Todo mundo sabe que em cada lugar deste imenso Brasil há palavras próprias que emprestam, por si só, identidade cultural. Não se imagina um carioca pedindo um cachorro quente com duas vinas. Tampouco, um pernambucano pedindo abóbora.
Bom, estou escrevendo sobre uma expressão usada recentemente pelo ex-Governador do Paraná para descrever sobre um determinado candidato. Faço pois, no Paraná mesmo, há muitos que estão me perguntando o que o ex-Governador está querendo dizer.
A palavra, ou expressão, piá é de significados diversos para a população curitibana. Na verdade, ninguém sabe ao certo o que a palavra significa. Há consenso apenas quanto o uso ao se referir a um menino. E, de uso tão comum, que mesmo os que são de outras cidades, rapidamente já incorporam a palavra em seu vocabulário.
Aurélio de Holanda, que seu dicionário pertence hoje a uma imensa e poderosa rede educacional com sede em Curitiba, considera que o verbete piá significa "menino de engenho". Em guarani, língua onde se originou o nome da cidade, "pyã" significa coração. E durante muito tempo, para minha mãe, eu era chamado de piá toda vez em que eu quebrava algo em casa. (Tenho calafrios só de lembrar a frase: ah, piá!).
Até aí, tudo bem. Basta vir a Curitiba uma vez, ou ouvir o comentário de alguém que veio para que a palavra deixe de ser estranha. A junção Piá com Prédio é que chama a atenção. Tanto que em pleno 7 de setembro, na página da Gazeta do Povo, jornal curitibano que praticamente batizou a "Boca Maldita", causou alvoroço entre os ilustres senhores do Senadinho curitibano. Estavam eles irados com um blog do jornal em que se dizia que o significado seria algo como "filhinho da mamãe". O que faço coro com eles.
O significado de Piá sempre foi polêmico, mas as mães curitibanas nunca chamaram seus filhos assim em momento de ternura. Sempre foi atrelado à descoberta de alguma traquinagem. Pelos vizinhos então, piorou: era mais equivalente ao "pivete" usado no Rio de Janeiro que ao "guri" usado no Rio Grande do Sul.
Piá de Prédio seria o inverso: aquele que não teve a oportunidade de fazer traquinagem. Que nunca teve o prazer de subir em uma árvore, de empinar uma pipa, ou de correr atrás de uma bola. Era o chato do "dono da bola" ou melhor "do video-game", que desligava a chave geral da casa caso não ganhasse dos amiguinhos de joystick. Era o nome, ou melhor, a forma pelo qual a molecada do bairro se vingava dos esnobes do centro da cidade. Piá de Prédio, enfim, era aquele que se um dia empinou pipa, foi de sacola de mercado e pela janela do décimo andar.
Polêmica desfeita, está dado o significado de piá de prédio - pelo menos para mim.
Ósculos e amplexos e espero que agora vocês possam entender o que o ex-Governador quis dizer quando chamou o ex-prefeito de Piá de Bosta!
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