04 julho 2007

Análise Geral Conjuntura (3)

Separando o joio do trigo.


Há dois tipos de desenvolvimento econômico: o primeiro busca instalar aqui, num país em desenvolvimento, uma estrutura que iguale os padrões de consumo dos países desenvolvidos. O segundo busca ter dinheiro e estrutura econômica para habilitar um desenvolvimento social em larga escala. O primeiro é contraditório com o segundo, por mais que ambos recebam o mesmo nome. Um se trata de um mito, enquanto o outro uma utopia. O problema é que cada setor da política que disputa o poder no Brasil adota parte de ambas, ou somente aquele tipo inviável para o desenvolvimento social.

O subdesenvolvimento não é condição histórica necessária ao desenvolvimento. Um país desenvolvido não precisou e nem precisa passar pelas condições do subdesenvolvimento para se tornar uma potência. O que determina se um país é subdesenvolvido ou desenvolvido são suas condições históricas, seu processo de formação, suas escolhas no mundo atual, e seu comportamento frente aos problemas econômicos. Quando um governo busca um desenvolvimento econômico que busca igualar os padrões de consumo dos países centrais do capitalismo, busca na verdade, um aumento significativo na sua concentração de renda. Mas, ao mesmo tempo, concentrar renda num país com tamanhas desigualdades e com fortíssimas resistências para se investir com vulto na redução dessas, o desenvolvimento se torna uma alocação de recursos de maneira tal que irá conduzir um aumento da produção que consiga conquistar vantagens comparativas em setores dos países centrais. O resultado final é que, sem maiores mudanças no campo social e um equilíbrio nas suas desigualdades, o padrão de consumo que se atinge com esse desenvolvimento somente será aproveitado por uma parcela pequena da população: sua elite.

No Brasil, o crescimento econômico é condicionado às metas de superávit primário, e essas comprometidas para o pagamento de obrigações internacionais. Soma-se ainda uma altíssima taxa de juros e um absurdo recolhimento de impostos dos mais variados tipos. O desenvolvimento econômico na modalidade até então tratada é contraditória ao desenvolvimento social. Para que se eleve a produção sem modificar suas bases produtivas com o desenvolvimento social, será exigido uma exploração ainda maior da mão-de-obra, e essa terá que ser ainda mais barateada. E, os compromissos de superávit, juros altos, e impostos para se manter impostos, impedem qualquer investimento significativo a ponto de modificar as estruturas sociais e reduzir desigualdades.

Agora, a esquerda brasileira tem alguns desafios. Quando se coloca em pauta o debate do desenvolvimento econômico, deve se levar em consideração que o que interessa para as forças políticas comprometidas com a classe trabalhadora é o desenvolvimento das estruturas de base da produção dentro de um sistema de distribuição de riquezas eficiente e verdadeiramente eqüitativo. Desenvolver a estrutura que permita ao trabalhador determinar seus próprios rumos. Portanto, radicalizar todo o discurso na generalização do desenvolvimento econômico significará uma fuga patológica das necessidades reais e objetivas do trabalhador brasileiro. Outro desafio, é a de disputar o projeto de desenvolvimento econômico que favoreça o trabalhador, por conseqüência, desfavorecendo a elite. Hoje, diversos setores da esquerda não faz nem uma coisa e nem outra, e ainda por cima se ausenta da disputa numa absurda política anti-tudo-e-todos.

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