03 janeiro 2011

Lembranças de uma Bienal: 4ª Bienal da UNE (São Paulo - 2005)

Em 2005, Darwin de Assis e eu empreendemos uma ousada viagem para São Paulo a fim de aproveitar a 4ª Bienal de Cultura e Arte da UNE. Chegamos ansiosos, pois já havíamos participados de outras Bienais, mas pela primeira vez fazíamos parte do corpo de dirigentes do movimento estudantil membros da UJS.

Logo de início, uma má surpresa. Nossas mochilas foram roubadas. Darwin teve um pouco mais de sorte do que eu, pois deixaram as roupas dele no chão. As minhas nem isso. Prenúncio de que seria uma Bienal difícil para nós. Nesse momento, tive alguns "anjos". Hoje Deputada Federal, Manu D'Avila salvou algumas das minhas refeições; tive uma imensa ajuda de uma goiâna muito especial (mas que não vou postar aqui o nome dela, pois não pedi autorização dela para tal) que praticamente me adotou ao longo de toda a Bienal. Da maluquinha da K. V., que cedeu a barraca dela (até as 4 da manhã, quando ela voltaria da balada), do Rovilson Portela, que ajudou muito com as possibilidades que tinha... enfim, pessoas que sempre carregarei um imenso carinho por tudo isso e muito mais. Ah! E eu ainda ganhei um "pé na b..." de uma bela pantera... mas, não vou me ater nessa parte... vale dizer apenas que valeu cada segundo até esse momento...

Segue o video oficial da UNe desta Bienal e meus comentários que vieram a minha mente enquanto assistia. Ósculos e amplexos!




0:00 Ok, a expressão cultural dos litros e quilos de cultura manifestada por um artista anônimo em plena Av. Paulista eu não vi. Mas não deixa de ser uma provocação constante em uma Bienal de Cultura e Arte da UNE.

0:30 Show da Nação Zumbi foi eletrizante. Colados com a bancada de sampa, eu e Darwin pulamos muito!"Meu maracatu pesa uma tonelada" foi refrão grudento em toda a Bienal. Aliás, esta foi a Bienal do batuque, pois todas as bancadas, de norte a sul do Brasil, e de várias regiões da América Latina demonstraram que há um ritmo próprio batucado nos mais inimagináveis instrumentos.

1:17 Eu estava nesta "passeata", que convocava e anunciava que uma excelente montagem teatral iria ocorrer. E que para participar, bastava seguir os marujos do Teatro Olho Vivo. Importante: a peça teve mais de duas horas, e o cansaço de viagem fez com que eu perdesse muita coisa. Mas, o pouco que eu consegui assistir foi de encher os olhos e o coração.

1:34 Na época Ministro da Cultura, Gilberto Gil esbanjou simpatia e seriedade. Apresentou com entusiasmo a política de Estado para a Cultura enquanto uma das prioridades do Governo Lula e, logo após, atendeu os inúmeros pedidos para que desse uma "palhinha".

1:48 Soninha ainda representava um pouco da irreverência necessária para se representar propostas de juventude. Fazia pouco que fora banida da TV por assumir que usava maconha e sua candidatura para vereadora de São Paulo contagiou muitos jovens paulistanos.

2:10 Gustavo Petta, que algumas semanas antes da Bienal estava em Curitiba me ajudando a empurrar meu carro ladeira acima por falta da gasolina, pouco pode aproveitar a Bienal. Uma agenda lotada fazia com ele ficasse com um pé no pavilhão da Bienal e o outro em inúmeros outros eventos. Era o auge da tentativa golpista do PIG, e Petta havia liderado recentemente a passeata dos 100 mil, que ajudou a manter Lula na Presidência da República.

2:55 Fernando Vecino, na época Ministro da Educação de Cuba. Algumas curiosidades: a Bienal conseguiu reunir oficialmente os Ministros da Educação de Cuba e do Brasil a fim de debater a Reforma Universitária Brasileira e certamente contribuindo para inúmeras realizações como o PROUNI e a Cota para Estudantes Negros e oriundos de Escolas Públicas. À noite, quando estávamos retornando (eu e Darwin) para nosso alojamento, encontramos o Ministro cubano com um violão no colo, rodeado de estudantes, e cantando músicas do Djavan.

4:04 A juvenbtude haitiana presente na Bienal trouxe uma contribuição fundamental para o entendimento da realidade daquele país. Foi um dos primeiros contatos com o movimento estudantil brasileiro com o testemunho da necessidade de ajuda. Não sabíamos, nem havia como saber, que um desatre natural faria da ajuda brasileira mais do que necessária, mas vital para aquele país.

4:42 A juventude cantando "ole-ola-Lula-Lula" diante dos ministros de Cuba e do Brasil (Vecino e Genro) foi ousado. Boa parte da própria militância do PT estava receiosa de tal gesto devido aos ataques golpistas ao governo Lula. Porém, a União da Juventude Socialista (UJS) não pensou duas vezes e fez o que se vê nesta parte. Neste momento, era possível ver algumas correntes do Movimento Estudantil (que mais tarde iriam tentar dividir a UNE) torcendo o nariz ou se retirando do pavilhão da Bienal.

6:17 Paulo Vinícius (PV) que conduziu o Congresso da OCLAE com maestria. Lembro-me dos meus camaradas reclamando da severidade que o PV tinha ao tratar com as urgências do evento. Ele me cedeu o chuveiro de sua casa, uma vez que o alojamento ainda não estava aberto e eu estava sem nem sequer xampu e sabonete devido o furto de minha mochila). Naquela casa estariam ainda o Rovilson (hoje casado com minha camarada-irmã Raísa) e Lúcia Stumpf (que seria mais tarde presidenta da UNE).

6:43 A Culturata é o auge político-cultural da Bienal em movimento. Defendia-se verbas para a cultura, um passo adiante para que a política de Estado para a cultura fosse vitoriosa no governo Lula. Mas, quero chamar a atenção é para o estudante com a camisa da Camisa 12 que se vê no canto inferior direito do vídeo. A Bateria da Camisa 12 fez todo o acompanhamento da Bienal. Tocou do começo ao fim. E no final, presenteou o Darwin com uma camisa (claro, depois dele ter insistido como se estivesse pedindo por gol no Pacaembu em dia de jogo do Corinthians).

8:28 O então Ministro Gilberto Gil, após ter dado uma bronca na UNE por ter em um de seus materiais colocado desavisadamente o nome de Caetano Veloso enquanto autor de "Soy Loco Por Ti América" tocou-a para os estudantes a fim de mostrar que se trata de composição dele e de Capinan. Após, cantou também "Punk da Periferia" (que pode-se ouvir um trecho durante os créditos).

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