Tomando Dramin como se fosse Tic-Tac, hibernei os praticamente dois dias de viagem entre Curitiba e Salvador. Sequer vi a confusão que fez o ônibus atrasar quase seis horas ainda nos primeiros 200 quilômetros da viagem - soube dela por informe. Dizem os meus amigos que, inclusive, em uma das paradas, eu estava tão zumbi que entrei, comi, tomei banho, e sai sem pagar nenhum tostão. Realmente, não me lembro do "calote"... sequer da cidade onde fiz isso - um dia volto lá e faço tudo certinho. Praticamente expulsei minha namorada do banco de ônibus que fiz morada durante todo o longo percurso.
Quando chegamos, fomos a primeira bancada. Era madrugada no Caixa D'Água, simpático bairro da periferia de Salvador. Os seguranças, fazendo o trabalho deles, não nos deixava sair pelo bairro devido aos riscos que poderíamos passar (afinal, carne nova no pedaço). Porém, a fome apertava. Com muito custo, um "bom samaritano" resolveu nos por em seu carro para desbravar Salvador de madrugada em busca de comida para um batalhão. A rua do colégio parecia cenário de filme de bang-bang.
No dia seguinte, a paisagem já havia completamente se transformado. A rua tinha se tornado uma espécie de feira 24 horas. Garagens se tornaram restaurantes, restaurantes se transformaram em verdadeiras fábricas de comida. E quem não tinha estrutura para levantar um negócio da noite para o dia, alugava seu banheiro (R$ 0,50 para tomar banho; R$ 1,00 se quiser fazer o número 2! - jamais vou me esquecer desta placa).
Aliás, a hospitalidade baiana é algo também que merece uma postagem toda própria. O mais inusitado ainda foi a senhora que trouxe um bolo para uma integrante de minha bancada. O motivo? Para que ela não sentisse tanta saudade de casa! Onde mais no Brasil você usa o banheiro e a dona da casa se preocupa se você está também sofrendo com a saudade? Parabéns ao povo baiano pela imensa e calorosa hospitalidade.
Enfim... segue comentários ao vídeo oficial da UNE...
0:08 - Dalat, liderança que conheci na Bienal, foi um figuraça que lançou moda por lá. A frase dele "último ônibus para..." virou uma espécie de mantra (pois, sempre havia muitos e muitos outros ônibus para... mas, depois de alguns dias, você passa a odiar o megafone e a bendita frase). Não é fácil coordenar tanta gente, e ele deu conta do recado muito bem.
0:43 Essa moça bonita é a minha camarada-irmã Raisa... No meio do batuque (aliás, e como tem batuque em uma Bienal! Deveria ser marca registrada da UNE: "o batuque que nos une" - que tal?)
1:07 Show com Cordel do Fogo Encantado. A banda não mais fazia chover e alguns meses mais tarde resolveram encerrar sua carreira. Este foi um dos seus últimos shows e eu estava lá. O show foi maravilhoso, em pleno Pelourinho. Por outro lado, as pedras do Pelô tiraram o escalpo dos meus dedos dos pés e doía muito. Pegamos (eu e Carol Gross) um caminho do qual saía atrás do palco e que, para assistir o show, tínhamos que enfrentar esse mar de gente contra a correnteza. Era ladeira abaixo, e os pés ensanguentados faziam dos meus chinelos um ringue de patinação no gelo de tão escorregadio. E,é claro, tive que separar briga - da Carol com alguma atrevida... Show bom, mas que foi sofrido de assistir!!!
1:16 A consagração de Lula entre os estudantes. Diferentemente da 4ª Bienal em São Paulo, em que os estudantes temiam apoiar o Presidente, nesta Bienal Lula já era aclamado enquanto o melhor que o Brasil já teve. Esta plaquinha era presente em praticamente todos os discursos da Bienal e do Coneb (que pela primeira vez foi realizado conjuntamente, politizando ainda mais as atividades)
1:24 Barracas: coloque cerca de dez mil pessoas em um mesmo alojamento e você verá um mar de barracas. Apelidei o colégio em que ficamos alojados de "Babilônia" (devido o sentido hebraico da palabra babel ser "confusão"). Um teste para o juízo, como diria o Darwin de Assis (que também estava nesta Bienal, mas devido a gravidez da esposa, ele ficou em hotel).
2:34 Que ódio desta bola de contato! Na oficina de malabares, foi a única coisa do qual não obtive sucesso algum! (até o diabolô consegui ter um mínimo de progresso).
3:39 Mestre Duda esbanjou conhecimento cultural sem perder sua simplicidade. É a manifestação clara de que há cultura nas camadas mais populares da sociedade. Ainda que a cultura de massas e sua indústria cultural assassine a frágil manifestação como a do Mestre.
4:00 Sérgio Mamberti já é amigo da Bienal... esteve em praticamente todas (se não me engano, desde a 3ª). Porém, seu debate sobre a Funarte eu não pude participar. O sol forte da Salvador e o cansaço me fez traçar um itinerário para as praias de Ondina. Aliás, a experiência que tive por lá merece um espaço todo especial neste blog e em minhas memórias escritas.
5:03 Infelizmente, esse show foi no último dia de Bienal e eu já estava em Curitiba... Alceu Valença já havia se apresentado para os estudantes em um congresso da UNE (e que, na minha opinião, foi o melhor show que um congresso estudantil já teve em toda sua história).
6:28 Mesa sobre a UNILA... "A integração latino-americana depende muito também da fusão de saberes, apropriação deles pelo povo e da integração das comunidades acadêmicas latino-americanas". Essa frase eu tive que anotar, mas não foi minha, foi da então presidenta da UPE Fabiana (Binhas) Zelinski
10:21 A palestra tema da Bienal contou, dentre tantos, com Jorge Mautner. Nesta parte, é de encher os olhos lembrar dele cantando "Maracatu Atômico". Mas, o que me arrepiou mesmo foi quando ele cantou "A bandeira do Meu Partido".
10:34 "Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu"... esbaldei-me em folia atrás do Trio de Dodô e Osmar. Aliás, somente em Salvador que um trio elétrico sai, sem avisar, em plena terça-feira e recebe total adesão dos trabalhadores e famílias por onde passava. E o mais interessante: não tocaram uma música sequer do "axé" forçado que escutamos nas rádios-jabá. Apenas uma única recomendação: levem água de casa!!! (como é difícil tomar água atrás do trio elétrico... rsrs)
Ósculos e amplexos!
Um comentário:
uma pausa em teu gemido: obrigado
Postar um comentário