi), hoje seria um problema mais fácil de se resolver.

Aliás, falando de infra-estrutura, o terminal de cargas do Afonso Pena é demasiadamente pequeno, o estacionamento do aeroporto minúsculo, e o sistema que impede os famosos problemas de falta de teto para pousos e decolagens já virou conto da carochinha. O porto de Paranaguá tem limitações absurdas, e se não atrapalharem as obras do PAC que fará o porto ser o único da América Latina a receber navios de grande porte, contribui para que muito do que há de bom e do melhor do mundo não chegue às terras paranaenses.

Quem morou em Curitiba na época da reunião da ONU sobre diversidade biológica (COP-8 MOP 3) viu o quanto a cidade é despreparada para eventos internacionais de grande porte. Não havia profissionais internacionalizados o bastante, e os poucos que haviam, se receberam, ganharam um ordenamento de fome. As placas bilíngues continuam em Curitiba como lembrança desse evento. Aliás, sobre os profissionais, se Curitiba não começar urgentemente a investir no setor internacional, continuando com sua mentalidade administrativa provinciana, até 2014 dificilmente teremos profissionais aptos para atender as exigências da Copa e do nível de desenvolvimento que a cidade poderá alcançar depois que a Copa terminar.

Por fim, os problemas sociais da cidade se agravaram. A segurança é tratada em um empurra-empurra de responsabilidades. As ruas e as estradas estão cada vez mais deterioradas. A emissão de poluentes estão aumentando. Os espaços públicos para a família, para a cultura, para o desporto, e para a juventude, estão cada vez menores e bastante sucateados. Isso quando não surgem os 'elefantes brancos': obras faraônicas com ocupações 'gambiarras', nada funcionais, e que não representam ganhos senão visuais para a cidade. Além de outros problemas.

É claro que as coisas podem mudar nos próximos quatro anos e meio. É claro que, na medida em que o dinheiro vai chegando, mudanças vão acontecendo. Mas, se um debate sério e comprometido com a população curitibana não estiver à frente das obras e desenvolvimentos, a Copa vai passar e a cidade vai continuar na mesma ou, talvez, pior. Hoje, a resposta é essa: a cidade não está preparada para receber a Copa. E o pior: os observadores internacionais, que são responsáveis pela divulgação da cidade com seus boletins praticamente diários sobre como a cidade se prepara para Copa, chegarão imediatamente após o apito final do último jogo na Copa da África do Sul.

Fiquemos de olho. Ósculos e amplexos!

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