07 julho 2008

Alea Jacta Est



Há de se concordar com a imprensa curitibana: a campanha esse ano começou morníssima. Exceto do candidato do PMDB, Reitor Moreira, que abre uma luta sem tréguas para reaglutinar militantes do próprio partido, não se viu nas ruas uma campanha visualmente mais destacada, com bandeirassos e afins. A caminhada de Gleisi Hoffmann do PT no corredor formado pelo estádio Couto Pereira e a Igreja de Nsa. Sra. do Perpétuo Socorro não foi suficiente para dar impressão de volume no lançamento de sua campanha. Gomyde, do PCdoB, e Fábio Camargo, do PTB, considerados reserva técnica pela imprensa, sofrem algumas dificuldades para iniciar suas campanhas e seus respectivos lançamentos de campanha passaram simplesmente despercebidos pelos curitibanos nesse domingo. Os demais candidatos opositores ao atual prefeito, Bruno Meirinho (PSOL), Marinete Silva (PRTB), Lauro Rodrigues (PTdoB), Maurício Furtado (PV), estiveram lado a lado no anonimato e, na prática, não tiveram nenhuma ação mais destacada nesse domingo, aparecendo tão somente no estranho debate na Igreja da Barreirinha.
A estranha tática adotada em quase todas as capitais do país de fragmentação das disputas eleitorais se repetiu em Curitiba. Os partidos de oposição ao atual prefeito, de certa forma, ajudaram a construir o mito de "candidato eleito" de Beto Richa (PSDB) por conta de quatro anos de tímida e fraca oposição. O único episódio de destaque da oposição foi a série de incidentes entre Guarda Municipal e movimento estudantil, que trouxe o debate sobre o passe estudantil para o campo da polêmica, mas ainda muito aquém das grandes contradições do atual governo municipal, não contribuindo muito para com que o atual prefeito não continue mais no Palácio 29 de Março ano que vem.
O debate na Igreja da Barreirinha foi realizado no mesmo clima morno que as campanha tiveram nas ruas. Nenhuma cacetada mais dolorida na atual gestão, tão pouco nenhuma mais certeira do atual prefeito na sua oposição. Destacou-se tão somente uma luta de palavras de ordem por parte das militâncias dos candidatos, poucas propostas, e denúncias genéricas nas contradições de todas as esferas do executivo, de Curitiba até ao Governo Federal.
Dessa forma, Beto Richa fez um debate "mitológico", respondendo com mitos construídos ao longo de sua gestão sem maiores resistências da oposição. Quando apontaram as contradições sobre a saúde, não fizeram nada no que diz respeito ao conceito de políticas públicas de saúde do atual governo municipal, tampouco sobre a ampliação do sistema, melhorias no acesso popular da saúde pública, limitando-se aos aspectos de instalações dos postos públicos e sua demora no atendimento. Uma vez que a denúncia se tornou fraca, genérica, o atual prefeito reagiu com o mito do "melhor sistema de saúde do Brasil", o que não significa grande coisa uma vez que o sistema de saúde pública brasileiro está muito aquém das necessidades populares. No que diz respeito ao transporte coletivo, o velho discurso estético sobre o metrô curitibano ao invés de apontar os abusos da máquina de dinheiro chamada URBS e sua questionável prestação de contas, coisa que o atual prefeito nem precisou dar conta de responder. A única questão mais dolorida, quase no final do debate, quando as torcidas militantes esquentavam o amornado debate, foi sobre a política de propaganda da cidade. Como foi questionado pelo candidato do PMDB, o prefeito tucano se limitou a atacar o Governo Estadual, da mesma legenda do reitor licenciado. E o clima de torcida organizada fez com que a resposta passasse em branco assim como a pergunta.

Como diria Julio César: "Alea Jacta Est", a sorte está lançada. A campanha pode e deverá esquentar nos próximos dias. Mas, por enquanto, nenhuma das questões políticas que, de fato, podem influenciar nas vidas curitibanas nos próximos quatro anos estão sendo tratadas. Muito sentimento de guerra, pouca proposta, e, no momento, nenhuma campanha capaz de mexer com corações e mentes dos eleitores. Por enquanto, micro-regionalmente, esse debate está por conta dos candidatos à Camara Municipal. Esboçando uma clara necessidade de se mudar a política da capital paranaense, dada a inversão de prioridades nas funções que os candidatos estão demonstrando. Por enquanto, coube aos vereáveis propostas executivas, e aos prefeituráveis, uma discussão típica de Pequeno Expediente da Câmara Municipal.

3 comentários:

Leonardo de Araújo disse...

Micha,
Seu texto é muito gostoso de ler. Flui naturalmente.
Realmente este ano as campanhas para prefeito em CWB serão um saco.
A velha subserviência da oposição, que nunca soube criticar as pictóricas gestões do PDT/PFL, agora se refaz na propaganda vazia do PSDB.
Governo fútil como os anteriores, mas ninguém pode criticar de verdade, pois seria assumir compromissos com os verdadeiros anseios populares.
Ninguém quer isso! Uma pena! A companheira do ministro bem que podia, mas ele é representante do capital, responsável pelos cortes na verba pública e arrocho das estatais.
Pagador em dia e com sobras do superavit primário. Alocando dinheiro público assim, infelizmente não dá para fazer muito mais mesmo.
Aí sobra o discurso, discutir que Curitiba "podia ser melhor". Vamo-nos perguntar: Já é tão boa assim que não dá para criticar?
Falta pulso e falta política para a maioria. Para o Trabalhador!
Votarei 13 mais uma vez. 13 não na Gleisi. 13 na alternativa. 13 na exigência de uma política para os trabalhadores. Por um Partido dos Trabalhadores!
Abraço
Leonardo

Leonardo de Araújo disse...

Caro Michael,
Acho que estamos on-line ao mesmo tempo. Já coloquei também o post do Angeloni. Dá uma olhada lá!
Logo atualizo com mais degustações e vinhos.
Pinot fora da borgonha bom mesmo são poucos. Tomei um uruguaio interessante recentemente.
Será que o Montes Alpha passa na prova?
Brindes
Leonardo
http://vivaovinho.blogspot.com

Marc Sousa disse...

Como sempre uma avaliação inteligente.

Abraço