Na capa do DVD, o gênero classificado é comédia. Para muitos críticos se trata de um romance. Para os mais conciliadores, comédia-romântica. Para mim, classificaria-o como melancólico. Mas, como não há essa classificação, recomendo que o filme "Amor sem escalas" (Up in the air, 2009) fique na prateleira de gênero indefinido.
Há tempos não via argumentos tão bem desenvolvidos e personagens tão bem interpretados, em uma história tão bem contada. Mas, alerto: dê uma chance para o filme te conquistar, pois demora para isto acontecer. Aliás, a sutileza é a tônica do filme e o tempo dele também é bem sutil, em um limiar de quase total monotonia. Entretanto, aos poucos, cada personagem vai conquistando a quem assiste ao filme. E, quando se aproxima o fim do filme, estamos completamente apaixonados pela história e atônitos pelo final sutilmente surpreendente.
O nome dado em português não colabora. Mais uma para a saga "como destruir o interesse por um filme logo pelo título". Não me surpreenderia se alguém entrasse com processo por propaganda enganosa. Ryan Bingham (George Clooney) possui a mais lucrativa e medíocre profissão em tempos de estouro de bolha econômica e crise financeira: ele trabalha despedindo pessoas. As empresas contratam empresas como a de Bingham não por não ter coragem de despedir seus funcionários, mas por elas possuírem uma abordagem capaz de dar falsas esperanças aos miseráveis demitidos e assim diminuir o número de processos trabalhistas. Bingham dá palestras "motivacionais" sobre como viver sem "pesos na mochila", sendo tais pesos qualquer coisa que não caibam em uma mochila, como casa, família, parentes, amores, etc. "Não somos cisnes, somos tubarões" é a tese de Bingham, e ele realmente vive sua estúpida filosofia de vida. Como não tem uma família, nem mesmo uma casa equipada para se chamar de lar, além de uma profissão da qual se torna impossível se dizer orgulhoso, seus símbolos de status são: atendimento preferencial para VIP nos aeroportos, hotéis e locadoras de veículos. Seu hobby e sonho: acumular 10 milhões de milhas aéreas para ser membro de um seleto clube de milhagens de uma empresa aérea americana (e ele simplesmente não come nada que não lhe acumule milhas por isso).
Bingham ama a vida que tem. Dos 365 dias do ano, ele passa 322 viajando entre um aeroporto e outro. Sejamos sinceros: há algo mais melancólico que um aeroporto? Ele conhece uma versão feminina de si, Alex (Vera Farmiga). Mesmo soando um tanto cômico, os flertes se dão em meio à cartões de clubes de fidelidade - não havendo mais limites para a melancolia. Seu "namoro" com Alex é por meio de roteiros profissionais coincidentes (ainda que o próprio filme, por intermédio da irmã de Bingham, diga que adultos não namoram). Trocam carícias e picantes provocações por meio de seus celulares (e por mensagem de texto!). Por fim, Bingham tem que lidar com a novata e inovadora colega de trabalho Anna Kendrick (Natalie Keener), que propõe revolucionar o trabalho implementando um sistema de demissão à distância, via teleconferência.
Há poucos momentos em que Bingham demonstra ter coração. O primeiro, é o romance com Alex, que aos poucos ele vai se permitindo criar vínculos. O segundo, a recusa pelo procedimento de Anna - afinal, mesmo não se importando com ninguém, ele se importa consigo próprio e argumenta que o encontro pessoalmente evita maiores danos no futuro desempregado. E o terceiro, a tentativa de integração com sua família (não darei mais detalhes para que esse texto não contenha spoilers).
Amor sem escalas é uma apologia à melancolia. Seja pela crise econômica que é o pano de fundo, seja pela vida sem maiores apegos da sonhada vida dos tubarões executivos, seja simplesmente por ser a vida algo melancôlico para quem quer vê-la assim. É um filme excelente, mas sem grandes cores. Um cinza que vai colorindo o vazio do sonho americano.
Ósculos e amplexos!
PS* Apesar de Bingham ser compulsivo em matéria de se ganhar tempo nos "check in", o filme dá excelentes dicas para amenizarmos o sofrimento aeroportuário (principalmente com as paranoicas determinações de segurança que há nos EUA).
5 comentários:
E aí amigo... Esse filme ainda não vi... Sabe que ando começando a escrever mais no meu blog... Já que falaram que eu deveria fazer isso... Rs... Se cuida, assim que assistir a este filme dou uma opinião sobre ele... Bjs
Michael,
Total acordo com o nome do filme. Nunca imaginei que podia sair algo interessante daí. Por isso, não havia demonstrado qualquer interesse em vê-lo.
Se puder responder a pergunta que faço, vai ser ótimo: Será este filme uma versão contemporânea daqueles filmes da época da reestruturação nos EUA, quando as companhias eram compradas e esquartejadas?
Lembro do papel de Richard Gere em "Pretty Woman". Alguma semelhança?
Brindes
Leonardo
Quero ver...
E quero que você passe lá no Rio à Beça (tá saindo do forno).
Hehehe
Saudades, meu irmão! Amo vc!!!
Tardo, mas não falho... depois de uma semana bastante agitada, finalmente consegui um tempo para responder aos amigos que postaram em meu blog. Sempre lembrando que vocês são a principal motivação para este humilde blogueiro.
Grandes ósculos e sucesso na blogosfera!
POP'S: Que bom que voltou para a blogosfera! Escrever é sempre um bálsamo para algumas de nossas feridas, e um revigorante para nossas alegrias. Já visitei lá, e continuarei frequentando sempre que possível seu blog. Beijos!
Leonardo: respondendo sua pergunta (sentindo-me entrevistado pelos craques kkkk): olha, usar medos e conjuntura como pano de fundo não é uma novidade para o cinema. O personagem-heroi Homem-Aranha, por exemplo, é fruto do medo da Guerra Fria e da sua possível hecatombe global. O bem lembrado Pretty Woman e tantos outros. Mas nesse filme, o que chama a atenção é que o livro em que foi baseado é anterior à crise econômica global, anterior até mesmo à bolha imobiliária nos Estados Unidos. O autor explorou, e muito bem, uma prática que inúmeras empresas estão adotando: a de terceirizar o processo de demissão. Assim como em Pretty Woman, a história tem como pano de fundo a crise, mas não se apega a ela. É muito mais uma ode à melancolia, e um verdadeiro pânico sobre a mudança.
A única coisa que não se assemelha com Pretty Woman é o romance. Ainda que seja possível torcer para que amores improváveis tenham um final feliz, a melancolia não deixa. E o final, ainda que previsível, surpreende.
Amplexos!
QIC: que bom que se interessou pelo filme. Creio que não se arrependerá. Quanto ao Rio, se eu pudesse iria todos os dias! kkkkkkk Mas ainda irei (mesmo que pareça promessa de Tim Maia! rsrsrsrs)
Ósculos e mais ósculos!
CADÊ VC????
Bem gritadinho, vc vai me ouvir, né?
Saudades!
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