04 fevereiro 2011

Governo Richa: primeiras impressões

Igualmente àquela música em que se diz: "como será o amanhã? Reponda quem puder", como será o governo Richa e onde haverão os maiores rompimentos com o período Requião são questões que são frequentes em praticamente todas as rodas de "mate e salão" nas plagas dos três planaltos e litoral. Mas, o que se tem, de fato, são alguma medidas emergenciais e que ,a princípio, já começaram atrapalhadas sob o ponto de vista classista. Mais além disto ainda é muito mais especulação que certeza. Mas já é possível arriscar uma pequena leitura.

O "novo jeito de governar", palavra de ordem ao longo da campanha de Richa, por enquanto não se mostrou e tende a não se mostrar tão cedo. O que se viu em um mês de governo foi a velha prática do patrimonialismo e do clientelismo, típico, infelizmente, em todas as gestões oligárquicas em nosso país, levado à exaustão. Não há dúvidas que há uma séria preocupação em se eliminar a presença dos anos de Requião no comando do Estado, mas dizer que isso se dará de uma maneira nova ou é exagero ou é enganação.

Há uma "classe" política no Paraná que se assemelha àquela corte parasitária do período do rei francês Luiz XVI. Esta classe sobrevive, sem risco de exagero, desde os tempos do conselheiro Zacarias. Contemporaneamente, quem acompanhou a política paranaense de perto, viu legítimos representantes desta verdadeira canalha ao longo dos governos Lerner, Requião, Pessuti e agora tornamos a vê-los no governo Richa. Não consegue se ver longe do poder, mas nada faz pelo poder, pelo povo, ou pelo próprio governador. Apenas suga um pouco do prestígio de conviver respirando o pó do Palácio Iguaçu (ou das Araucárias, por um certo tempo). Vendo tais representantes logo no palanque de posse do atual governador já se presume que nada muito de inovador haverá no horizonte.

Na ALEP, um massacre semelhante ao que se viu na Câmara de Curitiba. Dos 54 deputados, apenas seis excelências se declaram oposição: todos do Partido dos Trabalhadores. Dividido, o próprio PMDB do ex-governador Requião não teve outra escolha senão optar por uma vexatória posição de neutralidade. Todos os demais partidos, mesmo os que fizeram campanha para Dilma e Osmar, declararam-se base do governo. Em política, vale lembrar a máxima de Dante Alighieri: "os piores lugares do purgatório estão reservados para aqueles que, em tempos de guerra, permaneceram-se neutros". Portanto, muito clientelismo por parte do Executivo a fim de manter a sua insana dificuldade de convivência com uma oposição. Muito patrimonialismo por parte do Legislativo, que tratou de garantir aumento de salário e punição à funcionários (ao invés de deputados envolvidos) devido aos escândalos dos Diários Secretos.

A esquerda paranaense, com apenas um partido na "elite" fazendo oposição, tem os demais partidos em uma crise histórica. Todos continuam convocados, mais do que nunca, a organizar uma oposição real, "às massas" como diria Lênin, pois sem ela sequer o bom senso prevalecerá na administração por falta de uma oposição qualificada. E os primeiros sinais já surgiram: privatização da Celepar, caos no processo de contratação de professores e temporários, e suspensão do programa "Leite das Crianças" em nome de uma moratória de 90 dias em que se preservou apenas a folha de pagamento dos comissionados e dos eletivos, e isso é apenas o começo.

Até mesmo para agir enquanto indutor do desenvolvimento o governo Richa não terá vida fácil. Pois isto implica no subsídio à áreas produtivas estratégicas que são claudicantes na realidade paranaense diante do complexo mercado. E, dada a articulação das correntes mais oligárquicas do Estado no apoio desde a campanha de Beto, tudo pende para subsídios para aqueles que já "nadam de costas além da arrebentação". Falar em mecanismos de distribuição de renda dentro deste governo será insanidade ou piada de mau gosto, o que é péssimo para o calejado trabalhador, para o pequeno e micro empresário, e para os pequenos e médio produtores.

Sem espaço de manobra em meio ao que há de mais travado em matéria de política provinciana, o desenvolvimento tende a ser matéria a ser descentralizada, bem como ações de segurança pública, saúde, e tantas outras áreas estratégicas. Ou seja, a única inovação possível em meio a tantos acordos com tradicionais correntes políticas patriarcalistas, patrimonialistas e clientelistas (além daquela canalha parasitária que é histórica no Estado) será transferir para os municípios parte da responsabilidade do Estado (administrativa, fiscal, política, etc). O problema é que, sem um projeto muito bem claro, progressista, e de longo prazo para o Estado, a simples descentralização favorece a perversa lógica de periferização dos municípios e supercentralização da capital. Além da necessidade de se incluir ainda mais caudilhos na política local.

Enfim, enquanto primeiras impressões, desejo a todos e todas um feliz 2015!

Ósculos e amplexos!


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