Quase completando o final do sexto ano de Governo Lula, demos nosso primeiro passo em uma das inúmeras reformas pendentes: a reforma da língua portuguesa. Apesar de todo o faniquito que os meios de comunicação desejam mostrar, trata-se de um acordo tímido, bem à brasileira, diga-se de passagem. Fiz questão de analisar, palavra por palavra, essas frases acima, e elas estão simplesmente de acordo com ambas ortografias, ou seja, a nova e a atual. Bem à brasileira, pois é uma reforma tímida, que altera menos de 0,5% da ortografia e simplesmente nada da gramática lusófona. Pior para nossos irmãos de lusofonia, que terão mais de 1,5% de mudanças e que, de fato, vai obrigar muitos a voltarem às aulas de português para não ficarem atrasados diante do mundo.
Em 1990, o Brasil concordou com uma ainda mais tímida reforma ortográfica. Concordou mas não a aplicou. Naquela reforma, caiu o trema, mas ele resistiu com bravura. Nessa feita, ele foi para as cucuias de vez, e com inúmeros investimentos que provam que as mudanças são mesmo para valer. Não nos resta outra coisa senão ficar atualizado quanto à nova ortografia.
Na minha opinião, a reforma ortográfica foi sim muito tímida, não mudará tanto assim a vida do brasileiro, e não solucionou alguns verdadeiros dramas daquele que está nos bancos escolares. Por exemplo, continuam os mesmos dramas do uso da letra agá, da letra cê e da letra xis. Simplesmente não há uma regra clara e lógica do qual informe se devemos escrever "hipopótamo" ou "ipopótamo", se devemos escrever "cimeira" ou "simeira", ou o clássico do "xá" ou "chá" e "xarope" ou "charope". Elas simplesmente são assim e ponto, sem maiores explicações, sem uma lógica de fato, apenas as históricas. O uso da crase sequer foi cogitada, e dez entre dez brasileiros possuem sérias dificuldades no uso dessa acentuação gráfica. Aquele monte de "porquês" (Por que, Porque, Por quê e Porquê) continua e se olharmos de perto, não informam tudo aquilo que dizem que informam - se é pergunta, se é resposta, e outros afins.
Tal reforma é consideravelmente mais impactante para os demais países, por foi utilizada a lusofonia brasileira como base, inclusive nas mudanças. Nova Iorque, que sempre foi em português escrito assim, passa a ser escrito, segundo a lógica da nova reforma, Nova Yorque. No Brasil é comum esse uso pelo populacho em dias atuais, mas nos demais países de língua portuguesa não. Idéia passa a ser escrito ideia, e que sinceramente, desde que comecei a utilizar o MSN, há tempos que não vejo ninguém escrevendo com a acentuação que a palavra requer. Agora, palavras como "facto", "acção", tão comuns na terra de Camões, irão adotar a grafia à brasileira (fato e ação). Em Moçambique e Angola, por exemplo, o impacto é consideravelmente maior. E nem consigo imaginar como é que será em Macau, onde a influência do Mandarim e do Cantonês faz da língua portuguesa mero símbolo de um período de ocupação lusitana naquelas plagas.
O que irá causar confusão será o uso do já confuso hífen, que até hoje não sei qual o motivo dela ser escrita com êne no final. Microondas passa a ser micro-ondas, e guarda-roupa passa a ser guardarroupa. Continua confuso, e a reforma não facilita em nada nossas vidas nessa questão. No que diz respeito ao valente trema, temo apenas pela fonética da palavra, pois o som provocado pela palavra lingüiça é consideravelmente diferente da palara linguiça. E, por fim, o acento diferencial é meu principal temor, pois se corre o risco de simplesmente não entendermos o que se está escrito em uma oração. "Não por acaso" significa uma coisa, "Não pôr acaso" outra completamente distinta, e tão somente o acento diferencial nos salva da confusão. Ainda assim, são tão poucos os casos em nossa língua que só o acento diferencial salva, que simplesmente não causará maiores alvoroços em nossas vidas. Bastando apenas um pouco de consideração por parte de quem escreve em se esforçar para que determinadas dúvidas não surjam para que possa ser bem compreendido.
Concluindo: não há motivo para pânicos! Basta se atualizar e desde já se acostumar com a tímida reforma ortográfica de nossa língua. O que pode ser até um incentivo para aqueles chatos que insistem em nos corrigir, os policiais da língua: afinal, prestarão um favor nessa fase de adaptação.
Ósculos e amplexos e bons estudos!